“Este é um segmento [enoturismo] altamente estratégico para Portugal”
Quem o afirma é Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, entidade que “pretende ser um parceiro na capacitação, qualificação e formação do enoturismo no país” e, sobretudo, “unir o setor nesta matéria”.
Carolina Morgado
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Em entrevista ao Publituris, o presidente da ViniPortugal, Frederico Falcão, faz uma resenha do setor do enoturismo no nosso país, do seu crescimento, das suas mais valias nas diversas regiões do país, e do que está a ser feito ao nível da sua promoção, através da marca Wines of Portugal.
Como é que a ViniPortugal através da marca Wines of Portugal encara o segmento do enoturismo?
A Wines of Portugal leva Portugal a mais de 20 mercados em todo o mundo, destacando o nosso país como um produtor de referência, mas também para o posicionar enquanto um destino de referência mundial no enoturismo. Este é um segmento altamente estratégico para Portugal, especialmente por estar em crescimento ano após ano e por se tratarem de turistas com um elevado poder de compra.
Atualmente o nosso país é conhecido no mundo por produzir vinho de excelência, por isso, quando é o momento de escolher um destino turístico, no caso de Portugal, os vinhos e a gastronomia são determinantes na escolha. A somar a estes fatores está a curiosidade dos turistas pelas quintas dos produtores nacionais que os conduzem a visitas e ao enoturismo. São estes alguns dos argumentos que apresentamos além-fronteiras e que nos fazem crer, com certezas, que somos também um país de enoturismo de excelência.
A crescente importância deste segmento reflete-se também nos resultados das exportações dos vinhos nacionais, uma vez que os enoturistas, depois das experiências memoráveis nas quintas, adegas e caves do nosso país tencionam ter os vinhos de Portugal à sua mesa para degustar e reviver.
Promover para reforçar posição do país
O que está feito em termos de promoção deste segmento contemplado no vosso plano de marketing?
O plano de promoção da ViniPortugal inclui uma estratégia de comunicação no âmbito do enoturismo, onde temos o intuito de reforçar a posição do nosso país neste segmento. Neste sentido, marcamos presença assídua nos principais eventos internacionais do setor, iniciativas onde participam especialistas desta área e onde divulgamos o que de melhor se faz em Portugal, também neste segmento. Comunicamos vinhos sim, mas é através deles que apresentamos também o vasto património vitivinícola das diversas regiões do nosso país, os produtores nacionais, as suas adegas e convidamos a viver experiências turísticas memoráveis, como é o caso da participação nas vindimas onde é possível, por exemplo, vivenciar o pisar das uvas.
É um tipo de turismo que pode ajudar a combater a sazonalidade?
Sim, sem dúvida. Nos dias de hoje, os consumidores de vinho de todo o mundo querem saber mais sobre o processo de transformação da uva até à garrafa. Este tipo de consumidor quer envolver-se e participar numa próxima vindima, transformando um simples processo de compra e venda numa verdadeira experiência de enoturismo. Um cliente de vinho passa assim a ser um turista, porque tem interesse em conhecer o local da vinha, quer apreciar a cultura local e saber mais sobre a história daquele produto em particular. Este é um interesse que surge na maioria das vezes na época das vindimas, mas que se prolonga ao longo de meses e pode impulsionar o enoturismo, seja em turismo rural ou urbano, em qualquer altura do ano.
Qual tem sido o papel das entidades do turismo, designadamente do Turismo de Portugal, com vista ao desenvolvimento do enoturismo? A que patamar se pretende chegar?
A ViniPortugal faz parte do Conselho Estratégico Nacional do Enoturismo para delinear, com o Turismo e demais entidades relevantes, estratégias a assumir para o futuro do enoturismo. Este conselho foi também criado para reforçar a captação de eventos internacionais ligados ao enoturismo, onde a ViniPortugal, através da Wines of Portugal, marca presença.
O desenvolvimento da oferta de enoturismo em todo o território está a ser trabalhado por produtores, distribuidores, enólogos, operadores turísticos e negócios locais, em comunicações regulares junto dos consumidores. O Turismo de Portugal tem um papel relevante, mas não é o único neste âmbito. Também as Comissões Vitivinícolas Regionais são importantes neste segmento e têm vindo a dinamizar, com frequência, programas com diversas iniciativas ao longo de todo o ano.
A ViniPortugal pretende ser um parceiro na capacitação, qualificação e formação do enoturismo no país e queremos, sobretudo, unir o setor nesta matéria.
O que é que este segmento já representa ao nível dos produtores em Portugal?
É com satisfação que vemos os produtores nacionais a conseguirem alargar as suas vendas à esfera do enoturismo e a tirar partido das particularidades das suas quintas e adegas para proporcionar novas experiências para os apreciadores deste tipo de turismo. De momento não temos dados suficiente neste segmento, mas faz parte da estratégia fazer um estudo aprofundado sobre o enoturismo em Portugal.
Um cliente de vinho passa assim a ser um turista, porque tem interesse em conhecer o local da vinha, quer apreciar a cultura local e saber mais sobre a história daquele produto em particular”
Produtores são verdadeiros guias turísticos
O que é que as adegas têm de fazer, em termos de investimentos, para tornar este produto mais apelativo? Deviam criar também alojamento turístico?
O mercado mundial de vinhos e o segmento do enoturismo encontram-se em constante crescimento, pelo que a diferenciação é um fator muito relevante para captar a atenção do consumidor. Os produtores nacionais estão já um passo à frente, com a inovação dos seus vinhos, onde recuperam castas antigas e as utilizam enquanto ingredientes ‘secretos’ para os diferenciar dos demais. Este foi um primeiro passo em que atraíram novos consumidores e consolidaram os atuais clientes.
Este segmento pressupõe, acima de qualquer outro fator, a qualidade do vinho, pois, é o produto que vai levar este tipo de turistas à região e promover o destino.
Atualmente estamos perante uma exigência cada vez maior, seja porque o consumidor está mais atento à origem do produto, porque está preocupado com as questões ambientais ou mais predisposto à digitalização. Os produtores de vinho estão a adaptar-se às tendências de consumo, a adotar estratégias de transformação digital nas suas empresas e a implementar práticas mais sustentáveis nas suas adegas, desde a produção até aos processos de distribuição.
Desde cedo, destacam nos seus produtos a origem, onde mostram o percurso da garrafa entre a vindima e a mesa do consumidor e esta mudança fez com que o consumidor quisesse saber mais e transformasse a venda num interesse pelo enoturismo.
Foi assim que os produtores demonstraram que sabem contar a sua história. Comunicam-na de forma eficiente e proporcionam aos turistas experiências e atividades como visitas guiadas, apanha da uva, workshops e provas comentadas nas caves, lagares ou adegas, almoços e jantares enogastronómicos, circuitos aos processos de produção e/ou visita a pontos de interesse nas suas propriedades. Com autenticidade, confiança e singularidade partilham o local da vinha e todos os detalhes dos seus produtos, promovendo a região vitivinícola que representam e, também, Portugal.
Temos produtores que convidam os turistas para os seus alojamentos turísticos, outros que sugerem estabelecimentos de referência da região, todos eles impulsionam o turismo da sua zona, levando os turistas às principais atrações locais, e sugerindo restaurantes regionais para provarem a harmonização dos seus vinhos. Os produtores nacionais são verdadeiros guias turísticos.
Mas a inovação tem de ser constante, por parte do produtor, para que consiga acompanhar o consumidor que está em igual transformação. Nesta matéria pressupõe também a digitalização e a automação nos seus processos, realidades que chegaram com a evolução tecnológica e que vieram para ficar.
Nos dias de hoje, o enoturismo já vai muito além das atividades que os produtores disponibilizam. Os turistas querem vivenciar a cultura e a tradição de cada região, as novas experiências passam pela criação do seu próprio vinho, recriando os processos tradicionais da vindima aliado à inovação, querem conhecer o modo de vida dos habitantes locais e visitar lugares fora do comum. Os produtores têm de criar uma oferta que responda à necessidade que existe.