Década de Barroso: Turismo, Desporto, e novos hábitos tecnológicos
Portugal concentrou desde 1998 o orgulho nacional em José Saramago, seguindo-se José Manuel Barroso como presidente da Comissão Europeia desde 2004, e Cristiano Ronaldo quando ganhou a primeira bola de ouro da FIFA em 2008 e 2014.
Humberto Ferreira
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Portugal concentrou desde 1998 o orgulho nacional em José Saramago, seguindo-se José Manuel Barroso como presidente da Comissão Europeia desde 2004, e Cristiano Ronaldo quando ganhou a primeira bola de ouro da FIFA em 2008 e 2014. Também nos orgulhamos da bola de ouro de Eusébio em 1965 e de Luís Figo em 2000, e dos prémios Prizker dos arquitectos Siza Vieira em 1992 e Eduardo Souto Moura em 2011, como protagonistas de prémios de âmbito mundial, a par de outros titulares de conquistas mundiais no desporto (Carlos Lopes e Rosa Mota no atletismo olímpico, e outros troféus mundiais) e nas artes, mas a lista tem sido escassa e em sectores limitados.
Barroso foi o único a marcar o cunho político luso nas cimeiras europeias e mundiais entre 2004 e 2014, protagonizando, em representação da Comissão Europeia, parte da História da Política Europeia e Mundial na primeira década do século XXI.
SALDO DA DÉCADA 2004-2014 – Mas qual é o saldo da Europa? Há mais desemprego, bolhas, e crises sobre crises, na banca, indústria, e economia em geral. O comércio mundial estagna sem normalização horizontal, em termos de horários, salários e qualificação profissional, e há mais insegurança internacional.
A Europa, depois da guerra nos Balcãs entre 1992 e 2008, defronta-se hoje com conflitos na Ucrânia, Médio Oriente-Palestina, Magrebe, etc, e nas acções separatistas na Escócia, Catalunha, Itália, até na Baviera.
De positivo nesta década, aponto a resiliência e crescimento do turismo, aviação, cruzeiros, e turismo residencial para milionários orientais africanos, que se candidatam a vistos dourados, numa espécie de offshores para compras e encontros de altos negócios. Assim como o desenvolvimento de marcas e hábitos europeus de luxo, na moda, joalharia, automobilismo, desportos, gastronomia e vinhos, hotelaria, e tratamentos de bem-estar e saúde (apesar das habituais epidemias sazonais, que este ano teve origem no surto de ébola, vindo da África Ocidental). Sem ignorar os avanços nos hábitos tecnológicos.
NEGÓCIOS POLÍTICOS – Há um crescente fosso entre uma nova Europa de luxo que negoceia e entretém autores de esquemas afastados dos direitos humanos e do igualitarismo social instalado nas últimas cinco décadas do século XX, e a Europa da destroçada classe média, que ainda trabalha e sustenta o ressurgimento da indústria, tecnologia, e inovação das marcas europeias. E cresce o número de jovens inconformados com o desemprego, que emigram em busca de oportunidades em África, Ásia, Pacífico e Austrália.
Mesmo assim, o saldo político é positivo para Barroso. A Europa cresceu de 15 para 28 Estados (o que dificultou consensos e expectativas), e Barroso cumpriu os planos de integração dos países de Leste no mercado único; encarou as crises em cinco países em assistência externa (Grécia, Irlanda, Portugal, Chipre e Malta); e conseguiu harmonizar os interesses opostos de governos com projectos opostos para a Europa, nomeadamente os governantes de Berlim, Paris, Londres, Haia, Helsínquia, Roma e Madrid.
A nota negativa e mais prejudicial ao nivelamento competitivo da Europa foi a sua incapacidade para eliminar os refúgios fiscais e as operações offshore para desvio de lucros. Pela insistência do Reino Unido (nas ilhas do Canal) e outros países, em contradição ao nivelamento da concorrência horizontal entre os 28 Estados.
Mas Barroso também teve azar. Em 2004 não havia crise financeira nem desemprego elevado, o turismo crescia a bom ritmo, e a Alemanha era governada pelo SPD. Em 2007 rebentou a bolha imobiliária nos EUA, contagiando a banca europeia, e desde aí a situação tem piorado, sob a crescente influência do dominante lobi conservador, no eixo Washington-Berlim, a que a China se prepara para se juntar.
E PORTUGAL? – Nesta década os portugueses derraparam, mas evitaram a bancarrota. Falta um plano objectivo, mobilizador e pre-datado para sair desta crise.
Muitos clusters, empresas e empresários conseguiram afastar a austeridade imposta e concorrer nas exportações, turismo, ciência, tecnologia, agricultura, metalurgia, etc, mas não chega. É urgente atrair mais investidores, empreendedores e estrategas da nova economia.
Apesar da promoção anual no World Travel Market e ITB (as duas maiores feiras mundiais de turismo), a Europa também tem perdido posição no turismo, face à América do Norte e China, país que quer alcançar a liderança mundial na IATA em 2030.
VENDAS ONLINE NO WTM – A Breath Luxury Limited vai leiloar 35 versões do domínio Holiday.com durante o World Travel Market em Londres, de 3 a 6 de Novembro. Entre elas: LuxuryHotel.net, LuxuryTravel.net, France.tv, Cannes.tv, Geneva.tv, Ireland.tv, Madrid.tv, Africa.tv, Holiday.tv, Book-Flights.com, Flight-Booking.com; Travel-Deals.com, CompareCruises.com, Direct Flight.com. VacationAgency-com, GolfCourses.com. Journey.com. Paradise.com, Crete.com, WorldHoliday.com, etc.
Trata-se da abertura de mais canais de promoção directa de destinos e operadores turísticos internacionais entre mercados de diverso potencial, que convém acompanhar nas plataformas de procura de vistos dourados, e não de low-cost.
BENCHMARKING – Sem Portugal criar mais valor na economia e sem sabermos como, quando, e quanto é preciso investir mais, subsistem os fantasmas da dívida, austeridade, e desemprego, afectando toda a economia.
PLANEAMENTO DISPERSO – Precisamos igualar o Benelux com 60% do valor do PIB em exportações. Os três maiores portos europeus são Roterdão, Hamburgo e Antuérpia. Sines conseguiu pela primeira vez movimentar um milhão de TEU (unidade de contentores), mesmo sem ferrovia nem bitola europeia directa à Europa Central. E esconde-se que Algeciras movimenta quatro vezes mais TEU por ano, e que a rede AVE em Espanha já liga a Catalunha a França.
Uma recente vitória do Governo de Lisboa junto da União foi a aprovação de Bruxelas, das interligações para o transporte de excessos de energia eólica ou hídrica, da Península Ibérica para a Europa Central. O que permite gerir melhor a capacidade de produção, armazenamento e venda de energias renováveis entre países-membros, satisfazendo picos de consumo.
De excessos, já basta o aeroporto de Beja, dois autódromos, onze estádios de futebol, incluindo os pouco usados no Algarve, Leiria, Aveiro, e Oeiras (Estádio Nacional), e certas marinas, casinos, e campos de golfe, e hotéis pouco procurados.
O actual governo, indiferente ao leito do Tejo, também dá mostras de preferir o investimento público duplicado ou triplicado, para satisfazer aspirações políticas locais, em vez de incentivar a vocação geoestratégica de zonas de produção industrial, agrícola, tecnológica, ou de transportes, logística e ensino.
A aposta governamental corrente passa pela transformação da praia do Samouco, no Barreiro, em porto oceânico de construção e manutenção dispendiosas, para concentrar os navios porta-contentores espalhados no amplo porto de Lisboa, nos cais de Alcântara, Rocha e Santa Apolónia-Beato.
Quando Portugal tem ampla capacidade em áreas para extensão logística, nos portos de Sines, Setúbal, Lisboa-Santa Apolónia-Beato, Leixões e Aveiro.
Em matéria de portos de cruzeiros, Portugal está igualmente bem posicionado, com os portos de Lisboa e Funchal, em primeiro plano, e os de Portimão, Leixões, Ponta Delgada, Terceira, Horta, e Porto Santo, como plataformas complementares.
TAXAS E TAXINHAS – Recentes discursos do sector animaram os «media». António Costa, presidente da CML e candidato a Primeiro Ministro, reinsistiu na polémica criação de taxas municipais sobre as dormidas em alojamentos turísticos.
O ministro Pires de Lima puxou dos galões, no Congresso da AHP, afirmando que enquanto for ministro, os hóspedes da hotelaria não pagam mais taxas. E lembrou que o excessivo IVA na restauração e golfe foi anterior à sua posse.
Entretanto Pedro Machado, presidente do Turismo do Centro, na reunião da Bestravel em Monte Real, apontou que este mesmo Governo não resistiu a cortar 34,8% ao orçamento da ERTC, ignorando que pela Lei 33 de 2013(reorganização das regiões de turismo), o Turismo do Centro de Portugal tem mais obrigações ao integrar os pólos Oeste, Leiria-Fátima, e Serra da Estrela, além dos municípios do Médio Tejo. O contraditório oficial aponta que o financiamento das regiões não é intocável, e a moderação alcança todos os sectores.
Curioso é não se admitir a urgência da reforma do Estado, e que a promoção pode ser paga (como já foi) por uma parte do IVA cobrado pelas empresas do sector, em cada região, e pelas receitas do jogo.
Estudos e inquéritos são úteis para identificar as carências. Haja quem execute os planos prioritários em cada área produtiva, quando, como parceiro europeu, é fraco o nosso acesso a recursos mútuos.
CONTRIBUTO PRIVADO – Falta criar mais parcerias globais e fomentar, com prioridade, os 15 clusters estudados pela Confederação Empresarial de Portugal, para garantir o crescimento da cadeia de valor através das exportações de marcas e produtos portugueses irresistíveis nos mercados externos, tal como sucede com alguns vinhos, calçado, porcelana, software, etc.
TENDÊNCIAS – No OE 2015 foi incluída a FISCALIDADE VERDE, praticada em oito países da UE, mas penalizando mais a classe média em fase de contenção e sem fim à vista. Não haveria outros meios sem ser pela via fiscal? O previsto aumento dos combustíveis em Portugal, e o efeito da comercialização dos direitos de emissão e CO2 no espaço aéreo europeu, vai prejudicar a competitividade portuguesa e europeia, favorecendo os países que não cumprem as metas ambientais de Quioto, Rio de Janeiro, nem as normas da Organização Mundial de Trabalho, etc.
Outra moda: as CIDADES INTELIGENTES (Smart Cities), uma louvável parceria entre autarcas lusos e a RECI – Rede Ibérica de Cidades Inteligentes, visando associar 98 cidades peninsulares em projectos comuns de acessos e circulação, energia, normalização, inovação, conservação, partilha de planos, etc. O programa europeu decorre entre 2015-2020 com um orçamento de 1000 milhões de euros. Será sem dúvida útil o intercâmbio de normas, portagens, e outros hábitos, por exemplo, como a via-verde.
FUTURO TURISMO – Tudo isto se associa ao Turismo, pois num destino receptivo internacional é essencial garantir segurança pública, formação escolar adequada, boa organização interna e economia dinâmica.
Surpreendente é como Portugal consegue atrair tantos turistas estrangeiros em plena crise interna e europeia, com um sistema tão desequilibrado e antiquado. Convém não abusar dos astros, pois as grandes potências receptivas são EUA, França, Espanha, China, India, e Turquia, que vão atacar sem contemplação.
As previsões de crescimento para 2015 são mistas para Lisboa, Porto e Entre-Douro-Minho, Madeira, Açores, Beiras e Algarve. O Turismo e exportações são duas fontes de satisfação. Ambas com procura externa sazonalmente prolongada, mais lucrativa, e com espaço para crescer. Não bastam tal como as opções do Governo.
Outra excepção chega da Grécia com 22 milhões de turistas em 2014, prevendo subidas anuais, e 27 milhões em 2027. E segundo a GBTA – Global Business Travel Association, a região Ásia-Pacífico averba este ano 40% do volume de vendas mundial neste segmento.
Ora Lisboa, Porto, Algarve, e Madeira estão na moda, seguidos de Entre-Douro-e Minho, Alentejo, Açores, Beiras, mas precisam ser criadas mais motivações Online e circuitos de distribuição associados.