Ómicron travou recuperação do transporte aéreo em janeiro, diz IATA
Apesar da Ómicron, em janeiro, todas as regiões do mundo assistiram a um aumento do tráfego aéreo mas a IATA alerta que, nos próximos meses, também o impacto da guerra na Ucrânia se deve fazer sentir.
Inês de Matos
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A recuperação do transporte aéreo em janeiro foi penalizada pela Ómicron e pelas medidas restritivas adotadas por vários países para conter a nova variante, o que acabou por travar a recuperação das viagens domésticas e internacionais, aponta a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA).
De acordo com os dados mais recentes da associação, divulgados esta quinta-feira, 10 de março, apesar do impacto da Ómicron, a procura por viagens aéreas internacionais ficou, no primeiro mês do ano, 82.3% acima do que tinha sido registado em mês homólogo do ano passado, ainda que, em comparação com dezembro de 2021 se tenha registado uma descida de 4,9%.
Já a procura por viagens domésticas cresceu 41,5% acima de janeiro de 2021, mas desceu 7,2% face ao último mês de 2021, enquanto a procura internacional aumentou 165.6% em relação a janeiro do ano passado, tendo, contudo, descido 2,2% numa comparação mensal com dezembro de 2021.
“A recuperação das viagens aéreas continuou em janeiro, apesar de ter sido atingida por uma bomba chamada Ómicron”, destaca Willie Walsh, diretor-geral da IATA num comunicado enviado à imprensa, onde explica que as medidas restritivas nas fronteiras “não impediram a disseminação da variante”.
De acordo com o responsável, foi a vacinação que fez a diferença e impediu que os sistemas de saúde ficassem sobrecarregados, pelo que muitos governos estão agora a ajustar as políticas da COVID-19″, adaptando-as a uma endemia, o que passa pelo “levantamento das restrições de viagem que tiveram um impacto devastador na vida, economia e liberdade de viajar”.
Os dados da IATA indicam que o crescimento registado em janeiro no tráfego aéreo internacional foi comum a todas as regiões do mundo, com destaque para a Europa, onde o tráfego aéreo internacional cresceu 225,1% em janeiro, valor que até traduz um aumento numa comparação com dezembro, quando este indicador tinha subido 223,3% face a igual mês do ano anterior. Em janeiro, as companhias aéreas europeias aumentaram ainda a capacidade em 129,9%, enquanto o load facto subiu 19,4 pontos percentuais, para 66,4%.
Na América Latina, a recuperação do tráfego em janeiro também foi forte e chegou aos 157,0%, num crescimento que também superou o que tinha sido registado em dezembro e que traduzia um aumento de 150,8% face a dezembro de 2020. Em janeiro, a capacidade subiu 91,2%, enquanto o load factor registou o mesmo crescimento apurado na Europa, aumentando 19,4 pontos percentuais, para 75,7%, o mais alto entre todas as regiões pelo 16.º mês consecutivo.
Na América do Norte, o tráfego aéreo subiu 148,8% face a janeiro de 2021, o que, sublinha a IATA, traduz uma “descida significativa” face ao aumento de 185,4% registado em dezembro, o que se pode explicar com o surgimento da Ómicron. Já a capacidade aumentou 78,0% e o load factor subiu 17 pontos percentuais, fixando-se nos 59,9%.
No Médio Oriente, o tráfego aéreo apresentou uma subida de 145,0%, com a IATA a destacar que este valor “fica bem abaixo” do aumento de 178,2% que tinha sido registado em dezembro. Já a capacidade cresceu 71,7% em janeiro e o load factor aumentou 17,5 pontos percentuais, para 58,6%.
Já as companhias aéreas da Ásia-Pacífico registaram um aumento de tráfego internacional de 124,4% em janeiro, também “significativamente abaixo” do crescimento de 138,5% que tinha sido apurado em dezembro de 2021, enquanto a capacidade aumentou 54,4% e o load factor cresceu 14,7 pontos percentuais, para 47,0%, mantendo-se como o mais baixo entre todas as regiões.
Ainda assim, foi em África que o tráfego aéreo internacional menos cresceu em janeiro, subindo apenas 17,9% face a janeiro de 2021, o que também corresponde a uma desaceleração face ao crescimento de 26,3% que tinha sido registado em dezembro de 2021. Já a capacidade em África aumentou 6,3% em janeiro e o load factor subiu 6,0 pontos percentuais, para 60,5%.
A IATA sublinha, no entanto, que em comparação com 2019, a procura por viagens aéreas ficou, em janeiro, “bastante abaixo” do níveis pré-pandemia e apresentou uma descida de 49.6% face a mês homólogo de 2019. Já o tráfego internacional de passageiros desceu 62.4% e o doméstico caiu 26.5%.
Impacto da guerra na Ucrânia
A associação também alerta para o impacto da guerra na Ucrânia no transporte aéreo e, apesar de referir que os números de janeiro ainda não mostram qualquer interferência, já que o conflito militar apenas começou em fevereiro, o certo é que se espera que as sanções impostas à Rússia e o encerramento do espaço aérea a aviões russos tenham “um impacto negativo nas viagens, especialmente nos países vizinhos”.
A IATA revela que o mercado ucraniano representou, em 2021, 3,3% do tráfego aéreo na Europa e 0,8% do tráfego aéreo global, enquanto o peso do tráfego aéreo russo chegou aos 5,7% a nível europeu (excluindo o mercado doméstico russo) e aos 1,3% do tráfego global.
Segundo a IATA, o encerramento do espaço aéreo devido ao conflito militar na Ucrânia levou ao cancelamento de algumas rotas, nomeadamente entre a Europa e a Ásia, mas também entre a Ásia e a América do Norte, ainda que o impacto tenha sido mais reduzido do que seria expectável, uma vez que muitos países asiáticos ainda permanecem de fronteiras encerradas devido à COVID-19.
Em consequência da guerra na Ucrânia, a IATA está também preocupada com o “aumento repentino nos preços dos combustíveis”, que está a pressionar os custos das companhias aéreas, uma vez que, em poucos meses, o preço do combustível para a aviação quase duplicou, passando de 78 dólares por barril, para 140 dólares.
“Absorver um impacto tão grande nos custos, num momento em que o setor está a lutar para reduzir as perdas ao sair da crise de dois anos da COVID-19, é um grande desafio. Se o preço do combustível da aviação permanecer tão alto, com o tempo, é razoável esperar que isso se reflita nos rendimentos das companhias aéreas”, alerta Willie Walsh.
O diretor-geral da IATA considera ainda que a abolição da obrigatoriedade de uso de mascara facial a bordo poderá dar um novo impulso ao transporte aéreo, pois representa mais um passo em relação à normalidade.
“Não faz sentido continuar a exigir máscaras nos aviões quando elas não são mais necessárias em centros comerciais, teatros ou escritórios. Os aviões estão equipados com sistemas de filtragem de qualidade hospitalar altamente sofisticados e têm um fluxo e taxas de troca de ar muito maiores do que a maioria dos outros ambientes internos onde a obrigatoriedade de máscara já foi removida”, considera ainda Willie Walsh.