As entidades responsáveis pelo turismo e viagens nos Estados Unidos da América (EUA) estão preocupadas com a resposta que o sistema de transporte aéreo e de vistos darão nos próximos tempos, principalmente, quando se avizinham eventos como a Ryder Cup 2025, o 250.º aniversário da fundação dos EUA, o Campeonato Mundial de Futebol de 2026, os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2028, Campeonato do Mundo de Rugby em 2031, os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Inverno de 2038, bem como diversos Grandes Prémios de Formula 1 em Las Vegas, Miami e Austin ao longo da próxima década.
No relatório “A Vision for a World-Class Travel System in America”, a comissão destaca que, só para os eventos em 2025 e 2026, serão esperados mais de 40 milhões de visitantes internacionais, podendo contribuir com mais de 95 mil milhões de dólares em receitas fiscais para o país. Só para o Campeonato do Mundo de Futebol, a realizar em 2026, são esperados mais de seis milhões de visitantes internacionais.
Contudo, a comissão refere que os tempos de espera para vistos podem ultrapassar seis meses, o que pode levar a uma perda de 19 mil milhões de dólares em turismo, recomendando um aumento do pessoal da Alfândega e Proteção de Fronteiras e a melhoria da tecnologia da Administração de Segurança dos Transportes para fazer face a esta realidade.
Por isso, o relatório refere que “é hora de uma nova estratégia, uma estratégia para garantir a liderança global dos EUA em viagens e estabelecer o país como o principal destino do mundo”.
As contas da Oxford Economics indicam que a quota de mercado dos EUA caiu de 12,8% para 9,1% desde 2015. “Apenas a recuperação dessas perdas resultaria em mais 127 milhões de visitantes na próxima década, gerando 478 mil milhões de dólares em despesas adicionais nas empresas norte-americanas, criando 140.000 novos empregos e aumentando as receitas fiscais em 55 mil milhões de dólares face ao cenário base”, aponta o relatório.
Embora o documento refira que os EUA detenham, atualmente, “o maior mercado de viagens do mundo”, o rápido crescimento do setor na China coloca o país no caminho para igualar e depois superar os EUA em quase 500 mil milhões de dólares na próxima década.
Mas não somente da China que a comissão norte-americana vê uma ameaça. O mercado de viagens da Índia também está a expandir-se rapidamente, o que deverá permitir ao país subir do oitavo para o quarto lugar a nível global em termos de dimensão de mercado até 2034.
“Até 2035, a China planeia aumentar em mais de 50% o número de aeroportos civis, enquanto a Índia espera que o tráfego aéreo anual de passageiros passe dos 376 milhões atuais para mais de 3 mil milhões até 2047”, revelam as contas feitas pela comissão.
De resto e de um modo geral, “a região Ásia-Pacífico está a desenvolver rapidamente a sua infraestrutura de viagens para acomodar a crescente procura”, antecipa a comissão, representando “mais de um terço dos grandes projetos de construção em aeroportos existentes e mais de metade da construção de novos aeroportos” a nível global.
Além disso, existem outros países determinados a conquistar uma maior fatia do “boom” global do turismo.
A Arábia Saudita vai a investir mais de um bilião de dólares na próxima década como parte da sua estratégia para atrair 100 milhões de visitantes até 2030. O objetivo é diversificar a economia do país, tradicionalmente dependente do petróleo, utilizando o turismo como um dos principais motores. “As autoridades sauditas estão a promover ativamente os locais reconhecidos pela UNESCO do país como destinos culturais, ao mesmo tempo que desenvolvem a Arábia Saudita como um centro de turismo desportivo”, refere o relatório.
E nos Emirados Árabes Unidos (EAU), a “Estratégia de Turismo de Abu Dhabi 2030” pretende duplicar o número de visitantes que pernoitam na cidade, criar quase 200.000 empregos no setor do turismo e investir 10 mil milhões de dólares em novos museus, parques temáticos, locais culturais e quartos de hotel. Para atrair novos visitantes, Abu Dhabi planeia mais do que duplicar a sua campanha de marketing e promoção, expandindo-se para 15 novos mercados.
Resultante da “inércia”, a comissão destaca que os EUA “estão a perder quota de mercado global no setor das viagens de longo curso”, apontando para uma queda de 41% desde 2000. “Caímos para o terceiro lugar na competição global pelo turismo, atrás de Espanha e França, apesar de sermos considerados o destino mais desejado do mundo”, frisam os autores do relatório.
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Foto: Depositphotos.com
Só o tempo de espera excessivo para vistos pode custar aos EUA 150 mil milhões de dólares em despesas ao longo dos próximos 10 anos, ao levar 39 milhões de visitantes a viajar para outros destinos.
“Perder apenas uma única rota internacional devido à falta de pessoal na Alfândega e Proteção de Fronteiras pode resultar numa perda de até 227 milhões de dólares por ano para a economia dos EUA”, concluem as contas feitas pela comissão.
Considerando o turismo “essencial” para a economia dos EUA, “gerando 2,8 biliões de dólares em impacto económico em 2023, o que representa 2,5% do PIB do país, mais de 1,3 biliões de dólares em despesas com turismo contribuíram com 89 mil milhões de dólares em receitas fiscais para estados e comunidades em todo o país”.
Além disso, mais de 15 milhões de trabalhadores americanos estão diretamente empregados ou fortemente dependentes do setor do turismo.
Por isso, o objetivo da comissão passa por tornar as viagens “mais modernas, convenientes e seguras”, indicando que será necessário “assumir liderança, desenvolver soluções, dar prioridade ao financiamento e impulsionar mudanças políticas significativas em Washington que gerem benefícios reais”.
Assim e em conclusão, a comissão refere os seguintes pontos que devem merecer uma atenção especial e rápida por parte da nova administração norte-americana: “impacto económico dos atrasos no processamento de vistos, equilíbrio entre segurança e eficiência, experiência e satisfação do viajante, limitações de infraestrutura e definir um posicionamento competitivo”.