Recuperação? A “million dollar question” do Turismo
A crise provocada pela pandemia da COVID-19 está a ter um profundo impacto no turismo e ninguém sabe quando será a recuperação. É a “million dollar question” do momento, dizem os especialistas.
Inês de Matos
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Pela primeira vez nos tempos modernos, o mundo parou por causa de uma pandemia. Os efeitos económicos da pandemia da COVID-19, a doença provocada pelo novo coronavírus que surgiu na China no final de 2019, são ainda difíceis de estimar, mas restam poucas dúvidas de que vão ser profundos e que a recuperação pode ser mais lenta que o desejado.
“O cenário de recessão global para 2020 será difícil de evitar, algo que será quase inédito na história económica moderna”, diz ao Publituris Pedro Brinca, professor de Macroeconomia da Nova SBE, explicando que “neste momento as economias sofrem pela falta de procura”, devido à contração originada pelas restrições que os países têm vindo a decretar como forma de controlar o vírus, que também têm um efeito na oferta. “As pessoas estando condicionadas pelas medidas de contenção não consomem, afetando em particular setores de consumo social, como restauração e espetáculos, e de compras de bens duradouros, pelo aumento da incerteza. Por outro lado, com a paragem da produção motivada pelas disrupções nas cadeias de abastecimento e medidas de contenção, temos uma queda significativa da oferta”, refere.
Para prever o impacto desta pandemia na economia mundial, o professor de Macroeconomia da Nova SBE diz que é preciso olhar para as crises provocadas por outras doenças, como a SARS, que também surgiu na China, em 2002/2003, ainda que não se tenha tornado global. “A pandemia do SARS também originou na mesma região do globo e custou entre 0.5% e 1% de crescimento no PIB da China”, refere o especialista, destacando, no entanto, que “o impacto em termos dos mercados internacionais foi relativamente negligenciável”.
A diferença, acrescenta Pedro Brinca, é que “nem a China é, hoje, o que era em 2003, nem a COVID-19 tem as mesmas características que o SARS, apesar de ser da mesma família”, alerta, explicando que, desde 2003, a China “quadruplicou o seu PIB” e é, atualmente, “o maior exportador mundial e o segundo maior importador”. “Para se ter ideia do peso que tem na atividade económica a nível mundial, em 2019, foi responsável por 39% do crescimento económico global. Isto mostra que o grau de exposição da comunidade internacional é hoje muitíssimo superior e o mesmo choque que aconteceu em 2003 se fosse hoje, teria repercussões muito mais profundas”, defende.
Impacto no Turismo
É, por isso, de esperar que a pandemia de COVID-19 tenha um impacto mais profundo do que a SARS, até porque está a afetar especialmente o setor do turismo, já que, como refere Pedro Brinca, “a adoção de restrições nas deslocações e o medo de contágio levou a uma queda massiva das taxas de ocupação”, o que é visível em alguns dos principais destinos da Europa, que apresentam já “quedas massivas relativamente a idêntico período do ano passado”.
Cláudia Monteiro de Aguiar, eurodeputada portuguesa eleita pelo PSD e membro efetivo da Task Force do Turismo, concorda e diz que esta crise “está já a impactar severamente o setor de Viagens e Turismo, ao ponto de falarmos numa ‘luta pela sobrevivência’”. A eurodeputada portuguesa considera que “o colapso das empresas do turismo terá um efeito dominó em muitos outros setores, em muitas empresas que fornecem o setor das Viagens e Turismo”, sendo por isso “urgente travar este contágio que pode tomar dimensões alarmantes, em especial em Portugal, tratando-se de uma economia muito dependente desta indústria”, lembra a eurodeputada, que defende uma ação europeia concertada para apoiar o setor.
A nível nacional, Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), não nega que “os efeitos já se fazem sentir com grande intensidade na economia nacional, que tem vários setores produtivos em estagnação e muitas empresas com graves problemas de tesouraria”, a exemplo do turismo, que é, na opinião do responsável, “a atividade económica mais exposta a uma crise sanitária, porque as pessoas simplesmente deixam de viajar, de se instalar em hotéis, de frequentar restaurantes, de alugar uma viatura, de ir a eventos, participar em congressos e de visitar atrações turísticas. Praticamente, tudo o que envolve a atividade turística está interdito”, explica o responsável, considerando que “o momento é obviamente muito difícil para toda a cadeia de valor”.
Apesar de reconhecer que o momento é difícil, Francisco Calheiros prefere não se antecipar “à evolução dos acontecimentos e falar já de recessão”, até porque, lembra, “o Governo está a tentar minimizar os danos com medidas com impacto financeiro, as empresas estão a fazer a melhor gestão dos seus recursos e os cidadãos estão mobilizados para evitar a propagação deste vírus. Vamos manter a frieza e olhar para o futuro com o otimismo possível”, apela.
Medidas
Francisco Calheiros lembra que a CTP tem vindo a trabalhar com o Governo português no sentido de encontrar medidas que permitam minimizar o impacto desta crise nas empresas de turismo nacionais, como “medidas extraordinárias de apoio à tesouraria, linhas de crédito e algum alívio fiscal que permita manter empresas e postos de trabalho”.
Para o responsável, todas as medidas já lançadas são “importantes” para as empresas, mas destaca “a criação das linhas de crédito às empresas no valor total de 3.000 milhões de euros, dos quais 600 milhões se destinam à restauração, 200 milhões para agências de viagens e empresas de organização de eventos e 900 milhões para outras empresas de turismo, como o alojamento, bem como o apoio de 6.200 milhões em medidas fiscais e contributivas, que contemplam adiamentos e diferimentos de obrigações fiscais”.
Francisco Calheiros defende, no entanto, que estas medidas devem ser operacionalizadas “com a maior brevidade” e pede que se proceda de imediato aos “ajustes requeridos pelos agentes económicos do turismo à anterior linha de crédito de 200 milhões de euros, para que estes apoios possam chegar rapidamente às empresas e permitam preservar o emprego e a economia nacional”. O presidente da CTP quer também “uma maior simplificação e adequação à atual realidade económica das empresas” do regime do lay-off, “de forma a permitir a manutenção dos postos de trabalho” e garante que a CTP vai “continuar a trabalhar com o Governo no sentido de flexibilizar este instrumento”.
Brevidade na aplicação das medidas é também o que recomenda Pedro Brinca, que lembra que a indústria hoteleira, por exemplo, tem “tipicamente estruturas de capital bastante apoiadas em dívida, devido aos elevados investimentos em infraestruturas tipicamente associados às unidades que operam no setor. Isto faz com que muitas empresas tenham fragilidades de tesouraria que dificilmente aguentam quebras de receita de forma acentuada mais do que três ou quatro semanas. Quanto mais os meses que se prevê que possam estar sem operar”, explica, antevendo “consequências dramáticas para a indústria” nos próximos dois meses, até porque “as próprias entidades públicas se encontram debilitadas em termos de processos”, o que deverá atrasar a aplicação das medidas já definidas.
Europa
Às medidas portuguesas juntam-se várias iniciativas europeias. Cláudia Monteiro de Aguiar defende que, na Europa, deve existir uma “ação concertada de medidas concretas que apoiem o setor”, como a flexibilização imediata e a desburocratização de procedimentos de acesso aos apoios comunitários, bem como um ‘rescue plan’ com “caráter de urgência” para o setor. “A Europa precisa de uma liderança forte que permita a importante ajuda financeira, mas também a partilha de boas práticas, de linhas orientadoras para que efetivamente seja dada uma resposta a um todo Europeu. Ainda que se respeite, e bem, a soberania de cada Estado Membro, a Europa não pode deixar de fazer sentir o pulso da liderança”, considera a eurodeputada portuguesa, defendendo que, quer as medidas tomadas a nível europeu, quer as lançadas pelo Governo português, “devem ir sobretudo ao encontro de garantir uma resposta que ajude as empresas no plano da liquidez”.
Neste sentido, Cláudia Monteiro de Aguiar diz que “Portugal e os restantes Estados Membros estão a ser incentivados a utilizar plenamente os instrumentos financeiros existentes assim como os Fundos Estruturais e de Investimento”, estando ainda previsto que sejam disponibilizados mil milhões de euros para apoiar as PMEs, através da Iniciativa de Investimento em resposta ao Coronavírus, apresentada pela Comissão Europeia, tendo a Europa já promovido a “simplificação na reprogramação dos programas existentes e a derrogação dos reembolsos do pré-financiamento”. “Por exemplo, sabemos que haverá um reforço de 750 milhões de euros através do Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos (FEIE) ao COSME, InnovFin, SME Garantees no H2020”, acrescenta a eurodeputada do PSD.
Cláudia Monteiro de Aguiar destaca ainda “as boas práticas de outros Estados-Membros”, como os “credit holidays loans”, que permitem que “as agências de viagens em vez de reembolsarem possam criar um crédito para utilização futura”, numa medida que está também “a ser aplicada em muitas companhias aéreas, permitindo garantir reservas”.
Paralelamente, os Estados-Membro poderão ainda “ajudar diretamente as empresas em dificuldade e permitir a alavancagem de empréstimos bancários através de Garantias do Estado”, esperando-se que, desta forma, “as empresas possam ter acesso a liquidez para honrar compromissos de curto prazo”, enquanto o diferimento do pagamento de impostos é “importante para aliviar a tesouraria das empresas, em especial as empresas do setor do turismo, com forte componente sazonal e intensivas em mão de obra”.
Recuperação
Mais difícil é saber quando virá a recuperação. Francisco Calheiros lembra que “as empresas de turismo estão habituadas a lidar com a adversidade” e “são, inclusive, as primeiras a recuperar das crises económicas e financeiras”. “Mesmo antes desta pandemia, as empresas já lidavam com outros problemas, como as dificuldades de acesso ao financiamento e uma carga fiscal excessiva. O nosso esforço vai no sentido de mitigar os efeitos desta crise, trabalhando com o Governo para criar medidas extraordinárias de apoio à tesouraria, linhas de crédito e algum alívio fiscal”, acrescenta, considerando que “o impacto da pandemia será sempre proporcional à sua duração”.
Já Pedro Brinca defende que “existe a expetativa geral de que a pandemia estará controlada durante o mês de abril e que durante maio acabaram as medidas de contenção, mas a incerteza é grande. E isso será, sem dúvida, um obstáculo grande a que as pessoas possam nos tempos mais próximos planear as férias”.
Apesar de, após a SARS, o turismo ter recuperado rapidamente, o especialista defende que, desta vez, isso pode não acontecer, pois esta epidemia “atingiu um impacto não só a nível global, como um nível sem precedentes. Por outro lado, está a atingir países e zonas do planeta a ritmos diferentes, o que manterá sempre um nível de disrupção das ligações aéreas mais acentuado; o grau de impacto económico irá levar a uma quebra acentuada do poder de compra; e por fim, a escala global que atingiu levará a que o receio de viajar se poderá até constituir como o principal obstáculo à retoma”, aponta, considerando que, em Portugal, “é provável que parte da quebra” seja compensada “por uma quebra menos acentuada por parte dos residentes. Isto poderá fazer com que as perdas no sector sejam menores que em destinos mais dependentes da procura externa”, nota.
Já Cláudia Monteiro de Aguiar considera que “a questão de quando pode o setor recuperar é, ao dia de hoje, a “million dollar question”, até porque “estamos perante uma emergência de saúde sem precedentes”, que “representa uma séria ameaça global, mas com um impacto fortíssimo na Europa”.
A eurodeputada do PSD sublinha, no entanto, que “esta pandemia terá um efeito a longo prazo pois a indústria de Viagens e Turismo tem inerente à sua existência um fator de extrema importância: a segurança” e, neste momento, diz, “esse capital encontra-se perdido. Só quando se restabelecer a segurança é que o setor sentirá paulatinamente a retoma”, conclui.
Artigo publicado na edição 1414 do Publituris de 27 de março de 2020