A expansão da oferta MICE no Interior em debate na BTL
As oportunidades e desafios na expansão da oferta no Interior de reuniões, incentivos, conferências e exposições (MICE, na sua sigla em inglês) estiveram em debate esta sexta-feira, 14 de março, na BTL – Better Tourism Lisbon Travel Market.

Carla Nunes
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Num primeiro momento, Rui Ochôa, diretor da Event Point e moderador na sessão, referiu que o debate surge numa altura em que “apesar de se falar em distribuir o turismo em todo o território, ao longo de todo o ano, sentimos que ainda há muito para fazer”.
Em termos de acessibilidades e capacidade de alojamento, Danilo Cerqueira, CEO da Tempovip DMC, destaca que há cerca de três anos existem várias unidades hoteleiras com qualidade a deslocarem-se para fora dos centros urbanos. Por essa razão, é da opinião de que “cabe a nós, agregadores de oferta, estimular para que mais projetos possam ser deslocados para o interior”.
Do lado da Detours, que na região do interior opera sobretudo no Norte, o fundador, Tiago Veloso, refere que em termos de acessibilidades existem dois pontos. Se, por um lado, existe uma rede de estradas “muito boa” a fazer a ligação entre o Porto e as cidades no interior no norte do país, bem como recetividade por parte dos municípios, por outro lado o cliente “não quer ir para lá”. Por essa razão, “há que vender o destino”.
Da sua experiência com grupos de MICE, zonas como o Gerês e Arouca têm feito sucesso por constituírem um tipo de turismo “que ainda não é tão industrial – são experiências mais exclusivas, que não se conseguem ter sem ir para o Interior”. Nesse sentido, aponta para a importância de apostar em parceiros locais, “se queremos que as coisas corram bem”.
Com 95% do mercado da Detours centrado no segmento internacional, Tiago Veloso refere que, pela sua experiência, o mercado MICE nacional “está motivado a ir para o Interior”, com alguns clientes a pedir para sair fora dos grandes centros.
Transformar património em experiências
Sobre este tema, Carlos Picanço, diretor de vendas, marketing e impacto na Futurismo Azores Adventures, é da opinião de que “um dos problemas em Portugal passa por desenharmos mal experiências”. No caso da Futurismo, o cliente vai desde o segmento de luxo, com famílias reais, ao backpacker, razão pela qual afirma ser necessário perceber em primeiro lugar o que os clientes “querem, o que procuram e o que querem alcançar” e, a partir daí, ser criativo na construção da oferta.
“Tentamos aplicar um modelo único que não funciona de forma alguma. Os eventos devem emergir de um território porque há ali algo de diferente que queremos captar”, afirma Carlos Picanço, que aponta para a necessidade de os territórios “controlarem a sua narrativa”.
Sobre este ponto, as Aldeias Históricas de Portugal, representadas na sessão por Dalila Dias, diretora-executiva desta rede, pretendem posicionar-se como um destino sustentável. Se ao início “toda a oferta ligada ao turismo foi pensada na área da cultura”, a rede “foi agregando valor”, criando espaços próprios ou dentro dos alojamentos que permitissem uma oferta MICE.
Contudo, e dada a dimensão das localidades em que se inserem, Dalila Dias indica que têm encetado esforços no sentido de equilibrar “a quantidade de pessoas que vêm em proposta de MICE e a sustentabilidade do local”. Com as DMC’s a demonstrarem cada vez mais interesse em trabalhar com as Aldeias Históricas de Portugal, Dalila refere que neste momento “somos nós que escolhemos os que trabalham connosco, que respeitem este equilíbrio”.
A profissional explica que a rede encontra-se a transferir o conceito das Aldeias Históricas de Portugal para Cáceres, estando já a trabalhar a área de MICE em conjunto com Espanha nas indústrias culturais e criativas, bem como nas indústrias de outdoor, numa lógica de visita a ambos os países num espaço de três dias.
Diferenciação face à concorrência
Defensor da construção de redes de parceiros locais, Tiago Veloso defende que é fundamental incluir associações regionais nestas experiências, quer revertendo parte dos lucros a estes parceiros locais, quer incluindo as mesmas nos produtos a oferecer ao cliente.
“Temos uma rede de parceiros que tentamos incluir para dinamizar locais onde trabalhamos. Percebemos que ao fazer este tipo de eventos no interior as pessoas tendem a fixar-se mais”, refere o fundador da Detours.
Já Dalila Dias aponta para a necessidade de trabalhar “densamente com as comunidades, incluí-las no processo, e não apenas como figurantes”. Aponta ainda para a necessidade de criar estímulos de empreendorismo local, atraindo jovens para abrirem negócios, mas também valorizar “quem já está presente”, ajudando empresas mais antigas “a fazer a diferença no âmbito da transição digital e verde”.
“Não nos interessa estar em todo o lado, em termos de estratégia. Interessa-nos trabalhar em quem reconhece o valor do que estamos a fazer. Primeiro trabalhamos o posicionamento da marca, o ativo que dá o nome e com as pessoas. E a partir daí conseguimos trabalhar um MICE diferenciador, porque com 12 aldeias históricas tem pelo menos 12 experiências diferentes”, refere.