Lembra-se do sketch dos Gato Fedorento “O papel, qual papel, o papel?”. Pois bem, é a situação mais identificável com o novo projeto do grupo Vila Galé que apresentou este sábado, 22 de fevereiro, as Casas d’Elvas Historic Hotel.
Como leu bem, apresentou, não inaugurou, porque a Património Cultural I.P. embargou o projeto, tudo por ter sido construída uma piscina num local onde antes se encontrava a ruína de uma fábrica de secagem de ameixa, levando Jorge Rebelo de Almeida, presidente do grupo Vila Galé a considerar que, “em vez de nos criarem dificuldades e não nos permitirem inaugurar este novo hotel, deveríamos receber uma medalha por recuperar patrimónios históricos”, salientando que “neste país [Portugal] demora mais tempo a aprovar um hotel do que a construir um hotel”.
A nova unidade, que espera dia e hora para receber os primeiros hóspedes, é fruto de um investimento de mais de seis milhões de euros e que recuperou, no que o presidente do grupo Vila Galé considerou, “uma autêntica lixeira no meu de Elvas”.
Constituído por 44 quartos de diversas tipologias, uma piscina panorâmica (a tal que está a criar os problemas com o Instituto Público), restaurante “Massa Fina”, sala de reuniões, e localizado a pouco mais de 100 metro do Hotel Vila Galé Collection Elvas, pode dizer-se que todos os cantinhos foram aproveitados para a construção desta nova unidade Vila Galé.
Na conferência de imprensa que marcou a apresentação do projeto, e que não contou com a presença do presidente da Câmara de Elvas, José Rondão Almeida, por, segundo afirmou Jorge Rebelo de Almeida, “ter receio de perder o mandato, devido a pressões que terá recebido”, o presidente do grupo Vila Galé admitiu mesmo que “se fizéssemos mais do que uma apresentação, teríamos cá a ASAE”.
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Destacando ainda o facto de o projeto ser de “tão grande interesse que só mesmo nós [Vila Galé] concorremos à sua concessão”, Jorge Rebelo de Almeida deixou a certeza de que ”fazemos isto por uma questão de responsabilidade social, patrimonial, histórica. Claro que queremos ganhar dinheiro e ter uma operação rentável, mas sabemos que criar estes hotéis diferenciados e inovadores é uma necessidade e uma via para atrair turistas que procuram novas experiências”.
Contudo, todos os projetos de recuperação que o grupo Vila Galé tem vindo a apresentar ao mercado têm contribuído para que o grupo seja alvo das mais diversas críticas e difamações, referindo Jorge Rebelo de Almeida que “são vários os projetos que temos ‘encalhados’”, dando como exemplo o caso de Elvas, mas também de Tomar, Penacova ou Paço de Curutêlo, em Ponte de Lima, reconhecendo, contudo, que “ninguém nos tira o prazer de fazer este tipo de investimento e recuperações. É o espírito de missão que temos. Temos noção de que o turismo em Portugal precisa de hotéis diferenciados, hotéis inovadores, hotéis que atraiam os turistas” e que estes mesmos turistas “não querem vir para hotéis que sejam iguais em todo o mundo”.
Critico da burocracia que existe em termos de licenciamentos e entidades estatais, Jorge Rebelo de Almeida admitiu que “muitas vezes até posso ou podemos vir a ser prejudicados pelo que digo, não tenho filtros, mas a realidade é que se não forem os privados a apostarem e a investirem na recuperação deste património que está abandonado, abandonado continuará”
Destinado a um vasto target de hóspedes, Jorge Rebelo de Almeida deixou a certeza de que, “com a invasão que estamos a ter de turistas americanos e brasileiros, [este hotel, Casas d’Elvas Historic Hotel] vai ter forte procura”, embora Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo tenha admitido que “temos de voltar à carga em Espanha”.
De resto, Jorge Rebelo de Almeida voltou a perguntar “de onde vem essa ideia de que existe turismo a mais” em Portugal. “Basta olharmos para o vasto Interior para percebermos que turismo a mais não é uma questão em Portugal”. O presidente do grupo Vila Galé também questionou, “se vale a pena continuarmos com esta história do Interior, quando de Lisboa a Elvas se demora uma hora e meia”, considerando que para esses turistas essas distâncias até são “normais”.
Quanto ao turismo que chega ao nosso país proveniente do outro lado do Atlântico, o presidente do grupo Vila Galé admite que “o Trump não vai estragar nada. Pelo contrário, até poderá ajudar, porque os americanos vão querer sair de lá”, considerando que esse, juntamente com o Canadá, será “dos mercados com maior potencial de crescimento nos próximos anos”.
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Quanto à oferta hoteleira, Gonçalo Rebelo de Almeida deixou claro que “o nosso caminho não é o preço barato, mas também não é cair em aumentos de preço completamente loucos. O que interessa e é importante é ter produtos de qualidade e trabalhar na excelência. Se formo pela quantidade, esgotamos o produto rapidamente”.
Já noutras geografias, nomeadamente no Brasil, Jorge Rebelo de Almeida é da opinião que o grupo hoteleiro português, que até ao final de 2025 prevê abrir mais quatro projetos, “democratizou o preço na hotelaria”.
Regressando ao mercado nacional, Gonçalo Rebelo de Almeida frisou que os mercados mais longínquos têm mais apetência para descobrir e ficar mais tempo em unidades como as Casas d’Elvas Historic Hotel, embora reconheça que “o português é o que melhor corresponde a este tipo de produto”.
E admitindo que o grupo possui uma “vasta experiência em lançar destinos que não existem, lembrando o administrador da Vila Galé que no caso de Elvas, “aquando da primeira análise do projeto para a cidade a taxa de ocupação rondava os 35% e o preço os 40 euros”, Gonçalo Rebelo de Almeida conclui que “é este o trabalho que nos diferencia e é e será esta o nosso caminho”.