Instabilidade geopolítica e meteorológica, regulação e gestão do espaço aéreo apontados como desafios pelo CEO da TAP
No habitual almoço de Natal da TAP com a imprensa, Luís Rodrigues, CEO da companhia aérea, não avançou com quaisquer previsões para os próximos tempos, deixando, contudo, três desafios com os quais a TAP se confronta.
Victor Jorge
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Luís Rodrigues, CEO da TAP, enumerou esta quarta-feira, 5 de dezembro, durante o almoço de Natal com a imprensa, alguns dos desafios com que a companhia aérea nacional se vê confrontada. Segundo o responsável, a TAP “está num processo de transformação que vai demorar bastante tempo”, salientando que a aviação é “um negócio extremamente exigente”, reconhecendo que “os ciclos de comportamento e iniciativas demoram sempre muito tempo a produzir impacto”, sem deixar, contudo, de admitir que “este é um ano extremamente positivo”.
Quanto aos desafios que a TAP enfrenta, Luís Rodrigues começou por referir a “instabilidade geopolítica” a que junta a “instabilidade meteorológica”. “Desde a Segunda Guerra Mundial nunca enfrentámos um momento, um ciclo da história do mundo ocidental ou do mundo na generalidade, onde tivéssemos tantos conflitos armados e tão severos como têm sido até agora”, começou por referir.
A estes conflitos geopolíticos, Luís Rodrigues juntou fatores meteorológicos, admitindo que estes “condicionam tremendamente”, frisando que, em primeiro lugar, “cria ansiedade na procura e, por isso, há muita gente que altera os seus voos, os seus planos de férias ou de viagem; condiciona a oferta, porque temos de ser extremamente cautelosos com os sítios para onde vamos”, já que, “com as análises de risco que fazemos, isso gera, obviamente, mais custos”, e “condiciona a cadeia de abastecimento, porque em qualquer momento as peças para qualquer avião, para qualquer motor, para qualquer serviço que queiramos fazer, podem vir de um lado do mundo, e estarem num barco que está preso”, recordando quatro exemplos que, em 2024, espelham bem essa instabilidade meteorológica: Tel Aviv, Valência, Porto Alegre e agora mais recentemente Maputo.
Em segundo lugar, Luís Rodrigues apontou, igualmente, “o aumento do contexto da pressão regulatória, porque blocos, países, protegem-se criando regulações”, bem como o facto de o regulador “estar sempre atrás da tecnologia, com a necessidade de acomodar todo um conjunto de novos desenvolvimentos e novos investimentos que trazem cada vez mais regras a cumprir e o custo de fazer o negócio está a tornar-se cada vez mais insuportável”.
O terceiro grande desafio apontado pelo CEO da TAP, retirando da equação o aeroporto, prende-se com “a gestão do espaço aéreo na Europa, que está muito difícil” e que levou, inclusivamente um responsável de uma companhia independente – uma das maiores companhias da Europa – “a fazer uma petição pública para os cidadãos europeus se insurgirem contra a gestão do espaço aéreo, porque isso causou atrasos em milhares de voos este verão, gerando enormes custos para as companhias”.
Frota moderna contraria “estudos pouco credíveis”
Além destes três grandes eixos – instabilidade geopolítica e meteorológica, pressão regulatória e gestão do espaço aéreo na Europa – Luís Rodrigues apontou, igualmente o tema de sustentabilidade e utilização de combustíveis alternativos (Sustainable Aviation Fuel – SAF), criticando alguns “relatórios de fontes pouco credíveis sobre o ranking da TAP”. Neste ponto, o CEO da TAP fez questão de referir que “há factos que são facilmente verificáveis”, frisando que a TAP “tem a frota mais nova da Europa e que consome menos combustível por quilómetro voado. Portanto, dizer que a TAP está muito mal no ranking das companhias sustentáveis é completamente incoerente com estes factos que são facilmente comprováveis”, destacando ainda uma avaliação a que a companhia esteve sujeita no ano passado e este ano e que, segundo Luís Rodrigues, “dizia que, neste momento, somos a companhia aérea com o melhor rating de sustentabilidade na Europa”.
Ainda no tema dos combustíveis alternativos, o CEO da TAP admitiu que as companhias aéreas estão “preparadas para usá-los na totalidade, porque tecnicamente está provado que são tão bons como outros quaisquer”, mas “economicamente não estamos preparados, porque o custo que estamos a enfrentar é três ou quatro vezes mais do que o custo do combustível normal”.
Desafio adicional, reconheceu, é a “mão de obra qualificada. A pandemia levou as pessoas a questionarem o seu papel na aviação. Houve milhares que saíram e milhares que não voltaram. E como a aviação é um negócio muito exigente, obriga que as pessoas permaneçam muito tempo até conseguirem dominar na totalidade o tema. E quando elas não estão cá, a coisa torna-se muito mais complicada”, admitiu ainda.
Contudo, o encontro com a imprensa não serviu somente para apontar desafios, mas também oportunidades. “Uma delas é comercial”, referindo Luís Rodrigues que “há um esforço para vender cada vez mais e melhor, com ferramentas novas, com know-how novo”, frisando que “esse trabalho está a ser feito e está a fazer um caminho, não rápido, não imediato, mas está a ser feito”.
Também a área de serviço ao cliente que durante bastantes anos foi “sacrificada” foi apontada como oportunidade, explicando o CEO da TAP que “estamos a recuperar e a trilhar um bom caminho. A qualidade daquilo que fazemos a bordo, da nossa Portugalidade que é aquilo que nos distingue e da simpatia das tripulações que voam connosco, que trabalham connosco, conjugam-se para proporcionar ao cliente um serviço cada vez melhor”.
A área de eficiência da operação, onde, segundo Luís Rodrigues, a TAP “já atingiu níveis de capacidade de execução significativos e que comparam extremamente bem com qualquer dos nossos concorrentes” é reconhecido como outra oportunidade.
O CEO da TAP frisou também, o trabalho que tem sido efetuado no que concerne a pontualidade, destacando o papel não são da TAP, como, igualmente, da NAV, ANA e ANAC, no sentido de “eliminar os constrangimentos e facilitar o processamento”, reivindicando o lugar de “companhia aérea mais pontual no aeroporto de Lisboa”, desejando “garantir esse ranking, essa posição no futuro próximo, não só em Lisboa, mas nos aeroportos de todos os pontos de voo”.
Finalmente, Luís Rodrigues fez ainda referência às rotas estreadas recentemente – Florianópolis e Manaus, no Brasil; e Los Angeles, Boston e São Francisco – “mercados que estão a dar-nos extremamente bom feedback sobre a operação que estamos a levar e que está a ser encorajador”.
Por isso, concluiu que “estamos no bom caminho e preparados para enfrentar os desafios que temos pela frente”.