O que foi 2023 e o que será 2024 – Raul Almeida (Turismo do Centro de Portugal)
Com os indicadores a demonstraram que 2023 foi “o melhor de sempre para a atividade turística no Centro de Portugal”, Raul Almeida, presidente da Turismo do Centro, encara como um dos maiores desafios “aumentar a estada média dos turistas na região”. Quanto ao Governo saído das eleições de 10 de março, um pedido: “que deixe as ERT trabalhar, na plenitude das suas funções, consagradas pela Lei de 2013”.

Victor Jorge
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Findo o exercício de 2023, que balanço faz deste ano?
Faço um balanço extremamente positivo. O ano de 2023 foi o melhor de sempre para a atividade turística no Centro de Portugal, em todos os indicadores relevantes para o setor.
A nível das dormidas, 2019 era até agora o ano de referência, com um pouco mais de 7,13 milhões de dormidas. No entanto, até outubro de 2023, as dormidas chegaram já às 6,98 milhões, sendo, pois, previsível que, até ao final do ano, ultrapassem as 7,5 milhões. Será um marco histórico para a atividade turística na região.
A nível das receitas, o acumulado de proveitos totais até outubro, com 405,5 milhões de euros, ultrapassou já o total de todo o ano de 2022, de 388,1 milhões. Note-se que 2022 era o ano de referência neste indicador, pelo que estes números são ainda mais positivos.
Acredito que grande parte destes resultados se deve ao esforço constante em promover a região, assente em eventos, parcerias estratégicas e outras iniciativas, sem esquecer uma estratégia de marketing diferenciadora e abrangente.
A título pessoal, faço um balanço também muito estimulante. Tomei posse como presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal em setembro e nestes três meses comprovei que esta região tem, no setor turístico, um vasto e valioso conjunto de stakeholders, motivados e de grande dinamismo, com quem tem sido uma verdadeira inspiração trabalhar.
Na sua perspectiva, o que faltou concretizar no setor do turismo neste ano de 2023?
Na região Centro, o que nos apercebemos é que o grande crescimento na procura poderia ser ainda mais amplificado se a região dispusesse de mais portas de entrada para os visitantes estrangeiros.
A inexistência de uma estrutura aeroportuária que sirva os interesses da região é um obstáculo ao crescimento, assim como o é a ineficaz rede ferroviária. A única forma válida de conhecer uma região tão vasta como é o Centro de Portugal é por via rodoviária – e mesmo esta está longe de ser eficaz. Não faz sentido que duas capitais de distrito com a importância de Coimbra e Viseu não estejam ligadas por autoestrada, por exemplo.
Por outro lado, a escassez de mão de obra com que se debatem os empresários é um desafio que já vem de trás e que ainda não foi resolvido de forma satisfatória. São necessárias novas medidas a este nível, que apostem na qualificação e na valorização do trabalho turístico, que tornem mais atrativo um setor que é tão importante e que tem um peso tão grande para a economia nacional.
Como antevê o ano de 2024 em termos económicos?
Sou uma pessoa otimista e antevejo que seja um ano melhor do que 2023 para os portugueses. A trajetória de descida da inflação deverá permitir uma descida nas taxas de juro, possibilitando que os cidadãos com crédito à habitação possam respirar um pouco melhor.
Do ponto de vista da região turística, antevejo um ano ainda melhor do que este, em que já se bateram recordes. Estamos todos – Entidade Regional, Agência Regional de Promoção Externa, Comunidades Intermunicipais, autarquias e empresários – a trabalhar em conjunto para tornar o Centro de Portugal um destino preferencial para cada vez mais pessoas. A recente aprovação do nosso Referencial Estratégico, com as linhas orientadoras para os próximos anos, é um passo importante nesse sentido.
E que desafios terá o setor do turismo em 2024?
O desafio que carece de resolução mais urgente é o da escassez de trabalhadores na atividade turística. Como é do conhecimento público, a dificuldade de contratação é uma dificuldade séria para os empresários e causa uma grande entropia para a atividade. A qualidade do serviço é crítica para que a experiência turística seja positiva e leve os visitantes a voltar noutras ocasiões. Se esta qualidade é prejudicada pela falta de trabalhadores disponíveis, é toda a atividade do Turismo que perde.
Precisamos de, em conjunto com vários parceiros, nomeadamente a AHRESP e o Turismo de Portugal, IP, encontrar soluções para ultrapassar este problema. É fundamental apostar na capacitação, na captação e na retenção dos recursos humanos.
Outro desafio, que se coloca em concreto ao Centro de Portugal, é o de aumentar a estada média dos turistas na região. É um indicador em que ainda estamos abaixo da média nacional, pelo que temos de concentrar esforços, da ERT, das CIM e dos municípios, para reter e fixar os visitantes durante mais dias. Uma das estratégias nesse sentido passa por alargar o leque de experiências possíveis de ter no território, com ofertas integradas que juntem vários municípios.
O que gostaria de ver ser concretizado nos próximos 12 meses?
Gostaria de ver dados passos concretos para melhorar, ainda mais, a experiência turística de quem visita o Centro de Portugal, e de verificar, no final do ano, que fomos visitados por mais turistas, durante mais dias, em todos os meses do ano e com um maior equilíbrio entre o litoral e o interior da região.
Em particular, a Turismo Centro de Portugal está já a trabalhar num conjunto de projetos, alinhados com as tendências da procura turística, que consideramos diferenciadores e com ambição supramunicipal. Estes novos produtos turísticos possibilitarão a promoção do equilíbrio litoral/interior, e serão mais um ativo para aumentar a atratividade e prolongar a estada dos turistas na região.
A fazer um pedido ao Governo que sairá das eleições de 10 de março de 2024, qual seria?
Seria um pedido muito simples. Que deixe as Entidades Regionais de Turismo trabalhar, na plenitude das suas funções, consagradas pela Lei das ERT de 2013. Os bons resultados alcançados, ano após ano, comprovam que este é um modelo de gestão eficaz, descentralizado e que agrega os principais players do setor. As ERT conhecem, como nenhum outro organismo, todas as especificidades e atores do território e conseguem identificar, estruturar e promover, com eficácia, os seus produtos turísticos. Podemos mesmo afirmar que são o verdadeiro exemplo de uma descentralização que funciona na perfeição, e que deveria servir de inspiração para outros setores.
Para tal, no entanto, é preciso atualizar o financiamento da estrutura, que todos os anos se mantém idêntico. Mas será também fundamental um trabalho sério na capacitação dos recursos humanos, que lhes permita estar alinhados com os desafios atuais e futuros; dar-lhes mais condições de trabalho e melhores ordenados (não podemos esquecer que muitos estão sem possibilidade de progredir na carreira há muitos anos); assim como integrar novos colaboradores para dar uma nova dinâmica às estruturas.
O trabalho feito justifica que haja um maior investimento da parte do Governo nas ERT. Seria um merecido reconhecimento ao trabalho feito por esta e por outras regiões de turismo.