África do Sul, um país diverso que os portugueses devem descobrir
A última edição da Africa’s Travel Indaba, uma das maiores feiras de turismo sul-africanas, que decorreu em Durban, mostrou ao mundo a oferta deste país conhecido pelos safaris mas que tem muito para oferecer. Apesar dos turistas lusos serem ainda poucos, a África do Sul está de braços abertos para receber os que queiram conhecer um país diverso, genuíno e que prima pela hospitalidade.
Inês de Matos
Enoturismo no Centro de Portugal em análise
ESHTE regista aumento de 25% em estágios internacionais
easyJet abre primeira rota desde o Reino Unido para Cabo Verde em março de 2025
Marrocos pretende ser destino preferencial tanto para turistas como para investidores
Do “Green Washing” ao “Green Hushing”
Dicas práticas para elevar a experiência do hóspede
Porto Business School e NOVA IMS lançam novo programa executivo “Business Analytics in Tourism”
Travelplan já vende a Gâmbia a sua novidade verão 2025
Receitas turísticas sobem 8,9% em setembro e têm aumento superior a mil milhões de euros face à pré-pandemia
Atout France e Business France vão ser uma só a partir do próximo ano
No regresso ao formato tradicional e aos números pré-COVID, a mais recente edição da Africa’s Travel Indaba, que decorreu em Durban, deu a conhecer mais de 350 produtos turísticos, muitos dos quais têm a África do Sul como cenário. Este país africano, que se distingue pela natureza, é conhecido pelos safaris para ver os mais famosos animais africanos, mas tem muito mais para ver e conhecer, uma vez que conta com uma cultura diversa e uma rica história, onde Nelson Mandela continua a ser uma das principais referências.
A oferta turística sul-africana esteve, como não poderia deixar de ser, em destaque na mais recente edição da feira, que contou com perto de mil expositores, entre cadeias de hotelaria, companhias aéreas, destinos e operadores turísticos, além das entidades oficiais de turismo locais, numa ampla mostra do potencial deste país africano, que conta com uma vasta comunidade portuguesa mas onde os turistas lusos são ainda escassos.
“Portugal é um mercado importante mas não é um dos nossos principais mercados”, disse ao Publituris Lidia Martinuzzi, representante em Itália da reserva Mala Mala, uma das maiores reservas naturais privadas da África do Sul, que se localiza à entrada do Parque Nacional Kruger, um dos parques africanos mais procurados para a realização de safaris.
De acordo com a responsável, os poucos portugueses que visitam esta reserva fazem-no aquando das visitas a amigos e familiares que residem no país, daí que Lidia Martinuzzi admita que “há muitos portugueses que vivem na África do Sul e, por isso, há muitas viagens étnicas”.
Mesmo com as viagens étnicas, Portugal representa “um mercado pequeno” e, apesar da responsável reconhecer a qualidade dos turistas lusos, o certo é que, por toda a África do Sul, são ainda poucos os destinos habituados a receber turistas provenientes de Portugal.
Pequeno mas importante
É verdade que Portugal representa um mercado reduzido para a África do Sul, mas como refere Lidia Martinuzzi, tem potencial. “Acreditamos que existe potencial para aumentar os fluxos. Portugal não é importante pelos números mas sim pela qualidade do turismo”, explicou a representante da reserva Mala Mala em Itália, numa opinião partilhada por grande parte das regiões sul-africanas com quem o PUBLITURIS foi falar.
Portugal é um mercado importante, mas não é um dos nossos principais mercados”, Lidia Martinuzzi, reserva Mala Mala
Na província de Eastern Cape, onde se localiza a cidade de Port Elizabeth, os turistas portugueses não são assim tão raros, mas, como explicou Mpho Makoko, representante da agência de turismo e parques de Eastern Cape, procuram essencialmente os parques e reservas que permitem ver os Big 5 – leão, leopardo, búfalo, elefante e rinoceronte -, ou seja, os animais que toda a gente procura quando realiza um safari. “Temos muitos turistas internacionais, incluindo também portugueses. Temos muitos turistas internacionais nas reservas naturais”, explicou a responsável.
Onde os turistas portugueses também já são habituais é na província de Western Cape, onde se localiza a Cidade do Cabo, de longe o mais conhecido dos destinos turísticos sul-africanos e onde, segundo Masonele April, Leisure Tourism Intern do Cape Town & Western Cape Tourism Promotion, a maior parte dos “visitantes é internacional”. “Os portugueses visitam muito a Cidade do Cabo e também gostam de realizar atividades”, indicou a responsável.
Junto à Cidade do Cabo fica ainda o Robben Island Museum, atração turística que resulta da antiga prisão onde Nelson Mandela e muitos outros presos políticos da altura do Apartheid estiveram encarcerados. Neste museu, o número de visitas de portugueses também não é vasto, mas já representa alguma coisa, segundo Yolanda Mdutyana, representante do museu, que explicou ao Publituris que o Robben Island Museum recebe uma “grande variedade de turistas”, uma vez que este local representa “um testemunho histórico”, que conta toda a história desta ilha descoberta pelos portugueses no século XV mas que, desde sempre, foi usada como local de punição e encarceramento.
Em Gauteng, outra das províncias sul-africanas, conhecida essencialmente pelas cidades de Joanesburgo e Pretória, Mputle Dikobe, representante do turismo de Gauteng, também reconhece que os turistas portugueses são ainda poucos, apesar de admitir que Portugal é um mercado prioritário. “Tenho de ser honesta e dizer que ainda não temos muitos turistas portugueses. Mas Portugal é um dos mercados prioritários para nós e reconheço que temos de nos focar mais na promoção de Guateng no mercado português porque sabemos que há potencial”, afirmou a responsável, explicando que Guateng é procurada essencialmente pelos turistas portugueses mais jovens. “Vemos que há muito interesse pela África do Sul, especialmente entre os viajantes mais novos, como os millennials. Estes viajantes querem aventura e uma série de experiências que Guateng pode oferecer”, revelou Mputle Dikobe.
Já na província de North West, conhecida igualmente pelos safaris e atividades aquáticas numa vasta zona de costa, os portugueses também não costumam ser muitos. Segundo Nthabiseng Manonyane, representante do Turismo de North West, Portugal representa “números pequenos” para esta região sul-africana, mas nem por isso deixa de ser um mercado interessante. “Não é um grande mercado, não diria que temos muitos turistas portugueses mas tenho a certeza que há vários e que são importantes”, disse a responsável ao Publituris, num testemunho semelhante ao que chega também da região de Northern Cape, província conhecida por incluir parte do deserto do Kalahari. “Não temos muito turismo proveniente de Portugal. Atualmente, já estamos a receber pessoas de Portugal que nos visitam especificamente pelo deserto do Kalahari. São turistas que querem visitar diferentes locais no Kalahari, mas a percentagem de portugueses é, de facto, baixa”, explicou Bettie Papier, representante da autoridade de turismo de Northern Cape.
Diversidade é principal atrativo
A África do Sul é conhecida mundialmente por ser um país privilegiado para a realização de safaris. O Parque Nacional Kruger é o parque sul-africano mais conhecido para a observação de animais, mas por todo o país existem diversas reservas públicas ou privadas onde também é possível realizar esta atividade que, apesar de ser a mais conhecida, está longe de ser a única atração sul-africana. É que a África do Sul é um país tão diverso, seja a nível natural ou cultural, que o difícil é mesmo escolher que destinos visitar ou que atividades realizar.
Por isso, perguntámos às várias províncias sul-africanas porque devem os portugueses escolher a sua região para visitar. E as respostas foram tão diversas quanto a oferta turística do país.
Se na reserva Mala Mala, Lidia Martinuzzi elege os animais africanos, nomeadamente os Big5 e o facto desta reserva permitir a realização de safaris sem que se encontrem outros veículos pelo caminho, na província Eastern Cape o apelo é pelos Big7. “Esta zona também é conhecida pelos Big 7, ou seja, além dos Big 5, também temos o tubarão-branco e as orcas”, indicou Mpho Makoko, destacando também o vasto calendário de eventos que a Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth, recebe anualmente, assim como as atrações naturais, a exemplo do Hole in the Wall, junto a Coffee Bay, um buraco que a força das ondas escavou numa rocha e que, segundo a responsável, é considerado uma das maravilhas desta região.
De Eastern Cape para Western Cape, a província da Cidade do Cabo, os turistas podem seguir pela Garden Route, rota que liga as duas regiões e que passa por algumas das mais belas praias e paisagens da África do Sul.
Nesta região sul-africana e além da Cidade do Cabo, que segundo Masonele April, “toda a gente quer conhecer”, existem muitas outras atrações e atividades para realizar, nomeadamente de aventura, às quais a região está a dedicar, este ano, um maior esforço de promoção. Mas, nesta região, atividades como o hiking, assim como as experiências culturais,nomeadamente em Kwha ttu, na West Coast, onde é possível aprender mais sobre o povo Sun, nativo da África do Sul, são também ex-libris.
Os portugueses visitam muito a Cidade do Cabo e também gostam de realizar atividades”, Masonele April, Cape Town & Western Cape
Uma vez nesta região, é fácil dar um pulinho à Robben Island, a prisão que hoje é um museu e onde Nelson Mandela esteve encarcerado por mais de duas décadas e que, segundo Mncedisi Siswana, antigo preso político de Robben Island, deve ser visitada pelo relato que encerra sobre a evolução do homem. “Os portugueses devem visitar a Robben Island porque, de certa forma, representa a evolução do homem ao longo dos séculos e a forma como os homens se têm tratado uns aos outros. E é uma pena porque parece que não temos aprendido nada”, lamentou Mncedisi Siswana, que é atualmente um dos antigos presos políticos desta prisão sul-africana que guiam os turistas nas visitas à ilha.
Um relato sobre a evolução da espécie humana mas a nível arqueológico é também o que se pode encontrar na província de Gauteng, onde se localiza o local histórico Cradle of Humankind, considerado o local com maior concentração de fósseis hominídeos do mundo. Mas esta região da África do Sul prima também pela aventura e atividades na natureza, eventos, turismo de compras, assim como pela autêntica gastronomia sul-africana. “Os portugueses devem visitar Gauteng pela diversidade. Somos uma província multicultural, multigeracional, excitante e que gosta de receber. Também temos uma comida fantástica, oferecemos a cozinha autêntica africana”, descreveu Mputle Dikobe, sublinhando que o povo desta região adora “receber as pessoas e envolvê-las na sua cultura, dando-lhes uma experiência autêntica”.
Autenticidade é ainda o que promete North West, que está focada em promover os seus “belos cenários naturais, o património cultural, assim como as grandes experiências de safari”. É que também nesta região os safaris são reconhecidos, nomeadamente na Madikwe Game Reserve.
De resto, toda a região merece ser conhecida, até porque, como explicou Nthabiseng Manonyane, a província está dividida em quatro distritos e todos eles têm algo para apreciar. “Na zona de Ngaka Modiri Molema District temos muitas atrações naturais, com belas paisagens intocadas. No distrito de Dr Kenneth Kaunda District podemos encontrar mais locais de aventura e atividades aquáticas”, resumiu a responsável, convidando os turistas portugueses a visitar a região “para experienciarem a bela África do Sul e a bela província de North West, que tem um povo fantástico, o mais hospitaleiro da África do Sul”, além de uma “excelente meteorologia”.
Já na região de Northern Cape a grande atração é o Kalahari, daí que muita da oferta desta região esteja agregada ao conhecido deserto. “Em Northern Cape temos o Kalahari Transfrontier Park, várias reservas naturais, como a Witsand Nature Reserve, o Mokala National Park, a época das flores em Springbok e muitas atividades. Temos também o povo nativo Sun do Kalahari, que é o povo verdadeiro do mato na África do Sul”, explicou Bettie Papier, defendendo que os portugueses devem visitar esta região pela “experiência única e autêntica” que ali podem encontrar. “Oferecemos uma experiência cultural em que é possível sentir verdadeiramente o que é viver no mato. Os turistas podem ficar a conhecer as histórias antigas do povo Sun e do Kalahari”, acrescentou Vinkie van der Westhuizen, do turismo de Northern Cape, realçando também a “vista única para as estrelas”, que só o deserto pode oferecer.
Motivos não faltam para que os portugueses visitem a África do Sul, mas, como referiu ainda Lidia Martinuzzi, “seria mais fácil aumentar as reservas se houvesse mais voos”. É que, depois da COVID-19, a oferta aérea tem demorado a voltar ao que era no passado, dificultando o trabalho dos operadores turísticos.