WTM 2021: “O mundo está a mudar e o turismo tem de estar na linha da frente”
Foram cerca de 30 os responsáveis pelo turismo de outros tantos países que deixaram, durante a conferência no WTM London 2021, a sua perspetiva sobre o que terá de ser feito em termos de sustentabilidade. E uma coisa é certa, o turismo é parte integrante nesta mudança.
Victor Jorge
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“Hoje vivemos numa era em que a maior ameaça para o bem-estar do ser humano, para outras espécies e para o planeta como o conhecemos, somos nós próprios”.
A frase pertence ao ativista David Attenborough e foi desta forma que Julia Simpson, CEO do World Travel & Tourism Council, iniciou o seu discurso no “UNWTO, WTTC and WTM Ministers’ Summit 2021 – Investing in Tourism’s Sustainable Future”, onde participou a secretária de Estado do Turismo, Rita Marques.
Julia Simpson prosseguiu ao afirmar que, “se no COP26 os líderes mundiais estão a discutir o que fazer no que diz respeito às alterações climáticas, nós, aqui, nós do turismo, temos de fazer a nossa parte”.
A responsável pelo WTTC disse mesmo que, “por vezes, é preciso uma crise como esta para os líderes acordarem e perceberem a importância deste setor [turismo e viagens]”, admitindo que “este é um caminho que não se faz sozinho. Por isso, há que caminhar em conjunto para o bem do planeta”.
Focando a importância do investimento, frisando, contudo, que “terá de ter, forçosamente, em conta as questões ambientais”, Julia Simpson destacou outros fatores a ter em conta como, por exemplo, o digital, segurança e saúde, recursos humanos qualificados, diversificação dos destinos, mobilidade, inclusão e o local”.
Já Zurab Pololikashvili, secretário-geral da Organização Mundial do Turismo (OMT), destacou o facto do turismo ser o terceiro setor mais importante do mundo a nível económico – a seguir ao petróleo e indústria química -, frisando que “o nosso setor tem a responsabilidade e obrigação de participar ativamente na mudança que está ou terá de acontecer em prol do ambiente e do nosso planeta”, salientando que “há dinheiro para fazer esta mudança”.
“O mundo está a mudar novamente e nós temos de estar na linha da frente”, disse o responsável pela OMT, assinalando, ainda, que “os modelos de negócio terão de abranger novas formas de gestão e olhar para os desafios e objetivos que estão a ser traçados”.
No painel que juntou cerca de três dezenas de ministros do turismo, a frase inicial pertenceu, também, a Zurab Pololikashvili ao referir que “não se trata de uma questão de fazer, mas sim de como, quando e onde fazê-lo”.
Certo é que para o secretário-geral da OMT, “não há melhor momento para investir no turismo. Quando há uma crise, surgem grande oportunidades de investimento”.
Por vezes, é preciso uma crise como esta para os líderes acordarem e perceberem a importância deste setor [turismo e viagens]” – Julia Simpson, CEO do WTTC
Ao participar neste painel, Julia Simpson – cuja carreira profissional passou pelo setor da aviação -, admitiu que “não devemos diabolizar a aviação, já que se não tivermos aviação, não teremos turismo”. Por isso, a CEO do WTTC reforçou a importância do setor da aviação, sem ignorar que “é preciso transformá-lo”. “A indústria da aviação está a investir, mas não podemos esquecer que, quando falamos em investimento na aviação, estamos a falar de investimentos enormes, brutais”.
Certo ficou, também, que “todos os países querem ter a sua companhia de aviação, não prescindem dela”, frisando que “todos os governos investem nos carros elétricos, mas não vejo nenhum governo a investir da mesma forma na aviação”, concluindo que “não estou a falar de injetar dinheiro, mas dar incentivos fiscais para quem investe”.
Da mesma opinião foi Nigel Huddleston, ministro do Desporto e Turismo do Reino Unido, admitindo que esses apoios ou incentivos fiscais são “cruciais”, salientando que os governos, neste particular, “têm uma obrigação de liderar”.
Rita Marques, por sua vez, frisou a questão da responsabilidade social, económica e ambiental que todos devem ter, deixando claro que, em Portugal”, só damos apoios a quem tem uma agenda verde”.
A SET portuguesa destacou, igualmente, a aposta que deverá ser feita em ter um turismo ao longo do ano e não sazonal, concluindo ainda que “o consumidor está preparado para pagar um pouco mais para ter serviços e soluções verdes”.
O debate que focou, essencialmente, as questões sustentáveis teve no ministro do Turismo italiano, Massimo Caravaglia, a afirmação, eventualmente, mais surpreendente, ao dizer que “o ‘overtourism’ vai voltar”, assinalando que “o ‘overtourism não é um problema, é uma consequência”. No entanto, afirmou, também, que o “turismo vai mudar. A atitude do turista vai fazer com que a indústria do turismo mude”.
Quando trazida para o debate a questão dos países subdesenvolvidos e das ajudas que devem ser dadas ao mesmo, o ministro britânico admitiu que “o apoio dos Estados mais ricos é essencial”, mas que não deve ser somente financeiro, mas ter, igualmente, componentes ao nível da formação, criação de parcerias, infraestruturas.
Do lado da tecnologia, David Lavorel, CEO da SITA, referiu que as questões ambientais “já existiam todas. A questão da sanitária ‘convidou-se’ para juntar-se a toda esta problemática”.
A questão dos combustíveis no setor da aviação foi trazida pelo ministro do Turismo do Bahrain ao afirmar que “este é somente um dos problemas”. Para o responsável, “tudo o que pesa num avião faz com que se gaste mais combustível” e que, por isso, há que “reduzir tudo o que possa contribuir para maiores gastos e consumos”.
Mas, também, deixou uma certeza: “se oferecermos menos ao consumidor/viajante, o mais certo é que ele mude para outra companhia aérea. Por isso, temos de encontrar um equilíbrio, realidade que não é fácil de encontrar”.
Ou seja, “o consumidor está na vanguarda na luta ambiental, mas terá de querer fazer a sua parte, terá de fazer parte da mudança. Não é querer, mas se lhe cortarmos algo, ele muda de hotel, companhia aérea ou destino”.