“Se existe procura que traz capital para o país não a devemos limitar”
A pandemia não afastou o investimento estrangeiro no imobiliário em Portugal, apenas colocou em espera o avanço de alguns projetos. Vasco Rosa da Silva, Founder & CEO da Kleya, considera que os fatores estruturais que fazem de Portugal um país atrativo mantiveram-se e a pandemia pode até ser uma oportunidade para o destino nesta área.
Raquel Relvas Neto
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Com perto de cinco anos de existência e uma carteira de clientes com cerca de 14 nacionalidades distintas, a Kleya apresenta soluções integradas para investidores, empresários, trabalhadores realocados, reformados e estudantes, entre outros, que desejem viver ou investir em Portugal. Para agilizar o processo de submissão ao estatuto de Residente Não Habitual, foi lançada uma nova solução digital – o NHR Express (ver caixa). Vasco Rosa da Silva, Founder & CEO da Kleya, fala sobre a nova ferramenta, mas também sobre o investimento estrangeiro em Portugal e o impacto que a pandemia teve ou não neste processo.
De que forma a pandemia afetou a captação de investimento estrangeiro para Portugal?
A pandemia trouxe muita incerteza e quando há mais incerteza os investidores retraem-se. Nos primeiros meses, após o eclodir da pandemia, a palavra de ordem era “on hold”. Felizmente “on hold” não significa desistir dos projetos, no máximo obrigou a rever alguns projetos.
Portugal continua a ser atrativo do ponto de vista de investimentos internacionais?
Claro. Como referi, dos projetos que tínhamos em carteira não houve nenhuma desistência. Os fatores estruturais que fazem de Portugal um país atrativo mantêm-se e talvez com a pandemia possam até ser reforçados. Por exemplo, a segurança e as boas infraestruturas de comunicação fazem de Portugal um ótimo destino para uma nova geração de “teletrabalhadores”.
A medida anunciada pelo Governo da proibição dos vistos gold em Lisboa e Porto impactou a atração de Portugal nessa área? Como classifica o papel do Governo no que à atração de investimentos internacionais diz respeito?
Voltamos ao tema da incerteza. Mudanças legislativas colocam dúvidas quanto à estabilidade do quadro legal/institucional para o investimento e isso pode retrair investidores. No entanto, esta proibição já estava anunciada e era esperada.
Por outro lado, a proibição foi apenas para o imobiliário residencial. Quem desenvolve, por exemplo, projetos de reabilitação urbana para exploração hoteleira e que “retalha” esses projetos para investidores que pretendem o vistos gold pode continuar a fazê-lo em Lisboa e no Porto e o investimento nesta área aumentou. Aliás, não há capacidade de oferecer produto imobiliário comercial para toda a procura que existe. O Governo tentou resolver um problema que sabemos que existe que é o do aumento dos preços do imobiliário em Lisboa e Porto, mas infelizmente atuou do lado da procura e não do lado da oferta. Se existe procura para Portugal que traz capital para o país (e bem precisamos) não a devemos limitar.
É necessário criar oferta para que os jovens, os mais carenciados, os idosos, as classes médias também tenham soluções de habitação em Lisboa e Porto. Percebo a opção, porque a pressão de certa opinião pública é grande e é mais fácil e rápido mexer numa lei do que desenvolver programas de rendas acessíveis, mas nem sempre os caminhos mais fáceis são os mais acertados.
Em que áreas de negócio têm sentido maior procura? E em que áreas geográficas de Portugal?
Infelizmente tenho que dizer que Lisboa, Porto e Algarve continuam a ser os “centros de atração”. O Alentejo e até o Douro também começam a aparecer no mapa, mas ainda é difícil para um investidor estrangeiro ir para o interior do nosso país. É por isso que digo infelizmente. Temos feito esforços para mostrar que há mais Portugal, mas é um caminho demorado. Aqui sim é preciso um esforço institucional grande para, efetivamente, mudar a assimetria grande Litoral/Interior. Volto a falar da proibição dos vistos gold em Lisboa e Porto para imobiliário residencial, não vai fazer quase nada para levar investimento para o interior. É preciso antes um esforço concertado de promoção, de algumas infraestruturas como a fibra ótica e o 5G no interior e sobretudo desenvolver um ecossistema, que junte vários “players” públicos e privados, para trazer investimento para o interior.
No que diz respeito ao investimento no imobiliário turístico, qual o estado atual do mesmo?
Como referi já, o facto do investimento no imobiliário turístico continuar a ser elegível para o visto gold vai permitir aos promotores financiarem-se com pequenos investidores e isso está a ajudar ao desenvolvimento de vários projetos. Existem áreas como o Turismo de Natureza em que verificamos uma procura crescente, quer de grandes fundos de investimento como de pequenos e médios empresários estrangeiros. E em Lisboa e Porto quem ainda procurava oportunidades para entrar e investir, continua a fazê-lo, e depois deste período “on hold” creio que ainda há mais “apetite” para avançar com os investimentos.
De que mercados internacionais têm sentido maior procura? E quais têm recorrido mais à vossa ferramenta NHR Express desde o seu lançamento?
No imobiliário turístico o nosso principal mercado continua a ser Espanha e o de maior crescimento é o norte americano.
Como temos uma oferta também para os clientes particulares e para colaboradores dos nossos clientes “corporate” lançámos esta plataforma, que é criada e é gerida por nós, e onde os nossos parceiros da área legal e fiscal podem prestar os seus serviços a esses clientes particulares. Quando falo de ecossistemas estou muito contente com esta iniciativa, porque sentimos que havia uma necessidade ligada à nossa atividade e conseguimos que os prestadores de serviços, nomeadamente sociedades de advogados e consultores fiscais, tivessem um meio que lhes possa aumentar a eficiência do trabalho, concedendo-lhes mais disponibilidade para o seu expertise pois as tarefas de menor valor acrescentado, são desmaterializadas. A experiência do cliente final melhora e com esta plataforma o preço final até é menor graças aos ganhos de eficiência.
Estamos a começar com esta plataforma do NHR express e como a plataforma está online aberta a todos, temos recebido clientes particulares de diversas geografias desde a América do Norte até à India, e claro de vários países da Europa.
Existe algum mercado que tem registado uma performance mais interessante ou distinta do que outros que seja de assinalar?
Creio que a América do Norte pela sua dimensão e efeito de rede é muito interessante. Os investidores, pequenos ou grandes, que vêm dos Estados Unidos ou Canadá têm associações e pontos de interesse globais e podem trazer consigo outros investimentos e know-how diversificado, que creio que será bastante impactante.
Recentemente, realçou que o programa português do Residente Não Habitual tinha sido considerado um dos melhores na Europa. Que mais-valias deste destaca? E o que poderia ser melhorado?
Antes gostaria de desmitificar um tema: o programa incide, essencialmente, sobre os rendimentos gerados fora de Portugal. Um investidor que venha para Portugal e faça aqui o seu projeto vai ser tributado pelos seus lucros tal como qualquer outro. A principal mais-valia do programa é eliminar a barreira fiscal para alguém que queira vir para Portugal, se um estrangeiro tivesse que vir viver em Portugal pagando sobre as suas poupanças no estrangeiro com o que nós pagamos cá de impostos, não viria.
Todas as pessoas que vieram para Portugal ao abrigo do regime Residente Não Habitual têm as suas poupanças, elevada qualificação e não são um encargo para a nossa segurança social e descobriram que Portugal é maravilhoso e tem um povo maravilhoso. São os primeiros a promover o nosso país e isso foi decisivo para o aumento da reputação de Portugal e para um crescimento da procura hoteleira.
Com esta análise feita e com a atual situação, como perspetiva o futuro do investimento estrangeiro em imobiliário em Portugal? Seja a curto, como a médio prazo?
Há várias tendências a que assistimos e que afetam de forma distinta o investimento estrangeiro em imobiliário. Se olharmos para o mercado residencial é óbvio que as alterações nos vistos gold vão reduzir a procura, nomeadamente em Lisboa, Porto e Algarve e com isso poderemos esperar uma correção nos valores pedidos pelos imóveis na faixa entre os 500 e os 900 mil euros onde se concentravam o “grosso” das compras de imóveis para obtenção de visto gold. Por outro lado, vemos um número crescente de particulares de diversas geografias da Europa com rendimentos mais elevados que por razões fiscais e também de segurança continuam à procura de estabelecer residência em Portugal, e sobretudo em Lisboa, Porto e Algarve. Como europeias não necessitam do visto gold e procuram imóveis acima de um milhão de euros, pelo que neste mercado, dado a escassez de oferta neste segmento, acredito que até poderemos ver mais promotores estrangeiros e nacionais a desenvolverem novos projetos. Adicionalmente, e mais em Lisboa, Porto e outras cidades de média dimensão que estão a atrair empresas estrangeiras, que trazem colaboradores estrangeiros, vemos uma crescente procura por soluções de arrendamento de apartamentos de pequena dimensão e com rendas até 1.000€ por mês. Aqui a oferta também é escassa e vemos já investidores estrangeiros a posicionarem-se para desenvolver soluções de “buy to lease” que fazem, efetivamente, muita falta. Finalmente há o retorno da atividade turística, se voltarmos para os níveis pré pandemia vamos ter um “gap” maior entre a procura e a oferta sobretudo devido ao desaparecimento de vários estabelecimentos de Alojamento Local. Isto vai fazer com que o investimento no imobiliário turístico volte em força também.