Quirimbas, o idílico arquipélago esquecido
Para muitos portugueses Moçambique era um país fabuloso, palco de mil e uma histórias e de uma qualidade vida que não mais se voltou a repetir. Invariavelmente a acção situa-se há mais de 35 anos, anterior à independência da ex-colónia portuguesa.

Ruben Obadia
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Para muitos portugueses Moçambique era um país fabuloso, palco de mil e uma histórias e de uma qualidade vida que não mais se voltou a repetir. Invariavelmente a acção situa-se há mais de 35 anos, anterior à independência da ex-colónia portuguesa. São histórias contadas de pais para filhos onde o denominador comum é a saudade, em alguns casos a amargura, mas em todas sem excepção o protagonista não consegue esconder o brilho nos olhos à medida que a narrativa se vai desenvolvendo. Crescemos a ouvir histórias de Moçambique e não conseguimos bem entênde-las ou se o fazemos é à custa de uma contextualização política e social, de um tempo que não mais existe.
Nos últimos 35 anos Moçambique ficou órfão dos portugueses. Salvo honrosas excepções empresariais, de que são bom exemplo o Grupo Teixeira Duarte ou a Visabeira, a realidade é que os portugueses deixaram de visitar Moçambique. A geração dos filhos simplesmente rumou para outras paragens.
Acontece que Moçambique está a mudar. A mudar para melhor. Basta passear pelas ruas de Maputo para sentir o pulso a uma cidade que, apesar dos seus inúmeros problemas, é vibrante. Os mais saudosistas ainda lá encontram o restaurante Piri-piri, com o seu frango grelhado bem condimentado e o mercado de artesanato mesmo ali à porta; ou então dão de caras com o Hotel
Girassol, o emblemático Cardoso ou o mítico Hotel Polana, hoje propriedade do Grupo Serena; o restaurante Zambi, que tenta resgatar os tempos gloriosos de outrora; ou dão de caras com a igreja de Santo António da Polana, situada no bairro mais exclusivo (e caro) da cidade. Aqui e ali surgem apontamentos dos “tempo de antigamente”, muitos deles reinventados. Mas não é disso que esta viagem trata. Não fomos a Moçambique como quem vai ao baú das recordações.
Essas ficam na memória dos pais e nos álbuns amarelados de fotografias. Fomos em busca de um novo Moçambique, aquele que continua quase intocado e que vai sendo descoberto por sul-africanos. Aliás, essa é a segunda explicação que me dão quando tento perceber porque razão o País é tão pouco promovido em Portugal. Dizem-me primeiro que Moçambique é muito pobre, com poucos recursos. E em seguida que o mercado sul-africano por si absorve a pouca oferta hoteleira existente na região. E já se
sabe, se não há
camas… não há turismo.
Mas a realidade está a mudar. Por exemplo, o Hotel Polana Serena está actualmente a ser alvo de uma profunda remodelação no valor de 25 milhões de dólares; o business hotel da Teixeira Duarte, o Avenida, é um cinco estrelas cumpridor; os Vip marcam presença com o Grand Maputo e o Executive Suites Maputo; e o Pestana com o Rovuma. A oferta, ainda que escassa, vai dando conta do recado com assinalávelqualidade. Portanto não será por aqui que tem uma desculpa para não apostar no destino Moçambique. Quanto à ligação aérea, os voos da TAP/LAM não conseguem apagaras 11 horas de viagem, mas o facto do voo ser nocturno atenuam as circunstâncias e remetem-nos para um merecido sono a bordo.
Rumo a Norte
Seja como for, já foi dito, o nosso destino não é Maputo, apesar de ter sido aí que montámos o nosso centro de operações. O objectivo estava muito mais a Norte, concretamente a 2500 kms de Maputo, na província de Cabo Delgado, onde iríamos ao encontro da cidade de Pemba, outrora denominada de Porto Amélia. O voo doméstico da LAM demora pouco menos de 3 horas e o facto de estarmos perante um novíssimo Embraer é promessa de mais um momento de sono descansado em altitude. À chegada a Pemba deparamo-nos com um aeroporto que quase apostávamos se mantém inalterado desde 25 de Junho de 1975. Adiante, que o nosso destino já está perto.
Pemba é, aos olhos de um turista, sejamos sinceros, totalmente desinteressante. A cidade divide-se visivelmente em duas. Na cidade baixa encontramos o porto, ou o que resta dele, com a capitania, o antigo mercado municipal e o tradicional bairro piscatório de Paquitequete. Mas é na cidade alta que se sente alguma movimentação, em torno da central avenida Eduardo Mondlane, com as suas lojas, os bancos e a zona residencial que se estende até Natite. Em suma, a cidade demora bem menos que uma hora para visitar. O mais interessante situa-se a 5 kms para este, mais concretamente para as areias brancas e águas azuis da praia de Wimbe, onde já começa a haver uma oferta hoteleira interessante. Uns quilómetros mais à frente na direcção sul com a praia de Mariganha ou do Farol. Dali, assegura-nos o nosso guia, assiste-se a um pôr do sol sobre o Indico que é uma autêntica aguarela. O tempo chuvoso não o permitiu, mas a imaginação é uma arma poderosa e em nenhum momento duvidámos da beleza do momento. E por falar em chuva, a melhor altura para visitar Moçambique é durante os meses de Inverno, entre Abril e Setembro, com uma temperatura média a rondar os 27 ºC. Fora esse período, estamos na época das chuvas onde o calor não dá tréguas.
Ainda em Pemba ficamos hospedados no fantástico e inusitado Pemba Beach Hotel. Esta unidade dos Rani Resort dispõe de 102 quartos e é uma espécie de estágio para o que nos espera no nosso destino final: o arquipélago das Quirimbas. Visto de fora mais parece uma fortaleza de inspiração árabe, onde predomina a cor terracota. Os dois canhões à entrada ajudam a construir esta ideia. Só quando avançamos para o pátio interior e nos deparamos com o barulho da água a correr de uma nascente central é que nos apercebemos que esta é uma fortaleza sim, mas de paz. Aqui vale a pena entrar na onda e mimar-se com uma visita ao Santuary Spa. E se é certo que no Pemba Beach Hotel os mosquitos parecem ter engraçado com o autor destas linhas, qualquer sofrimento foi de pronto atenuado pela excelente cozinha tanto do restaurante como do bar, sumptuosamente engalanado com inúmeras cabeças de animais empalhadas, a relembrar os tempos coloniais.
Finalmente… as Quirimbas
No dia seguinte, já com forças retemperadas, voltamos ao aeroporto de Pemba, onde nos aguarda um “teco-teco”, um pequeno avião, para uma viagem de 30 minutos até à primeira ilha do nosso prometido paraíso. O sol já tinha afastado as nuvens carregadas de chuva para uma longínqua recordação e aqui isso faz toda a diferença. Só quando o avião já ia bem alto e contemplamos o recorte da costa da província de Cabo Delgado é que nos apercebemos da perfeição da Natureza. O azul do mar surge em todas as tonalidades possíveis, aqui e ali salpicadas por pequenas ilhas onde, imaginamos, vive um qualquer Robinson Crusoé. A primeira paragem é na Ilha de Ibo, onde nos aguarda uma deliciosa pista de aterragem na relva. Aqui o conceito de aeroporto sustentável adquire toda a sua plenitude. Sorrimos para o pequeno “aeroporto”. Com dez quilómetros de comprimento é cinco de largura é sede do distrito com o mesmo nome. A população é esmagadoramente da religião islâmica e a vila, ainda que a ser alvo de um processo de reabilitação, é dominada por casas de piso térreo em avançado estado de degradação mas que, ainda assim, não perderam os encantos de outros tempos. Aqui e ali assistimos ao avançar do verde do mato sobre a vila de Ibo, com as raízes das árvores a assumirem proporções e formas artísticas. Ali, orgulham-se de um dia ter jogado o Eusébio. O nosso, que também é deles. Em boa parte do percurso que é feito a pé somos acompanhados por crianças. Muitas crianças. Ao disparo da máquina fotográfica assumem a pose para logo a desmontarem quando convidados a verem o resultado. Depois é o deliciar dos sorrisos, das gargalhadas, da festa que irrompe perante as imagens que saem da “caixa mágica”. É também no Ibo que somos surpreendidos pelos fortes de São José, de Santo António ou, o mais majestoso de todos, o de São Batista em formato de estrela. Este último é um lugar de má memória para os moçambicanos, pois dizem que serviu de prisão da PIDE e que ali terão morrido dezenas de prisioneiros políticos.
O destino da primeira noite no paradisíaco arquipélago das Quirimbas foi a Ilha de Matemo. Com cerca de 24 quilómetros quadrados e duas aldeias é aqui que encontramos o Matemo Beach Resort. São 24 bungalows situados estrategicamente sobre a praia, em dois lados da ilha, onde o luxo domina. Mais do que o luxo, o que importa ali é a sensação de exclusividade. Da banheira pode-se, por exemplo, contemplar a praia. É nos pequenos pormenores que o Matemo se distingue. A área social, por exemplo, situa-se numa zona mais alta de forma a podemos contemplar o por do sol enquanto bebemos um retemperador gin tónico. E se pensa que pelo facto de estar numa pequena ilha vai morrer de tédio então está redondamente enganado. O mergulho surge à cabeça da lista, com a temperatura da água a rondar os 26 ºC e um convidativo fundo de coral que convida ao avistamento de uma luxuriante vida subaquática. A pesca é outra das opções, prometendo fazer as delícias dos apaixonados por este desporto. Além disso, a ilha promete mantê-lo ocupado com a vela, windsurf, kayak, e uma visita à Ilha de Ibo para um passeio cultural.
A partida no dia seguinte deixa saudades e um sabor agri-doce, mas é tempo de visitar e pernoitar na Ilha de Medjumbe. A ilha é ínfima, com apenas 13 bungalows, mas o charme está gravado no mais pequeno grão de areia. Romântica, acolhedora, paradisíaca. Poderíamos continuar com o desfilar de adjectivos para qualificar este Medjumbe Private Island. Os Rani aqui capricharam. A tudo o que foi dito sobre Matemo acrescente-se que cada habitação dispõe de um jacuzzi na varanda sobranceira ao mar. Aqui imaginamos horas de ócio dedicadas à leitura, mergulhos infindáveis naquelas águas cristalinas e passeios circundantes à ilha. Mas não há tempo. Uma noite sabe a pouco, muito pouco. O sabor agri-doce permanece e nem sequer é atenuado pelo excelente vinho sul-africano servido ao jantar.
Parte-se em direcção a Maputo com a certeza que Quirimbas é um daqueles locais que, ainda bem, foram esquecidos. Maputo e lá mais ao longe Lisboa espera por nós. E vem-se com duas certezas: a primeira é que estamos perante um destino completo que merece bem um outro olhar dos operadores nacionais; a segunda é que vamos voltar em breve…
* O Publituris viajou a convite da NovoTours, operador especializado no destino Moçambique, e contou com o apoio da TAP, da LAM, do Polana Serena Hotel e dos Rani Resorts.