Termas de Portugal de mãos dadas com o Governo na procura de soluções para o setor
A Associação Termas de Portugal (ATP) que inicia mais um congresso, esta quinta-feira, dia 19, e até sexta-feira, nas Caldas da Rainha, garante que está de mãos dadas com o governo, nas três tutelas que a atividade abrange, na procura de soluções para o setor que hoje atravessa novos tempos, novos públicos e novos desafios.
Carolina Morgado
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“Temos a vantagem de ter um tipo de atividade que está ligada a uma tripla tutela governamental, que nos permite ter conversações e uma aproximação ao governo quer no que toca à parte de Energia, por um lado, mas também ao Turismo, e à Saúde,”, disse ao Publituris o presidente da Associação Termas de Portugal (ATP), Victor Leal.
Em relação ao Turismo, o dirigente referiu que “tivemos e temos um trabalho muito profícuo e muito próximo quer com a anterior secretária de Estado, Rita Marques, que foi uma grande impulsionadora e defensora do termalismo, mas também com Nuno Fazenda, com quem já reunimos e que tem estado a trabalhar nalgumas propostas de financiamento para a parte da internacionalização da atividade. Portanto sentimos total apoio do ponto de vista político e institucional do governo nas três áreas”.
Entretanto, o governo publicou, recentemente, um diploma que reativa um grupo de trabalho que visa a reativação da atividade termal. A este propósito, o presidente da ATP confirmou que “foi uma das grandes propostas que fizemos junto deste governo. Não somos o pai deste grupo de trabalho, mas fomos os grandes impulsionadores no sentido de o reativar”.
Victor Leal recordou que houve um primeiro grupo de trabalho dinamizado e “muito bem” pela então secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, que levou ao relançamento de um conjunto de temas para o termalismo, nomeadamente, as comparticipações. Depois houve um segundo grupo de trabalho que estava a procurar desenvolver um trabalho mais minucioso em alguns aspetos específicos, nomeadamente, legislativos, de enquadramento e de custos de contexto que não terminou a sua atividade com a remodelação governamental, “daí a nossa necessidade e a nossa força para que o governo reativasse esse grupo de trabalho que agora até é mais aberto e mais abrangente do que aquele que estava inicialmente previsto, hoje encabeçado pela secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Isabel Ferreira, “que conhece muito bem o nosso setor”.
A primeira reunião deste grupo de trabalho ocorrerá nas Caldas da Rainha, no dia 19, logo após a inauguração do congresso, que vai decorrer durante dois dias, para definir as estratégias de reuniões, de ações e dos temas a tratar.
Este congresso das Termas de Portugal, de acordo com o presidente da Associação, pretende “perceber quais são as novas dinâmicas necessárias às termas oferecer a um público que está completamente em mutação ano após ano”, destacando que “temos de perceber que há valores que hoje são procurados, nomeadamente, da sustentabilidade que há uns anos atrás as organizações e as entidades que operam nas termas não tinham essa sensibilidade”. Há também hoje “novos produtos dirigidos no contexto de promoção de saúde mais integrada, não só o fornecimento e o tratamento em si, mas um conjunto de outros que a oferta termal tem de disponibilizar”.
Portanto, declarou ao Publituris, “é esse trabalho que entre nós todos temos de procurar desenvolver para as termas poderem ser mais atrativas e procurar cativar o máximo número de pessoas, todos os estratos e idades”, afirmou Victor Leal.
Todas as termas portuguesas têm as suas particularidades, mas o denominador comum é “a oportunidade de as pessoas fazerem férias com saúde, ou fazer saúde com férias, dois temas que têm de andar sempre juntos, defendeu o presidente da ATP, assumindo que o futuro tem de passar pela promoção de formas de hábitos de vida saudável, planos de promoção de saúde, e “nós somos parceiros”.
Caldas da Rainha desenvolve masterplan do termalismo
Na apresentação do congresso exclusivo para o Publituris o presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, Vítor Marques, local que acolhe este encontro, referiu que “estamos a desenvolver o nosso masterplan do termalismo que é muito mais do que termas ou do que águas, mas um conjunto de ofertas bastante significativas em várias áreas”. Conhecido como o mais antigo hospital termal do mundo, mas também pelo seu termalismo que já teve tempos mais áureos, alturas em que esteve fechado, mas que está agora a desenvolver o seu percurso, o projeto de reativação em pleno da atividade termal nas Caldas da Rainha, segundo o presidente da autarquia, prevê é a construção de um novo espaço termal para dar respostas às necessidades atuais, enquanto as antigas instalações termais, “queremos que tenha um cariz museológico para conservar”.
Reconhecendo que as estâncias termais em Portugal têm todas caraterísticas diferentes e tendo em conta que as com maior urbanidade serão as das Caldas da Rainha e a da Chaves, no seio da própria cidade, mesmo no centro, Vítor Marques realça que “acabamos por ter uma oferta integrada com espaços verdes, um parque e mata que ascende os 30 hectares junto ao hospital termal, o comércio tradicional vibrante, a cultura com oito museus, um centro cultural de congressos e de exposições”.
A par disso, “temos o nosso posicionamento que a geografia nos permitiu e uma centralidade, que é estarmos próximos de Lisboa”. Assim, “queremos fazer uma oferta integrada que vai no contrário àquilo que era no passado em que a oferta era limitada e só vocacionada para a saúde”, disse ao Publituris o presidente da autarquia das Caldas da Rainha.
Termas em Portugal 2022
Em 2022, existiam em Portugal 50 estabelecimentos termais em funcionamento, e de acordo com um estudo patrocinado pela ATP, a região Centro concentrava 50% das unidades (25), o Norte registou 42% (21), o Alentejo 4% (2) e o Algarve e a AM Lisboa 2% cada, equivalente a um estabelecimento por região. No ano em análise, a atividade termal empregou 373 indivíduos em serviço efetivo (41,5% do total) e 525 em serviço temporário (58,5%). Dos efetivos, 68% eram do sexo feminino e, dos temporários, 75% eram também mulheres.
Os estabelecimentos termais receberam 86.582 clientes, em 2022, valor que, de acordo com os dados divulgados em setembro deste ano, representa um crescimento acentuado de 45%, face a 2021, ou seja, 31% dos clientes procuraram tratamentos termais (26.778) e 69% optaram por dias de bem-estar e lazer (59.804).
O termalismo clássico aumentou o número de clientes em 25% face a 2021, enquanto que a oferta de bem-estar e lazer cresceu 57% no mesmo período. No entanto, em nenhuma das valências foram ainda alcançados os números pré-pandemia.
Do total de clientes que pretendiam usufruir de uma estadia de lazer e bem-estar (59.804), 60% escolheu as unidades termais da Região Centro, 33% as do Norte e 7% as unidades da região de Lisboa, Alentejo e Algarve. A apontar ainda que, em 2022, em termos globais, 31% dos clientes das termas tinha 65 ou mais anos (27.185 clientes), enquanto o grupo dos 45-54 anos foi o segundo mais elevado, com 15.844 clientes (quota: 18%).
No entanto, os números da Associação Termas de Portugal dão conta que, no ano em análise, o crescimento relativo mais relevante verificou-se nos grupos etários 35-44 e 45-54 anos, “evidenciando algum rejuvenescimento dos utilizadores de equipamentos termais”.
No que diz respeito ao volume de negócios, em 2022, a faturação em termalismo clássico atingiu os 7,312 milhões de euros (74% do total da faturação) e o de bem-estar e lazer 2,544 milhões de euros (26%). Em comparação com 2021, a faturação em termalismo clássico registou um aumento de 25% (+1,463 milhões euros), mas ainda está 4,220 milhões de euros abaixo de valores de 2019 (-37%), enquanto a faturação resultante da vertente de bem-estar e lazer cresceu 47% em 2022 (+818,9 mil de euros), atingindo o máximo registado desde 2016, e 15% acima de 2019 (+ 326,9 mil de euros).
Refira-se que a maioria dos clientes do termalismo de bem-estar ficaram um dia nas unidades (87%), uma quota que se tem mantido neste nível desde 2016.
No que toca ao mercado internacional, no ano passado os estabelecimentos termais receberam 11.415 clientes residentes no estrangeiro (13,2% do total), sendo que 82% são de cinco mercados. Espanha e França mantêm a liderança destacada entre os mercados internacionais, tal como em todos os anos analisados, seguindo-se o Reino Unido e os EUA, ambos com valores recorde.
Na análise regional, o Norte com um total de 21 estabelecimentos termais em funcionamento, recebeu, em 2022, 8.887 clientes em termalismo clássico (28% do total) e 22.983 na vertente de bem-estar e lazer (72%). Apesar do termalismo clássico ter crescido 11,6% face a 2021, ainda está aquém de níveis de 2019 (-22,5%). Já a vertente de bem-estar e lazer atingiu o valor máximo desde 2016. O acréscimo foi superior a 45% quando comparado com o 2021 (+7.173 clientes) e 6% acima de 2019 (+1.296 clientes).
Em 2022, o termalismo clássico no Norte do país, segundo o mesmo estudo, faturou 2,29 milhões de euros (72,5% do total das unidades termais da região) que, face a 2021, se traduziram num crescimento de 21%, mas em -30%, em relação a 2019 (-995 mil euros). Por sua vez, a vertente de bem-estar e lazer contabilizou, no Norte do país, 870,5 mil euros (27,5% do total), evidenciando um crescimento de 32% em relação a 2021 e de 44,5% face a 2019.
Na maior região termal de Portugal, o Centro, com um total de 25 estabelecimentos termais em funcionamento, no ano em análise foram acolhidos 16.033 clientes em termalismo clássico (37% do total) e 27.192 na vertente de bem-estar e lazer (63%). Apesar do termalismo clássico ter crescido 34% face a 2021, ainda está aquém de níveis de 2019 (-34%). Já na vertente de bem-estar e lazer, o acréscimo foi de 38% entre 2021 e 2022 (+7.531 clientes). Relativamente a 2019, os valores foram inferiores em -38% (-16.755 clientes).
Ainda no que se refere a 2022, o termalismo clássico faturou 4,509 milhões de euros (76% do total das unidades termais da região) que, face a 2021, se traduziu num crescimento de +27%, mas em -39,5%, em relação a 2019 (-2,943 milhões de euros). A vertente de bem-estar e lazer contabilizou 1,400 milhões de euros (24% do total), atingindo uma subida em relação a 2021 de +53%, e face a 2019 de + 3,2%, ou seja, mais 43,8 mil euros.
Dado que as outras regiões de Portugal, ou seja, Alentejo, Algarve e Área Metropolitana de Lisboa a oferta termal é praticamente escassa, os valores apontados pela Associação Termas de Portugal são muito residuais.