Turismo nos Municípios: Estruturante e de importância inegável
Com o turismo a regressar aos seus “bons tempos”, cada vez mais os 308 municípios de Portugal percebem que o turismo assume um papel importante e estruturante no desenvolvimento do respetivo território. O Publituris foi tentar perceber que importância tem, de facto, o turismo em nove destes municípios e que oferta turística é oferecida, como é promovida e que desafios enfrentam para atrair turistas.
Victor Jorge
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Portugal possui, atualmente, 308 municípios, dos quais 278 no Continente, 19 na Região Autónoma dos Açores e 11 na Região Autónoma da Madeira. O papel dos municípios no crescimento do turismo em cada região tem sido apontado por governantes, entidades direta ou indiretamente ligadas ao turismo e próprios munícipes como essencial para a diversificação da oferta que Portugal poderá e terá de oferecer ao mundo, mas, também, como um fator preponderante no desenvolvimento socioeconómico das diversas regiões do nosso país.
Não é por acaso que, tanto a nível nacional como internacional, o destaque é dado cada vez mais, às comunidades locais e como estas, de facto, conseguem oferecer experiências autênticas, diversas, inclusivas e contribuir não só para a criação de riqueza, como para a valorização dos diferentes territórios.
Dos 308 municípios existentes, o Publituris foi tentar perceber em nove o que move o município no que diz respeito ao turismo, que tipo de turistas os visitam, que oferta turística existe e como é promovida, que apoios têm recebido e quais os principais desafios.
De Norte até à capital
Na margem do rio Douro que alberga um dos produtos turísticos mais relevantes para a cidade – as Caves de Vinho do Porto -, “o contributo direto do turismo para o volume de negócios global de Vila Nova de Gaia (VNG) é de, aproximadamente, 4%”, diz-nos o presidente da Câmara Municipal, Eduardo Vítor Rodrigues. Além disso, o turismo é a terceira atividade económica com maior contributo direto para o Valor Acrescentado Bruto Global de Vila Nova de Gaia, com 6,9%, o que leva o autarca a admitir que, perante estes dados, “é inegável que o turismo assuma um papel muito estratégico para esta cidade” e, como tal, são assumidos compromissos que tendem a responder a quatro principais objetivos: “assegurar o crescimento turístico de Gaia de forma sustentada; melhorar continuamente a qualidade da experiência turística; reforçar a notoriedade da cidade e a presença nos mercados nacional e internacional; e contribuir diretamente para o crescimento económico e social de Vila Nova de Gaia”.
É inegável que o turismo assuma um papel muito estratégico para esta cidade”, Eduardo Vítor Rodrigues (Vila Nova de Gaia)
Na cidade dos estudantes, Francisco Veiga, vice-presidente da Câmara Municipal de Coimbra, com competências delegadas na área do Turismo, segue a mesma linha ao afirmar que “o turismo possui uma importância estratégica na promoção do nosso território, sendo uma área de atuação fundamental para o desenvolvimento económico e social da nossa cidade e da região envolvente”.
O turismo possui uma importância estratégica na promoção do nosso território”, Francisco Veiga (Coimbra)
Viajando para Sul, Rui Costa, vereador da Câmara Municipal de Alenquer, salienta que, nos últimos anos, o executivo municipal tem vindo a trabalhar, de forma progressiva, o turismo “numa lógica integrada de recuperação do património material e imaterial do concelho, desenvolvendo os principais eixos da sua cultura e identidade com foco na vertente turística, considerando a sua proximidade estratégica da capital”, frisando que, “sob este desígnio podemos afirmar que, à data de hoje, o turismo é, e continua a ser, uma prioridade para este executivo”.
À volta da capital
Chegados à Área Metropolitana de Lisboa (AML), Basílio Horta, presidente da Câmara Municipal de Sintra, refere a “atividade fundamental” que o turismo é para Sintra, mas, “pela heterogeneidade de atividades no município e pela dimensão do território”, salienta que esta “não é a principal atividade geradora de receita para este município”.
Reconhecendo, contudo, o “contributo para o crescimento de Sintra”, considera que este crescimento deveu-se, num primeiro momento, “à classificação da Paisagem Cultural de Sintra como Património Mundial, e posteriormente, ao aumento exponencial do turismo na capital, Lisboa, e a localização geográfica de excelência de Sintra relativamente a Lisboa”.
Por maior que seja a importância do turismo em Sintra, nunca poderemos esquecer o indispensável contributo da indústria e dos restantes serviços para o desenvolvimento económico e social do concelho”, Basílio Horta (Sintra)
“Mas por maior que seja a importância do turismo em Sintra nunca poderemos esquecer o indispensável contributo da indústria e dos restantes serviços para o desenvolvimento económico e social do concelho”, destaca Basílio Horta.
A poucos quilómetros de distância, Bernardo Corrêa de Barros, presidente da Associação de Turismo de Cascais., justifica a importância do turismo para o município com números: “18% da atividade económica do município, tendo Cascais recebido, em 2022, 491.241 turistas e um total de 1.181.877 dormidas”, de acordo com os dados mais recentes recolhidos e processados pelo Turismo de Cascais.
Em termos financeiros, Bernardo Corrêa de Barros salienta o crescimento em “18,3% do preço médio por quarto ocupado, nos 133,80 euros, o que representa um incremento de 21% face ao período pré-pandémico, em 2019”, indicando ainda que a receita por quarto disponível (RevPAR) apresentou um “desempenho notável”, atingindo um aumento de 18% comparativamente a 2019, considerado o melhor ano de sempre.
18% da atividade económica do município está no turismo”, Bernardo Corrêa de Barros (Cascais)
Passando para a Margem Sul do Tejo, Fernando Pinto, presidente da Câmara Municipal de Alcochete, não contradiz os colegas autarcas quanto à relevância do turismo, apontando o “peso crescente na atividade económica do município, sendo os seus efeitos mais visíveis diretamente na restauração, no alojamento turístico e no turismo de natureza”.
A caminho de Setúbal, passamos por Palmela, onde Luís Miguel Calha, responsável pelo pelouro do Desenvolvimento Económico e Turismo da Câmara Municipal, admite que o turismo é uma atividade económica “estruturante para o desenvolvimento sustentável do território”, referindo ainda que o turismo “é importante do ponto de vista da criação de emprego e desenvolvimento económico, mas é, igualmente, determinante para o sentimento de pertença, preservação da identidade e auto-estima da comunidade”.
Chegado a Setúbal, o departamento de Turismo refere ao jornal Publituris que esta atividade tem sido “fundamental para o apoio a alguns setores económicos da região, com destaque para o crescimento da restauração e aumento de micro-empresas de animação turística que têm potenciado novos produtos turísticos, contribuindo para um aumento do tempo de estadia do visitante nacional e estrangeiro à nossa região”.
O interior Sul e o Algarve
Vila portuguesa, no distrito de Évora, na região do Alentejo Central, fazendo fronteira com o Ribatejo, Mora, com cerca de 4.000 habitantes, dos quais menos de metade se encontra em idade ativa, “o envelhecimento da população, aliado à migração dos jovens, tem dificultado a instalação de indústrias e/ou outras entidades empregadoras”, refere Paula Chuço, presidente da Câmara Municipal de Mora. Perante esta situação, admite que o turismo “acaba por surgir como a principal fonte de receita dos negócios locais, fomentando o desenvolvimento económico e permitindo a divulgação do território por novos públicos”. Assim, por outras palavras, o turismo “acaba por ser considerado a atividade ‘core’, trazendo a Mora milhares de pessoas anualmente”.
[O turismo] “acaba por surgir como a principal fonte de receita dos negócios locais”, Paula Chuço (Mora)
Mais para Sul e no Baixo Alentejo profundo, fazendo parte da Rota da N2, o turismo ganha “uma importância cada vez mais significativa no concelho de Aljustrel”, diz Marcos Aguiar, do Gabinete do presidente da Câmara Municipal. Por isso, salienta que o município está a trabalhar na “estruturação do produto turístico”, assentando o principal pilar no Turismo Industrial e Mineiro, uma marca considerada “incontornável” deste território. “Somos uma vila mineira, um concelho mineiro, que é marcado pela atividade extrativa ao longo de séculos. Somos detentores de um rico e vasto património histórico e arqueológico, com cerca de 5 mil anos de mineração, mas também geológico”. Assim, Marcos Aguiar considera que existem “condições únicas e marcas distintivas na Faixa Piritosa Ibérica”, considerando mesmo que o município se pode tornar “numa referência a nível nacional e internacional”, juntando outras vertentes, nomeadamente, o turismo de natureza, turismo náutico, enoturismo e a própria Rota da N2. No fundo, frisa, o turismo é “considerado como um fator “determinante para o desenvolvimento económico e social do concelho de Aljustrel”.
Chegados ao Algarve, à semelhança da restante região do Algarve, o setor do turismo “sempre foi uma das componentes de maior relevância na socioeconomia do concelho de Lagos”, diz-nos o presidente da Câmara, Hugo Pereira. “Graças ao nosso excelente clima e condições de mar, mas também valências como o património histórico, cultural e natural, Lagos tem sido escolha de cada vez mais visitantes anuais, pelo que acaba por favorecer os setores da hotelaria e restauração, assim como operadores turísticos do concelho”, diz.
Dos vinhos aos estudantes
Mas o que move os turistas a visitarem estes nove concelhos de Portugal. Em Vila Nova de Gaia, a cidade é visitada por turistas nacionais e estrangeiros, escolhida pela sua “diversidade natural e cultural, pela qualidade de vida, pela excelente localização geográfica”, diz Eduardo Vítor Rodrigues. “Quem nos visita procura produtos locais genuínos, um património vínico, mas também um Património Mundial da UNESCO e um património arquitetónico e histórico”, aponta o edil.
No Centro de Portugal, Francisco Veiga admite que Coimbra é visita por turistas provenientes de todas as partes do mundo, embora indique “uma maior prevalência de turistas oriundos da América do Sul, sobretudo do Brasil, do mercado espanhol e anglo-saxónico”. Notado, nos últimos anos, devido ao crescimento do turismo religioso e aos recentes achados arqueológicos que remetem para vestígios da presença de judeus em Coimbra, “temos também assistido a um aumento da procura por parte de turistas com interesses culturais ligados à comunidade judaica”, salienta o vice-presidente da Câmara de Coimbra.
O principal motivo de atração centra-se, naturalmente, em torno do conjunto arquitetónico Universidade de Coimbra, Alta e Sofia e da relevância cultural deste património de valor universal, classificado Património Mundial. “De uma maneira geral, os turistas que visitam Coimbra procuram conhecer o património histórico, natural e edificado, absorver a identidade da cidade através das sua cultura e tradições, valorizar a experiência e desfrutar da nossa herança gastronómica e património doceiro”, frisa Francisco Veiga.
Já na vertente do Turismo de Negócios, a cidade é procurada, sobretudo, porque Coimbra possui “infraestruturas e equipamentos de excelência que a distinguem e que lhe permitem afirmar-se neste segmento de turismo em particular”, destacando-se, naturalmente, as valências do Convento São Francisco, enquanto Centro Cultural e de Congressos, “que assume uma importância estratégica no crescimento do turismo cultural, onde se inclui a vertente científica e de negócios”, termina o responsável com competências delegadas na área do turismo.
Em Alenquer, a maior parte dos turistas são portugueses e visitam o município para conhecer “o património, museus, quintas produtoras de vinho e a paisagem vinhateira”, refere Rui Costa. No que toca aos visitantes estrangeiros que passam por Alenquer cumprem maioritariamente dois propósitos: “vertente dos casamentos, que ocorrem às várias centenas por ano, nas muitas quintas seculares do concelho; como se deslocam propositadamente a Alenquer para realizar atividades no âmbito do enoturismo, dado conhecerem bem os nossos produtores que, ao contrário da maioria das regiões vitivinícolas, exportam quase a totalidade da sua produção para todos os continentes”, diz o vereador.
O turismo é, e continua a ser, uma prioridade”, Rui Costa (Alenquer)
A história, cultura, mas também vinho
“Sintra tem um papel determinante como âncora do turismo cultural e do turismo de natureza na região de Lisboa”, considera Basílio Horta, frisando que os monumentos e paisagens atraem “um elevado número de visitantes ao centro histórico de Sintra”, indicando que, num momento pós pandemia, em 2022, registaram-se mais de quatro milhões de visitantes nos museus e monumentos de Sintra.
A direção da Associação Turismo de Sintra (ATS), completa estes dados, revelado que, relativamente ao ranking de nacionalidades dos visitantes no Posto de Turismo, entre 2019 e 2022, “no 1.º e 2.º lugar mantiveram-se, Espanha e França, respetivamente, mas o 3.º lugar deixou de ser ocupado pelos EUA para ser ocupado pelo mercado nacional”.
Já em Cascais, os números apontam para o mercado nacional como líder no ranking de visitas, representando em 2022, 40% da procura total, destacando Bernardo Corrêa de Barros, em termos de mercados estrangeiros, o britânico, espanhol, alemão, norte-americano e brasileiro.
Com o turismo interno também a pesar mais que o externo, “representando uma quota importantíssima no município, Fernando Pinto destaca a predominância “de visitantes estrangeiros de nacionalidade francesa e espanhola” e os produtos de Turismo de Natureza – envolvendo as Salinas do Samouco e a Reserva Natural do Estuário do Tejo – e o Turismo Náutico e Gastronómico como principais alvos de visita. Entre os visitantes do município de Alcochete, o presidente da Câmara aponta “os grupos organizados na faixa etária de 65, ou mais, anos”, sendo que os visitantes de faixas etárias mais jovens tendem a ser compostas por casais, “observando-se, ainda, uma expressiva componente familiar”. Como épocas de maior afluência, Fernando Pinto admite que “ainda se verifica uma acentuada sazonalidade, sendo a Primavera e o Verão as épocas de maior expressão”.
Depois de ter sido eleita, em 2012, a primeira Cidade Europeia do Vinho, “distinção que tem constituído uma extraordinária oportunidade para projetar Palmela no País, na Europa e no Mundo”, Luís Miguel Calha salienta que “a antecipação das tendências da procura turística e a criação de novas experiências de visitação, fazem parte de uma cultura de gestão em parceria, que nos garante êxitos nos resultados e a sustentabilidade do destino”.
[O turismo] é importante do ponto de vista da criação de emprego e desenvolvimento económico, mas é, igualmente, determinante para o sentimento de pertença, preservação da identidade e auto-estima da comunidade”, Luís Miguel Calha (Palmela)
Além da procura na vertente enoturística, Palmela tem vindo a conquistar cada vez mais os amantes do Turismo de Natureza, sendo também “muito significativo o número de turistas que se deslocam à região motivados pela prática de Golfe, pelo Património Cultural, pelas Festas Tradicionais ou pelos eventos ligados à música, ao teatro e às artes visuais”.
Quanto aos mercados visitantes, o mercado nacional, os turistas oriundos de Espanha, França, Reino Unido e Brasil e também os provenientes dos EUA têm sido os que mais têm procurado Palmela.
Cidade banhada pelo rio Sado, Setúbal tem sido procurado de uma forma transversal tanto por portugueses como por estrangeiros, sobretudo de países europeus mais próximos como Espanha, França e Países Baixos/Alemanha, tendo-se verificado, mais recentemente, “um reforço de turistas do Brasil e Itália”, refere o departamento de Turismo de Setúbal.
De um modo geral o turista que visita Setúbal viaja em casal e/ou família e amigos, que procuram a região pela “identidade e cultura, a que se junta o Turismo de Natureza, Náutico e Aventura”.
Uma nova atração turística: Não fazer nada
Do Alentejo chega uma “nova atração” turística: “Não fazer nada”. Paulo Chuço refere que “nos últimos anos tem vindo a ser identificada a crescente procura dos alojamentos locais e dos turismos rurais de Mora muito devido à possibilidade de não fazer nada, porque não fazer nada é também uma atração turística”. Por esse motivo, quem procura Mora acaba por ser um turista com uma “maior capacidade económica” que quer “experiências diferenciadoras e que faz com que o município se direcione para um turismo mais segmentado ao invés do turismo de massas”. Ao nível de quem visita Mora, o município é maioritariamente visitado por turistas nacionais, embora no verão já se ouça falar outros idiomas pelas ruas das localidades.
Aljustrel é um “laboratório vivo, em termos geológicos. O turismo especializado e científico é cada vez mais significativo”, Marcos Aguiar (Aljustrel)
Mais a Sul, o concelho de Aljustrel é visitado por “turistas nacionais e estrangeiros e de diferentes faixas etárias, que chegam em passeios organizados ou individualmente”. Sendo Aljustrel considerado um “laboratório vivo, em termos geológicos, o turismo especializado e científico é cada vez mais significativo”, salienta Marcos Aguiar, além de, com o concelho a ser atravessado pela N2, “são já muitos os que procuram este território por percorrer esta rota”.
Chegados ao Algarve, o tipo de visitantes no concelho de Lagos “sempre foi muito heterogéneo ao nível das nacionalidades”, refere Hugo Pereira, frisando que “temos assistido a um crescimento de turistas estrangeiros, não só da Europa, mas América do Norte e Ásia”. Os dados da Pordata, referentes a 2021, revelam que a percentagem de visitantes estrangeiros situava-se nos 64%, a terceira maior do Algarve.