Cabo Verde: Mais do que um destino, é o destino de férias dos portugueses
Quem nos leva a fazer uma viagem virtual a Cabo Verde é Sónia Regateiro, Chief Operating Officer (COO) da Solférias, que visita o destino várias vezes por ano, e com olhos de ver, não fosse Cabo Verde a rainha e senhora da programação deste operador turístico.
Carolina Morgado
Cabo Verde
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Será pelas suas gentes, pelas suas praias, pelo acolhimento do seu povo, a tal “Morabeza” inexplicável, pela sua gastronomia, pelas tradições, proximidade, pela sua música? O que é certo é que Cabo Verde passou, aos olhos dos turistas portugueses, de um destino, para o destino de férias. Mesmo nos momentos da pandemia, conforme iam abrandando as restrições à partida de Portugal, Cabo Verde foi a eleita, ao passar uma mensagem de destino seguro, seguindo à risca todas as normas impostas pela Europa.
O país, repleto de potencialidades turísticas nas suas ilhas todas diferentes, apostou no turismo como setor fundamental de desenvolvimento económico, está a enfrentar gigantes desafios com vista à retoma. Neste especial apresentamos um pequeno retrato do arquipélago da “Morabeza”.
Apesar de ter sido destronado pelo Reino Unido, que passou a ser o principal país de proveniência de turistas em Cabo Verde, no primeiro trimestre deste ano, Portugal foi, em 2021, o primeiro mercado emissor para as ilhas, com 16,8% do total das entradas, e 17,1% da totalidade das dormidas. No período de 2022 analisado pelo INE cabo-verdiano, , os turistas da Alemanha foram os que permaneceram mais tempo no país, com uma estada média de sete noites.
Segundo dados do INE de Cabo Verde, o setor da hotelaria no arquipélago registou mais de 141 mil hóspedes, no primeiro trimestre 2022, correspondendo a um aumento de 1.071,0% face ao mesmo período do ano de 2021.
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) referentes à “Movimentação de Hóspedes”, no período em análise, as dormidas atingiram 844.440, correspondendo a um aumento de 2.908, o que representa 2% face ao trimestre homólogo.
O principal mercado emissor de turistas passou a ser o Reino Unido com 32,7% do total das entradas, a seguir vêm Alemanha 11,6% e Países Baixos com 10,3% e França com 8,0%.
Relativamente às dormidas, o Reino Unido também permanece no primeiro lugar com 34,1% do total, seguido de Alemanha, Países Baixos e França com 13,7%, 12,1% e 5,7% respetivamente.
A ilha do Sal foi a mais procurada pelos turistas, representando 47,9% das entradas nos estabelecimentos hoteleiros. seguida da Boa Vista, com 28,5% e Santiago com 11,9%. Em relação às dormidas, a ilha do Sal representou 53,6%, Boa Vista 38,5% e Santiago, com 3,6%”, indica ainda o INE. Verifica-se também o surgimento de novos mercados, designadamente do Leste da Europa, como a Bulgária e a Roménia.
Destino-bandeira da Solférias
Tudo leva a crer que os turistas portugueses voltem em força este verão. “Desde logo que a Solférias apostou em Cabo Verde como destino turístico e, tem sido o destino-bandeira de há muitos anos para cá. Mesmo com esta fase da pandemia, houve uma grande vantagem de Cabo Verde face a outros destinos turísticos porque o país colou-se muito à imagem do que eram as restrições e os cuidados sanitários face à Europa”, revelou Sónia Regateiro.
A responsável do operador turístico evidenciou que “todos os mecanismos de segurança e proteção adotados pela Europa e por Portugal, foram seguidos à risca por Cabo Verde. Isto levou a que o destino, desde muito cedo, conseguisse transmitir alguma segurança de viagem aos portugueses. Além de ser um destino que fica a quatro horas de distância”.
Sónia Regateiro enfatiza que, face às medidas de proteção que adotaram localmente, como o uso da máscara, ou dos acrílicos, fez com que, mesmo nos tempos piores da pandemia, os passageiros chegassem ao destino e vissem que existiam regras e medidas de segurança impostas, iguais a Portugal.
Na opinião da COO do operador turístico, “este ano Cabo Verde vai bater todos os recordes, uma vez que a projeção de vendas já supera os números de 2019, quer em termos de operação charter, quer de voos regulares”.
Para demonstrar um pouco isso, ainda há poucos dias a TAP colocou dois voos extra diurnos para Cabo Verde, à sexta-feira e ao domingo, “o que vem provar que a procura existe e que é possível. Além de toda a programação charter que contamos este verão: dois voos de Lisboa e três do Porto e já estamos a voar em charter desde o início de abril, está também a haver procura pelos regulares”.
Apesar de ter sido destronado pelo Reino Unido, que passou a ser o principal país de proveniência de turistas em Cabo Verde, no primeiro trimestre deste ano, Portugal foi, em 2021, o primeiro mercado emissor para as ilhas
Para já a Solférias não está com uma relação efetiva de vendas com a Cabo Verde Airlines porque, “ainda existe um problema para resolver, ou seja sobre os reembolsos que estão do lado da CVA ainda não nos foi apresentado qualquer proposta. Embora a APAVT tenha estado a fazer vários esforços no sentido de assinar um acordo para que sejam possíveis esses reembolsos, até ao momento não foi efetivado e não temos nada em cima da mesa que nos demonstre a solução desse problema. Acresce que a CVA perdeu o IATA, não está presente nos GDS. Por isso, para já, a Solférias não está a operar com a Cabo Verde Airlines”.
Segundo a COO da Solférias, “estamos sim com a TAP, que sempre foi o nosso parceiro prioritário não só para Cabo Verde, mas para outras rotas, e a relação tem evoluído muito bem com esta nova gestão da TAP, que tem estado muito próxima do trade e dos operadores turísticos”.
Além dos voos regulares da TAP, a Solférias, recorde-se, continua a apostar nas operações charter em parceria com a Abreu e a Soltrópico, de Lisboa com a SATA, e do Porto com a Privilege.
Cabo Verde está ótimo e recomenda-se!
Até ao momento o operador turístico tem centrado em operações do Sal, porque a Boa Vista “não recuperou para o mercado em Portugal embora já esteja muito bem em relação a outros mercados como é o Reino Unido.
Isto porque, segundo Sónia Regateiro, os hotéis estão longe da cidade -Sal Rei, estão ainda alguns fechados, como por exemplo o Decameron. O Iberostar já abriu e foi alvo de remodelações. O RIU Karamboa está fechado para obras, há a alternativa do RIU Palace e o RUI Touareg, este, “um hotel não muito propício ao mercado português porque não permite fazer praia confortavelmente, é mais para um mercado que procura piscina”
No entanto, a TAP retomou a operação para a ilha da Boa Vista aos sábados e “nós estamos a operar com base nesses voos regulares, mas não se justifica ainda mais do que isso”, disse.
O Sal, sim, segundo a responsável, tem turistas, e portugueses. “Se calhar os cabo-verdianos na ilha do Sal já estavam muito cansados dos turistas, mas este regresso veio trazer outra vez o bem receber, a morabeza que carateriza o país, e sentiram que o turismo faz falta ao desenvolvimento do país e para as pessoas terem melhores condições de vida”.
Nesta nossa visita, feita de longe, Sónia Regateiro guia-nos pela vila de Santa Maria, que diz “está extraordinária, muitos restaurantes abertos, muito investimento estrangeiro, toda a rua pedonal da vila já está concluída, desde o Hotel Morabeza até quase ao fim da vida, com muita luz, muito arrumada e com uma dinâmica muito agradável”.
Confirma que a hotelaria no Sal no geral é muito boa e estão sempre a aparecer novas apostas a este nível. Houve a abertura do RIU Palace Santa Maria, dos últimos a abrir. Entretanto continua a haver novos projetos. De uma forma geral “os hotéis têm uma qualidade muito aceitável”.
A nossa visita virtual continua com esta conhecedora do destino, uma vez que não pudemos ver in loco. Mas acreditamos. “A ilha do Sal tem muita oferta. Para além do que é a praia, tem muito que fazer: a vida noturna, os restaurantes agradáveis, os desportos náuticos. Os próprios DMC, como é o caso da Morabitur, têm estado a inovar muito nos passeios e nos tours a oferecer aos clientes”.
E conta mais, para aguçar o apetite dos turistas. “Agora existe, por exemplo, um passeio muito engraçado em Santa Maria, que é fazer uma rota com tapas e provas de produtos locais, existe também o novo produto que é o Zipline. Há sempre coisas novas a surgir e sempre mais coisas para fazer além do sol e praia”.
Estamos a sentir todos na pele o problema da guerra, a questão dos aumentos do fuel e do câmbio do dólar, até porque tudo o que é contratação da aviação é feita em dólar, o que tem tido um grande impacto nas viagens”, Sónia Regateiro (Solférias)
Os passeios tradicionais mantêm-se: o meio-dia de volta à ilha, ou full day tour. A Buracona, por exemplo, tem uma nova estrutura: um restaurante, um pequeno museu, passadiços em madeira que permite fácil acesso às piscinas naturais e ao “olho azul”. As Salinas de Pedra de Lume estão todas recuperadas, com instalação de um bar, café-restaurante, com possibilidades de fazer massagens de sal e, tomar duche. “São passeios que continuam e quem vai pela primeira vez ao Sal não deixa de fazer a volta à ilha”, destaca a responsável.
Fácil chegar para logo começar a desfrutar
É fácil chegar à ilha do Sal? Os passageiros encontram grandes constrangimentos no aeroporto? Não. Garantiu a COO do operador turístico Solférias. “O aeroporto do Sal neste momento está muito bom porque foram feitos vários investimentos, designadamente em máquinas automáticas que permitem a leitura do passaporte digitalmente, que se o passageiro já tiver tratada a taxa de entrada, passa automaticamente, o que evita muito as filas à chegada nas cabines do SEF. O que ainda pode causar algum atraso é a verificação dos certificados de vacinação, que é uma das obrigatoriedades de entrada no país. Depois das imagens que temos visto do aeroporto de Lisboa, o do Sal é um aeroporto excelente”, confirma.
“Mesmo para os passageiros que não consigam tratar previamente da Taxa de Segurança Aeroportuária (TSA), existe um guichet próprio onde a pessoa se pode dirigir, paga e dá a sua entrada. Um aeroporto de muito fácil acesso. Para vacinados o país não exige testes, basta o certificado de vacinação completa até 272 dias, ou de recuperação” destacou Sónia Regateiro.
Mas, atenção. Cabo Verde não se resume à ilha do Sal. Existe uma oferta muito para além do sol e praia. “Neste momento não está fácil operar os circuitos porque as ligações inter-ilhas, efetuadas pela Bestfly, programa os voos mensalmente, ou seja, se nós quisermos marcar um circuito ou um combinado para daqui a três meses, não sabemos que voos é que vai haver. Por isso estamos a ter muitas dificuldades em voltar a ter estes produtos pelo estrangulamento e dificuldade que é operar os voos domésticos neste momento”, explicou.
É preciso não esquecer que a TAP também voa para a Cidade da Praia e para S. Vicente. Para Santiago a procura é mais o étnico e o mercado corporate, não existe muito o lazer. Santiago era feito em combinado com a Boa Vista ou o Sal porque o turista que vai a Cabo Verde quer sempre fazer também alguma praia, lembra a responsável.
Em relação a S. Vicente “está a começar a ter alguma procura. No entanto, é difícil de vender no mercado português porque o português está mais habituado e procura muito os resorts all inclusive, e a ilha não tem, além do que a hotelaria é muito escassa ainda e com poucos quartos.
Mais caro? Sim!
Mas não foi só Cabo Verde que ficou mais caro aos bolsos dos portugueses. Segundo Sónia Regateiro, “estamos a sentir todos na pele o problema da guerra, a questão dos aumentos do fuel e do câmbio do dólar, até porque tudo o que é contratação da aviação é feita em dólar, o que tem tido um grande impacto nas viagens”.
Refere ainda que “todos os meses e todas as semanas somos surpreendidos com aumentos do fuel por parte das companhias aéreas, que são cada vez mais pesados. Se até junho andávamos com uma média de aumentos do fuel na ordem dos 42 euros, já recebemos por parte das companhias aéreas que em julho esse valor será superior e nem sabemos como é que será o agosto”.
Assim conclui a nossa “guia turística” pelo mercado cabo-verdiano. “Se for pela questão do fuel, Cabo Verde passou a ser um destino mais caro, mas em termos de qualidade-preço, acho que é um destino que está dentro dos parâmetros aceitáveis”.