Enoturismo: um ‘pairing’ entre qualidade, produto, pessoas e território
O Enoturismo continua a dar cartas em Portugal e tem posicionado o país como um dos melhores destinos no mundo. Na conferência organizada pelo Publituris, com o apoio do Turismo de Portugal, essa realidade foi confirmada. Agora, a visão passa por consolidar essa qualidade e tornar Portugal num destino de Enoturismo sustentável e regenerativo.
Victor Jorge
O Enoturismo tem sido nos últimos tempos um dos produtos turísticos de maior relevo para Portugal no que diz respeito à promoção externa e os números alcançados são prova disso. E não só os números, mas também os prémios que Portugal tem recebido a nível internacional, como comprova o recente prémio de “Melhor Destino de Enoturismo do Mundo” entregue pela FIBEGA, em Espanha, a Portugal.
De acordo com os dados do Turismo de Portugal existiam, no final de 2022, 458 unidades de Enoturismo em Portugal, cuja concentração é, maioritariamente, no Norte (141), Centro (121) e Alentejo (126). Ou seja, estas três regiões possuíam 388 das 458 unidades de Enoturismo.
Na conferência organizada pelo jornal Publituris, com o apoio do Turismo de Portugal, Lídia Monteiro, vogal do Conselho Diretivo do Turismo de Portugal (TdP), começou por destacar isso mesmo, referindo, além do prémio entregue pela FIBEGA, o 1.º lugar nos “Melhores destinos para amantes de Enoturismo” da Wine Lover’s Index 2024.
Um Enoturismo cada vez mais internacional
A qualidade do Enoturismo em Portugal tem vindo, aliás, a ser reconhecido pelos diversos mercados internacionais, frisando Lídia Monteiro que o crescimento registado é maioritariamente nos mercados internacionais (+58%). A nível internacional, destaque para mercados como os EUA (+19%), Brasil (+16%), Reino Unido (+15%), Alemanha (+10%) ou França (+9%). De resto, Lídia Monteiro destacou um mercado como França, que, por se tratar também de um destino importante no Enoturismo, “está a escolher Portugal para experiências de Enoturismo”. E também aqui referir que no consumo de Enoturismo está sempre presente um pairing com outros produtos de experiências turísticas, desde logo e como primeiro produto, a natureza (62%) que, juntamente como a gastronomia (60%), “são produtos turísticos que mais pairing faz quando se consome Enoturismo”, indicando a responsável do TdP ainda a cultura (43%) e a saúde e bem-estar (15%).
No “Programa de Ação Enoturismo” do Turismo de Portugal, que tinha, originalmente, um timing entre 2019 e 2021, o período de execução foi alargado até 2024, devido à pandemia, tendo o investimento em Enoturismo no nosso país ascendido a 140 milhões de euros, com 90 projetos apoiados, e recebido 60 milhões de euros de incentivos por parte do Instituto Público.
Neste balanço, destaque ainda para a formação e capacitação dos agentes de Enoturismo dividia em três eixos: Curso Geral de Formação em Enoturismo, com 215 ações de formação, abrangendo 5.275 participantes; Formação Territorial Temática, na qual foram dadas 96 horas de formação a 345 formandos; e Formação de Iniciação à Prova de Vinhos, que contou com 6.000 participantes.
Nesta estratégia coube ainda a promoção da oferta e do negócio de Enoturismo nos mercados interno e externo, através de diversas campanhas e que alcançou mais de 79,5 milhões de pessoas com o “Wines Pairs with Portugal”, mais de 40 milhões com a campanha “Time to Taste”, tendo sido lançada ainda a plataforma de experiência de Enoturismo em dois idiomas (português e inglês) “portuguesewinetourism.com”, concluindo ainda os dados disponibilizados pelo TdP que os mais de 7.000 artigos publicados na imprensa internacional tiveram um alcance estimado de mais de mil milhões de pessoas. Além disso, também a participação no “Wine and Travel Week” (Londres) de 2023 e 2024, e os eventos enogastronómicos, apoiados através o Portugal Events, colocaram Portugal nas preferências dos enoturistas internacionais.
Na conferência, Lídia Monteiro salientou que, “se 2024 é tempo de fazer um balanço muito positivo, é também tempo para criar um novo programa que vai decorrer de 2025 a 2027”, justificando que “Portugal deve ter esta ambição de chamar para si o Enoturismo e poder ser o centro dos negócios do Enoturismo”.
Estratégia internacional, mas com valor e coesão
No caso do novo programa, Lídia Monteiro referiu que “as tendências de consumo no Enoturismo estão alinhadas com as tendências de consumo de turismo gerais”, destacando “as experiências personalizadas e imersivas, a sustentabilidade, a diversificação de mercados, bem como a utilização de tecnologias, como realidade aumentada, tours virtuais, ou aplicações e plataformas digitais facilitadoras de interação”.
“Cada vez mais sentimos que o consumidor prefere produtos que têm uma mensagem, mas também uma prática associada à sustentabilidade e, naturalmente, de um turismo mais consciente e mais responsável, e essa também é uma responsabilidade coletiva”, justificou Lídia Monteiro, admitindo, também, que “já não temos a procura do Enoturismo apenas por especialistas ou por casais, sentimos que o segmento dos jovens e das famílias está a crescer, o que pode significar uma janela de oportunidade”.
E se na visão a qualidade da experiência, o envolvimento e competitividade das empresa, o território e o alcance e visibilidade nacional e internacional são os eixos, estes devem proporcionar viajantes satisfeitos com a experiência turística, crescimento das experiências de enoturismo, um conhecimento sobre o impacto do Enoturismo no território e desenvolvimento de medidas conducentes à sua regeneração, bem como captação de viajantes e presença na media.
Por isso, as dimensões terão de estar ligadas a prioridades e se no “Território” a prioridade é gerar impacto positivo nos destinos; o “Produto” consiste não apenas na qualificação e estruturação do produto e serviços de Enoturismo, mas também centrar-se na experiência turística e em toda a sua cadeia de valor, promovendo uma experiência enoturística qualificada e multifacetada que inclua o pairing com outros produtos.
As outras duas dimensões são as “Pessoas” e a “Internacionalização”. E se a primeira abrange profissionais, comunidade residente e viajantes, que se conectam em torno de uma cultura de Enoturismo e vinhos ao longo de toda a experiência turística, as prioridades passam por densificar uma cultura de conhecimento e savoir faire em torno do Enoturismo nos diferentes agentes. Por fim, a reputação e diferenciação das marcas enoturísticas no plano internacional terão de ter a dimensão de contribuir para acrescentar valor ao turismo e às exportações de vinhos, constituindo o branding um reforço à internacionalização do destino de Enoturismo e potenciar as marcas turísticas ligadas ao vinho.
A concluir, Lídia Monteiro focou ainda a importância da “colaboração”, para que “possamos, em conjunto, levar Portugal, a ser não só uma referência de Enoturismo a nível mundial – que já o é -, mas que possa também ser um impulsionador do Enoturismo do futuro, um Enoturismo com valor para os viajantes, um Enoturismo com valor para as empresas, para os seus trabalhadores, mas também um Enoturismo com valor para os territórios e para as suas comunidades”.