Água: um bem precioso (também) para o golfe
Associada a um “enorme” gasto de água, a indústria do golfe turístico contraria esta “fama” e refere mesmo “os esforços significativos para reduzir o consumo de água nos campos”. Os profissionais ouvidos consideram que é preciso “desmistificar” este assunto.
Victor Jorge
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“A indústria do golfe é uma grande consumidora de água”. Este statement é frequente ser ouvido quando se fala na indústria do golfe em Portugal e não só. Contudo, os profissionais ouvidos pelo Publituris rebatem este mito e João Pinto Coelho, diretor de Vendas do Onyria Golf Resorts, afirma mesmo que “o golfe não é um grande consumidor de água”, salientando que “não tem comparação com outros setores de atividade” e destacando o Algarve, onde o golfe tem maior representação, indicando que “as estimativas apontam para um consumo total de cerca de 6%. As situações de ruturas e perdas de águas superam este número em larga medida”.
O golfe não é um grande consumidor de água”, João Pinto Coelho (Onyria Golf Resort)
Ainda assim, refere que no setor do turismo e, mesmo sabendo do peso que tem na economia, “estamos todos conscientes das preocupações ambientais. Hoje é claro que a evolução do golfe tem incluído esforços significativos para reduzir o consumo de água nos campos de golfe”, considerando que “é importante dar maior visibilidade às práticas sustentáveis que os campos de golfe têm adotado com tecnologias e estratégias que visam minimizar o uso de água”.
António Ferreira da Silva, Golf Sales Director do Praia D’El Rey Marriott Golf & Beach Resort, não esconde que, “para que os jogadores desfrutem do jogo, é crucial que os relvados dos campos de golfe estejam em perfeitas condições”, envolvendo, por isso, “a escolha cuidada do tipo de relva e práticas agronómicas sustentáveis, que minimizem intervenções dispendiosas e o uso de recursos”.
Frisando que as entidades que gerem campos de golfe têm orçamentos “limitados” para gerir, nos quais os custos de energia, água e fertilizantes têm um peso “elevado”, António Ferreira da Silva afirma que “todos estes fatores obrigam a que a escolha das relvas seja a mais eficiente possível, sendo essa eficiência medida no consumo de água, necessidade de trabalhos físicos, e suscetibilidade a doenças”.
A evolução das técnicas de manutenção e a necessidade de termos boas superfícies fizeram do golfe uma das atividades mais eficientes em termos de uso de água”, António Ferreira da Silva (Praia D’El Rey Marriott Golf & Beach Resort)
Com o desenvolvimento de novas espécies de relvas mais eficientes e apropriadas às diferentes localizações ao longo do tempo, o Golf Sales Director do Praia D’El Rey Marriott Golf & Beach Resort, assinala que “os sistemas de rega foram melhorando e os sistemas de monotorização de humidade sofreram grandes melhorias”, frisando que os sistemas de hoje “permitem regar apenas a quantidade mínima necessária a manter a planta em condições”.
“Um campo de golfe com excesso de água não produz boas superfícies, assim como um campo com excesso de adubo (excesso de crescimento) ou doenças também não é atrativo para os jogadores e necessita de mais água”. Por isso, “a evolução das técnicas de manutenção e a necessidade de termos boas superfícies fizeram com que a quantidade de água, fitofármacos e adubos tenha vindo a decrescer nas últimas décadas, fazendo hoje do golfe uma das atividades mais eficientes em termos de uso de água”.
Estamos bem cientes da importância da água e da sua utilização consciente e responsável e, por isso, queremos ser parte ativa na resolução deste problema, com soluções inovadoras e fiáveis”, Salvador Costa Macedo (Ombria)
O próximo passo, com vista à redução do consumo de água, passa, segundo o mesmo, “pelo uso de águas recicladas. Os diferentes tipos de relva já sofreram adaptações ao uso de água de qualidade inferior, faltando apenas que as ETAR produzam água com uma qualidade mínima para uso de rega e que essa água chegue aos campos de golfe”.
Também o Ombria está “comprometido, desde o primeiro momento, com a sustentabilidade, a proteção da natureza, os valores de responsabilidade económica, ambiental e social, de forma a implementar um empreendimento naturalmente excecional em harmonia com a paisagem”, diz Salvador Costa Macedo, diretor de Golfe do Ombria.
No que se refere ao uso sustentável da água, “escolhemos várias soluções de reutilizar a água e reduzir o seu consumo”, garante Salvador Costa Macedo, dando como exemplo o a água da chuva, “recolhida e utilizada para irrigação através de um sistema de distribuição especialmente concebido e de bombas sofisticadas e energeticamente eficientes que reduzem o consumo de água e eletricidade em cerca de 15%”, enquanto para os fairways “escolhemos um tipo de relva – Bermuda – que consome até menos 25% de água”.
É essencial desmistificar este assunto [do consumo de água por parte dos campos de golfe]”, Ana Sequeira (Espiche)
Por outro lado, o Ombria optou por “rega por milímetros e não por minutos, dando à planta a água suficiente”, além de uma “monitorização das águas superficiais (cursos de água) e profundas para detetar qualquer possível deterioração da qualidade da água”.
“Estamos bem cientes da importância da água e da sua utilização consciente e responsável e, por isso, queremos ser parte ativa na resolução deste problema, com soluções inovadoras e fiáveis”, destaca o diretor de Golfe do Ombria.
Por fim, Ana Sequeira, gestora de Marketing e Vendas do Espiche Campo de Golfe, admite que esta questão tem muito a ver com “falta de informação sobre este assunto e do que é passado nos meios de comunicação”. Assim, “é essencial desmistificar este assunto visto que na maioria, os campos têm regras bastantes apertadas e controlo por parte das entidades competentes e têm tentado arranjar soluções mais eficientes para a gestão dos campos de golfe”.
E conclui que, “no caso do Algarve, o maior uso de água continua a ser do setor urbano e agrícola”.