“Lisboa é a nova Miami para os brasileiros”
Em entrevista ao Publituris, John Rodgerson, CEO da Azul – Linhas Aéreas Brasileiras, revela que a rota que a companhia aérea opera para Lisboa está com uma elevada procura, uma vez que os turistas brasileiros olham para a capital portuguesa como “a nova Miami” e, por isso, não descarta um reforço da operação no verão.
Inês de Matos
Guimarães eleita Capital Verde Europeia 2026
Emirates já voa com Airbus A350
Air France-KLM interessada em participação na Air Europa
Travel Lifestyle Network alarga presença a três novos mercados
Porto de Lisboa assina Agenda AIVP 2030 com dez objetivos e 46 medidas sustentáveis
ANA, Vinci e consórcio assinam contrato para obras de 233 milhões de euros no aeroporto de Lisboa
“Temos de parar de olhar para o retrovisor e começar a olhar para a frente”, diz presidente do Turismo de Portugal
Quinta Perestrello já abriu e integra Pestana Miramar
Jornadas de Enoturismo apontam para valorização da autenticidade e do storytelling
Lucros da easyJet superam 730 milhões de euros e opera 100 rotas em Portugal, em 2024
A saída da pandemia tornou a Azul – Linhas Aéreas Brasileiras mais forte, quem o diz é John Rodgerson, CEO da companhia aérea, que revela que a Azul é já a maior transportadora no Brasil e está empenhada em expandir também a sua rede na Europa para equilibrar a operação com os EUA.
Em entrevista ao Publituris, o responsável fala também da importância do mercado português e da rota de Lisboa, onde a Azul conta com dois voos diários, mas que pode ser reforçada no verão, tendo em conta a elevada procura que regista, já que os turistas brasileiros olham para a capital portuguesa como “a nova Miami”, que todos querem visitar.
Mais difícil parece ser o regresso ao Porto, para onde a transportadora voava antes da pandemia, com John Rodgerson a revelar que a Azul está satisfeita com a parceria que mantém com a TAP e que, por isso, prefere concentrar a operação na capital portuguesa.
Nesta conversa, houve ainda tempo para falar dos objetivos da Azul Viagens, o operador turístico da Azul, que quer aumentar a venda de pacotes de viagens para Portugal no Brasil, assim como das inovações tecnológicas e das suas vantagens para a aviação, além do futuro, que John Rodgerson vê com otimismo, estimando mesmo que 2023 possa vir a ser “o ano mais forte” da história da transportadora brasileira.
Depois da pandemia, a Azul parece estar com uma energia renovada e tem lançado várias rotas domésticas e também internacionais. A capacidade pré-pandemia já foi toda recuperada?
É verdade, a Azul mudou com a pandemia, entrámos em vários mercados e que observámos é que a frequência entre duas cidades é menos importante do que voar para um maior número de cidades. Por isso, hoje, estamos em 158 cidades no Brasil, antes da pandemia estávamos em 119.
Hoje, a Azul tem uma malha muito mais distribuída no Brasil e a própria companhia aérea é 30% maior em termos de assentos face aquilo que tínhamos antes. Em 2019, éramos uma empresa bem menor do que aquilo que somos hoje, em que temos, mais ou menos, um terço do mercado no Brasil. Isso mostra que a Azul cresceu muito e mudou, também porque temos outro tipo de aeronave que nos tem permitido uma expansão no Brasil, distribuindo os brasileiros por todos os cantos do país.
Obviamente que também temos novos voos para a Europa, para Lisboa e vamos lançar um voo para Paris-Orly este mês [26 de abril], mas o que temos percebido é que a pandemia mudou a forma como as pessoas trabalham. Por isso, há menos viagens de negócios, muitas pessoas continuam a trabalhar de forma remota, o que também permite que as pessoas façam fins-de-semana mais prolongados e procurem mais o lazer.
É essa maior procura pelo lazer que tem levado a Azul a abrir tantas novas rotas no Brasil?
Sim, a aposta no lazer e a nossa capacidade para voar para várias cidades. Somos a única companhia aérea que, no Brasil, tem aviões ATR, também somos os únicos que têm Embraer no Brasil e isso permite que a Azul possa voar para cidades mais pequenas porque os nossos concorrentes não têm essa capacidade. Isso dá-nos a capacidade de distribuir os passageiros por mais cidades, ajudando muito mais o mercado brasileiro a crescer. Isso é algo que temos percebido e em que nos temos focado.
É isso que explica o lançamento da nova assinatura “O Céu é Azul”, de forma a mostrar essa abrangência da Azul no Brasil?
É verdade. É algo tão simples, mas que faz todo o sentido. Somos uma empresa que tem aeronaves brasileiras a voar nos céus do Brasil e somos quem mais voa dentro do Brasil.
Pensando, por exemplo, no Amazonas, a Azul serve mais de 30 destinos no Amazonas, um estado do Brasil que nunca tinha sido servido antes. Muita gente quer salvar o Amazonas, mas costumo dizer que, primeiro, temos de conectar o Amazonas. Isso é o mais importante porque para salvarmos alguma coisa, temos de saber o que lá está a acontecer. E a Azul faz isso.
Há muito boa conetividade com a TAP e isso levou-nos a perceber que não precisávamos voar para duas cidades diferentes em Portugal
Recentemente, acabou a obrigatoriedade do uso de máscara facial a bordo dos voos da Azul. Essa decisão teve algum impacto na procura?
O Brasil foi um dos últimos países do mundo a tirar a máscara e, em fevereiro, finalmente podemos abolir a máscara a bordo.
Isso fez toda a diferença para a perceção do cliente e, por isso, agora há mais pessoas que se sentem mais confortáveis a voar porque não é divertido voar com máscara. Agora que não é mais preciso usar a máscara, com certeza que a procura aumentou.
No ano passado, também não podíamos servir snacks a bordo e o Brasil é um país grande, agora, imagine um voo de três ou quatro horas sem snacks e com máscara. Obviamente que havia pessoas que não queriam voar por causa disso e, agora, isso mudou.
Rotas internacionais
A Azul está também a abrir várias novas rotas internacionais, para a América Latina, como o Uruguai, mas também EUA e Paris. Qual é a importância destas novas rotas para a Azul?
São rotas importantes porque representam uma receita em dólares e muitos dos custos de uma companhia aérea são em dólares, como o combustível ou aeronaves. O facto de termos mais receita em dólares ajuda e é por isso que temos mais voos para os EUA do que para a Europa.
Voamos para Fort Lauderdale e Orlando de várias cidades no Brasil, como São Paulo, Minas Gerais, Recife, Manaus ou Belém.
Para a Europa, estamos focados em Lisboa, que tem dois voos diários, e agora vamos ter também um voo diário para Paris. Estamos a tentar equilibrar um pouco a operação porque estávamos muito focados, a nível internacional, nos EUA, e queremos equilibrar a operação com a Europa.
Também temos outros destinos regionais, como Montevideu, no Uruguai, mas tenho percebido que Lisboa é a nova Miami para os brasileiros. Antigamente, há 10 ou 15 anos, todos os brasileiros queriam viajar para Miami, mas agora Lisboa, Cascais e também o Porto são as novas Miami. Há muitos brasileiros a viajar e a comprar casa em Portugal porque é um país lindo e isso faz muita diferença nos nossos voos.
No caso de Paris, que é o nosso próximo destino, também temos vários brasileiros que querem voar diretamente. Na nossa lista de destinos, o primeiro em termos de procura sempre foi Lisboa, onde dobrámos e até triplicámos os voos em 2022, e o segundo destino era Paris.
Em Paris, mantemos a parceria com a TAP. A TAP voa para vários destinos no Brasil e nós ajudamos a distribuir os passageiros e vai acontecer a mesma coisa na Europa. Vamos conectar-nos com a TAP também em Paris.
A Azul está a receber novos aviões, já recebeu um A350 e tem mais alguns encomendados. Estes aviões vão ajudar na expansão para a Europa?
Ainda temos poucos desses aviões, mas sim, vamos usá-los nos voos para Orly e temos usado também para Orlando. Mas o nosso principal avião para voos internacionais é o A330 e vai continuar a ser. É a nossa principal frota e a maior parte dos nossos voos vão ser feitos nesses aviões.
Há uma elevada procura de brasileiros. Em todas as cidades onde voamos no Brasil há pessoas que querem visitar Portugal
Mercado português
Qual é, atualmente, a importância do mercado português para a Azul, nomeadamente nas rotas domésticas. O número de passageiros portugueses é significativo?
Pode crescer mais. A TAP serve atualmente 11 cidade no Brasil e somos parceiros em todas essas cidades. Por isso, temos pessoas em todas as 158 cidades para onde voamos no Brasil que querem conhecer Portugal e que estamos a ajudar a distribuir para as cidades para onde a TAP voa. Mas também é verdade que há muitos portugueses a viajar para o Nordeste, via São Paulo, onde se localiza o nosso hub de Viracopos.
Temos dois voos diários para Lisboa e, durante o pico, em janeiro, tivemos três voos diários, mas é verdade que temos mais brasileiros a viajar para visitar a Europa do que portugueses a visitar o Brasil. Esta é a minha perceção, mas com certeza que os portugueses também estão a conhecer mais o Brasil, através dos voos da Azul e da TAP.
Em relação a Lisboa, disse que a capital portuguesa está com uma procura muito elevada, isso poderá levar a um aumento de operação para atender à procura para o verão do hemisfério Norte?
Sim, é possível. Começámos a rota com um voo diário e, depois, fomos para o Porto, mas, assim que pudemos, duplicámos os voos em Lisboa, até porque há muito boa conetividade com a TAP e isso levou-nos a perceber que não precisávamos voar para duas cidades diferentes em Portugal.
Na temporada alta, é sempre mais fácil ter disponibilidade para aumentar os voos e há vários dias em que temos três voos diários entre Campinas, que é o nosso principal hub, e Lisboa. Isto acontece porque há uma elevada procura de brasileiros. Em todas as cidades onde voamos no Brasil há pessoas que querem visitar Portugal.
Como está a ocupação dos voos da Azul entre São Paulo e Lisboa e qual é a previsão para o verão do hemisfério Norte?
Os nossos voos costumam estar sempre acima de 80% de ocupação. É algo que costumamos divulgar mensalmente e, por norma, os voos internacionais estão sempre um pouco acima dessa média doméstica.
Percebi pelas suas palavras que não está nos planos da Azul um regresso tão cedo ao Porto, correto?
Não está porque temos uma boa distribuição com a TAP e, por isso, não é necessário, neste momento, voar diretamente para o Porto.
A TAP tem uma ponte-aérea entre Lisboa e o Porto que distribui os passageiros e isso leva-nos a acreditar que é melhor voar para Lisboa, uma vez que há maior conetividade para a Azul.
Quem sabe no futuro isso pode mudar, mas, por enquanto, estamos apenas focados em Lisboa e acho que um bom parceiro também faz isso. Portanto, voamos para onde o nosso parceiro é forte para ajudar a distribuir os passageiros em ambos os lados.
Azul Viagens em Portugal
E há algum outro destino português que possa interessar à Azul, pelo menos, no futuro?
Aquilo que estamos a pensar é em como vender mais pacotes para Portugal. Temos uma empresa de pacotes de viagens, a Azul Viagens, e queremos vender o Algarve, o Porto, Beja ou Fátima. Este é o nosso foco, não só para vender o voo, mas todo um pacote que inclui o voo, mas também carro e hotel. Acredito que esta venda de pacotes pode ser muito benéfica para a Azul.
O objetivo é afirmar a Azul Viagens, o operador turístico da Azul, também em Portugal?
Já temos algumas lojas em Portugal, mas queremos ter mais porque temos a capacidade de vender esses pacotes no Brasil.
Por exemplo, nos EUA, somos o maior vendedor no Brasil da Disney de Orlando, muitos brasileiros visitam a Disney de Orlando e queremos fazer o mesmo com Portugal. Podemos vender muito mais pacotes para Portugal, mas temos de melhorar esta parte do negócio, isso faria muito sentido e, por isso, estamos a procurar hotéis e outros parceiros em Portugal para ajudar a aumentar as possibilidades de venda.
Aquilo que estamos a pensar é em como vender mais pacotes para Portugal. Temos uma empresa de pacotes de viagens, a Azul Viagens, e queremos vender o Algarve, o Porto, Beja ou Fátima. Este é o nosso foco neste momento
Já há alguma coisa fechada ou as negociações ainda continuam?
Estamos a conversar com muita gente e temos de construir o conteúdo. Isso implica ir ao destino, tirar fotos e, depois, levar os nossos vendedores para Portugal para conhecerem o destino.
Isso acontece porque o Brasil ainda tem muito o conceito de loja física, onde o cliente se senta em frente ao vendedor. Na Europa, há mais o costume de usar o online, o Booking.com e outros, mas o Brasil ainda está alguns anos atrás e o brasileiro ainda gosta de olhar nos olhos do vendedor para comprar pacotes de viagem.
Importância da tecnologia
A Azul lançou, em agosto de 2022, um projeto para criar a primeira ponte aérea biométrica do mundo, entre São Paulo e o Rio de Janeiro. Como está a correr este projeto e que vantagens oferece a biometria à aviação?
Está a correr muito bem. Fala-se muito em transformação digital e naquilo que se vai fazer para tornar o negócio mais digital, e toda a gente contratou consultores e equipas especializadas, mas a coisa mais importante para a transformação digital foi a pandemia.
Com a pandemia, percebemos que as pessoas não queriam ter contacto com outras pessoas e isso levou a que mais de 75% dos nossos clientes já nem passem pelo balcão de check-in. Com a biometria, as pessoas chegam ao aeroporto e apenas têm de mostrar a sua cara, já não é preciso mostrar o boarding pass ou o passaporte. Tudo passou a ser feito por reconhecimento fácil, uma tecnologia moderna que funciona muito bem.
É uma forma de darmos um salto em frente e sermos uma empresa mais tecnológica. Mudámos o patamar nos últimos anos, somos a companhia aérea mais pontual do mundo, recebemos esse prémio em 2022, e isto tem muito a ver com o uso da tecnologia.
Temos visto, em vários lugares do mundo, o caos aéreo, seja na Europa ou nos EUA, e nós não tivemos essa experiência no Brasil, estamos até mais pontuais hoje do que aquilo que éramos antes da pandemia e muito disso tem a ver com a utilização da tecnologia.
A pontualidade valeu, inclusive, um prémio à Azul. Esses prémios são, de alguma forma, importantes para a imagem da companhia aérea junto dos passageiros?
Sim, é verdade. Recebemos o prémio da CIRIUM como companhia aérea mais pontual do mundo e isso aconteceu depois de termos também recebido um prémio do TripAdvisor, em 2019, para melhor companhia aérea do mundo. Isso faz com que a Azul seja reconhecida como uma empresa de qualidade, que é muito pontual e trata muito bem os clientes. Temos muito orgulho disso.
A coisa mais importante para a transformação digital foi a pandemia
Expectativas para 2023
Quais são as expectativas da Azul para 2023, um ano que está a ser ameaçado pela inflação e perda de poder de compra?
Podemos olhar para os dados e ficar tristes ou olhar para eles com otimismo. Prefiro olhar com otimismo. Por exemplo, há muito tempo que os juros estão altos e há inflação, mas o preço do combustível está quase 20% mais barato do que há um ano. E esse é o nosso principal custo.
Por outro lado, há maior procura. A máscara deixou de ser obrigatória no Brasil há pouco mais de 30 dias. Portanto, o facto da máscara já não ser obrigatória e do preço do combustível estar mais baixo, leva a que mais pessoas queiram viajar, até porque muita gente não pode ver os seus netos nos últimos três anos e muitas pessoas que têm o sonho de conhecer a Europa não tiveram essa oportunidade por causa da pandemia.
Além disso, tanto os brasileiros como os europeus estão quase 100% vacinados, o que também ajuda a que as pessoas queiram viajar e leva a que a procura esteja, neste momento, muito boa. Por isso, estou muito otimista sobre este ano.
No ano passado, vivemos uma situação muito pior porque, de um dia para o outro, o preço do combustível aumentou muito por causa da guerra na Ucrânia. Mas, agora, o preço do combustível está a cair e a procura está alta e estou muito otimista de que vamos ter um ano muito bom, temos visto isso nos números que já temos e só estamos no quarto mês do ano.
No ano passado, foi diferente. Janeiro começou com a Ómicron e, depois, quando a Ómicron passou, começou a guerra na Ucrânia e o preço do combustível disparou 50%.
Este ano, não temos essas situações e, por isso, estou mais otimista. Acredito que vamos ter muito mais pessoas a viajar e o que está a acontecer deixa-nos muito animados para 2023.
2023 pode ser um novo ano de recordes?
Sim, 2023 vai ser um ano de recordes na receita, também deve ser para a rentabilidade e, por isso, estamos muito animados. A pandemia ajudou-nos a ficar mais fortes, somos mais pontuais, mais eficientes e não recebemos nenhuma ajuda governamental. Tivemos de sobreviver sem ajuda do Governo e isso ajudou-nos a sair da pandemia muito mais fortes. Por isso, acredito que 2023 vai ser o ano mais forte da nossa história.
A pandemia também nos ajudou a crescer na logística e, atualmente, por exemplo, levamos manga de todo o Brasil para Portugal. As pessoas que comem manga no sul de França não sabem, mas a verdade é que essas mangas foram transportadas por um avião da Azul. Essa parte desenvolveu-se muito e foi crucial para que as companhias aéreas tenham sobrevivido aos piores momentos da pandemia.