Quanto valem os EUA para Portugal? Muito e podem valer muito mais
A crescente importância dos Estados Unidos da América (EUA) para Portugal, na vertente do turismo e imobiliário, ficou patente num encontro promovido pela Câmara de Comércio Americana em Portugal (AmCham). Se no turismo é preciso promover mais, no imobiliário é necessário desburocratizar e facilitar.
Victor Jorge
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O investimento proveniente dos EUA tem sido fulcral na recuperação económica de Portugal quer se analise de uma perspectiva do turismo, quer do imobiliário. Isto mesmo foi destacado no início do debate “Turismo & Imobiliário no âmbito das relações Portugal/EUA”, realizada esta sexta-feira, 28 de abril, por António Martins da Costa, presidente da Câmara de Comércio Americana em Portugal (AmCham). Por isso mesmo, António Martins da Costa “classificou” os EUA como um “parceiro incontornável de Portugal.
No sentido contrário, Ana Paula Vila, representante da Embaixada dos EUA em Portugal, destacou, por sua vez, os números de portugueses que visitam os EUA, frisando que o número é bem inferior do que os norte-americanos que visitam o nosso país. Se em 2019, o fluxo turístico de Portugal para os EUA rondou os 15.000, os anos da pandemia levaram a uma quebra desses números (449 pessoas em 2020 e 7.000 em 2021). O ano de 2022 já foi de recuperação, tendo-se ultrapassado os 14.000, para Ana Paula Vila admitir que “2023 será um ano para quebrar recordes”, já que até fevereiro foram quase 10.000 os portugueses que viajaram até ao outro lado do Atlântico.
Na mesa-redonda que se seguiu, José Roquette, administrador e Chief Development Officer (CDO) do Pestana Hotel Group, que moderou o debate, começou por frisar que “os EUA ainda não mostraram 1/3 do que podem vir a mostrar”, admitindo que “existe ainda muito trabalho de casa por fazer” e que “se sente um potencial enorme por parte do mercado norte-americano”.
Para Patrícia Barão, diretora do Departamento Residencial da JLL Portugal, o certo é que “os EUA descobriram Portugal nas várias frentes do imobiliário, tanto comercial como residencial”, destacando a evolução verificada, principalmente, nos últimos seis anos. Certo, também, é que os sectores de investimento são muito diversos, registando-se um crescimento de 67% no investimento comercial no primeiro trimestre deste ano, sendo que “os EUA são a nacionalidade que mais investe no imobiliário comercial”.
EUA: um bom barómetro para o futuro do turismo
No que toca ao turismo, Sofia Lufinha, Chief Strategy Officer (CSO) da TAP Air Portugal, fez referência ao aumento da procura, verificando-se um incremento de 40%, tendo a companhia aérea nacional crescido 60% ao nível das frequências semanais para os EUA, oferecendo, atualmente, 62 voos por semana.
O segredo está na diversificação da oferta. Temos de oferecer um Portugal diferente e posicionar o destino noutros segmentos como, por exemplo, o enoturismo”, Luís Araújo (Turismo de Portugal)
“Há muito crescimento recente”, referiu Sofia Lufinha, admitindo que se trata de “um bom barómetro para o futuro”. E os números não desmentem, já que o número de passageiros mais do que duplicou de 2019 para 2022 e, em 2023, esse mesmo número já triplicou face ao ano pré-pandémico.
“As pessoas estão mais disponíveis para pagar por mais e melhores serviços”, adiantou a CSO da TAP, salientando, contudo, que nem todos os norte-americanos que viajam para Portugal ficam no nosso país. “Há um hub em Lisboa que faz uma ligação excelente com o resto do mundo”, frisando ainda que “há que aproveitar o sucesso do programa ‘stop-over’”.
Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal (TdP), destacou a facto de “tudo estar relacionado com a conectividade”, indicando que, neste momento, existem cinco companhias a voarem diretamente dos EUA para Portugal. “Temos os quatro aeroportos internacionais portugueses cobertos. Falta o Algarve”, admitindo que “vamos conseguir ter o Algarve, é essencial”.
Os números indicados pelo presidente do TdP revelam um crescimento de 65% das dormidas, face a 2019, e, em janeiro de 2023, já o dobro do primeiro mês de 2019.
Isto deve-se, segundo Luís Araújo, ao facto de em 2016 existirem um milhão de lugares disponíveis dos EUA para Portugal, para o número, em 2022, se cifrar nos dois milhões de lugares. “Depois da COVID, a ligação foi fundamental e a recuperação foi exponencial”.
Um investidor que pretende investir em Portugal a 10 ou 15 anos não pode dar-se ao luxo de constantes alterações às leis e impostos”, John Calvão (Arrow)
Para o presidente do Turismo de Portugal, “o segredo está na diversificação da oferta. Temos de oferecer um Portugal diferente e posicionar o destino noutros segmentos como, por exemplo, o enoturismo”. Nesse particular, Luís Araújo fez referência aos bons números das exportações dos vinhos portugueses que, “claramente beneficiam da evolução registada no turismo”.
Também Miguel Mota, Sales Manager for Portugal da Air France KLM & Delta Air Lines, é da opinião que “o futuro será muito positivo”, indicando que no segundo semestre de 2022, o número de passageiros registou um amento de 10% face a 2019, enquanto os primeiros meses do presente ano já mostram uma subida de 30% face ao último ano antes da pandemia. Com 21 ligações diretas para os EUA, Miguel Mota frisou que estes voos depois se espalham pela malha norte-americana.
Também do lado do investimento norte-americano em Portugal, John Calvão, Managing Principal e Co-Head do fundo Arrow, começou por indicar que “muitas vezes o investimento não é dos EUA, mas sim de fundos geridos em terras americanas e por americanos”. Contudo, John Calvão admitiu que Portugal “não tem dimensão suficiente para outros investidores olharem para Portugal”, destacando que se trata de um país “demasiado burocrático”, salientando as “várias mudanças que existem ao nível das leis e do fisco. Um investidor que pretende investir em Portugal a 10 ou 15 anos não pode dar-se ao luxo de constantes alterações às leis e impostos. Não pode haver esta inconsistência e incerteza, já que afasta ou nem aproxima os investidores”.
Com mais de 1.200 pessoas empregadas em Portugal, a plataforma da Arrow tem neste aspeto uma das “grandes vantagens”, admitindo o responsável do fundo que “isto dá-nos possibilidade de pressionar que outra forma não seria possível”. Por isso, deixou o recado, “se querem investimento, há que facilitar”.
Certo é que o clima, comida, o facto de praticamente todos os portugueses falarem inglês e, principalmente, a segurança são pontos que jogam a favor de Portugal. “Há muito coisa má, mas também há muita coisa boa em Portugal. Agora é preciso solucionar as coisas que estão mal”, disse.
Para o turismo dos EUA foi bom se ter salvo a TAP”, Sofia Lufinha (TAP)
Reforçar rotas e segmentar oferta
Falar das relações EUA com Portugal sem abordar a questão da conectividade e, mais concretamente, do aeroporto, ou melhor, do novo aeroporto de Lisboa, seria quase impossível num debate deste tipo.
Neste ponto Sofia Lufinha salientou que “para chegar a todo o mundo, temos de ter o hub e conectar as pessoas com o mundo”, referindo, claro, as limitações que o atual aeroporto possui, que pode ser melhorado, mas não deixando de fazer referência, também, às próprias limitações a que a TAP está sujeita devido ao plano de reestruturação.
Por isso, admite que “para o turismo dos EUA foi bom se ter salvo a TAP”, destacando que, agora, “o objetivo é crescermos, com mais rotas e mais load factor”.
O reforço das ligações também foram alvo de destaque de Luís Araújo, embora reconheça que “os EUA são um mercado novo”, sem esquecer que “os EUA são enormes e muito diferentes de cidade para cidade”.
Não podemos focar-nos somente no aeroporto de Lisboa. Há mais aeroporto para além do de Lisboa”, Miguel Mota (Air France KLM & Delta Air Lines)
Para o presidente do TdP, fundamental será também “melhorar a proposta de valor” e aí destacou o papel que o trabalho conjunto, entre privado e público deverá ter. “As empresas e as próprias regiões terá de olhar melhor e mais para o programa stop-over e aproveitá-lo, segmentar mais a oferta e dar benefícios para que as pessoas cá fiquem mais tempo”.
Com a abertura dos países, Miguel Mota, fez notar a “pressão que passará a existir”, frisando que será essencial puxar pela qualidade dos destinos e não apostar e turismo de massas”, colocando enfâse no “desafio” do aeroporto”. Contudo, frisou, “não podemos focar-nos somente no aeroporto de Lisboa. Há mais aeroporto para além do de Lisboa”.
Voltando à questão da diversificação e aposta no interior, John Calvão colocou o problema das infraestruturas. “Não só os americanos precisam de confiança nos sistemas de saúde, escolar, mas se a aposta for colocada no interior, também é preciso perceber que será necessário dar condições para quem queira ir trabalhar para lá ter habitação acessível e, assim, aumentar a qualidade da oferta turística”.