“O que nos distingue não é o autocarro, mas o serviço de excelência que procuramos dar ao cliente”
Depois de dois anos em suspenso devido à pandemia, a DP Tours Plus já está a operar em pleno, oferecendo tours e transferes de excelência. Em entrevista ao Publituris, Diamantino Pereira, fundador e diretor-geral da empresa, faz um balanço positivo do arranque e revela os planos para o futuro, que, apesar dos desafios, passam pelo crescimento.
Inês de Matos
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Nascida em janeiro de 2020, a DP Tours Plus não teve vida fácil nos primeiros meses. À pandemia e à paragem da atividade turística, juntou-se a falta de apoios, fazendo com que o arranque desta empresa de tours e transferes, que foi fundada e é dirigida por Diamantino Pereira, profissional bem conhecido do trade turístico nacional, só começasse verdadeiramente a operar em abril/maio deste ano.
Apesar do início conturbado, a espera por melhores dias compensou e, atualmente, DP Tours Plus está já a pensar em adquirir mais viaturas para conseguir dar resposta aos diversos pedidos, isto apesar dos desafios que também o mercado dos tours e transferes enfrenta, com destaque para o aumento do preço do combustível. Depois, há a velha questão do aeroporto de Lisboa, que também para estes profissionais há muito deixou de ter condições, o que leva o responsável a pedir “rapidez” na decisão sobre o futuro aeroporto.
O que é a DP Tours Plus, quando nasceu e como sobreviveu a empresa à pandemia da COVID-19?
Desde logo, quero explicar que o nome DP Tours Plus tem este ‘Plus’ porque queremos dar aos clientes em serviço extra, um serviço suplementar e distinto.
Nascemos mal, lançámos a empresa em janeiro de 2020, na FITUR, e, logo em março, levámos com a COVID-19 e estivemos parados dois anos.
Foram dois anos com as viaturas paradas, com custos fixos e não tivemos apoios nenhuns porque éramos uma empresa muito recente. Por isso, foram dois anos muito difíceis.
Mas, apesar das dificuldades, não vendemos nem trocámos veículos e esperámos que surgisse uma nova oportunidade, o que aconteceu agora, em abril e maio, em que já posso dizer que as coisas estão a correr bem.
Que serviços disponibiliza a DP Tour Plus?
Somos uma empresa de transportes. Não somos DMC, somos uma empresa de transportes B2B puro e os nossos clientes-alvo são as agências de viagens, DMC e hotéis. Fazemos muitos serviços para hotéis.
Portanto, não somos um DMC e não vendemos diretamente ao público, ao contrário do que, por vezes, o mercado pensa.
Quanto aos serviços, fazemos tours e transferes. Estamos a especializar-nos muito em alguns tours, nomeadamente em três, que são: Portugal com Santiago de Compostela, num tour de 10 dias; Portugal e Andaluzia; e temos também muitos tours que começam em Portugal e terminam em Espanha ou vice-versa. Estes são os tours em que somos especialistas.
Além destes, que são também aqueles que vendemos mais, criámos três tours que ainda não têm grande procura porque ainda não são conhecidos mas que foram criados em consequência de viagens de inspeção. São tours que fogem um pouco do resto que fazemos, um é sobre as raízes do povo judeu em Portugal, num tour de seis dias; outro é a EN2 – não é um tour original, a estada já lá está, mas fui lá experimentar e escolher os melhores locais para realizar paragens, para alojamento e para viver algumas experiências. Depois, temos ainda um tour dos Templários, que explora a história dos Templários em Portugal, além de Tomar e Almourol.
Temos um catálogo com alguns tours definidos e, depois, também fazemos tours à medida do cliente. Ou seja, se um DMC nos pedir, por exemplo, um tour em Marrocos, também fazemos.
Fazemos igualmente transferes – o grosso do negócio são os tours, mas também fazemos transferes, principalmente para a hotelaria.
Mas queria deixar claro que somos transportistas, não somos um DMC.
Esta empresa não é um hobby. É uma empresa séria, profissional, não é apenas uma coisa para estar entretido, ao contrário do que uma parte do setor possa pensar”
Porque optou pela área dos tours e transferes quando pensou em criar a sua própria empresa?
É um negócio que conheço. Fui admitido na Agência Abreu, como guia, com 25 anos. Trabalhei como guia durante muitos anos, até me convidarem para ficar no escritório. Estive quase 40 anos na Abreu e uma das funções que tinha eram as excursões de autocarro. Adquiri todo um ‘know how’ que me permite, hoje, saber do negócio, saber o que o cliente quer e permite-me antever e antecipar alguns problemas, o que acaba por contribuir para que possamos dar um melhor serviço porque conseguimos pensar em pormenores que escapam a muita gente. Por exemplo, devido ao facto de não termos condições no aeroporto de Lisboa, arranjámos umas placas de dimensões maiores para que os clientes nos vejam quando chegam. E funciona, felizmente não tenho ‘no shows’, mas é um detalhe de que só quem já conhece este mundo se lembra.
A escolha desta área de negócio foi intuitiva, atendendo à experiência que já tinha em autocarros?
Quando pensei em criar a empresa, pensei em dois ou três negócios, porque me sentia com capacidade para continuar a trabalhar. Este negócio foi um pouco intuitivo, porque é aquilo que honestamente sei fazer. Também fiz muitos charters, creio que foram centenas, mas não tinha capacidade para criar um operador, é preciso uma grande capacidade financeira. Os charters são muito caros e o risco é muito grande e, por isso, foi uma ideia que ficou logo de parte e percebi que aquilo que, de facto, está no meu ADN são os autocarros.
Mas esta empresa não é um hobby. É uma empresa séria, profissional, não é apenas uma coisa para estar entretido, ao contrário do que uma parte do setor possa pensar. Quando decidi avançar com este projeto foi com muita convicção e, agora, o objetivo é que o negócio cresça.
Enquanto empresa de transportes B2B, têm parcerias com DMC´s, agências e hotéis?
Sim, temos várias parcerias. Não nego que o facto de ter estado muitos anos no mercado – primeiro na Abreu e, depois, na Ávoris -, é uma vantagem, consegui angariar muitas amizades e, acima de tudo, muita confiança. Aquilo que sempre caracterizou a minha atuação foi a honestidade. Ao longo da minha carreira profissional, sempre fiz bons negócios sem mentir ou enganar, sempre fiz negócios com transparência e honestidade. Por isso, conquistei essa imagem no mercado e as pessoas associam a minha pessoa a essa imagem, o que acaba por ser uma mais-valia e uma responsabilidade muito grande.
Queremos diversificar e sentimos necessidade de ter, pelo menos, uma viatura de 26/28 lugares e outra de 45/48 lugares. Este é o nosso propósito a médio prazo”
Serviço e viaturas
Que tipo de viaturas tem a DP Tours Plus?
Neste momento, temos três Mercedes Sprinter de 15 lugares e uma de nove, e temos motoristas próprios. Ou seja, estamos especializados em serviços para pequenos grupos, de 10, 12 e até um máximo de 15 pessoas. Mas queremos diversificar e sentimos necessidade de ter, pelo menos, uma viatura de 26/28 lugares e outra de 45/48 lugares. Este é o nosso propósito a médio prazo, porque já houve algumas situações em que não conseguimos corresponder aos pedidos porque não tínhamos capacidade, embora estejamos associados a um ‘pool’ que tem viaturas maiores e às quais podemos recorrer, mas que não são nossas.
Os tours da DP Tours Plus contam com serviço de guia?
Sim, temos uma seleção de guias – quatro ou cinco – que não trabalham exclusivamente para nós. Hoje em dia, há muito poucas empresas em Portugal com guias efetivos. Nós também não temos, mas trabalhamos com uma seleção de guias que conheço muito bem e que são excelentes.
Que características têm as vossas viaturas, nomeadamente em termos de conforto e mais-valias para os passageiros? Têm, por exemplo, internet Wi-Fi?
A Mercedes Sprinter é uma viatura que tem a carroçaria feita em Portugal e isso permite-nos dizer aquilo que queremos, ou seja, é como fazer um fato à medida. Introduzimos uma série de upgrades que não são estandardizados. Por exemplo, na versão original, o frigorifico tem capacidade de 20 litros, nós aumentámos para 65 litros. Além disso, o degrau não baixava até ao chão, o que poderia ser complicado para pessoas com dificuldade de locomoção e pedimos para que assim fosse.
No caso da internet, também temos Wi-Fi a bordo e que funciona. Mas não é só, os bancos também se podem movimentar lateralmente, a bagageira tem maior capacidade – até porque trabalhamos muito com o mercado brasileiro, que vem duas ou três semanas de férias para a Europa e costuma trazer muita bagagem. Como tivemos oportunidade de ajudar a desenhar o veículo, aumentámos 20% a 25% a bagageira.
Depois, são veículos automáticos que são, de facto, muito cómodos e seguros e, por isso, posso dizer que não vamos mudar de marca, estamos muito satisfeitos, são veículos excelentes.
O conforto das viaturas também contribui para a diferenciação do serviço?
Não me parece que seja por aí, em Portugal há muitas empresas com muito bons veículos. Quando temos autocarros, ficamos viciados e damos por nós a olhar para os veículos da concorrência e, por isso, tenho noção de que há muita qualidade e, embora os nossos sejam veículos muito evoluídos, não é isso que diferencia o serviço.
Então o que é que diferencia o serviço da DP Tours Plus?
A diferença está no próprio serviço e na confiança que existe entre nós e os clientes. Para dar um exemplo, no nosso profile, está o meu número de telefone pessoal e quando dizemos que temos assistência 24h, é mesmo 24h. O meu telefone está sempre ligado e os clientes sabem disso, como também sabem que temos backups, e isso é importante porque os autocarros avariam, há acidentes e estamos muito bem preparados para responder a qualquer problema.
Portanto, esta confiança é muito importante e, depois, também é fundamental que exista cordialidade. O nosso lema é “we are professional and friendly” e é isso que procuramos dar aos nossos clientes. Temos de ser cordiais e humildes, as pessoas que trabalham connosco sabem que temos uma política de tolerância zero, ou seja, o cliente tem sempre de ser bem tratado, se não os tratamos bem corremos risco de abrir falência.
Por isso, a grande diferença não está no autocarro e é preciso ver que o nosso cliente não é o passageiro, é o DMC ou a agência que nos enviou esse passageiro. Portanto, quando prestamos um bom serviço, fidelizamos um cliente para nós e para a agência. E isso também é muito gratificante. Lutamos para fazer o melhor e para o cliente ficar satisfeito, oferecendo um bom produto, um bom atendimento e um bom pós-venda. O que nos distingue não é o autocarro, mas o serviço de excelência que procuramos dar ao cliente.
Perspetivas e desafios
No início desta entrevista disse que o arranque da DP Tours Plus foi complicado devido à pandemia, mas que, agora, já existe procura. Como está a correr o negócio?
Em relação ao verão, estamos bem. Quanto ao inverno, prefiro esperar, não posso dizer como vai correr porque ainda não temos histórico.
O que posso dizer é que o verão está a correr muito bem, até um pouco melhor do que eram as nossas expectativas, o que também nos dá algum alento de que, pelo menos, possamos enfrentar o inverno com aquilo que fizemos no verão. Para quem viveu as dificuldades dos últimos dois anos, posso dizer que estamos satisfeitos.
É muito difícil quando começamos de novo, é preciso começar a ganhar tração, mas posso dizer que as coisas estão a correr bastante bem e que estamos a lutar para que também o inverno possa correr bem. Não estamos à espera de que as coisas aconteçam e, por isso, já estamos a trabalhar no inverno para termos uma temporada aceitável.
É muito difícil quando começamos de novo, é preciso começar a ganhar tração, mas posso dizer que as coisas estão a correr bastante bem e que estamos a lutar para que também o inverno possa correr bem”
Ao nível de mercados, quais são os que estão a registar maior procura pelos serviços da DP Tours Plus?
Todas as empresas têm mercados preferenciais e os nossos são aqueles onde tenho algumas raízes, nomeadamente na América Latina. Trabalhei muitos anos na Argentina, Chile, México, Colômbia, Uruguai e Bolívia. Depois, também temos o Brasil, que é um excelente mercado para nós, assim como a Argentina e o Uruguai. Às vezes é preciso conhecer os mercados para os conseguirmos trabalhar e, felizmente, fruto da minha experiência e de ter trabalhado muitos anos com esses mercados, adquiri algum ‘know how’ e sei como tratar esses clientes.
Além desses mercados, há outro que também trabalhamos muito bem, que é o mercado espanhol.
Não teve cancelamentos desses mercados da América Latina, nomeadamente do Brasil, devido à guerra na Ucrânia?
No início, houve o receio de que o facto da guerra ser na Europa pudesse levar alguns mercados, como o brasileiro, a terem receio de vir para a Europa. Eu próprio ouvi os comentários e também, até certo ponto, pensei que isso pudesse acontecer, mas agora posso dizer que estava completamente enganado.
Na DP Tours Plus, não tivemos problemas de cancelamentos e, ainda esta semana estivemos em Évora com um grupo e 80% eram brasileiros. É um mercado que trabalhamos bem.
Mas a guerra está a trazer também outros problemas, nomeadamente inflação e aumento dos custos. No caso da DP Tours Plus, este aumento de custos vai ser um problema?
Já está a ser um problema. A maioria das empresas de transportes já está a pagar mais 30% ou 40% no combustível e não estamos a refletir esses aumentos nos preços finais. Portanto, é um problema que nos afeta imenso, admito que alguns transportistas tenham força para refletir na conta final esse aumento, mas também conheço muitos que não e eu sou um deles.
Como é que se consegue gerir uma empresa de transportes com o combustível a aumentar semanalmente?
É muito complicado. Há seis meses, um litro de gasóleo custava 1,30 euros e, agora, custa 2,23 euros. Ou seja, quando enchemos o depósito de uma sprinter custa 130 euros e não há crédito.
Admito que a maioria das empresas não está a refletir na fatura final estes aumentos, nós, por exemplo, não temos essa capacidade mas, se esta tendência se mantiver, mais cedo ou mais tarde, isso vai ter de acontecer.
Tenho a esperança que a guerra acabe rápido e que o preço dos combustíveis volte a normalizar mas, se a subida se mantiver, não conseguimos manter os preços. Ou temos capacidade de refletir isso na conta do cliente – o que também nos vai prejudicar porque o preço final fica mais alto e o cliente, depois, já não quer – ou esta subida não será suportável por muito tempo. Mantenho a esperança que a guerra acabe antes do inverno e que o gasóleo possa descer.
Aeroporto
Outro problema, que é, aliás, uma questão que se arrasta há décadas, é o aeroporto de Lisboa e, há poucas semanas, foi proposta a solução de dois aeroportos – Montijo e Alcochete. Como vê esta hipótese, poderia ser a solução que o setor do turismo precisa?
Acerca dessa proposta de dois aeroportos, nem faço comentários porque penso que foi um absurdo. Mas o certo é que, nesta questão do aeroporto, andamos atrasados 50 anos.
Acho que a melhor solução seria Alcochete, porque seria um aeroporto para o futuro. Mas, acima de tudo, o que peço, assim como o setor do turismo, é que seja rápido.
O problema da Portela é que só dá para metade dos passageiros. Para as pessoas que vêm de fora do espaço Schengen, e nós temos muitos clientes brasileiros, é um problema porque são horas de espera. Posso dar um exemplo, há pouco tempo tive um grupo de 13 pessoas que chegou a Lisboa e, depois, fez um tour pela Andaluzia. Era um grupo que vinha de Salvador, no Brasil, e estava previsto chegar às 11h00, mas o voo até chegou antes, às 10h35. Sabe a que horas os clientes saíram do aeroporto? Às 18h10, e ainda fomos para Córdoba, em Espanha, onde só chegámos às 03h30.
Portanto, acho sinceramente que as pessoas que andam a protelar esta decisão nunca viveram estes problemas. O nosso prazo de validade já terminou e acho que as pessoas que decidem não têm essa noção.
E Beja, qual é a sua opinião sobre a utilização deste aeroporto em complemento de Lisboa?
Há cerca de cinco anos fiz uma inspeção ao Aeroporto de Beja com outros operadores e não nos convenceu. Não há autoestrada, não há comboio, não tem condições nenhumas.
As condições do aeroporto até são boas e, apesar de ser pequeno, o aeroporto funciona. O problema é a distância a que está de Lisboa, além da concorrência, como se explicaria que uns voos partissem de Lisboa e outros de Beja? Nessa altura, estava na operação turística e percebi que um operador que colocasse um charter em Beja só venderia quando os charters que partissem da Portela estivessem cheios e é preciso ver que o risco de um charter é muito grande.
Portanto, estamos atrasados e não temos grande alternativa à construção do aeroporto em Alcochete. O que gostaria era que fosse rápido porque estamos muito carentes.