Algarve, Beira Interior e Tejo não são, propriamente, os primeiros destinos que veem à cabeça de qualquer turista nacional ou internacional que visite o nosso país.
No Algarve, Sara Silva, presidente da Direção da Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA), admitiu que “temos de diversificar o produto turístico do Algarve e ir além do sol e praia”, reconhecendo que, “embora estratégico, há muito mais a conhecer no Algarve”.
E aí, diz, o Enoturismo tem dado esse contributo para “explorar o território e conhecer mais do que o Algarve pode dar a nível de variadíssimos produtos, desde o património, à parte gastronómica ou cultural”.
Mais do que sol e praia
Nos últimos 10 anos, o Algarve deu, segundo Sara Silva, “um pulo significativo no Enoturismo”, revelando que metade dos produtores já têm oferta de Enoturismo, demonstrando, assim, “a potencialidade que a região tem para este produto turístico”.
“Relativamente a outras regiões, o Algarve já tem os turistas”, admitiu a presidente da CVA, referindo que “falta dar a conhecer a oferta existente na região e convencer os turistas a diversificar a visita”. Aí, admite, “a informação que possamos dar, principalmente ao turista internacional, é muito importante, de forma a poder preparar a sua visita e/ou experiência”.
Já na Beira Interior, a associação não se faz à praia, mas à Serra da Estrela, à natureza, neve, e, mais recentemente, ao melhor queijo do mundo, bem como na aposta na inovação, com a recuperação de algumas castas autóctones, e aos Vinhos de Altitude.
Rodolfo Queirós, presidente da Comissão Vitivinícola da Beira Interior (CVRBI), começou por revelar um projeto com duas comunidades intermunicipais, que abrangem 20 municípios, e que terá o vinho “como elemento de ligação entre todo o território”.
Admitindo que a Beira Interior tem um “potencial enorme e muitas valências” que, para além dos vinhos, contemplam as aldeias históricas, as Aldeias do Xisto, Aldeias da Montanha, a Serra da Estrela, Serra da Malcata, entre outros, “a dificuldade é conseguir juntar tudo e estruturar esta oferta”, disse Rodolfo Queirós, revelando que, no início de 2025, será realizada uma apresentação pública do projeto sob a “Linha + Interior Turismo”.
A rede que falta
“Temos um potencial grande, falta-nos estruturar a oferta e criar alguma notoriedade”, reconheceu o presidente da CVRBI, salientando que “o Enoturismo é mais do que ter vinho, uma adega e dormidas”. Por isso, o objetivo na região é ligar o vinho a tudo o que poderá gravitar em torno desse universo, como são os restaurantes, hotéis, turismo rurais ou wine bars, frisando Rodolfo Queirós que”iremos desafiar as agências de viagens, os DMC, para mostrar um produto atrativo que terá na sustentabilidade, não só ambiental, mas económica, um fator relevante”.
Importante para a região é, igualmente, a proximidade com Espanha, até porque “os espanhóis adoram Portugal, adoram a nossa comida, os nossos vinhos”, o que leva Rodolfo Queirós a frisar que “temos de ensiná-los a ‘investir’ e a gastar bem o dinheiro no nosso território”.
Chegados à a região Tejo, onde a Ode Winery já produz vinho e tem em mãos um projeto para desenvolver o Enoturismo com alojamento. Diana Soeiro, diretora de Marketing da Ode Winery, Farm & Living, destacou a proximidade a Lisboa como “benéfica”, admitindo, contudo, que o Ribatejo, região onde este agente está inserido, “ainda é um segredo muito bem guardado, até para nós portugueses”, reconhecendo que “ainda estamos numa fase que exige um esforço acrescido, não só de posicionar os diferentes projetos, como também posicionar o próprio perfil dos vinhos que, neste momento, está a ser produzido na região, bem como a própria região com destino turístico”.
E a região, enquanto Enoturismo, é, segundo palavras de Diana Soeiro, um destino que “surpreende visitantes nacionais e internacionais não só pela qualidade das infraestruturas, como pelos vinhos”.
Essa surpresa foi, igualmente, referida por Sara Silva que frisou que “turismo é experiência e contacto com as pessoas”, frisando que “o que vai marcar e o que vai levar aquelas pessoas a voltarem e a levarem a mensagem mais além é o contacto que tiveram com as pessoas que os receberam, bem como a qualidade da experiência”. De resto, reconhece que a praia começa a ficar “um pouco curta”, uma vez que há mercados que “exigem mais” e aí “as experiências mais personalizadas podem e devem fazer toda a diferença junto de um público cada vez mais exigente e informado”.
Com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) a apontar para mais de 30 milhões de turistas em Portugal, em 2024, a questão a saber é quanto desses turistas visitam o Interior. Rodolfo Queirós admite que “temos de ir à procura e reivindicar e, às vezes, até ser um bocadinho agressivos. Temos de ser interventivos para abanar um pouco as coisas”, reconhecendo que “é difícil trabalhar em rede”. Contudo, o presidente da CVRBI frisa que “se está a trabalhar cada vez melhor, embora, quando se trabalha com 20 municípios, não é fácil agradar a todos”. E dá um exemplo: “no lançamento do projeto que faremos no início do ano, levantou-se, de imediato, um problema com a imagem que irá ilustrar o mesmo. Ou seja, existem sensibilidades que podem ser feridas, mas que é preciso olhar um pouco mais além da imagem que irá estar na divulgação do projeto e estarmos sempre coordenados com as diversas entidades do território”.
Além disso, no que toca a promoção externa, “existem sempre os que querem ir a tudo o que é organizado lá fora, mas que não há capacidade financeira e humana para estar em todo o lado. Portanto, é fazer com que todos percebam que estamos a caminhar para o mesmo lado e que, caminhando juntos, ganhamos todos. É preciso fazer com que todos se sintam parte integrante do projeto”.
E aqui a crítica do presidente da CVRBI foi clara ao apontar que, de nada vale fazer promoção, se, depois, “quando o turista chega ao local, a adega está fechada, o restaurante está encerrado ou não há ninguém que possa explicar o produto turístico”.
Para todos estes projetos e produtos turísticos funcionarem são, de facto, necessárias pessoas. Num projeto como o da Ode Winery, que está no início, Diana Soeiro admite que “tivemos a sorte de encontrar uma pessoa muito qualificada e que pode formar os futuros colaboradores que entrem quando o projeto de Enoturismo estiver para arrancar”. Até porque, segundo a diretora de Marketing da Ode Winery, Farm & Living, o Enoturismo “não se limita à prova de vinho, ao alojamento. Há todo um storytelling que é preciso criar. Contar uma história à volta do vinho é, por vezes, o mais importante. Conseguir filtrar preferências, expectativas, adaptá-las à prova, à visita, personalizar ao pormenor todos os aspetos, fazer com que, quem nos visite, se sinta parte integrante”.
Por isso, Diana Soeira avisa que é “impossível ter sucesso no Enoturismo se quisermos ter um negócio aberto de segunda a sexta das 9 às 5. Tem de haver uma disponibilidade total”.
Promoção que conta
Em termos de promoção, todos os intervenientes do primeiro painel da Conferência admitiram que, nos dias de hoje, a promoção é feita de forma diferente. “Além das habituais idas a feiras e festivais de vinho, o contacto com a imprensa internacional tem sido muito importante”, destacando ainda Sara Silva o trabalho que tem sido feito pela Entidade Regional de Turismo Algarve e Associação do Turismo do Algarve, bem como a consolidação da Rota dos Vinhos do Algarve e o projeto Algarve Wine Tourism. “Naturalmente que nos dias de hoje, o digital assume uma importância vital”, referiu a presidente da Direção da CVA, reconhecendo, no entanto, que “o trabalho em rede é muito importante. É esse trabalho conjunto que nos dá a possibilidade de mostrar uma oferta estruturada, desde o lazer, à gastronomia, à hotelaria, à cultura e património”.
Assim, além do inglês, a região do Algarve pretende que o site mostre todos estes produtos noutras línguas, facilitando, dessa forma, o conhecimento, possibilitando a reserva, uma maior interação com quem está no terreno, ver vídeos, comentários e uma partilha mais imediata da experiência. “O digital serve, fundamentalmente, para interligar todos os parceiros regionais e locais à volta deste produto turístico”.
Felizmente, na Beira Interior, a promoção já é vista como um investimento e não como um custo, admitindo Rodolfo Queirós que se trata de “um trabalho de formiga, é uma maratona e uma corrida de 100 metros. É preciso ir investindo e, hoje, cada vez há mais produtores sensibilizados e a perceber que se apostarem no Enoturismo têm um complemento muito grande e que ajuda bastante na venda de vinho e com margens bem mais simpáticas”.
Ainda numa fase inicial, o projeto da Ode Winery tem mantido o foco no mercado nacional e em parcerias com produtores locais mais ligados à gastronomia, artesanato e produtos regionais, apontando Diana Soeiro este “crosselling como uma via para todos ganharem. Sozinhos, somos apenas mais um projeto numa região que precisa de ganhar visibilidade e escala. Queremos posicionar este projeto a nível nacional”, evidenciado a responsável da Ode Winery que “temos a missão de levar connosco também outros que possam precisar de alavancar os seus negócios”.
E aqui assume papel fulcral o envolvimento das comunidades locais. “Acreditamos seriamente que se todas as pessoas da região estiverem comprometidas com o nosso projeto, vão ser excelentes embaixadores e valorizarão a própria região e o Enoturismo”.