IVA a 23% põe em causa a competitividade do golfe
A taxa de IVA a 23% é um dos grandes desafios que o golfe enfrenta em Portugal, apesar da notoriedade inquestionável dos seus campos além-fronteiras. Acrescenta-se a estagnação do número de praticantes portugueses, bem como a necessidade de receção de mais torneios de prestígio como forma de promoção do produto.
Carolina Morgado
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Na opinião de Mário Ferreira, CEO do grupo NAU Hotels & Resorts, “o golfe é um desporto, praticado por milhões de pessoas em todo o mundo, e como tal, deveria beneficiar de taxa de IVA reduzida de 6%, que foi a taxa aplicada até 2011, adiantando que “apenas considerações de ordem ideológica levaram a que a taxa de IVA fosse aumentada para 23% – a tal ideia peregrina de que ‘o golfe é para ricos, que podem pagar’”, mas alerta que “o problema é que, na prática, quem paga a taxa são as empresas”.
O executivo lembra que Portugal, e o Algarve, é um entre vários destinos de golfe no Sul da Europa e bacia do Mediterrâneo, e “é nesse ambiente competitivo que nos movemos. Se todos os destinos tivessem taxa de IVA a 23% não seria um problema; todos aumentavam os greenfees para incorporar o IVA, e a competitividade mantinha-se intacta”.
Mas “não é isso que sucede”, lamenta, acrescentando que “Espanha, Norte de África, Turquia, Emirados, entre outros, têm taxas de IVA mais baixas ou mesmo inexistentes, e para podermos competir, o IVA é absorvido no preço, a margem é esmagada de forma significativa reduzindo a capacidade de investir, de renovar equipamentos, de pagar melhores salários e de atrair competições de prestígio que são o melhor cartão de visita de um destino”.
Segundo Mário Ferreira, não é só o IVA o principal desafio. Considera que a prática do golfe por portugueses está estagnada há vários anos, não saindo dos 15 mil federados praticantes em Portugal, sabendo que muitos destes são estrangeiros que cá vivem, muitos deles precisamente devido à oferta de golfe. Realça que, sem um mercado interno de praticantes de golfe, é quase impossível o desenvolvimento da modalidade noutras regiões, a promoção junto dos jovens, o aparecimento de praticantes de elite capazes de competir com os melhores”.
O executivo queixa-se da falta de “uma política e estratégia de promoção da modalidade, apoiada e suportada pelo Governo, a exemplo do que acontece noutras modalidades desportivas, e do que outros países fizeram com resultados notáveis. Veja-se a quantidade de jogadores espanhóis, italianos, franceses e escandinavos que competem em todo o mundo em pé de igualdade com os britânicos e americanos, que já não vencem sempre como no passado”.
Outro constrangimento referido por Mário Ferreira passa por não haver tantos torneios de prestígio no nosso país. “não há melhor promoção do golfe do que um destino ser palco de grandes torneios desportivos; os golfistas sonham em jogar nos campos dos destinos onde viram os seus ídolos jogar e vencer” apontou.
No entanto, reclama: “Por falta de verbas e de investimento, ficámos nos últimos anos reduzidos a um torneio dos mais mal remunerados do European Tour – o Portugal Masters – e outro do Challenge Tour – o Open de Portugal, que regressou em 2017 após vários anos em que não se realizou, pela mão do Grupo NAU Hotels & Resorts. Em 2022, tudo o indica, o Portugal Masters não se irá realizar, e perderemos assim o último torneio do European Tour transmitido pela televisão”. Assim, acrescentou: “Os nossos concorrentes de Espanha, Turquia e Emirados agradecem”.
Três campos desafiantes
Refira-se que o grupo NAU dispõe de três campos de golfe para desafios completamente distintos e para qualquer handicap. O NAU Morgado Golf Course e o NAU Álamos Golf Course ficam junto à Serra de Monchique e apenas a 10 quilómetros da cidade de Portimão, completamente envoltos numa natureza exuberante. Ambos de 18 buracos, são complementados pela Academia de Golfe do Morgado, que conta com condições de prática únicas em Portugal.
O Nau Morgado Golf Course é um campo championship, que recebeu por três anos consecutivos o Open de Portugal – prova integrada no European Tour em 2017, e no Challenge Tour em 2018 e 2019; é um par 73 longo e aberto, com fairways bem definidos e greens rápidos e desafiantes, uma magnífica experiência de golfe respeitada por todos os jogadores.
Já o NAU Alamos Golf Course é um par 72 mais curto, com fairways estreitos e greens rápidos e ondulantes, um autêntico quebra-cabeças para jogadores de todos os níveis.
No NAU Salgados Golf Course, junto à Praia dos Salgados, destaca-se a envolvência ambiental da praia com uma reserva natural única na Europa, com uma lagoa e aves exóticas, conta com 18 buracos e localiza-se na Herdade dos Salgados, apenas a 10 minutos do centro de Albufeira. É um campo semi-links, plano e em que o principal desafio são os 14 lagos e cursos de água, e a constante batalha contra o vento.
Cada um dos campos NAU dispõe de um Clubhouse com balneários, pro shop, receção e restaurante-bar.
Os clientes destes campos do grupo NAU são principalmente do Reino Unido seguido pelo mercado Nórdico (Suécia, Dinamarca) e do Centro da Europa (Alemanha, Holanda).
E como o grupo possui hotéis e resorts no Algarve e junto aos seus campos de golfe, segundo Mário Ferreira, em 2021 a percentagem de jogadores que ficaram alojados nas suas unidades foi de 29%, “ano em que tivemos apenas uma temporada de golfe, no outono”. Para 2022, a previsão é de 53%, “regressando assim aos números anteriores à pandemia”.
Apesar de o grupo ter tido um aumento do perfil de cliente All Inclusive, o que pressupõe gastos com serviços extra mais reduzidos o gestor não tem dúvida que “o golfista em geral apresenta um perfil de consumo superior à média”, uma vez que, para além do alojamento e refeições regulares, e da compra dos greenfees, consome transferes entre campos ou aluguer de rent-a-car, sendo também um excelente consumidor de bares, adquire acessórios de golfe e leva sempre alguma recordação dos campos onde jogou.
Depois da tempestade, espera-se a bonança
Como todos os setores que compõem a indústria turística, também o golfe sofreu grandes quebras com a pandemia, os confinamentos, as restrições em Portugal e nos principais mercados emissores. Segundo Mário Ferreira, operacionalmente, o 2021 “foi mais um ano em que o fecho abrupto dos campos de golfe em plena época alta no início do ano condicionou substancialmente a performance anual, com incerteza constante em relação a possíveis retomas da atividade normal e não permitindo estabelecer estratégias a curto/médio prazo”.
Essa tendência de quebra acentuou-se na primavera “resultando num ano catastrófico que foi parcialmente atenuado pela boa operação no último quadrimestre”, explica, realçando que “a operação de outono foi muito positiva, designadamente nos meses de outubro e novembro com os clientes do Reino Unido a demonstrarem grande apetência pelos campos nacionais, mas também de outras nacionalidades incluindo os franceses que estiveram de volta, devido às restrições Covid no Norte de Africa”.
Embora cauteloso, o CEO do grupo NAU considera que as expectativas “são de uma retoma gradual para os valores de 2019, com os principais mercados emissores a regressarem às taxas de ocupação normais, destacando-se para já o mercado escandinavo, como o islandês, mas também do Reino Unido e Irlanda, para o período da primavera e o Reino Unido para o período do outono”.
Mário Ferreira reconhece que, mais do que forte, o golfe “é um segmento crítico para o Algarve, e importante para a região de Lisboa e Oeste”, recordando estudos credíveis realizados antes da pandemia que apontam para cerca de 1,5 milhões de greenfees só no Algarve, a que se juntam os valores relativos às operações de transporte aéreo, transferes e rent-a-car, hotelaria, restauração, bar e outros consumos, num volume de negócios superior a 500 milhões de euros.
Acresce que as se tivermos em conta que as épocas de golfe vinham-se alargando no tempo, com uma primeira entre meados de fevereiro e maio, e uma segunda entre meados de setembro e novembro, precisamente, as épocas baixas do Algarve, garantindo assim emprego a dezenas de milhares de trabalhadores, para o executivo “a melhor forma de estimar o valor económico da prática e oferta de golfe é calcular as perdas registadas nos dois anos de pandemia durante os períodos de encerramento, tendo superado, certamente os mil milhões de euros”, concluiu.