“O aeroporto de Beja deve ser um aeroporto indústria”
Em entrevista ao Publituris, Vítor Silva, novo presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo, fala da cooperação com as Comunidades Intermunicipais (CIM), que passaram a ter competências na promoção, e do futuro do aeroporto de Beja, que não deve passar pelo transporte de passageiros.
Inês de Matos
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Em entrevista ao Publituris, Vítor Silva, novo presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo, fala da cooperação com as Comunidades Intermunicipais (CIM), que passaram a ter competências na promoção, e do futuro do aeroporto de Beja, que não deve passar pelo transporte de passageiros.
O anterior presidente do Turismo do Alentejo, António Ceia da Silva, dizia que a atribuição de competências turísticas às CIM iria “esfrangalhar” o turismo nacional. Partilha essa opinião?
As Comunidades Intermunicipais – no Alentejo e Ribatejo temos cinco – têm hoje, por lei, competências no mercado interno, mas articuladamente com as ERT. Já fazemos isso em termos de agência quando promovemos um subterritório debaixo da marca Alentejo. É assim que resolvemos a promoção do Ribatejo nos mercados internacionais. Não posso colocar a marca Ribatejo, mas promovo a região através dos produtos, do cavalo, da cultura Avieira ou do património gótico de Santarém. Portanto, trabalhar com as CIM não é problema, desde que o seu trabalho seja articulado com o nosso. No mercado nacional é diferente, se falarmos na Costa Alentejana, as pessoas sabem do que falamos e posso ter um plano específico apoiado naquela comunidade intermunicipal, mais dedicado ao território e não há problema, desde que seja articulado com a ERT. Agora, se me pergunta se as CIM devem fazer promoção autonomamente no mercado nacional, digo não. A minha posição é completamente contra, isso seria voltar ao tempo das 20 e tal regiões de turismo. E no mercado internacional muito menos, não vale a pena. O Alentejo é uma marca muito forte no mercado nacional, mas lá fora a competição é outra e não vale a pena ter uma estratégia baseada na colocação de marca, porque para isso é preciso uma fortuna e nós não temos dinheiro para publicidade. Por isso, tivemos de ir através dos produtos. A Rota Vicentina é um bom exemplo, não tinha capacidade financeira para fazer promoção e foi a agência que fez, porque as pessoas chegam ao território através do produto. Hoje, a Rota Vicentina é um produto top no mercado europeu.
O receio em relação às CIM era que não existisse essa coordenação. E no Alentejo tem existido?
Neste momento ainda estamos numa fase muito embrionária e ainda não vi as CIM, em relação ao mercado nacional, a lançar planos estruturados de promoção, nem a tentarem articulá-los. Prevejo que isso venha a acontecer, mas ainda não vi nada. Lá fora a mesma coisa, de vez em quando, vemos uma autarquia numa feira internacional, mas no Alentejo nem isso tem existido, foi um problema que resolvemos de outra forma, porque um problema é também uma oportunidade para encontrar uma solução. Se as câmaras municipais querem estar nas feiras, como a FITUR, e nos últimos dias, quando a feira abre ao público e os profissionais se vão embora, o stand de Portugal ficava uma desolação, propusemos ao Turismo de Portugal – e isso tem sido aceite – que aquelas mesas que ficavam vazias pudessem ser utilizadas pelas câmaras municipais, se quem as pagou se fosse embora e não se importasse. Isso tem acontecido e tem sido um sucesso. Hoje, as câmaras do Alentejo já não têm stands na FITUR, assim não pagam nada e fazem a promoção na mesma. E nós fomos os catalisadores disto, fizemos isto nos dois últimos anos e resultou muito bem.
Acredita então que nas CIM também vai existir essa cooperação?
Como disse, não estou contra, desde que seja um trabalho articulado e nós até já fazemos isso na agência, temos várias candidaturas conjuntas com a ERT, com a Rota Vicentina e outras.
Aeroporto de Beja
Antes da pandemia, a TAP admitia transferir alguns charters de verão para o aeroporto de Beja. Esta poderá ser uma forma de reativar o aeroporto?
De vez em quando há operações turísticas no aeroporto de Beja. Mas, e eu estou à vontade para falar sobre o aeroporto de Beja porque fiz parte da equipa que fez o primeiro plano de marketing da infraestrutura, o aeroporto de Beja deve ser um aeroporto indústria. A primeira vez que disse isto, fui gozado, mas há centenas ou milhares de aeroportos pelo mundo fora que são aeroportos indústria, não são vocacionados para passageiros, às vezes podem tê-los, mas muitos nem isso. São aeroportos que funcionam num cluster e têm à volta uma série de indústrias dedicadas à aviação e à carga. Penso que o aeroporto de Beja deve funcionar dessa forma e é para aí que está, felizmente, a caminhar. O António Costa Silva, que fez o plano para a retoma da economia, diz exatamente o que eu venho a dizer há muitos anos. Mas, quando disse isso pela primeira vez em Beja, e era o presidente da Região de Turismo, só não me empalaram porque era proibido. A maior parte dos voos de passageiros que aterraram em Beja foram promovidos pela ARPT, promovemos voos entre Beja e Heathrow, o que é fantástico, porque Heathrow é um dos maiores aeroportos do mundo. Mas o objetivo destes voos não era trazer passageiros, era promover o Alentejo, nem queira saber o que se falou do Alentejo e de Beja no Reino Unido.
Se o objetivo era promover o Alentejo, saiu caro fazer um aeroporto só para isso, não concorda?
O aeroporto custou 30 milhões de euros, 85% dos quais em fundos europeus. E 30 milhões de euros são seis quilómetros de autoestrada. O que seria um crime era não pôr a base aérea para utilização civil e, neste momento, está lá a Hi-Fly, já abriu um grande hangar de manutenção de aeronaves. Por outro lado, o aeroporto de Beja está vocacionado para o desmantelamento de aeronaves, que é um dos grandes negócios da aviação, e o Costa e Silva também fala nisso. A isto, juntam-se outras duas realidades, a Embraer em Évora e Ponte de Sor. Estes três pólos devem articular-se e constituir um cluster aeronáutico. O aeroporto de Lisboa sobrepõe-se ao de Beja e não existe densidade populacional que justifique o aeroporto. Que população é que existe num raio de 90 quilómetros em torno do aeroporto? Não justifica. E qual é o tipo de oferta turística que temos, é para turismo de massas? Não é. E o negócio da aviação vive de quê, de aviões vazios? Claro que não. Portanto, a principal vocação do aeroporto de Beja não é para passageiros. Mesmo agora, quando se falou na reativação de Beja em vez do Montijo, é preciso ver que, para isso, eram necessárias uma ferrovia e uma autoestrada. A autoestrada ainda está a 40 quilómetros e ferrovia nem vê-la, aquilo que existe são umas carruagens do século XIII e era preciso que existisse um ramal para a estação de Cuba. Portanto, falar em alternativa é fácil, mas não é viável. É um aeroporto indústria e, se houver oportunidade de captar passageiros, muito bem, mas não é essa a sua principal vocação.
*Leia a entrevista completa na edição digital do Publituris.