“É tudo barato em Portugal. Temos de deixar de ser o país do baratinho e ser o país da qualidade”
Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, diz que a prioridade da autarquia é fazer de Cascais o sítio ideal para viver, sendo o turismo uma consequência dessa estratégia.

Carina Monteiro
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Em entrevista ao Publituris, Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, diz que a prioridade da autarquia é fazer de Cascais o sítio ideal para viver, sendo o turismo uma consequência dessa estratégia.
Qual a sua leitura do momento turístico de Cascais? O destino acompanha a tendência de crescimento do turismo nacional?
Cascais tem estado em linha com o país, com a diferença de que há uns anos o país caiu e Cascais não. Esteve sempre a crescer. Depois, quando o país recuperou, Cascais também continuou a sua tendência de crescimento. Este destino tem um crescimento que pode ser avaliado de duas formas: através do aumento de camas disponíveis. Nessa matéria, temos vindo a inaugurar hotéis sucessivamente e temos cinco hotéis em fase de licenciamento, todos cinco estrelas para os próximos anos. Ou seja, continuamos com esse posicionamento ‘premium’ de quatro e cinco estrelas, 85% da nossa oferta hoteleira está concentrada nessas classificações. Portanto, o crescimento que se vê em Cascais, vê-se através do aumento das camas e, por outro lado, das taxas de ocupação e RevPar, que têm vindo a crescer de uma forma sustentada. É um crescimento ligeiro, não são crescimentos grandes como penso que o país tem de ter— Portugal tem de saber valorizar a oferta que tem, somos muito competitivos em preço, quando nos comparamos com os nossos concorrentes diretos, mas Portugal tem ainda uma margem de progressão para subir o preço, fruto da qualidade da oferta que hoje tem. Estamos claramente com uma elasticidade no preço que avalio como grande e essa elasticidade vai ter de se refletir obrigatoriamente em todos os indicadores.
Este ano estamos com um preço médio por quarto na casa dos 110 euros e um RevPAR acima dos 72 euros. Tem sido recorde atrás de recorde. Nós, enquanto Câmara Municipal, estamos muito satisfeitos, mas quando falo com os hoteleiros também estão muito satisfeitos com a forma como o destino tem sido projetado, comunicado e trabalhado.
Em 2015, projetaram chegar à meta das 1,5 milhões de dormidas nos três anos seguintes. Essa meta já foi alcançada?
Na hotelaria tradicional estamos perto dos 1,4 milhões, mas, se somarmos a isto o Alojamento Local (AL), duplicámos essa meta. O que não previ em 2015 foi o fenómeno do AL que disparou e veio baralhar as contas. O AL representa 57% do total de dormidas por ano. Se estamos a falar de 1,4 milhões de dormidas em hotéis, então são mais 3 milhões de dormidas no total, o que ultrapassa claramente todos os números que alguma vez podia antever.
Que mercados têm crescido?
O mercado americano cresceu bastante. Os americanos descobriram Portugal, o que é importante para o nosso destino. Vivíamos muito do mercado espanhol, inglês e do norte da Europa. O mercado americano foi a grande explosão nos últimos dois anos, em linha com Lisboa e o país.
Qual é o papel da câmara na atração de mais turistas?
Não se pode falar em ter um papel, porque a câmara tem quase uma função omnipresente em tudo. Se não garantirmos que há recolha de lixo com eficiência, não podemos fazer de Cascais um destino de excelência; se não garantirmos que há qualidade urbanística em tudo aquilo que licenciamos (casas, hotéis) não podemos fazer deste destino um destino de qualidade; se não garantirmos segurança a todos os habitantes e a quem nos visita, não podemos fazer deste um destino de qualidade. Ou seja, a câmara tem uma visão holística do território. Não está preocupada só com a promoção pura e dura do destino Cascais, mas fazer de Cascais uma sala de visitas que toda a gente gosta de visitar e passa a palavra. É isso que temos feito. Temos feito de Cascais um verdadeiro jardim e un destino seguro. Depois temos feito de Cascais um destino para viver. Hoje, Cascais, mais do que um destino turístico, é um destino que as pessoas escolhem para comprar ou arrendar casa. Se é um bom sítio para viver é um bom sítio para visitar. Esse sempre foi o nosso mote: o turismo não é o centro da nossa ação, o centro da nossa ação é fazer de Cascais o sítio ideal para viver. Isso é assim em todos os destinos turísticos do mundo. As pessoas gostam de viver em Nova Iorque e é um bom destino turístico, o mesmo em Londres e Paris.
Numa altura em que as Câmaras Municipais estão a ser pressionadas para regular mais a atividade turística, qual é a vossa visão para encontrar um equilíbrio entre atividade turística e os residentes?
A nossa prioridade é fazer de Cascais o sítio ideal para viver. O Turismo é uma externalidade positiva. Um exemplo cabal em que o nosso posicionamento foi completamente diferente do de Lisboa foram os tuk tuks. Não se vê um tuk tuk em Cascais, porque proibimos. Lisboa não tem nada a ver com tuk tuks e penso que não adiciona nada à qualidade do destino. Não temos pressão nenhuma, temos é uma visão estratégica muito clara e não fugimos a essa visão estratégica. Essa visão consiste em manter o carácter genuíno desta terra e das nossas gentes e uma capacidade de saber receber bem acima da média. Depois, a estratégia é termos tudo bem cuidado, bem arranjado para saber receber, mas genuínos, não é com artificialismos que não são portugueses que iremos construir um potencial de crescimento de futuros visitantes. Os turistas procuram hoje a experiência e o carácter genuíno dos destinos. Lutamos todos os dias com os nossos hotéis e restaurantes, com os serviços da câmara e com os cascalenses para ter um carácter autêntico.
Relativamente ao AL, pensam limitar ou criar quotas?
Estamos sempre a monitorizar o AL. O problema em Cascais não se coloca da mesma forma que se coloca em Lisboa, fruto do nosso posicionamento de mercado. O AL em Cascais funciona só em alguns espaços e é difícil ter uma penetração muito maior do que aquela que tem. Estamos a monitorizar e estamos atentos. Se o fenómeno alastrar de uma forma que esteja a desvirtuar ou a desequilibrar o mercado, a impactar na qualidade de vida que queremos dar a quem nos visita, aí vamos atuar como o fizemos noutras áreas.
Quantos projetos hoteleiros estão em desenvolvimento no destino?
Temos cinco hotéis em licenciamento. A Hilton vai fazer um hotel cinco estrelas entre a Parede e Carcavelos, junto à marginal. O grupo americano Carlyle, que comprou o Penha Longa no ano passado, está a desenvolver um novo hotel em Cascais, com a mesma marca (Ritz Carlton). A marina de Cascais tem um hotel já contratualizado de uma marca internacional, que não posso revelar. São cerca de 190 quartos. O The Student Hotel, uma marca holandesa de hotéis de quatro estrelas, vai abrir em Carcavelos ao lado da Nova School of Business and Economics. Estou a dar exemplos de situações que estão licenciadas e que vão acontecer. Intenções são muito mais.
Quando vão abrir estas unidades?
No espaço de dois a três anos.
Estamos a falar de um aumento de quantas camas?
1200/1300 camas.
Este aumento de camas é acompanhado pelo surgimento de equipamentos que atraiam mais turistas? Há esse compromisso da câmara nesse sentido?
O destino não é Cascais. O destino é Lisboa. Colocamo-nos nesse posicionamento. Somos um país pródigo em dividir as coisas em compartimentos estanques. Não faz sentido. Somos parte da Costa de Lisboa. Temos identidades muito próprias, Cascais e Estoril, mas estamos englobados nesta região. Portanto, a oferta de atividades para quem nos visita acontece ao nível do território todo, e não só aqui. Aqui fazemos muita coisa. Temos uma oferta cultural forte: mais de 22 museus, uma orquestra sinfónica, várias companhias de teatro, grandes eventos internacionais. E aí a política de eventos impacta de sobremaneira, desde o Estoril Open a um evento do European Tour, o torneio Golfsixes, que recebemos este ano. Há quanto tempo a zona de Lisboa não tinha um evento do European Tour? Dou o exemplo do ténis, do golfe, da vela, do triatlo, das maratonas ou dos concertos de música. Tudo isto é uma política concertada de promoção e de eventos que temos vindo a fazer para trazer conteúdos para o destino. Mas não é só o conteúdo em Cascais que alimenta as dormidas neste destino. As dormidas em Cascais são alimentadas objetivamente também pelos conteúdos que Lisboa, Sintra ou Oeiras podem gerar. Por isso, para nós é muito importante a dinâmica ao nível da área metropolitana e não só Cascais. Não vivemos numa redoma em que quem vem para Cascais fica em Cascais, essa não é a nossa visão.
No próximo ano, que novidades acrescentarão à agenda de eventos da região?
Não posso revelar. Todos os anos fazemos algo que não é muito habitual em Portugal, fazemos uma apresentação à imprensa em janeiro. Este ano anunciámos o evento do European Tour. Fazemos questão de apresentar em primeira mão à imprensa. Neste período, estamos a fechar as novidades para o próximo ano, mas posso dizer-lhe que vamos ter novidades, à semelhança dos últimos cinco anos. Há cinco anos, apresentámos a vinda do Estoril Open para Cascais, por exemplo.
Quanto já foi angariado com a taxa turística, que passou a dois euros em Maio?
Temos uma política em que estamos alinhados com Lisboa. O que Lisboa faz, nós estamos a fazer, nesta visão de continuidade territorial. Lisboa começou com um euro, e nós aplicámos um euro. Depois Lisboa passou para dois euros e nós também. Havia um grande bruaá entre os hoteleiros sobre se isso ia impactar na procura. Não aconteceu nada disso.
É algo que acontece em todo o lado para onde os turistas vão, aliás, acham a taxa barata. Os nossos preços são baratos e ainda acham a nossa taxa barata. É tudo barato em Portugal. Temos de deixar de ser o país do baratinho e ser o país da qualidade. Desse ponto de vista o balanço é extremamente positivo. As receitas estão a ser reinvestidas em tudo isto que estamos a conseguir trazer. Vamos fechar o orçamento de 2010 com cerca de 3,5 milhões de euros de taxa turística. Só o setor hoteleiro, fora o do Alojamento Local.
Lisboa fez um pacote global com o Airbnb e com os operadores. Pagam à cabeça e não se sabe bem se os números são aqueles ou não. Há um risco para os dois lados. Nós temos todos operadores de AL registados, cada um deles paga, temos um portal, queremos ter esse contacto e essa relação.
Vamos introduzir uma alteração estatutária na Associação de Turismo de Cascais (ATC) e introduzir os AL’s como sócios da ATC. A proposta vai ser apresentada na última assembleia geral do ano.
Só aplicamos esta verba em promoção e eventos turísticos. As verbas anuais que temos para a promoção e captação de eventos vêm de duas fontes: Turismo de Portugal, através das receitas do jogo, e da taxa turística.
Qual é o balanço da constituição da ATC?
Gostamos de dar espaço e a associação funcionar per si. Mas acompanhamos os números, falamos com os hoteleiros e penso que estão satisfeitos, cada vez há mais sócios na associação, o que é muito interessante. O modelo teve um ganho de causa e isso, para nós, é muito importante e, hoje, está a ganhar maioridade e é um projeto para continuar.
Através da empresa municipal Cascais Dinâmica fazem exploração direta ou indiretamente de alguns equipamentos como o aeródromo, hipódromo e o centro de congressos do Estoril. No plano de atividades para 2019 do aeródromo de Cascais estava previsto o aumento de voos executivos. Isso aconteceu?
Aconteceu. Tudo é que é aviação executiva do espaço aéreo de Lisboa é nosso. Hoje já não é um aeródromo é um aeroporto.
Que planos têm para o C.C do Estoril? No futuro poderá haver uma gestão privada do espaço?
Já teve no passado e não tivemos uma boa experiência disso. Tem taxas de ocupação acima dos 85%, um EBITDA sólido e ajuda o destino alavancando com congressos e eventos, que não sendo o ‘core’ é um dos segmentos importantes de Cascais.
Recentemente foi apresentada a primeira Escola Internacional de Turismo no âmbito da Academia da Organização Mundial de Turismo no campus da Escola do Turismo de Portugal do Estoril. Qual o papel da câmara neste projeto?
É uma parceria que fizemos com o Turismo de Portugal e com a ESHTE e estamos muito satisfeitos de fazer parte desse grande projeto ambicioso para transformar aquele campus que há muito precisava de investimento, através de uma nova unidade hoteleira e com uma nova escola. Vamos gerir o auditório, como já gerimos vários em Cascais. A câmara vai investir mais de 6 milhões de euros no projeto, que conta também com o envolvimento de várias entidades públicas e privadas.