“Só o Turismo permitiu a recuperação e assegura a sustentabilidade do património”
O trabalho da Parques de Sintra – Monte da Lua na recuperação e manutenção do património é considerado um exemplo. Os monumentos de Sintra são, ano após ano, dos mais […]
Inês de Matos
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O trabalho da Parques de Sintra – Monte da Lua na recuperação e manutenção do património é considerado um exemplo. Os monumentos de Sintra são, ano após ano, dos mais visitados do país, o que, a par dos prémios recebidos, atesta o sucesso da empresa. Em entrevista ao Publituris, Manuel Baptista, presidente do conselho de administração da empresa, faz um balanço positivo do trabalho realizado, fala sobre a importância do Turismo e revela alguns dos projectos em cartaz, a desenvolver até 2020.
A Parques de Sintra – Monte da Lua foi criada em 2000, na sequência da classificação da Paisagem Cultural de Sintra como Património Mundial da Humanidade. 18 anos depois, podemos dizer que há hoje uma nova Sintra, pelo menos a nível monumental?
Temos uma Sintra recuperada. A paisagem cultural de Sintra foi a primeira classificada como património mundial na Europa e, pela primeira vez, a UNESCO juntou o património construído com o património natural. Dessa junção resultou a paisagem de Sintra e a classificação como património mundial da humanidade, e a Parques de Sintra nasceu com a missão de recuperar, divulgar, conservar e acompanhar todo este património. A nossa missão não está totalmente cumprida, mas está substancialmente, uma vez que todos os monumentos e a parte natural estão recuperados e a prova disso são os nossos visitantes, que têm crescido a um nível superior ao crescimento do Turismo em Lisboa e em Portugal, o que significa que esta missão tem tido sucesso. Se o património não estivesse recuperado, não teríamos tantos visitantes. Uma das nossas máximas é que o património recuperado é património visitado, e é património sustentável, porque só este conjunto permitiu que tivéssemos sucesso durante todos estes anos.
Quando a Parques de Sintra foi criada, qual era a realidade destes monumentos e por onde começaram as intervenções?
A paisagem de Sintra estava completamente degradada, em todos os seus aspectos, a começar pelo Convento dos Capuchos, que não tinha qualquer cerca e foi um verdadeiro milagre a constituição da empresa, em 2000, o que permitiu que se construísse uma cerca e se impedisse a continuação da degradação do Convento dos Capuchos. Já no Palácio de Monserrate, não existia cobertura e chovia lá dentro como se estivéssemos na rua. Estes são apenas alguns exemplos da situação que existia em 2000, porque nos anos anteriores, talvez nos últimos 50 anos, não tinha havido qualquer preocupação com a manutenção e conservação e, portanto, o património tinha-se degradado e estava totalmente abandonado, de tal maneira que estava em risco a sobrevivência do próprio património.
O próprio Parque e Palácio da Pena estavam abandonados, não tinham as condições de degradação que tinha o Palácio de Monserrate, mas estava abandonado, como prova o facto de, em 1999, o Chalet da Condessa d’Edla ter ardido completamente, durante dois dias, sem ninguém ter dado por nada. Só depois de ter ardido é que se registou que o chalet tinha sido destruído, o que mostra bem a situação dramática que o património de Sintra vivia.
Depois de todos estes projectos, qual é o montante do investimento já realizado?
Desde o ano 2000, o investimento será já muito superior aos 100 milhões de euros. Houve o apoio de alguns fundos comunitários, que foram muito importantes e que contribuíram muito para o início da recuperação levada a cabo pela Parques de Sintra. Ao longo destes anos, o conjunto de monumentos e de património natural que está submetido à gestão da Parques de Sintra tem crescido substancialmente e é isso que permite o aumento de receitas e que exigiu um aumento de investimento na sua recuperação.
Referiu, há pouco, que a Parques de Sintra ainda não acabou a sua missão. O que é que falta fazer?
Falta ainda a recuperação de muito património construído e de algum património natural. Por outro lado, em 2012, a Parques de Sintra recebeu uma outra área para recuperação, a Escola Portuguesa de Arte Equestre, que estava numa situação lastimável. Foi preciso um esforço financeiro muito grande para a recuperar, mas, hoje, a Escola Portuguesa de Arte Equestre tem excelentes instalações para actuar no Picadeiro Henrique Calado, tem boxes e instalações especiais de treino no Páteo da Nora e continua com instalações em Queluz. Portanto, este foi um outro contributo da Parques de Sintra para a recuperação do património do país.
Mas a nossa acção, no que diz respeito à recuperação, ainda não terminou. Ainda temos património para recuperar, nomeadamente no Convento dos Capuchos, que tem tido algumas dificuldades de autorização, mas esperamos que, este ano, possamos dar o salto, no sentido de recuperar o próprio convento, ao nível das infraestruturas e das condições de acesso, porque se queremos ter mais visitantes, temos que lhes dar boas condições de acesso.
Nos próximos três anos, de 2018 a 2020, vamos fazer um investimento de 52 milhões de euros na recuperação do património. Isto demonstra que ainda temos muito para fazer, mesmo que uma parte substancial da nossa actividade, neste momento, já seja a manutenção, mas aquilo que ainda não está recuperado, terá que ter um investimento inicial. Portanto, nos próximos três anos, ainda vamos fazer um esforço grande e investir mais 52 milhões de euros na recuperação do património.
Entretanto, a Parques de Sintra viu ser-lhe atribuída a gestão de mais monumentos. Isto traduz um reconhecimento pela qualidade do trabalho que tem sido desenvolvido?
Exactamente, pelo menos, em termos de sustentabilidade, a Parques de Sintra tem, com certeza, feito um bom trabalho. É um trabalho que nos orgulhamos de apresentar e os prémios que temos recebido, que são da mais diversa natureza, são a prova de que a nossa acção tem sido bem-sucedida.
E no futuro, é possível que a Parques de Sintra venha a juntar mais monumentos ao portefólio que já detém?
Sim, é o caso do Convento da Peninha. Já celebrámos os respectivos protocolos e, neste momento, estamos a fazer os projectos de recuperação. Assim que estiverem concluídos, iniciaremos as obras, quer no acesso à Peninha, quer no estacionamento, quer ainda na recuperação da própria igreja da Peninha e das instalações de apoio. O mesmo acontece em relação ao Cabo da Roca, em que assinámos já um protocolo com a Marinha, no sentido de se recuperarem as instalações adjacentes ao Cabo da Roca e também aí vamos ter, ainda este ano, novidades.
Importância do Turismo
O projecto da Parques de Sintra permitiu trazer de volta o Turismo para Sintra, que tinha tido uma forte tradição turística no passado. Esse era também um objectivo, quando se optou pela criação da empresa?
Só o Turismo permitiu a recuperação e assegura a sustentabilidade do património. A Parques de Sintra é uma empresa de capitais exclusivamente públicos, mas os meios financeiros não provêm do Orçamento do Estado. Temos um compromisso, assumido há alguns anos, no sentido de que a sustentabilidade, recuperação e manutenção do património, quer o natural quer o construído, são alcançadas através das visitas, ou seja, através das receitas criadas pelas visitas, daí o Turismo ser tão importante. Mas temos procurado diversificar as nossas receitas, porque o dinheiro proveniente das entradas é importante, mas também é importante termos outras fontes de receita, como as cafetarias, lojas e o aluguer de espaços. É desse conjunto que conseguimos sobreviver e temos sobrevivido tranquilamente.
Os projectos que a Parques de Sintra está agora a desenvolver vão ser também importantes para aumentar o número de visitantes, que, no ano passado, já subiu 20,65%?
Exactamente. No ano passado, tivemos cerca de 3,2 milhões de visitantes. Temos crescido e assim esperamos continuar, de uma forma diversificada. O Palácio da Pena tem sido o monumento mais visitado do conjunto que nos está atribuído, mas queremos diversificar as visitas, quer com o próprio Parque da Pena, levando as pessoas a visitarem mais o parque – são 100 hectares de jardins magníficos e exemplarmente recuperados – quer com o Chalet da Condessa d’Edla e outras construções que estão recuperadas, quer ainda com o outro conjunto de monumentos que nos está afecto, nomeadamente o Palácio Nacional de Queluz, que tem uma capacidade de crescimento muito grande e está já em fase de recuperação. No Palácio de Queluz, já terminámos a fase de pintura de exteriores e agora estamos a recuperar o Jardim de Malta, que dentro de três ou quatro meses estará completamente recuperado, assim como a Sala dos Embaixadores, que estará concluída também em três ou quatro meses. Em Queluz, fazemos parte de um projecto muito ambicioso, que é o eixo Verde e Azul, com a Câmara Municipal de Sintra, com a Câmara Municipal da Amadora e com a Câmara Municipal de Oeiras, no sentido de recuperarmos uma área de património natural e construído, que existe desde a Serra da Carregueira ate à Cruz Quebrada. Nesse plano, vamos recuperar o terreiro de Queluz, com a construção de uma ponte verde sobre o IC19, que permita o acesso dos visitantes à matinha, uma mata que pertencia ao Palácio, mas que ficou cortada com a construção do IC19. Este ano e nos dois próximos, vamos estar muito comprometidos com esse projecto.
Como referiu, no ano passado, os monumentos da Parques de Sintra receberam 3,2 milhões de visitantes. E para este ano, qual é a expectativa?
O nosso objectivo é continuar a crescer e, para isso, é muito importante que o Turismo continue a crescer também. Queremos proporcionar boas condições aos visitantes, mas para isso é preciso que continue a haver visitantes em Portugal. Fazemos também muita promoção de Sintra e dos monumentos que nos estão afectos pelo mundo fora e é este conjunto harmónico que nos dá esperança de continuarmos a crescer no número de visitantes.
A Parques de Sintra tem vindo ainda a apostar em iniciativas culturais, como a Temporada da Música Erudita ou os Serões Musicais no Palácio da Pena. Qual é a importância destas iniciativas?
Estas iniciativas têm corrido muito bem, têm sido um sucesso e os espectáculos estão continuamente esgotados. Temos um protocolo com uma associação de especialistas em música barroca, que tem sido um parceiro muito importante na organização destas temporadas musicais. Este ano, temos a começar agora a temporada da Pena, em Março, e, depois, seguir-se-á a temporada na vila e a de Queluz. Achamos que a vivência dos monumentos passa também por estes momentos, uma vez que a música fazia parte do dia-a-dia destes monumentos à época e, portanto, incentivamos esses espectáculos para trazer mais visitantes.
Promoção e relação com o trade
Destacou o trabalho de promoção internacional que a Parques de Sintra tem vindo a fazer. É também esse trabalho que tem permitido que os monumentos recebam tantos visitantes internacionais, que no ano passado representaram mais de 80% do total das visitas?
Não nos cansamos de dizer que essa promoção internacional é muito importante para divulgar o nome de Sintra. Quando a referência é Portugal e Lisboa, Sintra já aparece como um destino conhecido, segundo um inquérito que fizemos. Todos os turistas conheciam os pontos importantes e, além da Torre de Belém e do Mosteiro dos Jerónimos, sabiam que há um destino chamado Sintra. Portanto, Sintra já é muito conhecida, mas nós continuamos a divulgar Sintra e a Parques de Sintra por esse mundo fora, seja com a participação em feiras ou outras iniciativas. Entre os nossos turistas, o principal mercado é o francês, que nos últimos dois anos ultrapassou o espanhol, mas o turismo inglês tem crescido também substancialmente, assim como o alemão. Onde se nota um crescimento muito grande é no turismo brasileiro e russo. O mercado chinês também já tem alguma procura, mas no nosso universo ainda tem uma expressão muito pequena.
A Parques de Sintra lançou recentemente um canal de compras para profissionais do Turismo. Porque surgiu esta necessidade e qual é o peso das vendas de bilhetes através das agências de viagens?
Temos uma panóplia muito grande de bilhetes e os sistemas de informação e de bilhética são, para nós, fundamentais. E são tão fundamentais que foi estratégico criar um anel de fibra óptica entre todos os monumentos que estão sob a nossa gestão, o que nos permitiu ter um sistema eficaz de bilhética. Simultaneamente ao crescimento dos sistemas de informação, fomos instituindo outro tipo de vendas, como o sistema de venda de lojas online, que vai estar disponível a curto prazo, bem como esse sistema de venda para as agências, que já está implantado e que é uma consequência deste esforço de estamos a fazer nos sistemas de informação.
O peso das vendas através das agências de viagens ainda é relativamente curto no total, ainda vivemos muito da compra na bilheteira. Temos feito um esforço para promover a aquisição de bilhetes por outras vias, nomeadamente pela internet, mas estas vendas ainda são relativamente escassas.