Ribau Esteves: “Sou completamente contra a taxa turística”
Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Aveiro, será o anfitrião do congresso da APAVT, que se realiza naquela cidade de 8 a 11 de Dezembro. Recebeu o Publituris nos Paços do Concelho para uma entrevista exclusiva e falou sobre vário assuntos relacionados com o Turismo da cidade que dirige.
Ângelo Delgado
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Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Aveiro, será o anfitrião do congresso da APAVT, que se realiza naquela cidade de 8 a 11 de Dezembro. Recebeu o Publituris nos Paços do Concelho para uma entrevista exclusiva e falou de tudo: do congresso, da cidade, da taxa turística, da colaboração com as diferentes entidades regionais de turismo, de novos hotéis, de ovos-moles e de moliceiros. Deu para tudo.
Que importância tem para a cidade de Aveiro um evento como o congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT)?
Dada a credibilidade da instituição, tem uma importância muito grande para a nossa cidade. Estamos a falar de individualidades que compram e vendem territórios, produtos turísticos e torna-se, assim, uma oportunidade muito grande para promovermos o nosso destino. Quando nos candidatamos a receber este congresso, tivemos, sempre, estes dados em mente. Que expectativas tem relativamente ao congresso? São muito altas! Esperamos ter uma grande adesão – como é normal nos congressos da APAVT – e temos já algumas entidades do município que vão associar-se ao evento numa pequena amostra que vai decorrer em simultâneo. Sabemos que estes pequenos eventos irão ocorrer e, por si só, já é algo que nos deixa satisfeitos. Haverá vários certames à margem do programa oficial, mas que têm como objectivo mostrar a nossa história, cultura e provocar um encantamento por terem estado em Aveiro durante os dias do congresso. Queremos que, quando as pessoas abandonem o evento, tenham noção que estiveram num território afável e de grande qualidade.
Qual a estratégia turística para Aveiro?
Dentro do que são as nossas competências municipais devemos cuidar dos nossos factores diferenciadores. Aqui, assentamos em dois pilares: o primeiro, a Cultura. Aveiro é uma cidade velha, com valores culturais e patrimoniais distintos, desde a Arte Nova ou o Museu de Santa Joana que foi erguido com base num convento dominicano com cerca de 500 anos de existência, ou mesmo as festas de São Gonçalinho, que se realizam em Janeiro. O outro pilar é essencialmente Ambiental, com base na ideia “Aveiro, Cidade dos Canais”. Queremos que os passeios de Moliceiro sejam, cada vez mais, a porta de entrada para a nossa Ria de Aveiro. A Ria é um episódio brutal de uma relação muito especial entre o Homem e a Natureza, que começa na ponta norte, em Ovar, e segue até sul, em Vagos e Mira. Trata-se de um território vasto e que tem uma diversidade enorme de valores para ser promovido. Temos ainda um aspecto cada vez mais relevante que é a componente sub-regional do somatório dos 11 municípios que referenciamos pela Ria de Aveiro. Aqui, o trabalho é feito em conjunto com a nossa Entidade Regional do Turismo – Turismo Centro de Portugal – que, convém referir, tem sede em Aveiro. Tem feito um trabalho de qualidade a construir esta região e produto que é o Centro de Portugal que, realce-se, é difícil de articular devido à sua diversidade, pois, por exemplo, integra 100 municípios. No entanto, temos tirado muito e bom proveito turístico resultante desta cooperação. Referir ainda o patamar nacional da nossa promoção turística: somos Portugal, somos uma peça do território e, nesse sentido, temos procurado tirar partido e contribuir para um fim conjunto. Temos tido excelentes resultados nesta área.
Não faria sentido, também, uma cooperação mais estreita com o Porto e Norte?
A resposta é: sim! No entanto, temos uma posição muito clara sobre este assunto: a região que nos financia através dos fundos dos projectos comunitários é o Centro. É aí que está a nossa base de operação, cooperação e alimentação financeira dos nossos projectos. Não abdicamos disso e estamos muito bem. Devemos cooperar com os outros, mas, atenção, os outros são todos! O Porto e Norte tem uma relação muito importante connosco, não só devido ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro, ao Terminal de Cruzeiros que está em fase de nascimento ou à Galiza – um grande alimentador turístico de Aveiro – mas também no que diz respeito a questões institucionais e queremos aprofundá-la a este nível. Mas devo realçar a cooperação com a região de Castela e Leão, em Espanha: trata-se do país estrangeiro que nos fornece mais turistas e assim continuará. Quem está a sul, nomeadamente Lisboa, também é uma região com quem trabalhamos de forma afincada. Temos uma capital com um aeroporto e uma atractividade de grande importância a apenas duas horas de distância de Aveiro. Queremos, portanto, explorar um pouco de todas estas valências que nos rodeiam para alimentar o nosso Turismo. Possuímos ainda uma outra região que também gosto de destacar que é o Oceano Atlântico. Temos feito um bom trabalho no município mais marinheiro da região que é Ílhavo, onde está situado o Museu Marítimo, a história do bacalhau ou a regata dos grandes veleiros que cá têm vindo de quatro em quatro anos e faz-nos ver que temos uma relação privilegiada com o mar.
Qual o perfil do turista estrangeiro que visita a cidade?
Falando primeiro das nacionalidades, e como referido anteriormente, os espanhóis são o nosso mercado mais relevante. Depois, os franceses. A Holanda, a Alemanha e os países da Escandinávia têm crescido muito em Aveiro. Fora da Europa, destaque total para o Brasil, nação que tem dado um pulo imenso nos últimos anos. Realce ainda para algumas “novas nacionalidades” que têm aparecido com cada vez mais força: chineses, japoneses, norte-americanos e canadianos, sendo que aqui com um grande contributo da comunidade emigrante portuguesa que a região tem com enorme expressão quer nos Estados Unidos quer no Canadá.
Em termos de estadia média, como se encontra a região?
A nossa estadia média é baixa, mas, como todos sabemos, é uma das características da região Centro. Alguns vêm isso como um problema, mas a minha análise é distinta: observo este fenómeno como uma característica. Ainda não conseguimos estabilizar nas duas noites por visitante.
E de que forma poder-se-á alterar esta característica?
Em Lisboa, Algarve e Madeira existem muitas infra-estruturas hoteleiras de estar ou, por outras palavras, espaços onde os hóspedes podem ficar uma semana inteira ou mais. Aveiro não têm hotéis de estar e o Centro tem poucas unidades com essas características. O que temos, em maior número, são hotéis de… passar. Uma noite, duas noites e sigo para outro destino. Queremos chegar a uma estadia média de três noites, mas ainda temos que pedalar muito e isso só será possível atraindo mais gente, somando as ofertas diversas que o Centro disponibiliza, mas sabendo que não é nos próximos anos que vamos assentar numa hotelaria de estar.
Fale-nos um pouco sobre o mercado interno?
É o número um! O mercado interno representa 60% do bolo total, ficando o estrangeiro com os restantes 40%. E tenho muito gosto que continue a ser o principal mercado emissor, apesar de não ser muito bem compreendido de cada vez que digo isto. Temos 10 milhões de consumidores, há seguramente muitos portugueses que ainda não conhecem Aveiro com a profundidade que queremos, existem os que não vêm cá há imenso tempo e, portanto, temos um investimento no Turismo interno que queremos prosseguir. Ainda assim, uma nota: cada vez mais, o mercado interno significa Portugal + Espanha, ainda que estejamos a abordar o fenómeno de uma forma comercial. A quem já conhece a cidade, Aveiro tem para oferecer uma diversidade enorme de experiências que justificam um regresso. Para quem faz uma escapadinha de fim-de-semana ou aproveita uma ponte que o feriado proporcionou, Aveiro é um destino apetecível e é assim que nos queremos posicionar, onde temos investido e queremos continuar a investir nos próximos anos.
O ano de 2016 tem sido o de todos os recordes a nível nacional. Aveiro acompanhou a tendência?
Aveiro veio decrescendo em todos os indicadores turísticos entre 2010 e 2013, ao contrário do País, que começou a crescer a partir de 2011. Em 2014, tivemos uma ligeira ascensão – cerca de 4% -, para depois, em 2015, darmos um pulo – 16%. Este ano será fechado com novo pulo, em princípio superior ao do ano anterior: entre os 16 e 20%. Estamos numa boa fase, mas precisamos de crescer noutras áreas, nomeadamente na restauração, onde temos tido algumas situações de oferta esgotada, assim como na hotelaria. Temos dias a mais com as unidades hoteleiras esgotadas, embora tenhamos tido uma ajuda importante no alojamento local e nos hostels. Ainda que tenhamos recebido estas “ajudas” para colmatar a ausência de oferta da hotelaria tradicional, temos de criar condições para colmatar essa lacuna, já que a procura é crescente. Actualmente, temos 687 camas em empreendimentos turísticos mais 1326 camas em alojamento local. Nos próximos anos precisamos de duplicar estes números.
E estão previstos novos hotéis?
Desde a ponta final do ano passado e já em 2016 começámos a conversar com seis investidores, dois deles já com muita maturidade, com quem temos vindo a discutir este tema. Existe interesse, está detectada a necessidade por força do crescimento da notoriedade da cidade e, portanto, estamos a conversar activamente para dar mais camas a Aveiro. É minha convicção que, num futuro próximo, poderemos concretizar uma das operações que estão em conversações. Há um interesse objectivo para que isso suceda.
É conhecida a sua antipatia pela cobrança da taxa turística, um modelo que já está em velocidade de cruzeiro em Lisboa e que se estuda a sua aplicação no Porto. Por que razão é uma das vozes de protesto relativamente a esta medida?
Sou completamente contra a taxa turística porque nós queremos que os turistas venham para cá e deixem o seu dinheiro através do consumo, pois aqui já existe um imposto em cada compra que fazem: o IVA. É uma questão de princípio e filosofia fiscal, pois não tenho que taxar um turista apenas porque veio dormir à minha cidade. A taxa deve ser aplicada pela prestação de um serviço e, por isso, é desprovida de sentido objectivo. Que serviço presto ao turista que pagou a taxa? Nenhum. Quando cheguei à autarquia de Aveiro havia taxa turística, aliás, duas: a taxa de hotelaria, onde se cobrava um euro por noite e a taxa dos passeios de Moliceiro nas operações marítimo-turísticas no mesmo valor. Connosco, deixou de existir a partir de 2014 e estamos muito felizes com isso, pois chegámos a ter um conflito grave com a hotelaria e hoje cooperamos com ela e regularizamos a actividade dos operadores marítimo-turísticos, ou seja, pagam a licença devida no início do ano e começam a sua operação de forma normal.
Quais os principais produtos turísticos de Aveiro?
Em primeiro lugar, a cidade. Por ser um episódio único e por ter uma oferta diferenciada. Depois, devemos destacar a Arte Nova, que é um produto da maior importância. É importante referir que Aveiro é considerada uma das 10 cidades mais relevantes a nível europeu no que à Arte Nova diz respeito. O Moliceiro e a Ria são, obviamente, um factor central enquanto produto turístico e, por fim, a nossa gastronomia, com os ovos-moles a assumirem o lugar de maior destaque.