“Os Estados Unidos são um mercado importante para Lisboa”
Vítor Costa, presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa e director-geral da Associação Turismo de Lisboa, falou com o Publituris e referiu que a prioridade da promoção está na Europa e nos Estados Unidos.
Inês Pereira
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Vítor Costa, presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa e director-geral da Associação Turismo de Lisboa, falou com o Publituris e referiu que a prioridade da promoção está na Europa e nos Estados Unidos.
Para este ano, quais são as perspectivas para o crescimento do Turismo, em Lisboa?
Pensamos que poderá ter ainda algum crescimento naturalmente, mas não tão acentuado como nos últimos dois anos. Há condições para crescer em termos de taxas de ocupação, hotelaria, RevPar, de receitas globais e de oferta. Como sabemos há mais projectos que vão entrar em operação.
Lisboa é a zona do país, onde há mais aberturas de unidades hoteleiras.
Lisboa é talvez a região mais dinâmica, não só nesse critério, mas noutros. É onde há mais apetência para o investimento. Não é necessário fazer um programa de captação, é uma questão natural, os investidores e hoteleiros procuram essas oportunidades.
Como vê esta relação entre a hotelaria tradicional e o alojamento local?
Há espaço para todos, especialmente em destinos urbanos, onde essa oferta é complementar. O que julgamos é que deve haver sempre condições equitativas de posicionamento de acesso aos mercados, ou seja, deve haver equilíbrio ao nível da regulamentação e legislação. Estas ofertas devem e têm de existir, o que queremos é que tenham qualidade, que estejam todas no sistema e que a concorrência seja leal. São essas as únicas preocupações que temos. Todo este movimento, quer da hotelaria (novas unidades), quer do alojamento local, tem tido um efeito importante na reabilitação urbana, dos centros históricos e isso é muito importante para um destino urbano.
O que há a fazer para melhorar o destino?
A opinião dos turistas é favorável. Há um bom grau de reputação, satisfação e recomendação do destino. Há coisas a melhorar e compete à Câmara Municipal de Lisboa e às Freguesias fazê-lo. Temos chamado à atenção para a necessidade de que o aumento de turistas em Lisboa seja acompanhado por uma resposta qualitativa de melhoria dos serviços urbanos. Penso que isso está a acontecer. A nível estrutural, o município tem projectos em curso que vão melhorar bastante o enquadramento urbano e também o nível de serviços básicos da cidade, tais como a recolha de lixo, conservação e manutenção dos espaços públicos e dos seus equipamentos.
Que pontos tem enunciado para serem resolvidos?
Temos colaborado, quer a nível do planeamento, quer através de opiniões concretas sobre as opções a nível municipal para questões estruturais que existem. Por exemplo, a estratégia que a Câmara está a desenvolver, no sentido de melhorar e qualificar certas zonas da cidade que não têm actualmente uma concentração turística é positiva, porque vai permitir-nos crescer. Dou o exemplo da Praça de Espanha. A Câmara tem um projecto de tornar essa zona mais urbana, algo que vai beneficiar muito com o equipamento da Fundação Calouste Gulbenkien, que está aí instalado, de forma a termos aí mais turistas. Isto é, em vez dos turistas estarem todos ao mesmo tempo à porta do Mosteiro dos Jerónimos, poderão ir a outras zonas.
Depois chamamos a atenção para questões mais pontuais, como a ocupação do espaço público, que deve ser cuidado.
Na sua opinião, como é que o turista vê Lisboa?
Cada um verá à sua maneira. Essa é a característica que Lisboa tem e que a diferencia doutros destinos e de outras cidades muito competitivas. Lisboa é quase uma Lisboa para cada pessoa. É uma relação que não é fácil de explicar, mas que se sente e percebe quando as pessoas falam da cidade. De todos os inquéritos que fazemos há uma grande apreciação positiva sobre Lisboa, valorizando, por exemplo, muito a população, o relacionamento das pessoas com o visitante, algo que é irrepetível e faz parte da natureza da cidade. Depois, existem alguns factores que as pessoas apreciam, como a estrutura urbana, a luz e o rio. É uma cidade cosmopolita que oferece tudo o que as cidades concorrentes oferecem, mas com esta diferenciação. Por exemplo, há sempre uma cidade que tem melhores museus ou melhores restaurantes, mas é este conjunto e a relação com as pessoas que cria a diferença. A cidade em si faz essa diferença.
O Aeroporto de Lisboa atingiu os 20 milhões de passageiros. Qual a melhor solução para que a infraestrutura aeroportuária possa crescer?
Salvo qualquer factor que não conhecemos, o que nos parece melhor são as propostas que a ANA fez, ou seja, a nova pista no Montijo e a reformulação do aeroporto da Portela, com a iluminação de uma das actuais pistas e criar condições para o funcionamento do hub da TAP. Para nós é o melhor conjunto de soluções e vai permitir que o aeroporto persista e continue a ter uma localização central, que é o factor diferenciador e uma vantagem competitiva face a outras cidades.
No caso concreto da pista complementar na base aérea do Montijo também é importante para a região de Setúbal que, dentro da região de Lisboa, tem menos desenvolvimento turístico, mas tem excelentes condições para se desenvolver e poderá beneficiar desse aspecto.
Qual será o impacto do terminal de Cruzeiros de Santa Apolónia?
É importante, porque contribui para a qualificação de uma zona central da cidade com grande interesse patrimonial. A criação do terminal de cruzeiros, a par das obras do município no Cais do Sodré e no Campo das Cebolas, vai contribuir para a atractividade de Lisboa. É uma operação interessante. Não representa o grosso do nosso turismo, pois o nosso principal segmento são os city breaks e os meetings industry, mas é importante o crescimento dos cruzeiros, porque aumenta o crescimento dos passageiros e dos turnaround, ou seja, o número de pessoas que possam começar ou terminar os cruzeiros em Lisboa, que possa permitir alojamento de uma ou duas noites.
É importante aumentar a média das estadias, que não chega às três noites?
Desejamos sempre aumentar a estadia. Simplesmente a margem para crescer é pequena. Se olharmos para todas as outras cidades, mesmo aquelas que estão mais desenvolvidas a nível turístico do que nós, as permanências andam sempre à volta desses valores. Tem a ver com os city breaks e com o segmento MI. Temos interesse e trabalhamos outros produtos, desde o golfe ao touring, que permitem outro tipo de permanência. Mas em termos quantitativos, são segmentos poucos expressivos e não irão aumentar essa permanência. À medida que conseguirmos desenvolver outros destinos na região, isso irá contribuir para aumentar a estadia, mas não irá alterar as estatísticas.
Há players do segmento do Turismo de Compras que afirmam haver falta de promoção do destino Lisboa. Concorda?
Não concordo que haja falta de promoção. Da análise que fizemos, consideramos que o shopping, tal como a gastronomia, são qualificadores de outros segmentos. Quem vem em city breaks faz compras e gosta da gastronomia, quem vem para um congresso faz compras e também gosta da gastronomia. O destino não está posicionado para ser um local onde as pessoas vão de propósito por causa do shopping.
Qual é, então, a prioridade?
Consideramos os Estados Unidos um mercado importante. Não o temos trabalhado mais, porque não há mais ligações aéreas. A estratégia que a TAP está agora a implementar é importante para o mercado dos EUA.
Por outro lado, temos mais de 80% dos mercados emissores que são os europeus. Se olharmos para a Alemanha, onde temos uma quota de mercado inferior a 2%, dá-nos uma imagem clara do que temos para crescer nos mercados onde já estamos implementados. Se passarmos de 2% a 3%, estamos a falar de muitas room nights.
Há uma alteração que se verificou no último ano, pela primeira vez, que corresponde a uma maior internacionalização de Lisboa: o facto do mercado francês ter ultrapassado o mercado espanhol, que era o primeiro mercado de Lisboa. Os turistas franceses aumentaram 12,4% em 2015. A leitura que faço desta alteração é que há uma maior internacionalização do destino. Lisboa tem vindo a ganhar um protagonismo muito grande junto dos mercados externos. A Alemanha também se aproxima de Espanha, assim como o Reino Unido. Temos aqui margens para crescer.
A Europa é o nosso foco, é aí que há mais estabilidade e maio poder económico.
No Brasil, por exemplo, vamos reorientar o investimento na promoção, para que esteja mais concentrado no segmento de classes com mais poder económico.
As taxas turísticas já começaram a ser cobradas. A verba irá para o Fundo de Desenvolvimento. Quais são as prioridades de aplicação desses rendimentos?
Não posso dizer em concreto quais são as prioridades, pois o Comité de Desenvolvimento ainda não reuniu. Só posso dizer que a taxa está a ser tranquilamente implementada, depois de todas as polémicas que gerou. Os dados de Janeiro mostram que a aplicação da taxa não teve impacto negativo na competitividade do destino, o REVPAR continua a subir e a prioridade é perceber como vão ser utilizados esses recursos na consolidação do nosso destino turístico.
Há regras básicas que estão determinadas pelo município, que podem incluir desde promoção, animação, infraestruturas e equipamento de interesse turístico. São estes quatro grandes capítulos onde faz sentido a utilização das verbas do Fundo de Desenvolvimento Turístico. Há um procedimento estabelecido que vai garantir que todo o produto das taxas seja utilizado nestas finalidades.
Deve-se aplicar esta mesma taxa ao alojamento local ou às plataformas onde se promovem estas unidades?
O alojamento local está incluído e vai ser objecto de acompanhamento e fiscalização, para cumprir a medida, tal como os hotéis. Não faz sentido que um hotel pague e haja outra oferta que não o faça, é uma prioridade estratégica incluir o alojamento local.
Se houver grandes organizações a fazer esse trabalho é óptimo para o destino turístico. A Câmara e os operadores estão a trabalhar nesse assunto.
O Pavilhão Carlos Lopes vai ser requalificado. Mas não para Centro de Congressos como se previu?
No nosso plano de actividades está incluída a reconstrução do Pavilhão Carlos Lopes, mas não se trata do projecto do grande Centro de Congressos. O Turismo de Lisboa adquiriu um direito de superfície à Câmara e está a recuperá-lo para eventos, apresentações e espectáculos. É um restauro para eventos temporários. O financiamento é feito através da verba destinada para este projecto da contrapartida inicial do Casino de Lisboa, por meios da Associação Turismo de Lisboa e financiamento bancário.
Metade da verba (1 milhão e 750 mil euros) foi paga no acto da escritura. O restante será pago durante 50 anos.
Quais são os grandes eventos de 2016 que destacaria?
Temos um conjunto de eventos. Por um lado, o calendário regular com grandes festivais como o “Nos Alive”, “Super Bock Super Rock”, e, este ano, o “Rock in Rio”.
Depois, temos eventos pontuais, como o “WebSummit”, que são importantes para o destino e cuja expectativa é grande. Já mostrámos que somos um destino capaz de realizar grandes eventos com sucesso. Este evento que traz muita gente, mas tem mais aspectos. O impacto mediático, a grande promoção de Lisboa à volta do evento e a possibilidade que o Websummit tem de catalizar Lisboa como cidade inovadora a nível do empreendedorismo. Já existem pessoas inscritas de 144 países, cada uma destas pessoas tem a sua rede de contactos e temos a certeza que todos vão gostar de Lisboa.
Foi um casamento muito feliz para o evento e para Lisboa.
Que comentário faz à demissão de João Cotrim de Figueiredo e à imediata nomeação de Luís Araújo para o cargo de presidente do Turismo de Portugal?
Não tenho opinião sobre esse assunto. O João Cotrim de Figueiredo esteve cerca de dois anos no Turismo de Portugal, não tenha razão de queixa. O nosso relacionamento foi sempre bom. É uma pessoa correcta, afável e profissional. O que sei é o que foi tornado público e o Governo escolheu outra pessoa. Nunca trabalhei com o novo presidente, queremos trabalhar e ajudar quem estiver no cargo. Tem todo o apoio e colaboração possível do nosso lado.
Como correu a primeira reunião com a Secretária de Estado do Turismo?
A Secretária de Estado do Turismo fez uma visita ao Turismo de Lisboa e explicámos o que era cada uma das organizações e os projectos em cursos. Foi uma reunião positiva.
Uma dos temas que falámos diz respeito à organização regional do Turismo. Justifica-se a existência de uma organização regional própria para o turismo, tal como se justifica uma a nível nacional que é o Turismo de Portugal. Pode-se questionar porque existe esta organização específica do turismo e não está tudo integrado?
Não vejo nenhuma razão para se dizer que o Turismo de Portugal tem de se fundir com a AICEP e as ERT’s com as CCDR’s. Não vejo vantagem nisso.
A segunda questão tem a ver se se justifica existir uma parte nacional e uma regional, num país como o nosso, que é pequeno, mas que é muito diverso. Por exemplo, nas Caraíbas o produto é sempre o mesmo. Em Portugal, o Algarve é diferente de Lisboa, o Alentejo, o Centro, o Norte, a Madeira, etc. Quem pode trabalhar e desenvolver mais o produto são as organizações regionais.
Considero que é fundamental que exista uma organização regional de turismo e não estou de acordo com as perspectivas centralistas e de tratar tudo por igual, somente porque temos um país pequeno. Esse é um argumento que não funciona. Desenvolvendo as nossas regiões estamos a desenvolver o país. Cada uma dá uma contribuição para o conjunto, mas há uma vantagem de haver uma visão regional.
A nível das entidades regionais, não podemos esquecer que tivemos dois processos legislativos que nos consumiram muitas energias em 2008 e 2013. Não faz sentido voltar à estaca zero. Faz sentido manter as ERT’s.
Defendo a manutenção das ERT’s e das agências regionais, onde há entrosamento entre entidades públicas e privadas. As agências são as entidades especializadas na promoção externa. Defendo a concentração da promoção toda nas agências regionais e defendo que as ERT’s devem ser reforçadas, num processo de descentralização negociado com o Turismo de Portugal, para trabalhar o produto, o destino turístico. É muito importante e essencial para fazer a ligação com investidores, melhorar a experiência dos turistas, para criação de produtos turísticos e para organizar a sua estrutura económica em produtos turísticos. Há aqui um campo de trabalho muito importante.
É preciso encontrar uma solução para estas ‘escapadelas’ que estão a existir, nomeadamente a nível de promoção, a propósito do quadro comunitário de apoio “Portugal 2020”. Afinal quem é que é responsável pela estratégia promocional do Turismo? Tem que ser o Turismo de Portugal e, portanto, não faz sentido que apareçam iniciativas fora desta responsabilidade, financiadas pelo programa. Ainda noutro dia em Espanha, havia o stand de Portugal e um stand conjunto de duas das maiores regiões em termos de extensão. Isso faz algum sentido? Acho que é um desperdício de recursos e é sobreposição, não faz sentido. Devia haver coragem para enquadrar essas situações.
Este ano há eleições na Associação de Turismo de Lisboa. Vai continuar?
A minha vontade é continuar, estou disponível para continuar se houver essa confiança por parte da direcção.
As listas deverão ser apresentadas neste primeiro semestre. Deverá ser uma lista que venha reforçar a ATL.