JMJ: Os caminhos do turismo religioso em 2023 vêm dar a Portugal
Entre 1 e 6 de agosto, Lisboa e Fátima recebem a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), um grandioso evento que promete trazer à capital portuguesa mais de um milhão de peregrinos. Apesar de não ser um evento de turismo, vai ter um impacto direto no setor, esperando-se que venha também a contribuir para dar a conhecer ao mundo a oferta de turismo religioso nacional.
Inês de Matos
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No início de agosto, todos os caminhos da fé vão dar a Lisboa e a Fátima, destinos que vão ser palco da JMJ, evento de grandes dimensões que promete trazer o Papa Francisco a Portugal, assim como mais de um milhão de peregrinos, números que tornam este no maior evento que o país vai receber, este ano, e que terá, certamente, um impacto também no setor do turismo, apesar de não se tratar de um evento de natureza turística. “Não é um evento de turismo, nem destinado a promover o turismo, é um evento de natureza espiritual e religiosa e, por isso, não se pode contabilizar, em termos de custos e benefícios, como um evento turístico”, diz ao Publituris Vitor Costa, presidente da Região de Turismo de Lisboa (RTL) e diretor-geral da Associação de Turismo de Lisboa (ATL).
Mas, apesar de não ser um evento de turismo religioso, a JMJ vai, como admite Vitor Costa, ter também um impacto no turismo da capital, nomeadamente ao nível da hotelaria e serviços. “Certamente vamos ter a cidade cheia e a região, em termos do alojamento e, com certeza, também dos serviços, tendo em conta o número de pessoas que é esperado. Portanto, nesse aspeto, terá um efeito positivo”, afirma o responsável, explicando, contudo, que a RTL não consegue prever qual será o verdadeiro impacto do evento, uma vez que, por não ser um evento de turismo, não foram realizados estudos que permitam prever os reais benefícios para o turismo da capital.
Onde Vitor Costa não tem dúvidas de que o impacto deste evento vai ser fundamental é ao nível do mediatismo da capital portuguesa, com o responsável a defender que a JMJ “deverá vai ter um efeito na imagem e projeção internacional de Lisboa”. “Se correr bem, como esperamos, poderá ter realmente um enorme impacto mediático. O impacto deste evento será sempre grande em termos mediáticos porque toda a comunicação social vai cá estar, as pessoas vão partilhar muita coisa nas redes sociais, como fotografias de Lisboa e outras referências à cidade. Portanto, Lisboa e o país, porque este evento ultrapassa Lisboa, vão ter ainda mais projeção internacional”, explica o presidente da RTL.
Se correr bem, como esperamos, poderá ter realmente um enorme impacto mediático. O impacto deste evento será sempre grande em termos mediáticos porque toda a comunicação social vai cá estar”, Vitor Costa, presidente da RTL
Vitor Costa reconhece que Lisboa conta já com um grande prestígio na organização de eventos internacionais, nomeadamente depois da Expo’98 e do Euro2004, ainda que a cidade nunca tenha recebido um evento destas dimensões. “Se correr bem, a reputação será ainda melhor, mas, sem dúvida, que só a simples realização do evento vai ter um impacto internacional grande”, diz o responsável.
A RTL não foi diretamente chamada a participar na organização da JMJ e apenas está a organizar o evento que vai ter lugar no Terreiro do Paço e que será o mais pequeno no âmbito da JMJ, mas vai aproveitar a ocasião para lançar uma campanha de comunicação, de forma a convencer os peregrinos a regressarem à capital portuguesa depois do evento. “Esta campanha está em preparação e, no fundo, é uma campanha de promoção feita às pessoas que já cá estão. É algo fora do normal porque normalmente fazermos estas campanhas nos mercados internacionais, mas vamos aproveitar para ver se aumentamos esse efeito de longo prazo e para ver se as pessoas, no futuro, regressam a Lisboa em férias ou para visitar a região”, explicou Vitor Costa, revelando que esta campanha custa cerca de 150 mil euros e que o investimento realizado pela RTL no evento da JMJ no Terreiro do Paço ronda os 600 mil euros.
Impacto “fortíssimo” também em Fátima
O impacto da JMJ no turismo lisboeta só não será maior, acrescenta Vitor Costa, porque o turismo religioso deixou de ser, em 2012, com a reorganização das regiões de turismo e a passagem de Fátima para a região Centro de Portugal, um produto estratégico para a capital. “Já não temos o principal ativo religioso que temos em Portugal, que é Fátima, que passou a pertencer ao Centro de Portugal. Portanto, evidentemente que o turismo religioso não é, para nós, um segmento quantitativamente muito relevante”, explica o responsável, revelando que a RTL continua, no entanto, a associar-se aos eventos de turismo religioso que decorrem no país, mas não da forma como acontecia no passado. “Participamos em pré e pós-tours, mas não temos oferta para podermos ser um destino onde possamos eleger o turismo religioso como estratégico”, indica.
Mas o certo é que a JMJ deverá ter um impacto direto em grande parte do país, a começar, desde logo, por Fátima, destino que conta com o santuário mais conhecido do país e onde o turismo religioso assume, segundo Purificação Reis, presidente da Direção da ACISO – Associação Empresarial Ourém-Fátima, que anualmente organiza os Workshop Internacionais de Turismo Religioso, uma importância central, desde logo porque, neste destino, “diretamente e indiretamente, a atividade económica é maioritariamente dependente do turismo”.
A vinda do Papa Francisco a Fátima, no âmbito da JMJ, fortalece a divulgação da mensagem de Fátima pelo mundo e, naturalmente, promove o turismo religioso e também Fátima como expoente máximo do turismo religioso em Portugal”, Purificação Reis, presidente da ACISO
Fátima partilha a realização da JMJ com Lisboa e, neste destino, a expectativa aponta para um impacto prolongado, tal como aconteceu por ocasião do Centenário das Aparições de Fátima, que também trouxe o Papa Francisco a Portugal e a Fátima. “Prevemos que, tal como aconteceu com o Centenário das Aparições de Fátima, em que o impacto foi fortíssimo no ano do centenário, mas se fez sentir também nos anos seguintes e apenas foi abruptamente interrompido pela pandemia, também a vinda do Papa Francisco no âmbito da JMJ colocará Fátima e Portugal na memória das pessoas que, movidas pela fé ou pelo interesse cultural, irão planear as suas viagens nos próximos anos”, refere.
Segundo Purificação Reis, “a vinda do Papa Francisco a Fátima, no âmbito da JMJ, fortalece a divulgação da mensagem de Fátima pelo mundo e, naturalmente, promove o turismo religioso e também Fátima como expoente máximo do turismo religioso em Portugal”.
Onde o evento já está a ter efeito é na hotelaria de Fátima que, segundo Purificação Reis, tem expectativas “muito animadoras”, esperando-se “um franco aumento do fluxo turístico e que este tenha impacto no aumento da estadia média em Fátima”.
Mais concreto é Alexandre Marto, CEO do Fatima Hotels Group, grupo de hotelaria que conta com dez unidades de alojamento em Fátima, e que diz ao Publituris que a JMJ vai “um impacto nas taxas de ocupação antes, durante e depois da JMJ”.
Estou convicto de que será um grande impulsionador”, Albino Viana, diretor-geral dos Hotéis Bom Jesus
Neste grupo de hotelaria de Fátima, a procura fez-se notar logo assim que começaram a sair “as primeiras notícias sobre a escolha de Lisboa como palco para a JMJ”. “Alguns dos hotéis já estão completos, outros ainda estão em vendas, mas estamos muito otimistas”, revela o CEO do Fatima Hotels Group, explicando que a maioria dos hóspedes durante a realização do evento serão de nacionalidade norte-americana, mas também europeus de vários países e brasileiros.
Impacto muito além de Lisboa e Fátima
O impacto da JMJ em Fátima já era esperado, até porque, devido ao Santuário, às Aparições da Virgem e aos Pastorinhos, Fátima é atualmente o principal destino de turismo religioso do país e, segundo Alexandre Marto, tem a expetativa de que “o número de noites registadas superará, este ano, um milhão”, muito por culpa também da JMJ.
Mas o impacto deste evento será muito maior, até porque, como refere Purificação Reis, como o próprio nome indica, este será um evento de “âmbito mundial”. “Há toda uma grande divulgação e promoção do país que recebe a JMJ, que terá impacto em 2023, naturalmente, mas também nos anos seguintes”, indica a responsável.
Tal como a presidente da ACISO, também Alexandre Marto acredita que, devido à JMJ, a “procura terá uma extensão que ultrapassará Lisboa, Fátima e espalhar-se-á por Portugal e até Espanha”.
Segundo o CEO do Fatima Hotels Group, no âmbito deste evento, a “exposição mediática será extraordinária” e vai trazer benefícios a todo o país, pelo que, sublinha o responsável, a boa organização do evento é “uma responsabilidade para todos”.
Apesar de ser o principal e mais conhecido destino de turismo religioso nacional, Fátima não é o único local associado a este tipo de turismo em Portugal. Rumando a Norte, encontramos Braga, também conhecida como a Cidade dos Arcebispos e que também espera um impacto positivo, com o aumento da procura turística associado à JMJ.
A procura terá uma extensão que ultrapassará Lisboa, Fátima e espalhar-se-á por Portugal e até Espanha”, Alexandre Marto, CEO Fatima Hotels Group
Ao Publituris, Albino Viana, diretor-geral dos Hotéis Bom Jesus, grupo hoteleiro com cinco unidades de alojamento localizadas junto ao Santuário do Bom Jesus do Monte, local que foi classificado pela UNESCO como Património da Humanidade em 2019, explica que a JMJ, por ser “um grande evento e com a presença do Papa”, vai ter certamente “repercussão positiva no mercado religioso”, nomeadamente “no imediato e no próximo ano”, devendo atrair essencialmente maior procura por parte do mercado italiano. “Estou convicto de que será um grande impulsionador”, acrescenta Albino Viana.
Por enquanto, indica o responsável, a JMJ já está a ter reflexo na procura pelos Hotéis Bom Jesus, onde o turismo religioso representa cerca de 30% da ocupação anual, e que têm já “vários grupos de participantes confirmados para antes e depois das jornadas”.
E o efeito deste evento pode ser ainda mais potenciado tendo em conta o público que vai atrair, os jovens, que serão, segundo Purificação Reis, os turistas do amanhã. “Este evento é uma enorme oportunidade de dar a conhecer o país e, de forma especial, Fátima e a região Centro de Portugal. Os jovens participantes na JMJ que tiverem uma boa experiência nesta visita vão querer voltar, sozinhos ou em família, para descobrirem mais deste fantástico território”, defende a responsável, numa opinião partilhada também por Alexandre Marto, que defende igualmente que a JMJ será “uma oportunidade extraordinária para apresentar Portugal a um conjunto enorme de pessoas que estão a iniciar a sua “vida turística” apenas agora”. “Serão pessoas que certamente irão regressar, e serão pessoas que irão publicitar a boa experiência que Portugal oferece. É agora importante não falharmos em proporcionar essa boa experiência”, conclui.
E, mais polémica menos polémica, o certo é que a JMJ já colocou Lisboa, Fátima e o país nas bocas do mundo, e que, este ano, todos os caminhos da fé vêm dar a Portugal.
Curiosidades
Quando? – A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) vai decorrer entre 1 e 6 de agosto de 2023.
Onde? – O evento reparte-se entre Lisboa e Fátima. A capital recebe a maioria das iniciativas, mas Fátima vai ter um programa com visitas ao Santuário, workshops e propostas de oração.
Como? – A JMJ é organizada pela Igreja Católica, em colaboração com o Estado português e a Câmara Municipal de Lisboa.