Elétricos: oportunidade ou pesadelo para o rent-a-car?
Apesar das preocupações com a sustentabilidade e da maior procura por parte dos clientes, que têm levado as empresas de rent-a-car a apostar nos veículos elétricos, este ainda é um tema critico para este setor.
Inês de Matos
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Na IV Convenção Nacional da ARAC – Associação Nacional dos Locadores de Veículos, que decorreu a 31 de março, em Alcobaça, Paulo Pinto, que além de Head of Portugal do Europcar Mobility Group (EMG) é também presidente da associação, abordou a importância dos veículos elétricos para o rent-a-car. Estes veículos, que, segundo o responsável, são fundamentais para afirmar definitivamente a mobilidade sustentável, encontram-se já presentes em boa parte das frotas as empresas nacionais do setor, apesar da condicionante que a escassez de postos de carregamento representa e que ameaça inviabilizar os investimentos realizados. “A infraestrutura de carregamento, apesar de ter, neste momento, cerca de seis mil postos públicos, continua a ser a maior condicionante”, afirmou Paulo Pinto, realçando as desigualdades na distribuição destas infraestruturas pelo país e o facto de, apesar de virem a crescer, o número de postos ainda ser “absolutamente limitado”.
O Publituris foi ouvir as empresas de rent-a-car que atuam em Portugal para saber em que ponto está a descarbonização das frotas e como podem os problemas que afetam o aluguer destes veículos ser resolvidos.
Situação atual
Como as preocupações com as alterações climáticas e sustentabilidade, o rent-a-car tornou-se num dos primeiros setores a responder ao desafio da descarbonização, incorporado cada vez mais veículos elétricos e híbridos.
No EMG, Paulo Pinto confirma que a “descarbonização da frota é, sem dúvida, uma das prioridades” e explica que o grupo pretende ter “20% da frota ecologicamente sustentável” até 2024, passando para 25% no ano seguinte, segundo o plano de sustentabilidade “One Sustainable Fleet”. “O plano de descarbonização da nossa frota traduz-se num trabalho contínuo e prolongado, pelo que o nosso objetivo é aumentar a frota de veículos elétricos e híbridos”, refere.
Delfina Acácio também reconhece a importância da descarbonização e diz que “15% das viaturas da Guerin já estão dentro desses parâmetros”, num caminho que a empresa vai manter para, “ainda este ano, chegar aos 20%”, prevendo-se que, em 2024, essa percentagem “provavelmente dobrará”. Por enquanto, a Guerin conta com “viaturas elétricas e/ou híbridas em quase todos os segmentos e de quase todas as marcas”.
E também a Ilha Verde tem adquirido viaturas híbridas e elétricas, com Luís Rego a revelar que, atualmente, “mais de 10% da frota” é composta por estes veículos, pois, em 2017, a empresa assinou a Cartilha da Sustentabilidade dos Açores, comprometendo-se com a descarbonização.
Na Hertz Portugal, Duarte Guedes admite igualmente a importância desse passo e diz que a empresa já tem “mais de 20% da frota, entre híbridos, plug-ins e elétricos”. “Devemos ser o operador com maior número de veículos elétricos em Portugal”, diz, explicando que, apesar disso, este ano, “em percentagem da frota total, a penetração de veículos verdes não deverá alterar muito”.
Mais demorada está a descarbonização da SIXT Portugal, que tem cerca de 3% de veículos elétricos e híbridos, com Carlos Caiado a admitir que o atraso se deve aos “desafios” que a aposta encerra, apesar de prever um crescimento para “5% até ao final do 1.º trimestre de 2024”.
Já a Visacar tem apostado, sobretudo, na “compra de viaturas híbridas”, uma vez que, explica Honório Teixeira, representam “uma alternativa ainda mais segura para a mobilidade dos clientes”.
Alexandru Vatră diz ainda que a Klass Wagen, cuja frota é de 2023, tem sido “muito eficiente na descarbonização” e conta com vários híbridos.
Preço e escassez de postos são maiores entraves
Apesar do aumento destes veículos ser real, há diversas ameaças que impedem um crescimento mais rápido do aluguer destes veículos.
Como diz o General Manager da SIXT Portugal, os motivos que levam a uma descarbonização mais lenta prendem-se com a falta de infraestruturas e preço elevado das viaturas. “Para já, a descarbonização é lenta com a adoção de veículos elétricos e enfrenta desafios de infraestruturas, falta de confiança dos clientes e custo elevado de aquisição”, refere, sublinhando que, “com a escassez de postos de abastecimentos elétricos de elevada capacidade de carga”, os clientes não têm confiança para alugar “veículos 100% elétricos”.
Alexandru Vatră concorda e explica que, na Klass Wagen, essa é a razão que tem levado à fraca aposta nestas viaturas, pois “a infraestrutura para veículos elétricos ainda não é suficiente para fazer a transição completa”. “A escassez de estações de carregamento e aumento dos preços dos carros afetaram a nossa capacidade de descarbonizar”, resume.
Paulo Pinto também diz que o reduzido número de postos “é um desafio significativo para a descarbonização da indústria como um todo”, e o EMG não é exceção. “Para que o serviço seja atrativo e confortável para os consumidores, a infraestrutura de carregamento tem de crescer ao mesmo nível e velocidade que crescem as vendas”, refere.
Na Visacar, Honório Teixeira também reconhece um atraso devido às infraestruturas. “A rede de carregamento não dá resposta às necessidades dos clientes. As viaturas elétricas requerem tempos de carregamento que podem prejudicar as necessidades de mobilidade”, explica.
Na Hertz Portugal, Duarte Guedes fala na escassez de postos como problema e diz que, por isso, a empresa começou, em 2017, a “instalar os primeiros postos de carregamento”, algo que vai continuar a reforçar.
O problema manifesta-se ainda nos Açores, onde Luís Rego admite que a descarbonização é “um grande desafio”, pelo “constrangimento da falta de postos de carregamento e estruturas de apoio, em todas as ilhas”. “Operamos num arquipélago onde a descontinuidade territorial é evidente, dificultando muitas das nossas pretensões”, lamenta.
Mais otimista é Delfina Acácio, para quem a reduzida dimensão da “rede de abastecimento é sem dúvida uma questão”, mas que acredita que “o crescente aumento de postos será cada vez menos um entrave”. “O maior entrave continua a ser o custo elevado das viaturas e a baixa autonomia”, diz.
Soluções precisam-se
Apesar de Portugal já ter mais de seis mil postos, continua a ser necessário aumentar estas infraestrutura, principalmente nas zonas mais turísticas.
Na Europcar, Paulo Pinto explica que a empresa está a “preparar as suas estações, hubs e sedes com postos para carregar veículos elétricos, através de um forte investimento na eletrificação dos principais centros de mobilidade”. “Existe um plano de expansão a ser levado a cabo nos próximos anos, a fim de ter carregadores ou uma solução de recarga para a nossa rede de estações e estamos a trabalhar na implementação de painéis solares nos centros de mobilidade, a acontecer brevemente, para permitir uma redução na dependência da rede elétrica nacional”, revela.
E também a Hertz Portugal tem equipado as estações com postos de carregamento, mas Duarte Guedes considera que será preciso fazer mais, já que a “maior densidade a nível do país ajudará à adoção” deste tipo de viatura. “Mas é preciso focar mais no aumento da densidade nos destinos finais tais como residencial, hotéis e locais de trabalho para que a conveniência seja total”, sugere.
Opinião semelhante manifesta Honório Teixeira, que lembra que muitos dos clientes da rent-a-car algarvia ficam em hotéis ou aldeamentos turísticos que, “apesar de esforços, ainda disponibilizam muito poucos lugares com postos de carregamento”, pelo que o desafio, defende, passa por “disponibilizar estacionamento com carregamentos junto de todas as unidades hoteleiras e continuar a melhorar a rede publica”.
Nos Açores, Luís Rego pede igualmente a “implementação maciça de carregadores”, principalmente, “nos pontos estratégicos públicos, parques de estacionamento, unidades hoteleiras”. O responsável da Ilha Verde, quer ainda “resposta mais célere dos apoios estatais, não só na criação de infraestruturas, mas também na aquisição das viaturas”.
Caso o número de postos não cresça, Carlos Caiado admite que terá impacto “na velocidade de descarbonização da SIXT, atrasando a meta prevista de eletrificação da maioria da frota para 2030”, opinião partilhada por Alexandru Vatră, que diz que a estratégia de descarbonização da Klass Wagen “depende da disponibilidade de estações de carregamento elétrico e da acessibilidade dos veículos elétricos”.
Mais positiva volta a ser Delfina Acácio, que acrescenta que “os processos são cada vez mais simples para utilizadores, com várias ferramentas de acompanhamento à rede”, o que impulsiona o aluguer de elétricos.
Curiosidades
Postos – Portugal conta atualmente com cerca de 6 mil postos de carregamento em todo o país
Veículos – Grande parte das empresas de rent-a-car que operam em Portugal tem já veículos elétricos, híbridos e plug-in
Soluções – Aumentar os lugares de estacionamento para carregamento de elétricos nos hotéis e zonas turísticas é uma das sugestões