“A tendência é muito clara no sentido da sustentabilidade”
Com a sustentabilidade a estar na ordem do dia, a ECEAT iniciou um processo de certificação dos agentes e operadores turísticos com o projeto SUSTOUR. O Publituris falou com o diretor da ECEAT para perceber em que estado está Portugal, onde a APVT é parceria do projeto. A resposta não podia ser mais animadora, indicando Naut Kusters que Portugal está em 2.º lugar no que diz respeito a candidaturas submetidas.
Victor Jorge
O objetivo do projeto SUSTOUR é claro: fomentar as capacidade e competências de mais de 175 agentes de viagens e operadores turísticos para integrar princípios de sustentabilidade nas suas empresas e cadeias de fornecimento. Para já, Portugal está bem colocado e, de acordo com os dados mais recentes, são já mais de 200 as candidaturas submetidas pelos associados da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT).
A sustentabilidade entrou, definitivamente, no léxico do setor do turismo e, consequentemente, nos agentes e operadores de viagens. Que relevância possui esta questão para o setor?
A sustentabilidade também é vista como uma questão de qualidade. Hoje em dia, os clientes esperam que o produto esteja em conformidade com os padrões básicos de qualidade. Para se diferenciar no mercado uma empresa deve compartilhar os seus valores e garantir que o produto não tenha impactos negativos em toda a cadeia e no destino. Especialmente a geração mais jovem deseja conectar-se com uma marca com esses valores.
O projeto SUSTOUR tem um objetivo que passa por fomentar as competências dos agentes e operadores de viagens na área da sustentabilidade. Como é que isso se processa e que valor acrescentado traz para os players do mercado?
A sustentabilidade e os “compromissos verdes” são processados de forma muito fácil. Os consumidores e parceiros de negócios globais esperam, no entanto, que essas declarações sejam justificadas com base numa avaliação independente por uma organização respeitada. A Travelife foi criada para tornar este processo o mais fácil possível, especialmente, para as Pequenas e Médias Empresas (PME).
Sem sustentabilidade não há negócio
É possível, nos dias que correm e com as exigências trazidas pela pandemia, pensar o negócio sem esta componente da sustentabilidade?
A tendência é muito clara no sentido da sustentabilidade e para a obtenção de um selo de aprovação ou certificação. Para os agentes e operadores de viagens, por exemplo, a Travelife estava a duplicar as adesões a cada ano no período pré-pandemia. Mesmo durante a pandemia, conseguimos muitos novos membros e não perdemos nenhum. Cada empresa deve decidir o momento certo para começar, mas com certeza que tornar-se-á uma licença para operar nesta década.
E como é que essas normas devem ser implementadas no dia-a-dia das empresas?
Trata-se de um esquema voluntário e só esperamos que sejam implementadas as ações que façam sentido para os respetivos negócios e sejam localmente relevantes e estejam disponíveis. Existem condições para cada agente ou operador, como economia de água, energia e recursos, e temos requisitos para estimular os fornecedores para um comportamento mais sustentável.
Mas como é que isso se traduz para o consumidor/cliente?
A responsabilidade para com os clientes está, por um lado, relacionada com a sua própria segurança e os direitos que são regulados por lei na Europa. Por outro lado, um agente ou operador turístico deve informar e motivar os clientes a comprar o produto mais sustentável e agir de forma responsável dentro do destino. Podem-se, por exemplo, destacar os hotéis eco certificados, estimular o comboio em vez dos voos de avião e distribuir códigos de conduta específicos para o destino.
Como é que se processa a certificação? Que custos existem para o agente ou operador?
A Travelife possui dois níveis. O “Travelife Partner” tem por base uma autoavaliação que será revista online. No entanto, devem ser fornecidas provas detalhadas. Já no que diz respeito aos custos anuais, estes são limitados a 200 euros no caso de empresas com menos de 25 funcionários.
A certificação inclui vários critérios e exige uma avaliação no local a cada dois anos. Os custos começam nos 400 euros por ano para microempresas até quatro funcionários e 750 euros para empresas até 25 funcionários.
Como é que as empresas se candidatam e se desenrola o processo?
Sendo, neste caso, associados da APAVT, as empresas podem registar-se online de forma gratuita e terão acesso a um formador pessoal que os apoia durante todo o processo. As empresas podem avançar passo a passo para o nível mais alto ao seu próprio ritmo.
Que oportunidades de mercado são abertas aos aderentes a esta certificação?
A Travelife é amplamente conhecida nos mercados-alvo, especificamente no setor B2B. Cada vez mais destinos outbound esperam que os inbounds trabalhem na sustentabilidade. Como Travelife, também promovemos as empresas premiadas na nossa plataforma pública e interna e cada vez mais operadoras estão a adquirir destinos inbounds mais sustentáveis.
E quais são ou podem ser os principais obstáculos à certificação?
Como em qualquer certificação, precisa de um processo documentado. A formulação de políticas não é o trabalho diário das empresas. Portanto, fornecemos muitos modelos para que o processo seja o mais fácil possível. Uma vez que as políticas estão em vigor, é relativamente fácil mantê-las e ajustá-las ao longo dos anos.
Sendo um programa europeu, que resultados já possuem?
A APAVT é um parceiro formal do projeto, aliás um dos sete parceiros. Além disso, também abrimos o projeto a todas as associações europeias e mais de 20 assinaram um memorando de entendimento com a Travelife e o projeto SUSTOUR.
Neste momento, encontra-se num processo de promoção de sustentabilidade junto dos seus associados e esperamos que, pelo menos, 200 empresas participem no programa de apoio que será implementado em 2022.
Portugal bem colocado
Existem diferenças entre os diversos países neste capítulo da sustentabilidade, nomeadamente, junto dos agentes e operadores de viagens europeus?
Alguns países estão mais à frente que outros. Posso dizer que a APAVT está em 2.º lugar no ranking das candidaturas submetidas, apenas ultrapassada pela Holanda (ANVR), mas também Alemanha e Reino Unido estão bastante avançados.
Há uma maior noção de responsabilidade por parte das empresas em relação aos destinos em que atuam. Pode significar que existe um histórico nas grandes empresas multinacionais que operam à escala global. Existem outros países que atuam mais na perspectiva das exigências do respetivo mercado.
E em que estado encontra-se Portugal nesta questão?
Em Portugal estamos a começar, mas como referi, a APAVT está em 2.º lugar no ranking das candidaturas submetidas e, por isso, estamos satisfeitos com o forte compromisso da associação. Há já algum tempo que discutimos uma parceria e o projeto SUSTOUR vai permitir que Portugal seja um dos pioneiros.
Que tipo de compromissos terão de ser cumpridos por parte dos agentes e operadores após a obtenção da certificação Sustour? Quem é que gere e supervisiona o projeto?
Uma vez certificadas, as empresas terão de consolidar o seu compromisso ao longo do tempo, especialmente, junto dos seus fornecedores. Este é um processo sem fim. Não definimos exatamente o que precisa ou tem de ser feito, pois cada empresa é diferente. Mas é necessário um plano de ação de melhoria anual e a cada dois anos os resultados são avaliados pela Travelife. Isto através do online para o nível “Partner” (Parceiro) e localmente para o nível “Certified” (Certificado).
E de que modo é que a certificação é relevante para o consumidor/cliente?
Os clientes e/ou consumidores estão, cada vez mais, à procura de opções sustentáveis e o certificado da Travelife irá guiá-los neste sentido.
Para as empresas já certificadas, que serviços disponibilizam? Existe um programa de formação contínuo ou outros serviços adicionais a que podem aceder?
Para as empresas já certificadas oferecemos programas de aceleração. Ou seja, podem trabalhar e apoiar fornecedores, trabalhar na gestão do plástico ou começar a reduzir ativamente as emissões de carbono.
Posteriormente, oferecemos uma “calculadora” exclusiva desenvolvida, especificamente, para agentes e operadores turísticos e pacotes multidiários.
Que tipo de apoio tem dado a APAVT em todos este processo de certificação dos agentes e operadores associados?
A APAVT está formada no âmbito do projeto SUSTOUR para apoiar os seus associados ao longo de todo o processo. Como Travelife, gostaríamos de descentralizar ao máximo as nossas operações e, nesse sentido, também trabalhamos com formadores e auditores locais e o nosso padrão e muitas das nossas formações já se encontram traduzidas para português.
Finalmente, que mensagem gostaria de passar aos agentes e operadores turísticos relativamente a este projeto de certificação?
Que o projeto SUSTOUR oferece uma oportunidade única, com inúmeros apoios para que que as empresas se tornem líderes neste campo.
Benefícios do projeto SUSTOUR
– Participação num programa de capacitação através de um curso deformação específico feito de sessões online e
presenciais;
– Participação num programa de implementação de gestão da sustentabilidade que conduz à certificação Travelife;
– Participação num programa de aceleração que visa desenvolver uma estratégia específica de inovação para
implementar soluções de sustentabilidade;
– Reuniões com inovadores, fornecedores e especialistas líderes;
– Melhorar as colaborações entre cadeias de abastecimento e intersectoriais;
– Entrada em redes internacionais e seja incluído em atividades promocionais.
Travelife em números
– Presente em mais de 100 países
– 1.000 associados
– 500 Travelife Partners
– 200 Travelife Certified
– Mais de 10.000 fornecedores alcançados