Hotelaria otimista
Os hotéis em Portugal, de norte a sul e ilhas, que sempre dependeram muito do segmento MICE, até porque criaram espaços e serviços, considerados dos melhores, para acolher este tipo de nicho, tiveram também um grande sobressalto com a pandemia. Neste momento já estão mais otimistas em relação à retoma, e até à recuperação muito próxima dos níveis pré-pandemia.
Carolina Morgado
Especial MICE
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Antes da pandemia, o segmento MICE afirmava-se como um produto em franco crescimento, envolvendo diversos setores de atividade, capaz de contribuir para atenuar a sazonalidade e para esbater as assimetrias regionais, tendo em consideração que todas as regiões possuem oferta potencial para uma procura que se sabe ser muito exigente.
Com a chegada da pandemia, o MICE foi o segmento, a nível do turismo, que teve uma quebra mais acentuada e ainda longe da total recuperação. O ano passado continuou a ter um impacto negativo para a grande maioria das unidades hoteleiras que dependem muito desta atividade, mas os mais otimistas apontam o segundo trimestre de 2022 como o ano de retoma de alguma normalidade neste segmento que tem um forte impacto económico nos destinos que o recebem. Isto porque a vontade de organizar eventos é muito grande e as garantias a nível de saúde são já mais concretas e de maior qualidade. A incógnita em relação a esta guerra na Ucrânia, pode criar algum sobressalto.
A palavra de ordem foi reinventar
E como qualquer crise, também esta obriga a que as empresas, e neste caso, as hoteleiras, se reinventem, porque o mercado e os clientes também aprendem a ver as coisas numa outra perspetiva, pois nada voltará a ser como dantes. O negócio vai mudar, já está a mudar, e a forma de o fazer também.
A utilização ágil das novas tecnologias, que permitem garantir a realização de eventos em formato 100% digital ou híbrido, foi adotada pelas unidades hoteleiras, que conseguiram, de alguma forma readaptar-se aos momentos de maior crise. Algumas tiveram mesmo algum sucesso.
A oferta tem sido igualmente alterada de acordo com as necessidades de mercado, os preços e as condições de reserva ajustados, uma vez que o grau de incerteza provocado pela pandemia obrigou a uma flexibilidade necessária para garantir confiança e fidelização dos clientes.
Com a pandemia e na ausência de eventos presenciais, o grupo Dom Pedro apostou forte nos eventos híbridos e virtuais, mas acredita na viragem, e que, a partir de junho, e segmento MICE irá entrar em velocidade cruzeiro.
Segundo informações que obtivemos junto da Dom Pedro, todos os grandes eventos/reuniões que tinha no primeiro trimestre de 2022 acabaram por ser cancelados ou adiados. Contudo, dizem, é significativo o aumento de novos pedidos, muitos ainda para o primeiro semestre. Ao nível de reuniões mais pequenas, do mercado nacional, tem havido procura e concretização, até porque as empresas têm vontade de retomar os seus eventos o quanto antes, pois isso também significa, o regresso à normalidade.
Na opinião da cadeia hoteleira, os eventos serão um pouco mais pequenos. Se na pré-pandemia o mesmo tipo de evento, era projetado para 200 pessoas, agora tem como objetivo cerca de metade.
Os Hotéis Solverde têm consciência de que, apesar de se perspetivar um crescimento natural da procura pelo segmento MICE, será muito difícil igualar o ano de 2019 a curto prazo.
Com as limitações vividas, por força da pandemia, 2020 e 2021 foram de grande instabilidade no setor hoteleiro, e isso também se refletiu no segmento MICE que tem vindo a adiar eventos de ano para ano, o que reduziu bastante o número de eventos realizados.
Com hotéis em Chaves, Vila Nova de Gaia e Praia da Rocha (no Algarve), a cadeia tem consciência de que será muito difícil igualar o ano de 2019 a curto prazo.
Assim, este ano a aposta é trabalhar com vista à retoma desta atividade, tendo consciência de que ainda existe um longo caminho para “voltarmos ao ponto onde nos encontrávamos antes da situação pandémica”. Muito possivelmente só em 2023 será possível recuperar, estimam os Hotéis Solverde.
Por sua vez, o The Editory Collection Hotel fala em crescimento lento, mas positivo, estimando, em 2022, alcançar números próximos dos 60% do volume de negócios de 2019.
A importância do mercado nacional
O Porto Palácio by The Editory é uma unidade com forte ligação ao segmento MICE e, naturalmente, orientada para se adaptar à realização de eventos de maior ou menor dimensão, o que, segundo a diretora de Marketing e Vendas da cadeia, Isabel Tavares, “foi uma vantagem em 2021”, dadas as imprevisibilidades da retoma e da evolução da pandemia.
“As nossas perspetivas para 2022 no que respeita ao segmento MICE focam-se, sobretudo, no mercado nacional, uma vez que em 2021 se registou um crescimento muito mais acentuado em banquetes do que em grupos de negócio, reflexo dos mercados em que operamos”, realçou a responsável, concretizando que “temos a expectativa de, em 2022, conseguirmos alcançar números próximos dos 60% do volume de negócios de 2019”.
Isabel Tavares apontou ainda que “a nossa oferta foi alterada de acordo com as necessidades de mercado: tivemos de ajustar preços e condições de reserva para grupos, uma vez que o grau de incerteza provocado pela pandemia obrigou a uma flexibilidade necessária para garantir confiança e fidelização dos clientes”.
Para 2022, os hotéis Savoy Signature têm perspetivas muito boas, notando-se uma procura acima do que se verificou em 2019.
A Madeira, recorde-se, revelou-se sempre como um destino com elevados padrões e condições no âmbito da segurança e controlo da Covid-19. Acresce a atratividade da região na oferta de condições únicas e instalações diferenciadas para a realização de todo o tipo de eventos. Estes pontos fortes do destino não são alheios ao crescimento do segmento MICE na região como nos hotéis Savoy Signature.
Graça Guimarães, Head of Global Sales do grupo, esclarece que, neste momento “registamos um número significativo de pedidos em opção para o corrente ano, que aguardam confirmação dos nossos clientes. No entanto, temos já vários grupos contratados para 2022 e 2023. Relativamente, a 2019, temos um aumento que ronda os 40% para eventos e conferências nos seis hotéis”, considerou a responsável, acrescentando que “temos já confirmados mais de 50 eventos que variam entre pequenos incentivos organizados para grupos a partir de 20 pessoas até conferências de maior dimensão com 500 participantes que viajarão de vários destinos de todo o mundo”.
Vontade de regressar aos eventos presenciais
Isto porque nota-se uma enorme predisposição e vontade para regressar à organização de eventos presenciais, pelo que “acreditamos que a médio prazo não haverá uma grande mudança no perfil e na forma dos eventos”, até porque “esta é uma área que vive muito do contacto presencial e essa é uma caraterística que se irá manter”, ressalvou Graça Guimarães. Contudo, “acompanhamos a evolução tecnológica em MICE e estamos preparados para todos os desafios neste âmbito”, destacou,
As expectativas do MinorHotels e Resorts em Portugal, pelo feedback que tem tido dos clientes e parceiros, são que a procura por eventos presenciais volte a predominar.
Antecipando o regresso da estabilidade e da confiança, as expectativas para o 2022 são boas para o segmento, tendo a cadeia hoteleira já em carteira um número considerável de eventos confirmados, com maior concentração nos meses de maio, junho e setembro, realçou Hélder Marcelino, director of Sales – Resorts, Portugal – MinorHotels, dando conta da realização de cerca de 20 eventos MICE durante o ano de 2021, concentrados no segundo semestre, e um número superior a 30 adiados para 2022.
“Já se nota uma diferença grande em termos de confirmações e procura”, afirmou Pedro Godinho Lopes, Head of Sales and Marketing do InterContinental Cascais Estoril.
Do que Pedro Godinho Lopes não tem dúvidas é que está a mudar o perfil dos eventos e a forma como se concretizam. Mas não há dúvida que a flexibilidade é o maior desafio.