Reservas em baixo, falta de trabalhadores e fé no mercado interno. Assim se perspetiva o verão na hotelaria
A AHP realizou um inquérito a 600 hotéis sobre as perspetivas para os próximos meses. Lisboa com pior registo de intenções de reservas para o verão.
Rute Simão
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Falta de trabalhadores no setor, uma perspetiva “medíocre” de reservas até outubro e uma elevada dependência do mercado nacional. Este é o cenário traçado pela Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) para o período de verão, após inquirir 610 unidades hoteleiras nacionais.
Um dos maiores constrangimentos revelados pelo ‘Inquérito AHP, perspetivas verão 2021’, realizado entre os dias 7 e 25 de junho, é a dificuldade em contratar mão-de-obra para fazer face à operação da época. A maioria dos hotéis, 68%, admite ter intenções de contratação sazonal mas 64% diz não estar a conseguir recrutar extras.
“68% dos inquiridos tem intenção de reforçar as equipas através da contratação de trabalhadores em regime de contratos a termo para responder aos picos de procura. No entanto, destes 68%, 64% dizem que estão com muita dificuldade na contratação de trabalhadores para responder a este período. É algo que temos sentido muitíssimo, sinalizado por todo o país mas particularmente mais gravoso no Algarve, na região Centro e nalgumas sub-regiões do Alentejo. De facto, há muita dificuldade de contratação de trabalhadores. Alguns destes trabalhadores fizeram um ‘shift’ para outras áreas, outros ainda estão a receber subsídio de desemprego e portanto há também alguma dificuldade em aceitar trabalho temporário quando ainda estão a receber o subsídio”, enquadrou a vice-presidente executiva da AHP na apresentação do inquérito à imprensa que decorreu esta quarta-feira, 30.
Para Cristina Siza Vieira, esta é já uma situação comum a muitos hotéis. “Mais do que sérias dificuldades na contratação, muitos dos inquiridos não conseguem atender ao reforço em alguns segmentos. Daí a nossa imensa preocupação e susto em pensar que mesmo as unidades que tinham hóspedes não poderiam servi-los nos restaurantes. Era impossível alimentar os hóspedes que tínhamos se não fosse nos restaurantes e bares dos hotéis. Não havia trabalhadores para fazer ‘room service’ nem logística nem capacidade para o efeito”, refere, recordando o período em que a hotelaria aguardava resposta do governo sobre se seria abrangida pelas últimas restrições aplicadas no âmbito da pandemia aos restantes restaurantes.
Lisboa com pior registo de intenções de reservas para o verão
Para os próximos três meses as perspetivas de reservas são mornas com uma média nacional de 43% para o mês de julho, 46% para agosto e 37% para setembro. As previsões foram feitas, sublinha Cristina Siza Vieira, ainda com alguma expetativa uma vez que à data do inquérito o cenário era “razoavelmente otimista relativamente às obrigatoriedades dos passageiros do Reino Unido que chegam a Portugal. Houve um agravamento que não está refletido neste inquérito”, alerta.
Para o Algarve o mês de agosto é o que representa uma maior intenção de reservas. Já na Madeira há um aumento assinalável em setembro.
“Lisboa tem o pior registo de intenções e de reservas no verão (cerca de 30%) e tem uma previsão para outubro de crescimento. Há uma expetativa grande em Lisboa com o mercado norte-americano e brasileiro a partir de outubro”, analisa a responsável.
Os dados divulgados pela AHP revelam ainda que as reservas de grupo (a partir dos 10 quartos) não têm expressão nos números dos próximos meses. “Não há reservas de grupo. 71% dos inquiridos diz que tem menos de 20% de reservas de grupo. Há uma dependência das reservas individuais”, conclui a vice-presidente executiva da associação que representa os hoteleiros portugueses.
A seguir ao verão, outubro é o mês mais otimista para o turismo nacional com 50% de reservas previstas. Apesar da ligeira subida este é um valor “ainda muito longe do necessário para permitir às empresas sobreviver”, explica. “As reservas são muito medíocres. Não vamos “embandeirar em arco” a pensar que vai haver uma retoma a partir de outubro”, alerta.
Esta expetativa de um aumento da procura para este mês prende-se com a esperança num “maior índice de vacinação e com a pujança do certificado verde” que venha a imprimir uma maior dinâmica nas viagens. A retoma do mercado norte-americano é outro dos fatores que alimenta a esperança numa operação superior à de verão neste mês.
Já durante os meses de julho, agosto e setembro é do mercado doméstico que a hotelaria irá viver. 88% dos hotéis que responderam ao inquérito da AHP assumem que os turistas nacionais serão o principal mercado, seguindo-se a Espanha (69%) e a França (50%).