O que Portugal precisa para avançar?
“E Portugal?”. Este foi o tema escolhido para a conversa realizada entre Miguel Poiares Maduro (Fórum Futuro), Álvaro Beleza (SEDES) e Carlos Guimarães Pinto (Iniciativa Liberal), no arranque do 48.º Congresso da APAVT. E se Portugal não avança, as causas não são de hoje, mas podem e devem ser ultrapassadas com visão e estratégia, bem como com uma aposta em gente nova, menos “grisalha” e vinda do universo das empresas.
Victor Jorge
Enoturismo no Centro de Portugal em análise
ESHTE regista aumento de 25% em estágios internacionais
easyJet abre primeira rota desde o Reino Unido para Cabo Verde em março de 2025
Marrocos pretende ser destino preferencial tanto para turistas como para investidores
Do “Green Washing” ao “Green Hushing”
Dicas práticas para elevar a experiência do hóspede
Porto Business School e NOVA IMS lançam novo programa executivo “Business Analytics in Tourism”
Travelplan já vende a Gâmbia a sua novidade verão 2025
Receitas turísticas sobem 8,9% em setembro e têm aumento superior a mil milhões de euros face à pré-pandemia
Atout France e Business France vão ser uma só a partir do próximo ano
Os desafios vividos por Portugal ao longo dos últimos anos, ou melhor, décadas, e a dificuldade em ultrapassá-los, foi o pontapé de saída dado por Miguel Poiares Maduro, presidente da Comissão Científica do Fórum Futuro, da Fundação Calouste Gulbenkian, na 1.ª sessão do 48.º Congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT).
De acordo com Miguel Poiares Maduro, faltam reformas em Portugal, apontando que “estas são sempre faladas, analisadas, discutidas, mas depois não conseguimos ser consequentes”, admitindo que existe uma “fraca qualidade da nossa cultura política e das instituições para entender esta necessidade urgente e sem a qual o país não avança”.
Apontando que “se discute muito as decisões, mas raramente a qualidade dos processos de decisão”, frisando que “é importante estruturar esses processos de decisão para evitar enviesamento dos erros em que facilmente caímos”, para o professor e presidente da Comissão Científica do Fórum Futuro, “a convivência entre o setor público e o setor privado é fundamental para que a qualidade das decisões seja frutífera”, salientando ainda que existem problemas em transferir o conhecimento para a economia e para o próprio Estado. Resultado desta realidade é, segundo Poiares Maduro, o facto de, em Portugal, “a grande maioria do conhecimento científico obtido nas universidades, do número de doutorados ou investigadores a trabalhar em empresas ou na própria administração pública ser dos mais baixo na Europa”.
Ora, esta realidade leva a que “não só o nível de investimento público em Portugal não seja suficiente para manter as infraestruturas públicas existentes, ficando abaixo do necessário e expectável”, mas, também, “refletir a dificuldade em captar mais investimento externo para o país”.
Isto faz com que o capital social das pessoas nas instituições seja baixo, refletindo-se, naturalmente, na falta de confiança que existe no próprio Estado. Daí Poiares Maduro apontar a necessidade de uma “visão estratégica para o país que vai muito além dos interesses dos partidos que discutem o poder”, dando como exemplo a Suécia, “país onde houve um acordo entre os principais partidos políticos para determinar políticas estruturantes assentes em pressupostos básicos de desenvolvimento para o país”.
E é neste ponto que Portugal peca, já que, na maior parte das vezes, “a partidarização das instituições leva a bloqueios e menor capacitação dessas mesmas instituições e pessoas que nelas trabalham”. Esta situação leva a que nas próprias instituições exista “um desvio de recursos produtivos em que as pessoas colocam a sua energia na procura da proximidade ou na identificação partidária e não no mérito do desenvolvimento”.
No turismo, por exemplo, “a prioridade deve estar na definição das áreas fundamentais para o desenvolvimento do setor e não tanto em procurar saber se projeto A ou B pode receber determinado investimento ou apoio, já que esta decisão depende de uma avaliação técnica e não estratégica, o que leva a que esse processo seja muitas vezes politizado e demasiado demorado”, considerou Poiares Maduro.
Álvaro Beleza, presidente do Conselho Coordenador da SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, deu, por sua vez, o exemplo da Irlanda e numa palavra resumiu a evolução do país nos últimos anos: “ambição”. Para se resolver e ultrapassar os desafios “é preciso vontade”. “Essa vontade e ambição existiram e existem no turismo e fazem com que este seja um setor absolutamente estratégico para Portugal”, aproveitando para criticar “as mentes que se assustam com a quantidade de turistas que nos visitam”, frisou Álvaro Beleza.
Neste campo, o presidente da SEDES destacou a vantagem da posição geográfica de Portugal, mas também “a estabilidade e segurança oferecidas pelo país, condições essenciais para a captação de turistas, para além de tudo o mais que Portugal tem para oferecer”.
Focando, igualmente, a necessidade de profundas reformas estruturais em Portugal, começando, desde logo, pela fiscal, o presidente da SEDES admitiu que no nosso país “há um tremendo medo de falhar. Só com a tentativa e erro é que poderemos alcançar o desejado desenvolvimento e saber, efetivamente, o que pode ou não funcionar”.
Apesar de ser conhecida a ligação ao Partido Socialista, Álvaro Beleza admitiu-se um liberal e criticou a complexidade da máquina fiscal onde, por exemplo, existem mais de 500 procedimentos fiscais para empresas, frisando que “há que simplificar todos estes processos”.
Concluindo que Portugal “tem todas as condições para ser melhor”, Álvaro Beleza destacou que essa melhoria “nunca será conseguida com demasiada gente grisalha nos centros de poder”, existindo a necessidade de “dar lugar aos jovens que pensam de forma diferente e simplificada. Temos de rejuvenescer os centros de decisão em Portugal e isso não se consegue com pessoas que fizeram da política um modo de vida e muitas vezes estão, inclusivamente, afastadas da realidade do dia-a-dia das pessoas e empresas”.
Carlos Guimarães Pinto, deputado na Assembleia da República pela Iniciativa Liberal, começou a sua intervenção por destacar o facto de “Portugal ter perdido o comboio do desenvolvimento, muito por não ter acompanhado as Revoluções Industriais que se deram nas décadas passadas”.
“Agora, não podemos perder a revolução que está aí e que é digital. Se a perdermos, Portugal voltará a ficar para trás, ou melhor, ainda mais para trás. Esta é uma oportunidade que teremos de agarrar e há que criar condições para que os vencedores possam aparecer da forma mais rápida”. Para tal, reconhece que as empresas “podem e devem falhar para que possam ter sucesso. E são essas falhas que levam ao sucesso que muitas vezes não são compreendidas em Portugal ao contrário do que acontece nas economias mais avançadas”.
E aqui, Carlos Guimarães Pinto não só critica o estado do país, mas também a falta de visão da própria Europa no geral, uma vez que “está demasiado preocupada com a regulação, sendo esta claramente inimiga da inovação”.
“Quando se tenta, desde o início, regular algo que ainda está a começar, é difícil dar confiança às empresas e empreendedores”.
Exemplo disso mesmo foi dado com o Alojamento Local e a Uber que vierem “disromper o mercado, oferecendo algo que as pessoas entenderam e passaram a utilizar e, fundamentalmente, fez com que quem cá estava tivesse de se adaptar e melhorar a oferta disponibilizada. Ou seja, quem beneficiou foi o consumidor, o setor e a própria economia”.