Distribuição aponta 2023 como ano da incerteza
Se 2022 foi o ano de recuperação das mazelas que a pandemia provocou ao setor das viagens e turismo, 2023 é apontado como o ano da incerteza por razões que vários players da área da distribuição explicaram ao Publituris.
Carolina Morgado
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“A única certeza, já sabemos, é a incerteza”. É assim que o presidente da APAVT, Pedro Costa Ferreira perspectiva, para o turismo, o ano que agora começou, isto porque, “a guerra é uma desolação com efeitos negativos em todos e a inflação pode gerar retração no consumo de viagens”. No entanto, conforme refere, comparando com o ano passado em que num trimestre, o primeiro, “estivemos todos fechados, não encontramos ainda retração efetiva na procura”.
Mesmo assim, Pedro Costa Ferreira julga que no final será “um ano positivo. Se pior ou melhor que 2022, eu esperaria pior, mas é verdade que tenho dialogado com gente absolutamente credível que, exatamente pelo facto de termos tido, em 2022, um trimestre perdido, ainda espera uma performance em 2023 muito semelhante a 2022”.
Já em relação aos principais desafios que o setor do turismo enfrentará em 2023, o presidente da APAVT destaca “a gestão da incerteza”, e interroga: “Para onde vai a guerra? Quais os efeitos da subida das taxas de juro? Como vão responder as empresas, ainda notoriamente fragilizadas, aos desafios da capitalização?”.
No entanto, sublinha que “como sempre, resta-nos esperar o melhor e prepararmo-nos sempre, como pessoas e como empresas, para o pior”.
Também Tiago Encarnação, diretor Operacional da Lusanova refere-se a um ano “cheio de incertezas e sabemos que as perspectivas não são tão otimistas”, apontando que “todos temos consciência que vai existir um abrandamento na procura no setor, motivado pela conjuntura económica”, mas acredita que o turismo conseguirá superar esta nova realidade.
O diretor Operacional da Lusanova relembra que, “por esta altura em 2021, também todos nós enfrentávamos incertezas. Claramente não as mesmas, mas certamente o mesmo estado de dúvida e de insegurança face ao futuro”.
Dificuldades geram oportunidades
Tendo em conta que o setor se mostrou resiliente e extremamente inovador no passado, “tenho esperança que continuará a sê-lo no futuro. Nesse sentido, procuro sempre ser otimista e mesmo com uma quebra na procura, acredito que dificuldades geram sempre oportunidades e novos desafios”, salientou, para acrescentar que “hoje o Turismo tem novas prioridades e para as entender é necessário perceber que não podemos voltar ao “velho normal” e esse será o principal desafio como sector”.
Para onde vai a guerra? Quais os efeitos da subida das taxas de juro? Como vão responder as empresas, ainda notoriamente fragilizadas, aos desafios da capitalização, Pedro Costa Ferreira (APAVT)
Na opinião de Tiago Encarnação, “se em 2022 o desafio era a retoma da confiança em viajar, em 2023 será a adaptação a esta nova normalidade, mais instável e exigente, mas também mais desafiante ao nível dos modelos de negócios”. Neste sentido, “a internacionalização das empresas e a procura de novos mercados serão fundamentais para que as empresas nacionais ganhem a economia de escala necessária para superar os desafios que se colocam”, realçou.
O responsável da Lusanova não esquece “as necessidades de qualificação dos recursos humanos, a retenção de talentos nas empresas, a promoção do património histórico e cultural e a sustentabilidade, que serão cada vez mais importantes se as empresas quiserem continuar a acrescentar valor aos seus serviços e se diferenciarem dos demais”.
Com os olhos postos na mensagem do último congresso da APAVT, “em 2023 temos de olhar para o lado positivo e “Fazer”! É necessário criar, ser autor desta nova realidade e o Turismo, pela importância que tem, não tem só essa necessidade, mas também obrigação de liderar este novo normal”, frisou Tiago Encarnação.
Para a rede de agências de viagens Airmet, segundo o seu diretor geral, Luís Henriques “temos todos a certeza de que será um ano totalmente incerto. Não sabemos de todo o que podemos esperar”, mas sendo um fervoroso otimista, julga que será igualmente um ano que “ajudará na recuperação do prejuízo que este mercado teve durante a pandemia”.
Luís Henriques acredita que a venda se fará mais perto da data de partida pois “toda a incerteza que paira na confiança dos consumidores assim ditará”. O diretor geral da Airmet sublinha que as viagens são já um bem de primeira necessidade, mas “com certeza que as famílias terão de avaliar o seu orçamento para poderem viajar”.
Prevemos um ano que nos vai colocar grandes desafios ao nível das empresas, Adriano Portugal (Mercado das Viagens)
Desafios para 2023 há muitos: “desde o aumento generalizado dos preços, à menor oferta aérea (que fez com que os preços aumentem também devido a este facto), à incerteza económica do país, à dificuldade de recrutamento que as empresas enfrentam…Será com certeza um ano difícil, mas como este setor já nos habitou, conseguiremos ultrapassar as dificuldades e os desafios que o ano nos trará”, frisou Luís Henriques.
Preparados para o que aí vem
É com alguma cautela que Álvaro Vilhena, General Manager do operador turístico Viajar Tours olha para 2023. No entanto, acredita que “continuará a haver muita procura, que a oferta será muitíssimo superior, mas a atual crise económica poderá servir de travão, e que a tendência será para a contratação de viagens menos dispendiosas, o que poderá condicionar os resultados globais”.
Refere que “uma família que não viajou durante dois anos e que gastou três ou quatro mil euros para ir de férias em 2022, irá certamente repensar o seu budget para as férias de 2023”, daí, adiantou, ser necessário ter todos estes fatores em consideração “e ajustar a nossa programação de forma a que a nossa oferta corresponda ao que os clientes procuram. Esperamos mais um ano atípico, mas também estamos mais bem preparados do que nunca”, apontou Álvaro Vilhena.
Adriano Portugal, diretor geral da rede Mercado das Viagens disse que “prevemos um ano que nos vai colocar grandes desafios ao nível da gestão das empresas e que vai implicar, no que se refere aos gastos destinados ao turismo e numa perspectiva mais macro-económica, uma maior taxa de esforço económico às famílias de uma forma geral”. Isto porque, “com a inflação que se tem vindo a verificar e o rendimento disponível a diminuir, o consumo destinado a produtos e serviços que satisfazem necessidades mais complementares como o turismo e o lazer pode traduzir-se em produções não tão interessantes como aquelas que verificamos no ano que agora termina”.
A atual crise económica poderá servir de travão e a tendência será para contratação de viagens menos dispendiosas, o que poderá condicionar os resultados globais, Álvaro Vilhena (Viajar Tours)
O diretor geral do Mercado das Viagens quer, todavia, manter um espírito otimista, considerando que o turismo apesar disso tudo tem vindo cada vez mais a aproximar-se do nível das necessidades básicas para o ser humano”.
Espera-se, por isso, “que continue a haver espaço para as férias e para as viagens de negócio, incentivos, congressos e outros tipos de turismo, onde cada orçamento deverá ser ajustado à necessidade do momento”, defendeu o responsável.
Balanço 2022 – a recuperação
Ao fazer o balanço de 2022, o presidente da APAVT classifica-o de “mais do que positivo”, realçando que “quer no outgoing como no incoming, a palavra-chave foi «recuperação» e, mesmo sabendo que o mercado incorpora respostas assimétricas, de um modo geral os resultados de 2019 «estão aí» outra vez”.
Para as agências de viagens, segundo Pedro Costa Ferreira, 2022 “trouxe ainda um momento significativo de credibilização do sector, o processo de reembolso dos vouchers. Foi possível validar todos os passos que foram dados em direção à satisfação dos direitos dos consumidores e à sobrevivência das empresas”.
Hoje o turismo tem novas prioridades e para as entender é necessário perceber que não podemos voltar ao ‘velho normal’ e esse será o principal desafio como setor”, Tiago Encarnação (Lusanova)
Álvaro Vilhena, General Manager do operador turístico Viajar Tours, considera que 2022 foi, à semelhança de 2020 e 2021, um ano atípico, mas por motivos diferentes. Refere que “os primeiros meses do ano seguiram a tendência dos anos anteriores, com uma procura ainda muito residual e muitas incertezas, até que são levantadas as restrições mais “pesadas” e entramos numa nova fase: a procura ultrapassa largamente a oferta”.
Esta disparidade, precisou, “refletiu-se não só em termos de procura de clientes / oferta disponível no mercado, mas também na falta de recursos humanos nas empresas turísticas. Esta falta foi uma das principais causas do cancelamento de centenas, se não mesmo de milhares de voos (e numa altura em que as frequências de voos ainda estavam claramente abaixo dos valores de 2019), do facto de muitos hotéis e restaurantes não estarem a operar a 100%, ou de haver autocarros parados por falta de motoristas. A procura disparou, mas a capacidade de resposta – que poderia ter contribuído para uma retoma gradual do nosso setor – foi claramente insuficiente, desequilibrada e desajustada”, explicou.
Custo das viagens disparou
Reconhece que as vendas, em termos de volume de faturação, dispararam e, em alguns casos, para números próximos de 2019, mas tal “deveu-se muito mais ao preço das viagens, do que propriamente ao número de viagens contratadas. Os custos anormalmente elevados, reflexo de uma oferta claramente insuficiente, e da tentativa – que em alguns casos classificaria quase como “descarada” – por parte de alguns fornecedores em tentarem recuperar durante estes últimos meses aquilo que não conseguiram produzir durante os últimos dois anos, inflacionaram o valor de venda, mas acabaram por ser os responsáveis por uma capacidade de resposta inferior ao desejável”.
Tiago Encarnação considera que o setor está de parabéns. “Depois de dois anos de pandemia, e a despeito de muitas dificuldades que os trabalhadores e empresas tiveram de ultrapassar, o sector mostrou que é resiliente, sólido e mais do que nunca unido”, declarou o diretor Operacional da Lusanova, defendendo que, numa indústria com players tão diversos, a crise sanitária acabou por impulsionar a integração necessária para que a recuperação fosse uma realidade que representa mais de 15% da riqueza gerada no país”.
Com certeza que as famílias terão de avaliar o seu orçamento para poderem viajar, Luís Henriques (Airmet)
Não esquece que existiram muitos desafios ao longo deste período. “Muitos destinos continuaram fechados, outros foram abrindo as suas fronteiras gradualmente e não nos podemos esquecer da guerra da Ucrânia, que para além de todo o drama humanitário, teve um impacto imediato em outros destinos europeus”, destacou.
No entanto, mesmo assim, segundo este responsável, “a procura não parou de crescer ao longo de 2022 e mesmo que os números de 2019 não tenham sido alcançados, a verdade é que o saldo foi claramente positivo”.
Por sua vez, Luís Henriques, diretor geral da Airmet apontou que o ano de 2022 “foi realmente surpreendente”. Iniciou de uma forma muito tímida, em sua opinião, mas “após o primeiro trimestre foi bastante generoso com um setor que estava completamente sedento de atividade”. E conclui que, mesmo com todas as dificuldades decorrentes da inflação e da guerra da Ucrânia, como o aumento do preço dos combustíveis, “o ano acabou por ser um espetacular tónico para as dificuldades que todos antecipamos para 2023”.
Adriano Portugal explicou que a marca “Mercado das Viagens” finalizou o exercício com um balanço muito positivo e de acordo com as previsões feitas internamente no início de 2022. Embora os três meses iniciais se tenham pautado por alguma incerteza de como se iriam processar as vendas, mercê da possibilidade de novos surtos de Covid19 e um possível novo confinamento e depois o início da guerra na Ucrânia, “o mercado respondeu bem àquilo que eram as expectativas de todos para o período de retoma, e depois de um período muito negro e inaudito para todos os sectores da atividade económica”, evidenciou.
“Notamos que a “Mercado das Viagens” esteve acima dos números verificados em 2019, mas há fatores importantes a ter em conta nesta análise que nos permitiu chegar a conclusões muito interessantes: houve menos produto e também, mas não menos importante nesta análise, menos pessoas a viajar. Isto permitiu-nos concluir que o rácio de rentabilidade por venda pautou-se por um incremento muito positivo, o que resultou em melhorias óbvias nas contas de resultados da nossa rede”, explicou o diretor geral da rede.