Terminado 2022, que 2023 espera o turismo?
O ano de 2023 inicia-se, tal como 2022, sob o desígnio da “incerteza”. Se há um ano se iniciavam mais 365 dias com a variante Ómicron como tema, 2023 começa/continua com uma guerra, inflação crescente, subida de preços e taxas de juro em alta. Por isso, entre a certeza, a incerteza parece certa.
Victor Jorge
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Se há um ano se pensava que “pior não pode haver”, dada a incerteza que a variante Ómicron criava em todo o mundo, impactando o setor do turismo e das viagens, 2023 não começa de forma muito diferente, embora a causa ou as causas sejam outras e diversas.
Depois de passada a “tempestade” da COVID-19, graças aos planos de vacinação colocados em marcha em (praticamente) todo o mundo, Portugal incluído, o mês de fevereiro (de 2022) trouxe algo inesperado e que mantém grande impacto na realidade económico, social e financeira de todos nós.
Mas antes de olhar para os próximos 365 dias (que neste caso já não são 365), há que olhar um pouco para trás e perceber o que representou 2022 no setor do turismo e viagens. Para Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal (TdP), 2022 foi o ano da “retoma da atividade turística, a superar, inclusive, vários registos pré-pandemia como é o caso dos proveitos com crescimentos de 14% quando comparado com mesmo período de 2019”, confirmando o que o Banco de Portugal antecipara, já no Boletim de dezembro de 2021, ou seja, um crescimento de 84,8% para 2022, valor que se aproxima das previsões estimadas para 2024.
Este crescimento não se fez sem a vinda de milhares, ou melhor, milhões de turistas, destacando Luís Araújo, em termos absolutos, entre janeiro e outubro de 2022, os 23,7 milhões de passageiros (domésticos e internacionais) processados nos aeroportos nacionais, frisando que “a capacidade área com destino a Portugal está muito próxima de 2019”, prevendo a entidade a que preside que, no último semestre de 2022, os números fiquem “acima daquele ano [2019]”.
Os sinais dos mercados continuam a ser positivos e a indiciar um crescimento do setor em 2023, Luís Araújo (Turismo de Portugal)
No que diz respeito aos mercados emissores, o presidente do TdP destaca os Estados Unidos da América (EUA), Irlanda e Itália, com aumentos acima de 2019, com maior enfoque nos EUA, cujo crescimento esteve muito perto dos 40% (38,2%).
E se é preciso ter presente que “estamos a falar do setor mais afetado pela pandemia de COVID-19”, Luís Araújo salienta que “estes dados ganham ainda significado maior”. Para terminar o ano de 2022 de forma positiva, o presidente do TdP destaca ainda “o reconhecimento de Portugal como destino de excelência celebrado ao mais alto nível” com a conquista de mais 12 ‘Óscares’ no World Travel Awards.
A recuperação das viagens é também atestada por Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), salientando que “o turismo recuperou antes do que esperávamos”, confirmando que “este será o melhor ano turístico de sempre em Portugal, acima de 2019”.
De resto, os stakeholders do setor do turismo e viagens são unânimes em destacar o “ano turístico verdadeiramente excecional”, como refere Berta Cabral, secretária Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas dos Açores, considerando que “era o que todos precisávamos depois de dois anos de pandemia”.
No caso dos Açores em concreto, em termos agregados, Berta Cabral admite poder vir a atingir “marcos históricos”, já que os números mostram que a região está “20% acima do melhor ano de sempre”, registando, igualmente, que “há incrementos na procura fora da época alta, com efeitos na curva de sazonalidade”, o que salienta, “é ótimo para toda a cadeia de valor”.
O turismo recuperou antes do que esperávamos, Francisco Calheiros (CTP)
Ainda nas ilhas, Eduardo Jesus, secretário Regional de Turismo e Cultura da Madeira, frisa que 2022 foi “um ano excecional em termos dos resultados turísticos”, considerando que o ano que terminou foi “o consolidar” de uma estratégia implementada durante o período pandémico, o que o leva a referir que: “os resultados estão à vista”.
Das ilhas para o Continente, Vítor Costa, diretor-geral do Turismo de Lisboa e presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa, admite que o ritmo da recuperação da atividade turística na Região de Lisboa “surpreendeu pela positiva”, já que os números pré-pandémicos só eram esperados “em 2024”. E se ao nível dos passageiros desembarcados no aeroporto da capital, hóspedes e dormidas Lisboa ainda ficou abaixo de 2019, Vítor Costa destaca “os indicadores mais qualitativos como proveitos, preço médio de quarto vendido ou RevPar”, itens onde “devemos terminar o ano cerca de 14% acima de 2019”.
Considerando, no entanto, que se verificaram “significativos aumentos de custos como mão-de-obra, energia e outros fornecimentos”, Vítor Costa estima que “a riqueza gerada pelo Turismo em Lisboa possa ter crescido entre 5% a 7%”.
Viajando até mais a Sul, Vítor Silva, presidente do Turismo do Alentejo, considera que “2022 superou as melhores expectativas”. E se em termos de proveitos 2022 será “o melhor ano de sempre”, Vítor Silva admite que “ainda nos falta recuperar totalmente alguns mercados externos”.
Alcançámos em 2022 o que esperávamos alcançar em 2023, 2024, ou mesmo 2025, e isso é extraordinário, João Fernandes (Algarve)
Continuando a viagem para Sul, João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve, frisa que “vindos de dois anos de pandemia e chegados a um conflito entre a Rússia e a Ucrânia, tivemos, ainda assim, um desempenho muito acima das melhores expectativas”. Isto porque “alcançámos em 2022 o que esperávamos alcançar em 2023, 2024, ou mesmo 2025, e isso é extraordinário”.
Ao centro, Pedro Machado, presidente da Turismo do Centro, também faz um balanço “francamente positivo”, tendo a região conseguido “consolidar o crescimento do mercado interno”, sublinhando mesmo subidas de “mais de 100% em partes importantes do território”. Pedro Machado destaca ainda o facto de as empresas de atividade turística do Centro de Portugal terem conseguido “ultrapassar os obstáculos que surgiram ao longo do ano, com maior ou menor dificuldade”, reconhecendo que “o tecido económico está em franca recuperação e a preparar-se devidamente para os desafios de 2023”.
Salientado é, também, de a região ter “alargado a oferta do Centro de Portugal na estruturação de novos produtos e no fortalecimento de produtos tradicionais”, de que são exemplos o turismo industrial, o ecoturismo, o enoturismo, o turismo religioso ou a arte urbana, entre outros, admitindo Pedro Machado que esta diversificação “consagra o Centro de Portugal como destino de eleição, não só para o mercado interno, mas também para os mercados externos”.
Finalmente, o presidente da Turismo do Centro realça o reconhecimento nacional e internacional que a região obteve, em 2022, com as distinções de “Melhor Região de Turismo Nacional” nos Publituris Portugal Travel Awards, “Melhor Stand Profissional de Turismo” na BTL ou o terceiro lugar no “Concurso Internacional de Filmes de Turismo” a nível mundial, na categoria Regiões.
O tecido económico está em franca recuperação e a preparar-se devidamente para os desafios de 2023, Pedro Machado (Centro)
No campo dos Congressos, Animação Turística e Eventos, António Marques Vidal, presidente da APECATE, refere o “excelente ano”, permitindo “recuperar algumas perdas dos dois anos de pandemia”. Contudo, não deixa de referir que “o ano que agora terminou “não colmatou os prejuízos de dois anos”, mas reconhece que “permitiu consolidar o destino Portugal”.
Futuro incerto
Mas se o balanço relativamente ao ano que terminou é, unanimemente, considerado positivo, as perspectivas sobre o que aí vem requer um otimismo mais moderado. Ao longo, principalmente, do último trimestre de 2022, a palavra “incerteza” esteve presente em todos os fóruns, conferências, congressos, estudos e/ou análises e é reiteradamente destacada pelos profissionais ouvidos pelo Publituris. Assim, os tempos que correm são de grande incerteza face aos desenvolvimentos da guerra na Ucrânia, ao crescimento da inflação e à desaceleração da economia em termos globais, mas ainda assim, Luís Araújo diz que os sinais dos mercados “continuam a ser positivos e a indiciar um crescimento do setor em 2023, que, no espaço europeu, se estima em 9,7%”, de acordo com uma publicação da European Travel Commission (ETC), “Tourism Economics”.
Para este otimismo, o presidente do TdP refere ainda outro estudo da ETC, da qual é também presidente, e que prevê que 70% dos europeus realizem uma viagem nos próximos seis meses, o que segundo o mesmo, “são sinais que antecipam boas perspetivas”.
Para Francisco Calheiros, 2023 deverá ser um ano “dentro do que foi 2022”, embora assinale a inflação, taxas de juro e preços da energia e combustíveis como elementos que nos fazem viver na tal “conjuntura de muita incerteza”, considerando, no entanto, que “teremos de certeza em Portugal a continuação e até o reforço de uma oferta turística diversificada e de qualidade”.
O ano que agora terminou não colmatou os prejuízos de dois anos, mas permitiu consolidar o destino Portugal, António Marques Vidal (APECATE)
“Otimismo moderado”, é como Berta Cabral se refere a 2023, frisando que “as pessoas vão continuar a viajar, mas restará saber para onde, como, quando e durante quanto tempo”. Por isso, salienta, “é algo que será necessário acompanhar”. Nos Açores, no entanto, “confiamos que a proposta de valor e o posicionamento que temos vindo a trabalhar permitirão continuar o incremento da notoriedade e da atratividade do destino, com base na sustentabilidade, proximidade, aventura e genuinidade”, afirma.
Na Madeira, Eduardo Jesus reconhece que a atual conjuntura “irá inibir as viagens mais longas”. No entanto, afirma que, em 2023, “voltaremos a assegurar um dos maiores orçamentos de sempre para a promoção do destino Madeira, manteremos o trabalho que está a ser realizado em termos da Estratégia do Turismo para a Região, aprovada em 2022 e que está em vigor até 2027, e contamos concluir o processo de certificação para a sustentabilidade do destino em fevereiro de 2023”.
Se no Alentejo Vítor Silva acredita que 2023 será “um bom ano para o turismo”, apesar dos “grandes fatores de incerteza” iniciados em 2022 e que transitam para 2023, Vítor Costa diz que “não é possível prever, neste momento, o real impacto destes fatores”. Contudo, com a experiência de outras crises económicas a mostrarem que “os consumidores reduzem as viagens em caso de diminuição dos seus rendimentos”, salientando a “relação direta entre rendimentos e turismo”, Vítor Costa refere ainda os “fatores psicológicos que podem afetar especialmente mercados europeus, que representam 80% da nossa clientela”. Por isso, assinala, por exemplo, “o comportamento negativo do mercado alemão, em 2022”, que já indicia esta situação. No fundo, admite, “os europeus sabem que têm que pagar a guerra e que ela está à porta”.
Para Pedro Machado, 2023 começa com “ameaças, à semelhança do que acontece todos os anos desde 2020”, acreditando, no entanto, que 2023 “poderá ser um ano de continuidade na recuperação que se iniciou em 2021 e prosseguiu em 2022”. A “crença” de Pedro Machado está alicerçada em indicadores “muito positivos” no Centro de Portugal, dando como exemplo os campos de golfe da região que, nalguns casos, têm já pré-reservas para 2023 superiores a 2022, em valor e em número. Por isso, admite, “se Portugal fizer bom uso dos fundos comunitários disponíveis, nomeadamente se o PRR reverter para as empresas e se o novo Programa Operacional trouxer instrumentos financeiros que possam ajudar as empresas – que são o músculo da atividade turística – então acredito que 2023 será um ano com bons resultados”, termina.
As pessoas vão continuar a viajar, mas restará saber para onde, como, quando e durante quanto tempo, Berta Cabral (Açores)
“Desafiante, mas com oportunidades”. É desta forma que João Fernandes olha para o ano que agora se inicia. E se os desafios são conhecidos, as oportunidades podem, ou devem, estar na “promoção”. Até porque, considera, “sem tanta disponibilidade financeira, é expectável que os turistas optem por viagens mais curtas, devido aos custos mais elevados que representam as deslocações de longa distância”. Assim, o Sul da Europa será uma preferência entre os europeus e aqui o Algarve “pode destacar-se”, porque “somos um destino reconhecidamente seguro e oferecemos uma melhor relação qualidade/preço, fatores que poderão ser determinantes nas preferências dos turistas”, admite o presidente do Turismo do Algarve.
E para essa captação de turistas contribui a “diversificação da oferta” algarvia e o aproveitamento de fatores como o preço da energia que poderá levar ao crescimento de estadias de longa duração de “reformados, trabalhadores remotos ou nómadas digitais”.
Outro sinal positivo é a consolidação do Algarve enquanto palco de grandes eventos desportivos, com a realização, novamente, do Grande Prémio de Portugal de MotoGP, que é um “add-on muito interessante”. “A primeira prova do campeonato de MotoGP acontece este ano no Algarve, em finais de março, o que vai gerar certamente muito entusiasmo, e ainda estamos a tentar trazer a Fórmula 1”, reconhecendo João Fernandes que, se isso acontecer, “será obviamente um boost para este período mais exigente em termos de procura”.
Desafios a enfrentar
Por norma, incertezas trazem consigo desafios, sendo que Luís Araújo assinala que, já em janeiro, o Governo irá disponibilizar uma nova linha de apoio com uma dotação de 30 milhões de euros, que permitirá às micro-empresas financiarem-se, junto do Turismo de Portugal, com um prazo total de reembolso de seis anos.
“Inovação, formação, sustentabilidade”. Estas são as três linhas-chave que orientam a estratégia de Portugal no plano turístico e, mesmo perante um contexto muito complexo, “devemos concentrar aí as nossas atenções principais”, salienta o presidente do TdP.
Em matéria de inovação, o Programa FIT – Fostering Innovation in Tourism continuará, em 2023, a dinâmica “imparável” desde o seu lançamento, em 2016, tendo os mais de cinco milhões de euros investidos, até à data, permitido estruturar uma rede com 47 incubadoras e aceleradoras, o desenvolvimento de 69 programas de ideação, aceleração e inovação aberta envolvendo mais de mil startups e projetos tecnológicos e não tecnológicos, a participação de 56 startups nacionais em nove feiras internacionais de turismo, o investimento de cerca de 500 mil euros pela Portugal Ventures em quatro startups em 2019 e 2020, e a concretização de 11 contratos comerciais entre startups e empresas ligadas ao setor do turismo na sequência da sua participação em programas de inovação aberta em 2020 e 2021.
Os europeus sabem que têm que pagar a guerra e que ela está à porta, Vítor Costa (Lisboa)
No capítulo da formação e da valorização das profissões, Luís Araújo sublinha o programa “Formação +próxima”, de que resultam, até agora, 107 protocolos firmados com Municípios, envolvendo 128 ações e um total de 2.300 participantes.
Já quanto ao terceiro vetor estratégico, o compromisso é “acelerar o crescimento sustentável das empresas turísticas”. Lançado em 2020 e projetando-se muito para além de 2023, o “Plano Turismo +Sustentável 20-23” contribui para promover uma oferta “mais distintiva” e acelerar o crescimento sustentável das empresas do setor. “Empresas com o futuro bem presente, determinadas que estão em melhorar os seus resultados com menor pegada ambiental e maior contributo positivo na sociedade – e o turismo não pode ser exceção, tem de ser exemplo”, refere Luís Araújo.
Ainda no contexto da sustentabilidade, o presidente do Turismo de Portugal considera ser “imperativo” destacar o “Programa Empresas Turismo 360º”, pelo seu “compromisso de monitorização, melhoria e responsabilidade face ao turismo do futuro”. Modelo operacional orientado para o apoio às empresas na integração dos fatores ESG (Environmental, Social and Governance), o “Turismo 360” regista já 74 empresas aderentes, com perfil diferenciado e atuando nas áreas do alojamento, restauração, animação, termas, agências de viagem e rent-a-car, representativas, no seu conjunto, de um universo que supera os 15 mil colaboradores e um volume de negócios estimado em dois mil milhões de euros.
E se estas são mais linhas de apoio que permitirão ao setor do turismo e às empresas enfrentarem os desafios que surgirão, Francisco Calheiros refere a “continua adaptação da atividade turística às questões que se prendem com a sustentabilidade, com os avanços tecnológicos e a resposta às novas necessidades e objetivos dos turistas”. Contudo, o presidente da CTP não deixa de apontar o novo aeroporto, bem como o futuro da TAP e a falta de mão de obra como “grandes desafios para o turismo em 2023”. E lembre-se, relativamente ao novo aeroporto, o contador que a confederação lançou, em julho de 2022, já soma 550 milhões de euros em valor perdido pela não decisão de um novo aeroporto para a região de Lisboa.
Será necessária uma adaptação da oferta mediante as necessidades do mercado, Eduardo Jesus (Madeira)
Se os desafios podem criar oportunidades, como já apontadas pelo presidente do Turismo do Algarve, também Berta Cabral aponta a grave crise internacional como algo a aproveitar, já que criarão “alterações nos fluxos de viajantes”. Contudo, a “pressão inflacionista”, com a consequente diminuição do poder de compra das famílias, acoplado à subida das taxas de juro que “reduzirá a disponibilidade para o consumo de viagens e lazer”, Berta Cabral indica, simultaneamente, que a crise energética e o resultante aumento do preço dos combustíveis “não ajudam a toda esta conjuntura, deixando o setor do turismo numa encruzilhada entre o incremento de gastos operacionais e o surgimento de novas exigências europeias no que concerne à transição energética e ao custo que isso poderá acarretar”.
No que respeita estruturalmente ao setor, a secretária Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas dos Açores admite que “continuaremos a sentir algumas lacunas na disponibilidade de mão-de-obra, em particular a qualificada, para além de subsistirem dificuldades financeiras nas empresas, sobretudo nas mais pequenas e frágeis, que ainda não recuperaram totalmente dos dois anos de pandemia”. Porém, “abrem-se outras perspetivas, sabendo que em 2023 teremos, finalmente, disponíveis os fundos comunitários 2021-2027, que poderão trazer oportunidades de financiamento e investimento ao setor”. Desta forma, diz Berta Cabral, “será preciso investir na transição energética, numa verdadeira transição digital, com a devida literacia, e na qualificação rápida e eficaz de mão-de-obra”, concluindo ser “fundamental que exista a perceção da importância que estes desafios terão no setor do turismo e que é preciso um acompanhamento cabal do mesmo”.
Para os próximos tempos, Eduardo Jesus acredita que será necessária uma “adaptação da oferta mediante as necessidades do mercado”, referindo, por sua vez, Vítor Silva que “a recuperação total dos mercados externos e a falta de mão de obra no setor, que ameaça a manutenção do nível de qualidade dos serviços que prestamos aos nossos turistas”, são os principais desafios a vencer”.
A recuperação total dos mercados externos e a falta de mão de obra no setor, que ameaça a manutenção do nível de qualidade dos serviços que prestamos aos nossos turistas, são os principais desafios a vencer, Vítor Silva (Alentejo)
Mais resumido é Vítor Costa que aponta “somente” a “viabilização do turismo através dos clientes e não através de programas de apoio como aconteceu durante a pandemia” como apenas um desafio para 2023. Não desvalorizando os apoios públicos criados na pandemia, “porque foram eles que salvaram o setor”, nem a necessidade de continuarem a existir programas, Vítor Costa frisa que “o foco tem que ser nos clientes”, já que “só o regresso em força dos clientes pode dar sustentabilidade à atividade turística”.
A inflação é, para Pedro Machado, o “principal desafio para 2023, reconhecendo que “faz disparar os custos operacionais” e que “já está, neste momento, a condicionar mercados como Espanha, Alemanha ou Reino Unido, que estávamos habituados a ver florescer”. Perante este cenário, Pedro Machado considera que os empresários do setor do turismo “têm de manter as suas margens de lucro muito abaixo do que seria desejável, não refletindo nos clientes o aumento dos custos operacionais”. Ou seja, “é um esforço hercúleo para as empresas, em especial para as de menor dimensão”.
A escassez de mão de obra é outro “enorme desafio”, que já vem de antes da pandemia “e que não dá mostras de poder ser vencido em breve”, o que poderá fazer com que se repita “o cenário de unidades turísticas sem capacidade de responder à procura, como aconteceu no verão passado”.
Assim, a conjugação destes dois fatores vai, segundo o presidente da Turismo do Centro, “pôr, mais uma vez, à prova a resiliência dos nossos empresários”.
Além dos desafios já apontados, João Fernandes acrescenta as anunciadas greves em companhias aéreas e estruturas aeroportuárias ou em empresas de transportes rodoviários que poderão constituir “entraves que merecem a nossa atenção e preparação para agir”.
Finalmente, António Marques Vidal segue o mesmo diapasão, referindo que “os desafios são vários, desde o superar a diminuição de clientes, aumento da inflação e crise económica, continuando a lutar pelos principais objetivos como a diminuição dos custos de contexto, redução do IVA para o sector dos Congressos, Eventos e Animação Turística, a luta do Ordenamento Sustentável, envolvendo as múltiplas tutelas que são ineficientes em relação â resolução desta problemática e a melhoria do funcionamento das parcerias entre o sector publico e o sector associativo”.