As propostas da candidata Bebiana Cunha (PAN) para o turismo do Porto
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Victor Jorge
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Que importância possui o turismo para a cidade do Porto?
Diríamos que o turismo tem uma marca significativa quer pelo que traz para a economia da cidade e da região, quer pela pegada ecológica e social que nos deixa. O papel do turismo, deve ser reconhecido, mas não pode politicamente ser visto como tábua de salvação da cidade, por variadíssimos motivos. Logo, um equilíbrio tem de ser encontrado, não se pode perseguir um turismo desregrado e de exploração desenfreada como o que já aqui tivemos antes da crise sanitária.
Que medidas merecem a sua aprovação e o que foi feito que, sob a sua liderança, não seria realizado? O que teria feito de diferente durante este período pandémico e como antevê o regresso à tão desejada “normalidade” do turismo na cidade do Porto e quais os principais desafios esperados?
A taxa turística foi uma medida que defendemos como forma de financiamento das políticas municipais e que veio a ser implementada. Porém, não foi implementado nem desenvolvido o cálculo de uma carga turística no Porto, nem o turismo foi pensado no médio e longo prazo. Não houve uma estratégia de diversificação turística, nem uma seleção de turistas, apostou-se no turismo em modo fast-food, no qual não nos revemos, transformando o Porto num palco ‘low cost’, isto quando o Porto merece ser tratado de forma diferente, com outra dignidade. Desta perspetiva liberal do turismo que nos foi vendida como sinónimo de liberdade, demarcamo-nos dela e não a faríamos assim, porque liberdade significa respeito por todos, inclusive pelos que querem morar no Porto.
Durante o período pandémico, o executivo deveria ter planeado com o setor uma forma diferente de fazer turismo, numa perspetiva plurianual 2021-2025, um plano estratégico para este regresso à dita normalidade. Este tem de ser também ambientalmente adequado. Acontece que o turismo pensado à moda do século XX é uma política demasiado frágil. O Porto precisa de um executivo com um plano estratégico de turismo pensado para os diferentes segmentos turísticos, que nos vêm visitar. O executivo abdicou de fazer o regulamento do alojamento local, mas também abdicou de construir uma cidade turística que não a transforme num local amorfo.
Questões como a sustentabilidade, overtourism, segurança, digitalização e mobilidade, estão na ordem do dia no turismo. Que propostas tem para estes pontos (e outros) em concreto?
Para o PAN é claro que nenhuma atividade económica poderá ser sustentável se não respeitar os limites do planeta. O turismo, no Porto, não pode crescer infinitamente. Crescer assim nunca será sustentável pois os nossos recursos são finitos.
Logo, terá de haver, desde logo, um limite de visitantes. Em especial se usarem meios de transporte que deixem uma enorme pegada ecológica (meios aéreos e marítimos).
Paralelamente, deveremos incentivar o turismo interno, da Península e da UE, em especial aquele que nos pode chegar via ferrovia e por isso temos defendido ligações nacionais e internacionais eficientes, respostas estas que são necessárias para ontem.
Um plano estratégico para o turismo tem de incluir critérios ambientais, a mobilidade turística, a inovação e a cultura, isto numa visão de ordenamento de território, enfim, Barcelona começou a fazer isso em 2020 depois do caos instalado durante muitos anos. Os modelos de gestão turística têm de contemplar aspetos como o ambiente, a mobilidade, a habitação, caso contrário serão políticas ocas e artificiais que irão inchar até estourar. A própria taxa turística pode servir como regulador desta atividade. Por exemplo, ser mais elevada para quem vem ficar apenas de 2 a 4 dias, sendo mais baixa para quem ficar mais de cinco dias.
O que falta fazer na cidade do Porto no que diz respeito ao turismo e que já deveria estar ou ter sido feito?
Falta planeamento estratégico também neste aspeto. Aliás no Porto falta, em geral, isso mesmo. Analisar e planear estrategicamente.
Queremos apostar num turismo de qualidade e num turismo responsável. Assim, propomos um pelouro especificamente para o efeito. Sabemos que temos de apostar num turismo diversificado, o que não aconteceu. Sabemos que a inovação e a cultura serão fatores determinantes no selecionar de determinados públicos-alvo. Queremos um turismo que beneficie a cidade e os portuenses e não um turismo que beneficie apenas alguns. É a isso que nos propomos quando dizemos que queremos um gabinete específico para trabalhar políticas para o “turismo responsável”, ou seja, para encontrarmos o equilíbrio necessário.
Eleito presidente, quais as primeiras e principais medidas a tomar em benefício do e para o turismo da cidade do Porto?
Segundo os últimos dados divulgados, o período do verão tem marcado o regresso do turismo às cidades da região do Porto e Norte de Portugal, onde a taxa de ocupação nos empreendimentos turísticos estará a rondar os 50%, Sabemos também que há uma ambição do setor de “voltar à normalidade de 2019”, mas, desafiamos o setor a aceitar que se faça um estudo de capacidade de carga turística no Porto, estando disponíveis para co-construir um plano estratégico de turismo responsável, inovador e diversificado na cidade. Queremos co-construir a estratégia para o turismo, com o setor, com a participação cívica, queremos reorientar as ações de promoção turística do município para territórios próximos e em regiões acessíveis por comboio, e com enfoque em atividades com baixo impacto ambiental. Queremos estabelecer, quer no município, quer em articulação com os concelhos limítrofes, um roteiro turístico diversificado em toda a região investindo num turismo de longa duração/sustentável e não num turismo “fast food”. Queremos criar um programa municipal de auxílio aos profissionais ligados ao setor do turismo que estejam em situação de desemprego há mais de um ano. É verdade que defendemos um turismo com limites, e para isso terá de haver regras, a própria taxa turística como referi pode ser mais elevada nos primeiros dias e baixar a partir do quinto dia. Terá de haver limites ao número de alojamentos turísticos por área na cidade, pois sem um Porto real, habitado, esse será só um turismo faz de conta, ou seja, a cidade não pode deixar de estar deserta de habitantes, para estar cheia de turistas. Acresce ainda a necessidade de regular o turismo fluvial e valorizar o rio Douro, assim como para tal, queremos que saia da gaveta o plano de gestão do estuário do Douro e a retoma da travessia fluvial Porto-Gaia, em barco elétrico, que servirá residentes e turistas.