Incêndios, polémicas e crises. Assim foi 2017
Recorde os acontecimentos que fizeram história na actualidade turística nacional e internacional ao longo de 2017.
Carina Monteiro
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Em ano de visita do Papa Francisco ao Santuário de Fátima foram os incêndios que deflagraram no Centro de Portugal que chocaram o País e levaram ao maior movimento solidário visto nos últimos anos. Mas as consequências, essas, ficarão para sempre. Morreram 110 pessoas e 59 municípios da região Centro foram afectados, perderam-se vidas, casas, animais, empresas e postos de trabalho. Uma tragédia que colocou a nu as fragilidades do País no que diz respeito à protecção civil. Enquanto se tenta, embora devagar, recuperar a vida dos que foram afectados, as ilações retiradas desta tragédia ainda eram muito poucas até à data de fecho desta edição. Eram, porque, em Dezembro, o Ministério Público constitui Augusto Arnaut, comandante dos Bombeiros de Pedrógão, e Mário Cerol, comandante do Centro Distrital de Operações de Socorro de Leiria, arguidos, indiciados por homicídio por negligência e ofensas corporais por negligência. Os nomes de mais arguidos deverão ser revelados nos próximos dias.
Lá fora, a crise política na vizinha Espanha, com a região da Catalunha a pedir a independência num referendo considerado ilegal pelo governo de Madrid, está longe de estar resolvida. O que parece estar mais perto de se resolver é a saída do Reino Unido da União Europeia, uma vez que ambas as partes anunciaram, já neste mês de Dezembro, um princípio de acordo sobre os termos de saída, que, ao confirmar-se, fará com que os britânicos paguem uma factura entre os 45 e os 55 mil milhões de euros, face aos 60 mil milhões apontados inicialmente.
Recorde os acontecimentos que fizeram história na actualidade turística nacional e internacional ao longo de 2017.
Políticas Turísticas
Foi na FITUR, feira de turismo de Madrid, em Janeiro, que a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, anunciou a realização de um roadshow de captação de investimento internacional a ter início logo em Fevereiro. O objectivo? Mostrar as oportunidades e as vantagens que existem em investir em Portugal. A China foi o primeiro país a ser visitado. Depois, seguiram-se a Índia, Coreia do Sul, Cuba, Rússia, EUA e Canadá.
Enquanto isso, lá fora, a Organização Mundial do Turismo mostrava-se “profundamente preocupada” com a recente proibição de viagens dos EUA aos cidadãos de sete países (Chade, Iraque, Síria, Sudão, Líbia, Somália e Iémen). A decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, anunciada no início do ano, esbarrou com a oposição dos tribunais. Mas, neste mês de Dezembro, o Supremo Tribunal dos EUA deu luz verde à administração Trump para proibir as viagens a seis países de maioria muçulmana.
O actual momento político vivido nos EUA e na Europa, assim como a segurança e a sustentabilidade dos destinos, foram temas abordados na entrevista que Taleb Rifai, secretário-geral da OMT, concedeu ao Publituris na sua visita oficial a Portugal, em Fevereiro deste ano. O responsável, que entretanto terminou o seu mandato, tem a profunda convicção que “nada irá travar o Turismo”. Foram muitos os elogios que Taleb Rifai deixou ao País e à tutela do Turismo em Portugal. Nem de propósito, poucos dias depois, o Portugal, concretamente o Porto, recebeu nova distinção. A cidade foi eleita, por votação, o Melhor Destino Europeu 2017. Os portuenses não gostaram da forma como o Turismo de Portugal (TdP) lidou com distinção e mostraram o seu desagrado nas redes sociais, mas a polémica foi desvalorizada pouco tempo depois pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, e pelo presidente do TdP, Luís Araújo.
A Bolsa de Turismo de Lisboa, o maior evento turístico do País, costuma ser o palco escolhido para o anúncio de várias medidas da tutela. 2017 não foi excepção. O Turismo de Portugal assinou um protocolo com 12 instituições bancárias e a Portugal Ventures, que permitiu o reforço da Linha de Apoio à Qualificação da Oferta com mais 75 milhões de euros. Além do reforço do montante, a nova Linha apresentou uma novidade. Contou com o apoio da capital de risco Portugal Ventures, que através de um novo instrumento financeiro, o Turismo Crescimento FCR, disponibilizou 15 milhões de euros.
Também na BTL foi apresentada a Estratégia de Turismo 2027, o documento onde constam as linhas orientadoras do Governo para o Turismo nos próximos 10 anos. As metas definidas propõem-se a duplicar as receitas turísticas, passando de 12,7 mil milhões de euros em 2016 para 26 mil milhões de euros em 2027 e estimular a procura turística no País e nas várias regiões, aumentando o número de dormidas de 53,5 milhões (2016) para 80 milhões.
A nível regional, a Associação de Promoção da Madeira apresentou, durante a BTL, uma campanha que consistia na oferta, por parte do destino, de uma ou duas experiências: uma para estadias de três noites e outra para cinco noites.
Esta campanha era válida para todos aqueles que comprassem uma viagem à Madeira ou ao Porto Santo de 15 de Março a 30 de Junho deste ano e teve como objectivo aumentar as vendas durante um período onde o fluxo turístico é mais baixo.
O mês de Abril trouxe-nos alguns anúncios: a regata internacional Volvo Ocean Race regressaria a Lisboa em Outubro para a sua terceira passagem pela capital portuguesa. Paralelamente, o grupo editorial Condé Nast anunciou a escolha de Lisboa para palco da CNI Luxury Conference, iniciativa que será dedicada aos segmentos do luxo e da moda, e que terá lugar a 18 e 19 de Abril de 2018, trazendo a Lisboa cerca de 500 participantes.
O mês de Maio ficou, indiscutivelmente, marcado pela visita do Papa Francisco ao Santuário de Fátima, por ocasião das comemorações do seu centenário. O Santo Padre é uma figura acarinhada por católicos, e não só, e isso ficou patente pela forma efusiva como foi recebido no nosso País. O fim-de-semana de 12 a 14 de Maio foi de sonho para muitos portugueses. Além da vinda do Papa a Portugal, Salvador Sobral ganhou o Festival da Eurovisão da Canção, trazendo o prémio para o País pela primeira vez. Discutiu-se depois onde seria realizado o Festival em 2018, já que o País, ao ganhar o concurso, tornou-se anfitrião da próxima edição. A escolha recaiu no Altice Arena, em Lisboa.
“Can’t Skip Portugal” foi o nome dado à nova campanha de promoção lançada pelo Turismo de Portugal em Maio deste ano e que envolveu um investimento de 10 milhões de euros. A campanha teve por base quatro filmes e passou exclusivamente em meios digitais, promovendo Portugal nos mercados do Reino Unido, Alemanha, França, Espanha, Brasil, EUA, China, Holanda, Itália, Irlanda, Rússia, Canadá, Índia, Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Áustria, Bélgica e Polónia.
“Can’t Skip Portugal aposta na mensagem de que já não há como passar ao lado de um destino como este: autêntico e único, com tanto para ver, provar, sentir e experimentar. É deste raciocínio que nasce o mote da campanha”, explicava o TdP em comunicado.
No início de Junho, a Confederação do Turismo Português (CTP) realizou uma visita de trabalho a Bruxelas com um conjunto de empresários e associados ligados à actividade turística. O objectivo foi reforçar as relações dos agentes do Turismo com as instituições europeias, através de um conjunto de reuniões e encontros com entidades como o Comité das Regiões Europeu e Comité Económico e Social Europeu, entre outras
Enquanto isso, o Publituris, com o apoio da TAP, trouxe a Portugal 35 buyers internacionais, naquela que foi a 4ª edição do evento Publituris Portugal Meeting Forums. Os compradores vieram conhecer a oferta portuguesa no segmento de Meeting Industry e ficaram surpreendidos com as potencialidades do País.
Incêndios no Centro de Portugal
Os incêndios no Centro do País foram a maior tragédia ocorrida em Portugal nos últimos anos. Foram dois dias fatais, primeiro a 17 de Junho, vitimando 65 pessoas e, depois do Verão, a 15 de Outubro, 45 pessoas perderam a vida. No caso de Outubro, foi a combinação explosiva entre condições climatéricas atípicas para a época e a falta de meios no terreno que provocaram uma nova tragédia, que já ninguém esperava depois do horror vivido a 17 de Junho. Novo golpe sobre uma região já de si fragilizada, mas que nunca baixou os braços. As ajudas e os movimentos solidários não tardaram a chegar e vieram de todos os quadrantes, e, obviamente, do sector turístico. A Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) e o Turismo do Centro de Portugal anunciaram o lançamento de um site com sugestões de visita na zona Centro de Portugal. A tutela do Turismo lançou a campanha “Faça um plano pelo Centro de Portugal”. A campanha desafiava os portugueses a fazerem férias na região Centro e a captarem alguns momentos em vídeo, tendo as imagens sido depois utilizadas nos filmes realizados por Diogo Morgado, Ruben Alves, Pedro Varela e Edgar Pêra, os quatro realizadores portugueses convidados pelo TdP para se juntarem à iniciativa.
Já em Outubro, o Governo decidiu avançar com um conjunto de medidas que visavam apoiar a reposição da actividade turística e os empresários afectados pelos incêndios na zona Centro, de modo a contribuir para um rápido restabelecimento da actividade na região.
Uma das medidas foi a duplicação do orçamento do Programa Valorizar para a Dinamização Turística do Interior, passando de 30 para 60 milhões de euros.
Poderá dizer-se que este foi um Verão quente para a actividade turística, na medida em que o sector teve de lidar com algumas ‘crises’. Em Lisboa, a Câmara Municipal decidiu impôr restrições à circulação dos autocarros em zonas históricas da cidade. A medida mereceu uma resposta da CTP, que, em nome dos operadores turísticos, pediu a suspensão da decisão para se poder reavaliar o seu impacto económico na actividade turística.
Aqui ao lado, bem perto da realidade portuguesa, a Catalunha sofreu dois ataques terroristas, a 17 de Agosto, que vitimaram 16 pessoas, entre as quais duas turistas portuguesas que se encontravam em Barcelona. Em Outubro, novo alvoroço nas ruas da Catalunha, desta vez pela convocação de um referendo para decidir a independência da Catalunha de Espanha. O referendo aconteceu contra a vontade do Governo Central de Espanha e o próprio parecer do Tribunal Constitucional. Houve confrontos na rua e mais tarde o Governo da Catalunha foi destituído e o seu presidente, Carles Puigdemont, saiu do país para Bruxelas.
Ainda no Verão, o Furacão Irma, que afectou países como a República Dominicana ou Cuba, destinos muito procurados pelos portugueses, trouxe algumas dores de cabeça aos operadores turísticos e às agências de viagens. Em alguns casos, as operações tiveram mesmo de ser suspensas.
Nem tudo foram rosas para a actividade turística no Verão, como se pode ver pelos acontecimentos anteriores, mas também houve boas notícias.
O Porto voltou a receber a Red Bull Air Race, que decorreu a 2 e 3 de Setembro, e levou a elevados níveis de ocupação da hoteleira portuense. Em Outubro, o TdP foi eleito para a presidência do Comité do Turismo da OCDE e o Turismo do Algarve apresentou a 2ª edição do Programa Algarve 365.
O ano não terminou sem antes haver uma polémica relacionada com o Web Summit. A grande conferência de tecnologia realizou-se pelo segundo ano consecutivo em Lisboa, mas a notícia que fez correr tinta nos jornais foi a realização de um jantar no Panteão. A indignação popular foi de tal ordem, que o Governo decidiu proibir a realização de eventos desta natureza naquele espaço.
A finalizar o ano, a Secretaria de Estado do Turismo ressuscitou a Conta Satélite do Turismo (CST), que estava inoperacional há sete anos. Este instrumento volta a estar disponível e a fornecer dados para melhor “planear, agir e corrigir” as estratégias definidas para o Turismo nacional, quer em termos de medidas políticas, como para o sector empresarial, referiu Ana Mendes Godinho na apresentação dos resultados da CST e do Inquérito ao Turismo Internacional, que é também relançado dez anos depois.
Lá fora, é caso para dizer que contra tudo e contra todos, a decisão de Donald Trump de reconhecer unilateralmente Jerusalém como capital de Israel caiu como uma bomba na Palestina, agravando o conflito israelo-árabe
Nota de editor: artigo publicado na edição nr. 1357 do Publituris, de 15 de Dezembro.