“A tendência de crescimento turístico nos Açores irá manter-se!”
Marta Guerreiro é a secretária Regional da Energia, Ambiente e Turismo nos Açores. Por liderar uma pasta que registou
um crescimento histórico em 2016, o Publituris quis perceber de que é feita a estratégia que tem dado tão bons resultados. A entrevista com a governante foi uma viagem longa: marketing, alojamento local e tradicional, abertura de novas rotas, taxas turísticas e o futuro do destino foram tópicos de conversa. Mas houve mais.
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Marta Guerreiro é a secretária Regional da Energia, Ambiente e Turismo nos Açores. Por liderar uma pasta que registou um crescimento histórico em 2016, o Publituris quis perceber de que é feita a estratégia que tem dado tão bons resultados. A entrevista com a governante foi uma viagem longa: marketing, alojamento local e tradicional, abertura de novas rotas, taxas turísticas e o futuro do destino foram tópicos de conversa. Mas houve mais.
Qual a estratégia preparada para o Turismo da região?
Há necessidade de acautelar e assegurar a manutenção dos níveis de sustentabilidade ambiental e paisagística que elevam a nossa atractividade e valorizam a nossa imagem como Destino Turístico de Natureza. É também por isso que a estratégia, a partir daqui, assentará desde logo no PEMTA – Plano Estratégico e de Marketing do Turismo dos Açores, uma ferramenta de trabalho que entrou em vigor em 2016 e que será fundamental para a abordagem que será feita ao sector, nos próximos anos, ao nível do marketing e comunicação. Os seus principais objectivos são alavancar a notoriedade dos Açores junto dos consumidores finais; posicionar a região como um destino exclusivo de natureza exuberante; promover a cooperação permanente entre os intervenientes públicos e privados na sua execução; melhorar a competitividade do destino e aumentar os fluxos turísticos, tendo de forma subjacente a salvaguarda da sustentabilidade económica, ambiental e sociocultural do território. Em termos globais, o Governo Regional propõe, para os próximos quatro anos, dar prioridade: à qualificação do destino, no que diz respeito à inovação de produtos e serviços e à consolidação de uma oferta diversificada; à promoção da sustentabilidade interna da actividade turística em todas as suas vertentes e da sustentabilidade de fluxos turísticos que resultem na criação efectiva de emprego e de riqueza; ao aumento da eficácia da promoção e da eficiência nas acessibilidades. O sector tem galopado imenso nos últimos anos nos Açores – tal como no resto do País – sendo que a abertura de novas rotas aéreas e o surgimento das low-cost foram grandes alavancas para esse fenómeno.
A região está preparada, ao nível de camas e unidades hoteleiras, para acompanhar este crescimento?
O Turismo dos Açores tem vivido um dinamismo sem precedentes, reforçado em 2015 com a entrada em vigor dos novos modelos de acessibilidade à Região e das obrigações de serviço público. Ainda assim, este crescimento tem evoluído de uma forma alinhada entre a oferta e a procura. Face ao aumento da procura, a oferta regional de camas tem vindo a crescer a um ritmo mais acentuado nos últimos anos, tendo aumentado cerca de 36% desde 2012, até à data. Existem actualmente 16 030 camas, dispersas por todas as tipologias de alojamento, desde o tradicional ao local e ainda o TER – Turismo em Espaço Rural, quando em 2012, este número era de 11 806. Sendo certo que, neste momento, o tipo de alojamento nos Açores caracteriza-se pela hotelaria tradicional, TER – Turismo em Espaço Rural, Alojamento Local, parques de campismo e Pousadas de Juventude. Esta Secretaria estará empenhada em promover um equilíbrio entre os tipos de alojamento actuais e outras modalidades que possam representar novos desafios face ao tipo de Turismo que promovemos.
Estão previstos novos hotéis no arquipélago, nomeadamente na Terceira e São Miguel?
Daremos prioridade às unidades que melhor se enquadrarem na estratégia definida para o Turismo nos Açores, tendo também em conta o Plano de Ordenamento Turístico da Região Autónoma dos Açores (POTRAA) e a sua revisão. Nos próximos anos a oferta de alojamento nas ilhas Terceira e São Miguel irá aumentar, com forte probabilidade de entrarem em funcionamento dentro de dois anos. Ainda neste sentido de crescimento e de desenvolvimento conjunto das várias ilhas, devo também referir que ilhas como o Faial, São Jorge e Pico também têm previsto novos estabelecimentos hoteleiros.
O Alojamento Local também tem sido visto como um “substituto” tendo em conta a ausência de camas em alguns destinos. É assim nos Açores?
O Alojamento Local não substitui o alojamento tradicional e aparece como uma outra oportunidade para complementar para determinados segmentos de mercado, que habitualmente não recorrem às tipologias tradicionais. Importa ainda referir que as próprias características do turista actual fazem com que haja uma maior procura por este tipo de alojamento. O crescimento do tipo de turista independente/particular, face ao tradicional modelo de tour operação, é a prova de que os Açores também mostraram capacidades de adaptação da oferta à procura, promovendo um equilíbrio no sector. Atendendo às especificidades das nossas ilhas, o alojamento turístico local tem um especial enquadramento na região. Assume uma importância relevante no âmbito da oferta regional de alojamento turístico, pelo seu carácter diferenciador e pela sua capacidade de promover a preservação e valorização do património existente, ao modernizar e adaptá-lo para utilização turística.
Ligações aéreas
A ilha Terceira recebeu no final do ano que agora findou uma operação da Ryanair. Estão previstas novas rotas e a entrada de novas companhias aéreas no universo Açores?
Além das intenções de novas rotas, é importante reforçar os mercados prioritários em termos de captação de novos voos e de promoção, nomeadamente, os EUA, França, Reino Unido, Canadá, Itália e Alemanha. Tendo em conta que os fluxos turísticos não se criam apenas com novos voos directos para a região, mas também através do tráfego de ligação, com preço e tempo de duração de viagens convenientes. Temos como objectivo garantir a sustentabilidade e fiabilidade das acessibilidades aéreas, mas também fomentar novas ligações para mercados emissores que se demonstrem adequados e enquadrados nos segmentos definidos no PEMTA. A SATA continuará a ter um papel preponderante nesta estratégia de captação de novos fluxos, mas trabalharemos com todas as companhias aéreas ou operadores turísticos que se nos afigurem com capacidade para a supracitada sustentabilidade e fiabilidade de novas rotas. Tem sido transmitida, pelo sector turístico regional, a ideia de que os Açores são um dos destinos mais sustentáveis do Mundo.
De que forma colocarão esta ideia em prática?
A nossa aposta tem passado e continua a passar por aumentar a notoriedade internacional dos Açores como um destino de natureza de excelência, procurando reforçar, perante os mercados externos, o nosso posicionamento em prol desta imagem e pondo em destaque as nossas características de sustentabilidade, ambientais e paisagísticas. Esta ideia não é recente e tem vindo a ser posta em práctica sucessivamente pelos últimos governos regionais, que sempre defenderam políticas ambientais e turísticas conciliatórias de boas práticas ambientais, salvaguardadas legalmente de forma a preservar a nossa identidade paisagística, enquanto elemento diferenciador e principal mais-valia de competição com os destinos concorrentes. Assim, a nossa prioridade é proteger e preservar o património natural e cultural dos Açores, criando condições para que a qualidade de vida das nossas comunidades não seja comprometida no presente e no futuro.
O Bloomberg catalogou os Açores como “a nova Islândia”, um elogio que é uma espécie de promoção externa sem custos. Como é que o Governo Regional poderá capitalizar estes louvores vindos do exterior?
Este tipo de “elogios”, com que felizmente e cada vez com maior frequência temos vindo a ser distinguidos internacionalmente, são sempre muito bem recebidos. Este tipo de menções que premeiam as políticas de sustentabilidade que têm sido aplicadas na região confirma que estamos a trabalhar para nos tornarmos num verdadeiro destino turístico sustentável. Olhamos para estas referências internacionais como formas de promoção externa eficazes e sem custos. Para além de fortalecerem a nossa imagem como Turismo de Natureza, também são aproveitadas nos nossos planos de comunicação, potenciando o nosso património natural e a especial apetência do nosso destino para um Turismo activo e de aventura. O Turismo dos Açores capitaliza esta exposição associando a sua promoção ao apoio de eventos internacionais relevantes que distingam os atributos de natureza – mergulho, surf, btt, trail run, parapente, etc. – garantindo não só as externalidades positivas do impacto directo da participação de um elevado número de pessoas, como também obtendo junto daqueles nichos de mercado grande notoriedade.
Qual o montante disponível para a promoção externa dos Açores em 2017? Relativamente a 2016, as verbas aumentaram? Em que formatos será feito o investimento?
Tendo em conta que o acto eleitoral decorreu em Outubro passado, este é o momento de preparação da nova legislatura para os próximos quatro anos ao nível das acções e dos orçamentos, não se prevendo qualquer diminuição. No que diz respeito ao sector do Turismo, é nosso objectivo continuar a trabalhar em quatro eixos fundamentais para o desenvolvimento turístico da região: a qualificação e a sustentabilidade do destino; a eficácia da promoção e nas acessibilidades. Estamos convictos de que com o empenhamento de todos os nossos parceiros públicos e privados, aproveitando de forma ainda mais organizada e assertiva os recursos destes, somos capazes de obter ainda maior notoriedade do destino para a indústria do Turismo.
A aplicação de taxas turísticas nos Açores é um assunto que tem estado em cima da mesa. Recentemente, afirmou que “a sua aplicação será pontual”, ou seja, presume-se pelas suas palavras que não se trata do modelo, por exemplo, seguido por Lisboa?
Temos zelado sempre por um crescimento harmonioso, do ponto de vista ambiental, cultural e social, que não ponha em causa a sustentabilidade do nosso destino e a valorização da nossa identidade turística como destino de Turismo de natureza. Subjacente a estas premissas, há que ter em conta que o usufruto continuado e frequente dos nossos recursos turísticos pode por em causa a sua atractividade e a sua sustentabilidade e que no conjunto dos recursos há aqueles que pela sua atractividade estão sujeitos a maior pressão turística. Este tipo de cobranças não são novidade nos Açores (Centro de Interpretação, Parques Naturais, piscinas naturais, etc.) e são praticados na generalidade dos destinos turísticos mundiais a preços bem mais elevados do que aqueles que praticamos.
Números na região
Que balanço fazem das operações turísticas nos Açores em 2016?
Apesar de ainda não termos dados finais, tudo indica que 2016 se confirmará como o melhor ano de sempre do Turismo nos Açores. Com destaque para as mudanças ao nível da melhoria das acessibilidades à região. No que diz respeito à hotelaria tradicional e Turismo em Espaço Rural, foi possível alcançar 1,4 milhões de dormidas nos primeiros dez meses deste ano, o que representa um crescimento de 22% face a igual período de 2015, que, por sua vez, já havia registado um crescimento considerável face a 2014. Relativamente ao emprego, o número de pessoas que está empregada em unidades de hotelaria tradicional e de Turismo em Espaço Rural aumentou de 1.697 em Setembro de 2014 para 2.114 em Setembro de 2016, o que traduz um crescimento de 24,6% em dois anos. Os proveitos totais nas mesmas tipologias de alojamento referenciadas acima cresceram 31,4% em termos homólogos, para 65 milhões de euros até Outubro de 2016.
Que mercados mais cresceram? E quais os que tiveram um desempenho abaixo do esperado?
Segundo os dados do Serviço Regional de Estatística relativos às dormidas de Janeiro a Outubro, no alojamento tradicional e TER verificou-se um crescimento de todos os mercados prioritários, com excepção da Suécia. Aqueles que apresentaram melhores resultados em 2016 e face ao ano anterior foram os EUA e a Espanha, com crescimentos da ordem dos 58,1% e 50%, respectivamente, seguidos da Holanda (22,7%), Bélgica (19,5%), Canadá (18,9%), França (17,4%), Alemanha (17,1%) e Reino Unido (14,8%).
Quais as vossas expectativas para o Turismo nos Açores para 2017?
Parece-nos importante começar por referir os resultados divulgados pelo Banco de Portugal este mês de Dezembro, onde os Açores são a região do País com maior destaque no que diz respeito ao crescimento da actividade turística (30%) nos primeiros dez meses de 2016. Para nós, estes valores mostram que as medidas estratégicas desenhadas para o sector do Turismo, na prática, apresentam bons resultados e manifestam que o potencial turístico dos Açores está a encontrar a sua identidade ao posicionar-se favoravelmente dentro dos segmentos de procura. As expectativas são de optimismo, face às novas operações aéreas já anunciadas e ao aumento previsto da disponibilidade dos voos. Além disso, acreditamos que os Açores e os empresários turísticos estão cada vez mais empenhados em crescer, pelo que à partida esta tendência de crescimento, dos últimos anos, manter-se-á.