TACV com cenário incerto pela frente
Os TACV podem estar a enfrentar um período complicado, a avaliar pelas palavras de António Pereira Neves, presidente do conselho de administração. “A situação (…) é cada vez mais […]
Joana Barros
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Os TACV podem estar a enfrentar um período complicado, a avaliar pelas palavras de António Pereira Neves, presidente do conselho de administração. “A situação (…) é cada vez mais insuportável depois da desastrosa gestão de Gilles Filliatrault [antigo CEO]”. A frase foi publicada em meios de comunicação social cabo-verdianos, numa carta dirigida aos trabalhadores.
A mesma missiva avançava que “há vários anos que a companhia acumula prejuízos sucessivos”, o que terá levado a um cenário de “falência técnica”. António Pereira Neves aponta o dedo às “medidas que foram sendo tomadas ao longo dos anos” e que terão agravado os custos operacionais sem que tivesse havido o cuidado de ponderar se havia proveitos para os suportar”.
Para dar a volta à situação, o conselho de administração da TACV apresentou uma proposta legislativa ao governo cabo-verdiano “para ter um regime de trabalho harmonizado com a prática internacional”. “Outras medidas serão tomadas para que os custos com remunerações sejam reduzidos (congelamento de ingressos, reestruturação de posições de chefia, flexibilização de horários, polivalência, optimização de RH, etc.)”, continua.
Lisboa desdramatiza
Em Lisboa, o cenário traçado foi bem diferente, com José Motta, responsável pela delegação dos TACV em Portugal, a desdramatizar a missiva e a dizer que por cá, vai continuar tudo na mesma. “Continuamos a trabalhar normalmente”, disse ao Publituris, referindo ainda que a carta do presidente do conselho de administração refere-se às contas de 2007. “A companhia encontrava-se numa situação distinta da que se encontra agora, (…) o cenário de falência técnica não se coloca neste momento”, esclareceu, sublinhando que o texto prentendia alertar os trabalhadores para a realidade do mercado.
Em Lisboa mantêm-se cinco funcionários no aeroporto e nove nos escritórios. “Mantém-se o mesmo número de pessoas”, refere José Motta, que afasta a possibilidade de assistirmos a despedimentos: “Até à presente data não temos indicações de que vá acontecer”.
No total, a companhia aérea emprega 800 pessoas, incluindo as representações no exterior: Portugal, França e Holanda. E será que aqui haverá dispensas? O responsável pela delegação portuguesa desmistifica: “Em Cabo Verde não há despedimentos, pode é passar pela não renovação de contratos a prazo”.
Redução de voos
Na prática, e para rentabilizar as operações, a TACV tem este ano menos operações para Portugal do que no ano passado. Os voos regulares entre a Praia e Lisboa realizam-se às segundas, quartas, sextas e domingos (antes eram diários). Já os voos charter contam com uma ligação entre Lisboa e Sal às sextas (antes havia três saídas semanais) e outra entre Lisboa e Boavista aos sábados (ligação que antes não havia). Os voos charter entre Porto e Sal são retomados em Julho.
Sobre as ligações charter, José Motta diz que está tudo a decorrer “normalmente” e “sem sobressaltos”, tendo em conta as dificuldades que a conjuntura económica apresenta. “Estamos a conseguir ultrapassar a fase menos boa da empresa e ainda vamos estar aqui por muitos e bons anos”, afiança.
A Entremares, a Abreu e a White remeteram-se ao silêncio sobre o futuro das operações e a situação dos TACV. No entanto, o Publituris sabe que a solução para os operadores portugueses poderá passar pela transferência dos charters do Verão para a White.
A base dos problemas
Mas a história recente da TACV nos charters tem sofrido alguns sobressaltos nos últimos anos. Antes de ser parceiro da Entremares – empresa com a qual opera os charters, até 2003 a companhia aérea estava de braço dado com a Soltrópico. Armando Ferreira, director geral desta última, conta o resto: “Em 2003 tiveram uma estratégia em que foi evidente que queriam passar a dominar a operações aérea e turística”. Este foi o ano em que a Soltrópico solicitou aos TACV um avião para realizar uma operação charter semanal. “Acabaram por nos dizer que não era política da empresa dar um avião para um operador, mas sim dar a vários”, refere. “Como o avião não nos foi dado pelo nosso operador histórico e natural, fomos procurar outro parceiro”, acrescenta.
“Deixaram de lado o operador que éramos nós e aparece um operador que foi favorecido”, avança ainda a mesma fonte, que lembra que a Soltrópico teve um crescimento de 51 por cento, um ano após a assinatura do acordo referente ao espaço aéreo entre Portugal e Cabo Verde (a 31 de Março de 2004). “Oito dias depois estávamos a voar com a Air Luxor para o Sal”. O crescimento, segundo Armando Ferreira, veio provar que “a operação estava correcta”.
Do lado da TACV a reacção foi adversa. “A reacção foi hostilizar e favorecer a concorrência, dando preços mais favoráveis”, refere Armando Ferreira, para quem “a partir daí os TACV foram perdendo qualidade”. “Também deixaram de nos dar preços para o inter-ilhas e foi nessa altura que me vi obrigado a lançar a Halcyonair”, lembra, ilustrando as dificuldades vividas na época.
Actualmente a Soltrópico tem como parceiro a SATA e admite que tem sido contactada pela cabo-verdiana, no entanto, os preços elevados, a falta de pontualidade e de manutenção afastam as duas empresas. Ainda assim, os contactos mantêm-se entre ambas as partes: “É importante sublinhar que nunca cortámos com os TACV. Houve sim um corte de condições comerciais da parte deles, do nosso lado nunca fomos hostis”, sublinha Armando Ferreira.
Solução para a TACV? “Eles têm soluções mas têm de ser baseadas na sustentabilidade como estava a fazer o Gilles Filliatrault”, defende.
Privatização
Metas adiadas mas não esquecidas
Em Dezembro de 2006, chegou à TACV Gilles Filliatrault. O novo CEO tinha como missão reorganizar e preparar a companhia aérea para a privatização. Proveniente da Sterling Merchant, empresa norte-americana escolhida para o processo, o responsável debatia-se com dois problemas: Excesso de funcionários e prejuízos na ordem dos 600 milhões de euros. Gillies Filliatrault foi entretanto afastado do cargo e quando o Publituris tenta obter mais informações sobre o caso todas as fontes fecham-se em copas. Certo é que a 1 de Julho do ano passado, António Pereira Neves (irmão de José Maria Pereira Neves, actual primeiro-ministro cabo-verdiano) assumiu o cargo de presidente. A TACV continua a trabalhar para a privatização, mas a meta de que o negócio se concretizasse no primeiro trimestre deste ano foi adiada, para data incerta