”Considero que a hotelaria é sobretudo servir”
Conhecido pelas suas intervenções na concepção de unidades hoteleiras e restaurantes, o arquitecto Miguel Câncio Martins aposta agora no desenvolvimento de dois empreendimentos turísticos próprios.
Raquel Relvas Neto
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Conhecido pelas suas intervenções na concepção de unidades hoteleiras e restaurantes, o arquitecto Miguel Câncio Martins aposta agora no desenvolvimento de dois empreendimentos turísticos próprios: Quinta da Comporta e Palácio Ludovice. Em entrevista, o arquitecto fala sobre este novo desafio, o conceito e os seus projectos de futuro.
Há quase 20 anos a trabalhar como arquitecto e arquitecto de interiores no ramo hoteleiro, em grupos como Accor, Starwood, Hilton ou Heritage, Miguel Câncio Martins decidiu apostar em conceber duas unidades hoteleiras à sua imagem: a Quinta da Comporta e o Palácio Ludovice. 2018 e 2019 são as datas previstas de abertura.
“Gostava de fazer algo melhor ou diferente. (…) Um hotel como eu gosto de viver num hotel”, começa por explicar o motivo que o levou a abraçar a ideia de desenvolver um projecto próprio. “Vi que há bastantes oportunidades para uma pessoa começar a fazer o seu primeiro hotel, era aqui que queria começar, tal como quando comecei o meu estúdio de arquitectura, achei que era em Paris que queria começar, que era o melhor sítio para o ponto de partida”, esclarece. E continua: “Já há uns anos que queria fazer estes projectos, portanto agora estão as condições reunidas para que isso aconteça”.
Com um grupo de investidores, do qual também faz parte, Miguel Câncio Martins quer desenvolver um hotel que ofereça vida aos hóspedes e clientes, além, claro, de serviço. “Considero que a hotelaria é sobretudo servir, dedicar-se aos outros. Gostava de me diferenciar e trazer essa mais-valia na parte do serviço, oferta, animação, de criar um outro ambiente do que fornecer apenas dormidas”.
O responsável acredita que o sucesso tem de começar em algum lado. E como tal adianta que para explorar as duas unidades hoteleiras vai ser criada uma estrutura independente, não vão entregar a gestão a nenhum grupo hoteleiro. “Queremos ser independentes, mas também estar ligados a algumas redes, porque o negócio, hoje-em-dia, passa por aí. Há coisas que também não vamos inventar, mas queremos diferenciar-nos no mercado em que estamos”, explana. Miguel Câncio Martins considera que “é mais simples dar os hotéis a um grande grupo já estabelecido, mas até esses grupos começaram um dia e começaram do nada”, defende.
“Considero interessante criar uma história e tenho aqui a oportunidade de tentar dar esse passo e fazer história”, indica. Porém, a missão dos projectos do responsável não passa apenas por Portugal, mas por outros destinos internacionais, como França, Bélgica, Alemanha e Reino Unido.
Quinta da Comporta
“Há vários anos que andava a batalhar para o fazer”, revela Miguel Câncio Martins quando começa a descrever o projecto do empreendimento turístico que está já a construir na Comporta, no concelho de Grândola. O hotel Quinta da Comporta quer primar por apresentar um conceito inovador, mas autêntico. Com abertura prevista entre Abril e Maio de 2018, a Quinta da Comporta vai oferecer 24 quartos no hotel e 18 ‘town-houses’ e cinco cabanas de três quartos para venda com gestão e exploração hoteleira. “No fundo, as pessoas podem comprar uma unidade, podem usufruir de certas condições, mas obtêm rentabilidade, em vez de custos. É um produto ideal nos dois sentidos: num para reduzir o investimento inicial do promotor e segundo julgo que há uma certa clientela que quer investir, ter rentabilidade e também o usufruto do seu investimento”, refere. O responsável complementa: “Estamos a oferecer às pessoas um serviço de poderem viver como num hotel”. A complementar o alojamento vai existir um spa de marca própria mas assistido pela Anne Semomin, que “vai ser o motor para fora de época”. Acresce ainda um bar, restaurante, piscina e kids club. Além do segmento de lazer, a Quinta da Comporta está projectada para também apostar na organização de casamentos, contando para tal com a Igreja do Carvalhal, para a qual estão a contribuir com financiamento. “Vamos também fazer acções com a comunidade local, para nos envolvermos e participarmos na vida comunitária local”, indica. Com um investimento de 13 milhões de euros, este quatro estrelas superior vai apostar na sustentabilidade ambiental. Uma das curiosidades é só se poder andar no empreendimento a pé, de bicicleta ou de carro eléctrico. Mas o que vai diferenciar a Quinta da Comporta da restante oferta no destino? Miguel Câncio Martins responde: “A nossa ideia é fazer o estilo das casas da Comporta, que é o que as pessoas imaginam quando aqui vêm. Em vez de estarmos a dar uma coisa moderna, damos uma coisa mais autêntica que é o que as pessoas estão à espera”.
Palácio Ludovice
Quanto ao projecto de cidade, o Palácio Ludovice, está localizado em pleno centro de Lisboa, junto ao miradouro de São Pedro de Alcântara, no centro frenético da capital. “Há muito produto bom na cidade”, observa, complementando que o projecto do cinco estrelas vai marcar pela diferença.
“Pegámos num prédio histórico, que foi construído após o terramoto pelo arquitecto do rei D.Pedro V”, explica. No edifício funcionava anteriormente o Instituto do Vinho do Porto, que serviu de inspiração ao tema do hotel que vai ser um embaixador do Vinho do Porto em Lisboa.
O hotel vai contar com 65 quartos, restaurante, mas também uma loja da Caudalie, com produtos à base de uvas e duas cabines de massagem. “Do outro lado, temos o Instituto do Vinho do Porto a divulgar o vinho”, completa. O restaurante, que será uma aposta também para os clientes de fora do hotel, terá um chefe de renome, que ainda está a ser negociado. “Quero que a restauração seja um aspecto importante, para ser um ponto de encontro para se ir beber um copo, para se comer, para se encontrar. Tanto para as pessoas da cidade como para os estrangeiros”, indica.
Com um investimento de 14 milhões de euros, o Palácio Ludovice tem abertura prevista em Fevereiro de 2019. O arquitecto considera que as suas unidades vão pautar pela diferenciação e identificação com os locais onde se inserem. “A maior parte das pessoas que vem para Lisboa quer sentir-se aqui e não num outro sítio qualquer. Aí é que está o interesse e o desafio todo de poder propor algo autêntico e diferenciador, único, que é o que as pessoas procuram: experiências”.
Portugal
Com uma vasta experiência internacional e com o seu atelier em Paris, como já referido, Miguel Câncio Martins considera que hoje o português e o País já é visto como ‘cool’. Contudo, considera que ainda existem “imensas coisas a fazer” no sector hoteleiro. “Julgo que temos de apostar mais na qualidade de serviço, as pessoas gostam muito do nosso acolhimento, dos portugueses. Nós temos uma imagem de acolhedores, mas apensoque falta um certo profissionalismo, um bocado à americana. Quando vemos aqueles hotéis americanos, depois também podemos criticar que falta um pouco de alma e autenticidade, é sempre um pouco artificial”.
Para o responsável, o sector do Turismo em Portugal já merecia um cargo na tutela mais elevado do que apenas um Secretário de Estado. “É um sector demarcado e importante na nossa economia, devíamos levar isto mais a sério e profissionalizar ainda melhor”, defende.
Miguel Câncio Martins refere que o bom momento do Turismo em Portugal deve ser aproveitado. “Como tudo na vida, uma parte é sorte e tem de se aproveitar a sorte, outra tem de se cultivar a sorte”, indica, passando a explicar: “O grande trabalho é manter, hoje somos nós o ‘wow’ da concorrência, antes eramos os ‘challengers’ que andávamos por aí a tentar apanhar mercado. Hoje, querem o negócio que ganhámos. Portanto, temos de saber cuidar”.