Um novo estilo de trabalhador/turista
A pandemia fez com que os nómadas digitais ganhassem cada vez mais relevância e espaço, ou melhor, espaços. Depois da primeira experiência na Madeira, nasceu, recentemente, o Digital Nomads Caparica. As portas para a expansão a outros locais em Portugal, não estão fechadas, mas não para já.
Victor Jorge
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Em novembro do ano passado, o Publituris já tinha deixado a pergunta: “São os nómadas digitais os novos turistas?”. Se na altura, a Secretaria de Estado do Turismo, Rita Marques, considerava que “a pandemia veio trazer algumas oportunidades” que dão a possibilidade de “conciliar os compromissos profissionais com aqueles que se prendem com a esfera pessoal e familiar”, também é certo que salientava que Portugal tem sido “pioneiro no contexto internacional no que toca à promoção de programas no setor do turismo que se suportam nas tendências atuais e futuras”.
Ora, foi na Costa de Caparica que nasceu a mais recente oferta para estes “novos turistas”, salientando Claúdia Paulino, co-founder da Associação Digital Nomads Caparica, que se trata de um projeto que está a trabalhar na “atração de trabalhadores remotos e nómadas digitais através da criação de todas as condições para que estes escolham a Caparica como o seu próximo destino”.
Criar uma comunidade
Parte essencial do projeto é, no entanto, a criação de uma comunidade, já que, “se é verdade que os nómadas digitais já visitam a Caparica, o que os motiva a ficar num local por mais tempo é a comunidade, algo que ainda não existe, mas que já estamos a criar”, admite a responsável pelo projeto localizado na Margem Sul.
Mas o que diferencia o projeto da Caparica de outros existentes no nosso país? Em primeiro lugar, há que considerar que em Portugal continental, segundo Cláudia Paulino, “nenhum projeto ainda conseguiu criar uma comunidade do início”. Ou seja, existem “comunidades orgânicas”, como são os casos de Lisboa e da Ericeira, ou “não existe e o tempo de estadia e experiência dos nómadas digitais não é ideal”, diz.
Outra diferença do “Digital Nomad Caparica” é que une vários parceiros locais, que vão desde espaços de coworking, coliving, wellness, aceleradoras de startups, universidades, restauração e muito mais, de forma a “providenciar uma integração perfeita entre a comunidade local e a comunidade de nómadas digitais”, salienta Cláudia Paulino.
Localizado junto à praia, essa é, reconhecidamente, uma das vantagens, uma vez “cada vez mais pessoas procuram um estilo de vida mais descontraído junto da natureza onde possam fazer desporto num ambiente tranquilo”, reconhecendo, ainda, que “muitos nómadas vêm de grandes cidades e de uma vida de stress, por isso procuram muito o surf, o oceano e este estilo de vida mais tranquilo”.
Com o posicionamento a ser claro – “colocar a Caparica no topo da preferência dos nómadas digitais na Europa, seguindo aquilo que aconteceu na Madeira e, naturalmente, em Lisboa “ – a estratégia para atrair nómadas digitais “é muito diferente da estratégia para atrair um turista normal”, admite a responsável pelo projeto, salientando que “campanhas pagas não resultam”. Assim, considera-se que os nómadas digitais funcionam “muito pelo passa palavra dentro da comunidade”. Por isso “decidimos ser essencial trabalhar com membros da comunidade, como Gonçalo Hall, nómada digital que também esteve por trás do projeto da Madeira que tem tido bastante sucesso”, diz Cláudia Paulino.
Objetivos: 1.000 nómadas até final de 2021. Crescer até aos 5.000 num período de 3 anos.
Deste modo, e após o arranque em julho, o projeto vai trabalhar com outros membros da comunidade para ajudar a passar a sua experiência na Caparica. “Vamos trazer retreats e grupos de viagem e, acima de tudo, vamos oferecer uma experiência inesquecível a todos os que passam, porque os nómadas são a melhor forma de promover um destino, criam conteúdo, partilham a sua experiência e atraem a sua rede para os locais onde se sentem bem. É isso que queremos criar na Caparica”, diz a responsável.
Realidade acelerada em 10 anos
E quem são os nómadas-alvo? Pois bem, existem dois tipos de mercado-alvo. O primeiro são os nómadas digitais que “procuram um destino urbano, mas com uma excelente qualidade de vida, acesso à praia, ao surf e com acesso rápido a uma capital com tudo o que esta tem para oferecer”.
Além deste, existe, também, um grande movimento de trabalhadores remotos que viajam 3-4 meses por ano, muitas vezes com as suas famílias, e que procuram locais com “boa qualidade de vida para serem o seu destino”. Ambos são “muito interessantes e procuram o mesmo”, considera Cláudia Paulino, sendo que o trabalhador remoto gasta um pouco mais na acomodação, porque fica por um período mais limitado de tempo, enquanto o nómada gasta mais em comida e experiências.
Com a segurança a ser considerada essencial, a verdade é que o crescimento do trabalho remoto e do nomadismo digital “estava a crescer antes da pandemia”, diz Cláudio Paulino, salientando que “esta apenas funcionou como um acelerador em cerca de 10 anos daquilo que já era a realidade de muitos profissionais”.
O que mudou é simples. “o trabalho remoto é aceite por muitas empresas com milhares de funcionários, o que possibilita que mais pessoas possam testar este estilo de vida”. O trabalho remoto veio “ajudar todos estes profissionais de todas as idades” e a certeza é a de que “o trabalho remoto é o ‘novo normal’”. E a prova está na própria comunidade, com algumas pessoas a serem chamadas de volta aos escritórios, em setembro e que despediram-se imediatamente ou estão à procura de trabalho 100% remoto.
Com o foco a estar, claramente, no desenvolvimento no projeto da Caparica, “Portugal é um país cheio de potencial para este mercado”. Por isso, Cláudia Paulino conclui que, no futuro, “não fechamos as portas a uma expansão da ideia e do projeto a outros locais em Portugal”.