Tecnologias no Turismo: O futuro é agora
É unânime afirmar que a pandemia veio acelerar a transição digital nas mais diversas áreas económicas, e não só. Já com uma forte componente tecnológica, o turismo também não foi exceção. Quais as prioridades tecnológicas a adotar pelas empresas turísticas e qual o caminho a seguir são algumas das questões aqui respondidas. Conheça ainda algumas das novidades das empresas de tecnologia com soluções para o turismo.
Raquel Relvas Neto
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O mundo parou em março de 2020, mas não parou a evolução tecnológica. Da educação ao trabalho, à distribuição de serviços, foi inevitável a transição digital das mais diversas áreas do nosso dia-a-dia, motivada pelos primeiros confinamentos provocados pela pandemia da COVID-19.
A tecnologia no turismo passou por sérias mudanças para ajudar a indústria a ajustar-se a este momento agitado. Se anteriormente, a prioridade passava por facilitar a viagem em si, hoje em dia, a ênfase é dada à segurança na realização da viagem. Mas não só.
Com o reabrir da atividade turística, surgiram várias “dificuldades associadas com as exigências e obrigatoriedades ao nível da saúde e higiene, impostas com o propósito de garantir uma experiência segura ao turista, bem como aos colaboradores dos estabelecimentos”. Ana Cantinho, diretora-geral da Beltrão Coelho, explica que estas exigências refletiram-se “numa demanda por uma série de dispositivos tecnológicos que viessem ao encontro destas necessidades”, à qual a Beltrão Coelho tentou responder com novas soluções.
A segurança é também um factor que Pedro Silva, marketing manager da Salto Systems, considera que teve especial importância na evolução tecnológica. Para o responsável, isto teve especial impacto na tecnologia na hotelaria, onde se privilegiou a redução da “propagação de germes nos hotéis”. “Serviços automatizados e tecnologias de self-service em tempos de distanciamento social e integração da tecnologia de self-check-in nas operações de serviço ajudam a resolver algumas das questões em torno da segurança do pessoal e do acesso de novos hóspedes para ajudar a praticar um distanciamento social eficaz”, destaca, sublinhando que a “automação não resulta necessariamente na eliminação de papéis humanos, mas sim na transferência de recursos para outras áreas”.
“Automação não resulta necessariamente na eliminação de papéis humanos, mas sim na transferência de recursos para outras áreas”, Pedro Silva, marketing manager da Salto Systems
Já Felipe Ávila da Costa, Co-founder & CEO da Infraspeak, é da opinião que a pandemia ““forçou” muitas empresas a adaptarem-se rapidamente a esta nova realidade do trabalho remoto, ‘low touch’ e incerteza, contribuindo para a aceleração da transição digital e alertando para novas formas de trabalhar”. No fundo, destaca, “esta nova realidade abriu espaço à inovação, uma vez que mostrou claramente que além de ser possível que algumas rotinas sejam feitas de forma digital, isso ainda tem um impacto muito positivo na eficiência da operação, na redução de custos operacionais e na qualidade do trabalho e da comunicação das equipas”.
No que diz respeito ao Turismo, o responsável reitera ainda que “a necessidade da digitalização veio ajudar a quebrar o mito de que a tecnologia reduz o contacto humano e a hospitalidade, tão importantes no turismo, e a mostrar que, na verdade, a tecnologia contribuiu para melhorar a qualidade do serviço e até aumentar a personalização”. Entre as soluções que se destacaram neste período, Felipe Ávila da Costa enumera os ‘chatbots’ que permitam o check-in digital, a gestão de pedidos e de reservas de serviços e refeições; as soluções ‘low touch’ que diminuem o contacto com superfícies ou objetos, como aplicações móveis para abrir as portas do quarto; e as soluções operacionais que permitam ao staff e à gestão comunicar eficazmente e aceder aos dados de que necessitam em qualquer lugar e a qualquer momento.
Para André Lopes, Business Development Manager Iberia da Hoist, é “indiscutível que a pandemia acelerou o processo de transição digital, sobretudo em organizações que já dispunham de ‘roadmaps’ estruturados e com objetivos definidos”. Em algumas organizações, destaca, este momento obrigou a um primeiro contacto com esta questão, ao qual a Hoist auxiliou com os serviços de consultora tendo como propósito “a conceção de um ‘roadmap’ para investimentos futuros em tecnologia, nas vertentes de processos de negócio, de operação hoteleira ‘tout court’ ou da experiência dos hóspedes”.
“A transição digital foi acelerada transversalmente em toda a sociedade, como se assistiu no trabalho, educação e fornecimentos de serviço remota e digitalmente”, começa por dizer Pedro Matoso, CEO da Newhotel, que refere ainda que a hotelaria não foi excepção. Neste sentido, o responsável refere que existe uma “procura e adopção de ferramentas visando optimizar o ‘staff’ hoteleiro e permitir ao hóspede uma experiência digital com o mínimo de contacto ou espera para o fornecimento de serviço”, como é exemplo o ‘self check-in mobile’.
“A transição digital foi acelerada transversalmente em toda a sociedade, como se assistiu no trabalho, educação e fornecimentos de serviço remota e digitalmente”, Pedro Matoso, CEO da Newhotel
“A tecnologia está a ser a solução e teve de ser feita em tempo recorde”, começa por dizer Hélder Santos, sales & marketing director da Nonius, que registou uma elevada procura nas soluções que tornam os processos ‘contactless’, que dão mais autonomia aos hóspedes e garantem o distanciamento físico. Foi nesta área que a Nonius focou os esforços de Investigação e Desenvolvimento da empresa para “acelerar de desenvolvimentos que tínhamos previstos para 2022 que tivemos de fazer já em 2020”.
O caminho do futuro
À parte do que está atualmente a ser feito, a tecnologia é um caminho em constante evolução. Como tal, existe ainda muito para ser feito no domínio do turismo e objetivos futuros que imperam no ‘roadmap’ tecnológico.
Mas para acompanhar este caminho, importa saber escolher os parceiros tecnológicos. Como explica Anabela Almeida, do Consolidador.com, “a esmagadora maioria das empresas turísticas não tem capacidade de desenvolvimento próprio”, portanto “mais que nunca, um dos fatores cruciais recai na escolha do(s) parceiro(s) tecnológico(s)”. “É crucial garantir que os parceiros tecnológicos com quem trabalham disponibilizam ferramentas inovadoras, assentes em tecnologia ágil e com capacidade de transformação extremamente rápida”, sublinha.
Neste campo, Felipe Ávila da Costa, Co-founder & CEO da Infraspeak, refere que para que “a adoção destas novas tecnologias seja de facto bem-sucedida e duradoura, há uma série de paradigmas às quais estas soluções devem obedecer… e não servem apenas para o setor do turismo”. Segundo o responsável, qualquer solução tecnológica tem de permitir a mobilidade, sendo acessível em qualquer momento e lugar. Depois, a usabilidade, ou seja, as soluções têm de ser “super intuitivas e simples, de forma a dar resposta a utilizadores heterogéneos”. A inteligência e a capacidade de integração são dois fatores que o responsável considera “importantíssimos”. “Hoje em dia, trabalhamos com dezenas de softwares e até com sensores IoT ou outro hardware. (…) Termos a capacidade de integrar tudo isto, ou seja, conectar todos estes ‘softwares’ num só e ter todos os dados da operação reunidos numa mesma plataforma, abre-nos um leque de infinitas possibilidades de optimização de todo o negócio. Ao adicionar inteligência a este cenário, poderemos tirar o melhor partido dos mais diversos tipos de dados gerados pela operação, transformando-os em ‘insights’ inteligentes, automações ou alertas personalizados, que nos vão permitir tomar decisões melhores e mais informadas”, defende.
Também os dados fazem parte das prioridades enumeradas por André Silva, da Hoist. A esta acrescem a digitalização da ‘guest journey’ e tecnologias que promovam uma experiência ‘contactless’. “Importa não descurar a importância das infraestruturas de rede, que continuam a ser elementos estruturantes em qualquer “ecossistema” tecnológico”, salienta.
Optimizar as operações dos hotéis que lidam com baixas ocupações é uma das prioridades destacada pela Nonius. “considero que os elementos-chave a ter em consideração são se as ferramentas a adoptar são compatíveis com os equipamentos e outras ferramentas existentes nos hotéis, por exemplo: se a aplicação para os hóspedes é compatível com as fechaduras existentes no hotel e se está integrada com o PMS. Outro elemento-chave é se as ferramentas são de fácil utilização e aprendizagem e se estão desenvolvidas e completas em termos de funcionalidades, pois vivemos num período de grande necessidade tecnológica e capacidade de desenvolvimento escasseia”, aponta Hélder Santos.
A adoção de sistemas “verdadeiramente ‘cloud’” é uma das prioridades destacadas pelo CEO da Newhotel, que defende que com estas tira-se partido das vantagens tecnológicas, como “a esfera de microserviços de Functions ou Logic Apps que permitem fluxos de trabalho e computação sem servidor, no caso da Microsoft Azure. (…) Algo que não é possível em soluções Hosted, alojadas, que simulam Cloud, e que requerem acessos por IP fixo e outros atalhos”. Em segundo lugar, indica a importância de se ter um PMS (Property Management System) “que seja focado para vendas, com funcionalidades integradas avançadas para gestão de tarifas, canais de reserva e análises de dados. Um PMS limitado à partida não vai potencializar o controlo e integração e todos os processos”. E também soluções ‘mobile’ que integrem o sistema PMS, como explica Pedro Matoso: “Do lado do hóspede prevê-se um percurso digital recorrendo sobretudo ao mobile, desde o planeamento da viagem, até ao check-in, experiência durante estada, check-out e pós-estada”. Do lado dos colaboradores do hotel, “as ferramentas ‘cloud’ e mobile permitem a digitalização de processos e liberdade de localização e desmaterialização de ‘hardware’. Seja ao nível de ‘housekeeping’, pontos de venda em F&B, ou processo de ‘check-in’, muito é e poderá ser feito através de equipamentos ‘mobile’”.
No entendimento do responsável da Salto Systems, depois da COVID-19 ultrapassada, “os hotéis e alojamentos terão de fazer muitos ajustamentos para tentar adaptar as suas propriedades aos novos requisitos de segurança e higiene. Os hóspedes irão ver acontecer algumas das maiores mudanças na indústria hoteleira, que começam com a digitalização e a formação rigorosa dos funcionários em matéria de segurança e saneamento”.
“O sucesso da transformação tecnológica reside nesta sinergia entre a componente tecnológica e a intervenção humana”, Ana Cantinho, Beltrão Coelho
Para a responsável da Beltrão Coelho, a tendência futura será “a de oferecer uma experiência cada vez mais rica e agradável ao turista e, no nosso entender, a robótica poderá ser uma importante componente deste processo, já que, para além de reduzir os custos operacionais, permite diminuir o contacto entre pessoas e ainda otimizar os processos, fatores que são, sem dúvida, uma forte vantagem competitiva”. Contudo, ressalva que a adoção de novas ferramentas tecnológicas “deve, em todos os setores, ter em consideração que a componente humana é, e continuará a ser, indispensável”. Para Ana Cantinho é essencial que se compreenda que “o avanço tecnológico não se pode, nem deve, traduzir na substituição de pessoas por “máquinas” ou dispositivos – um receio muitas vezes referido. O sucesso da transformação tecnológica reside nesta sinergia entre a componente tecnológica e a intervenção humana”.