‘Viagem do Elefante’. Saramago inspira rota de turismo literário na Beira Baixa
A obra de José Saramago ‘A Viagem do Elefante’ vai dar origem a uma rota turística literária que passa por vários territórios na Beira Baixa e que se espera que possa atrair um maior número de turistas internacionais, principalmente europeus, aos destinos de menor densidade turística.
Inês de Matos
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A obra de José Saramago ‘A Viagem do Elefante’ vai dar origem a uma rota turística literária que passa por vários territórios na Beira Baixa e que se espera que possa atrair um maior número de turistas internacionais, principalmente europeus, aos destinos de menor densidade turística.
No século XVI, o rei D. João III ofereceu um elefante como presente de casamento a Maximiliano II, à época arquiduque da Áustria. As peripécias da viagem do animal, que foi transportado de Lisboa até Viena, numa época em que não existiam autoestradas nem outras facilidades de transporte, haveriam de dar origem, séculos mais tarde, concretamente em 2008, ao livro A Viagem do Elefante, de José Saramago, um dos mais reconhecidos escritores nacionais e o único Prémio Nobel da Literatura português. E foi também nesta viagem e na forma como Saramago a idealizou, que nasceu, este ano, uma nova oferta turística, a Rota Turística Literária Viagem do Elefante, desenvolvida pela Territórios do Côa – Associação de Desenvolvimento Regional. “Aquando da escrita da obra “A Viagem do Elefante”, Saramago já imaginava uma viagem pelos territórios da Beira Interior. Ele próprio percorreu a rota que idealizou para o Elefante Salomão. Perpetuou-a nas páginas do seu livro e percorreu- -a um ano antes de falecer”, explica ao Publituris Dulcineia Catarina Moura, coordenadora executiva da Associação Territórios do Côa, que se juntou à Fundação José Saramago e várias outras entidades para criar esta nova rota turística literária, que passa pelos municípios de Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel, Belmonte, Sabugal, Fundão e Lisboa, incluindo ainda Almeida e Guarda, “que viram nesta iniciativa uma forma de promover a integração e coesão territorial, aqui na perspetiva turística e cultural”. ”O privilégio de estes territórios serem depositários do génio e inspiração de Saramago, faz deles responsáveis por valorizarem e darem a conhecer todo este património, a quem os queira visitar”, explica a responsável, considerando que a “implementação da rota “Viagem do Elefante” contribuirá determinantemente para a qualificação e afirmação turística destes territórios”, que são classificados como territórios de baixa densidade, mas que têm um “elevado potencial e onde o Turismo representa uma atividade fundamental para a diversificação e crescimento económico”.
Público
O objetivo desta rota, que foi oficialmente lançada a 8 de junho, numa cerimónia que decorreu na sede da Fundação José Saramago, em Lisboa, passa por potenciar “todo o património cultural e paisagístico já existente”, evidenciando cada território abrangido “pela combinação do seu património, dos seus principais ativos, da sua gastronomia e de toda a oferta integrada, como forma de cativar o turista e o visitante”.
Quanto ao público, o objetivo é captar essencialmente os turistas de origem europeia que já conhecem a obra de Saramago e que chegam ao aeroporto de Lisboa, levando-os, depois, à descoberta dos territórios do interior. “O desenho conceptual preconizado pelo projeto assume a posição estratégica de Lisboa como um ponto de partida para a promoção e divulgação desta Rota e, por consequência, dos territórios do interior, considerando o número de turistas estrangeiros que aportam todos os dias à cidade”, explica Dulcineia Catarina Moura, apontando essencialmente para os turistas “conhecedores da obra de Saramago e que acalentam o desejo de visitar o país onde ele nasceu e percorrer os caminhos que ele trilhou e que, sobretudo, idealizou”.
Pela proximidade e apego à obra de Saramago, que viveu os seus últimos anos na ilha espanhola de Lanzarote, o público espanhol deverá ser “primordial para o sucesso desta estratégia”, indica a responsável, sublinhando, no entanto, que o objetivo é “captar turistas que completem toda a Rota e que, aportando em Lisboa, permaneçam na Beira Interior mais do que três ou quatro dias, nos quais possam ficar a conhecer todos os municípios que pertencem a esta Rota e que têm tanto para oferecer a quem os visita”. “Criar, desenvolver e dinamizar esta Rota é dar continuidade ao trabalho de génio de José Saramago. E essa será a obra que ficará reconhecida aos territórios que se incluem neste percurso e que trabalharão ativamente para o concretizar”, acrescenta a coordenadora executiva da Territórios do Côa.
Tecnologia
Para guiar os turistas que queiram descobrir a rota ‘Viagem do Elefante’, a Territórios do Côa vai lançar um portal e uma app para dispositivos móveis que permitirá orientar interactivamente o utilizador na sua visita e ter acesso a conteúdos informativos sobre os diversos pontos de interesse, recorrendo à tecnologia de realidade aumentada. “A Rota Turística Literária ‘Viagem do Elefante’ contempla a criação de um portal e de uma app, que serão mais do que meros repositórios de informação. Pretende-se que os meios digitais estejam ao serviço do projecto, identificando pontos de interesse a visitar, numa lógica de gamificação, que procurará criar estímulos ao utilizador que, por último, gere a vontade de se deslocar ao território, conhecer e alargar o seu período de estada, configurando-se em proveitos económicos para os territórios envolvidos”, explica a responsável.
Em avaliação está ainda a “colocação de dispositivos interativos na sinalética (QR Codes), como meio para o utilizador aceder à informação do ponto de interesse respetivo”, com Dulcineia Catarina Moura a considerar que “a tecnologia e a criatividade na comunicação serão assim fatores diferenciadores e que se esperam que reforcem a competitividade dos destinos”.
No total, a rota tem associado um investimento de 300 mil euros, ao abrigo da Linha de Apoio à Valorização Turística do Interior, promovida pelo Turismo de Portugal, na tipologia de projeto para “A valorização dos recursos endógenos das regiões ou de desenvolvimento de novos serviços turísticos nomeadamente os que se desenvolvam no âmbito do enoturismo, turismo militar, turismo termal, turismo literário e do turismo equestre”.
Potencial e crescimento
Ao Publituris, a Dulcineia Catarina Moura diz que o turismo literário está em expansão no contexto nacional e que é “uma aposta para a diversificação dos fluxos turísticos e para a formatação de uma oferta mais segmentada para públicos-alvo que representam um valor acrescentado para a rentabilidade e sustentabilidade do turismo”, com “um potencial a aproveitar”, essencialmente no interior do país, “na medida em que concentra importantes recursos patrimoniais que refletem o génio e as vivências de vários autores de renome”. “Nesse sentido, o turismo literário constitui um filão para o desenvolvimento turístico dos territórios de baixa densidade que, por consequência, resulta numa escala superior de desenvolvimento regional”, defende a responsável, revelando que, de momento, a Território do Côa tem apenas em desenvolvimento a rota inspirada na obra de Saramago, num projeto “ambicioso”, que atravessa todo o Centro de Portugal e que a associação diz querer “implementar com rigor e dedicação”, ainda que admita o interesse noutros projetos no futuro. “Não escondemos o desejo de vir a expandir esta Rota a outros territórios ou usá-la como inspiração para a criação de novas rotas ou iniciativas em turismo literário, sobretudo na sub-região da Beira Interior, tão próspera na emissão e inspiração de outros autores. Aí, a Territórios do Côa será sempre uma forte aliada”, conclui a coordenadora executiva da Territórios do Côa.