Tunísia aproveita pandemia para fomentar novos modelos de negócio
Privilegiar as experiências locais, a descoberta da cultura e das tradições regionais são o novo foco promocional do Turismo da Tunísia para acompanhar as novas tendências do mercado.
Raquel Relvas Neto
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Privilegiar as experiências locais, a descoberta da cultura e das tradições regionais são o novo foco promocional do Turismo da Tunísia para acompanhar as novas tendências do mercado.
À semelhança do resto do mundo, também a Tunísia foi impactada pela propagação da pandemia da COVID-19 no final do primeiro trimestre de 2020. Aquele que seria um ano em que milhares de portugueses se preparavam para desfrutar das suas férias no destino situado no norte de África com as diversas operações charters que os operadores turísticos estavam a preparar para lançar no mercado, acabou por se tornar num ano em que se ficou pelas intenções.
Apesar das operações charters terem sido mantidas até à véspera do verão, a autoridade de saúde da Tunísia classificou Portugal como um dos países com maior elevada taxa de contágio e a chegada dos turistas portugueses acabou por não acontecer. Leila Tekaia, diretora para Espanha e Portugal do Turismo da Tunísia, realça que “a vontade de viajar para a Tunísia era real, mas o coronavírus impediu a sua realização”.
No entanto, a Tunísia acabou por não ter um ano tão negativo como outros destinos. Tal deveu-se à resposta rápida das autoridades tunisinas em adotarem as medidas necessárias para protegerem a população, mas também continuar a servir os interesses do setor turístico que emprega no país mais de 4 milhões de pessoas.
“De facto, não fossem as rigorosas medidas adotadas, o setor do turismo não teria conseguido lotar os seus hotéis no verão passado respeitando o protocolo sanitário”, indica a responsável, explicando que a Tunísia terminou o ano com o registo de dois milhões de turistas acumulados, menos 78% do que o registado em 2019.
As receitas diminuíram 63%, o que equivale a 1200 milhões de euros, enquanto o número total de dormidas foi reduzido em 80%. “É claro que os resultados poderiam ter sido piores se não fosse a mobilização das autoridades e do setor empresarial”, sublinha Leila Tekaia.
No geral, “todos os mercados responderam favoravelmente quando as restrições às viagens foram suspensas”, refere, acrescentando que a “boa imagem internacional ao nível da gestão interna da COVID e, sendo um dos destinos mediterrâneos com a relação qualidade/preço mais competitiva, a Tunísia conseguiu responder à procura”. No entanto, Leila Tekaia não deixa de mencionar as dificuldades com a propagação da pandemia em certos mercados emissores para a Tunísia, o que levou ao suprimento de várias ligações aéreas.
“Internacionalmente, franceses e alemães lideraram a lista de passagens turísticas em 2020, mas talvez o mercado que melhor respondeu foi o doméstico”, realça. A mesma explica que “muitos tunisinos, como costuma acontecer em tempos de crise, foram os principais consumidores da oferta turística das férias de verão e inverno de 2020”. Atualmente, a fatia do consumo local está avaliada em cerca de 20% contra cerca de 9% há uma década, informa a diretora para Espanha e Portugal do Turismo da Tunísia ao Publituris.
Diversidade e novas tendências
A diversidade de oferta que a Tunísia apresenta a quem a visita sempre foi uma das suas características diferenciadoras perante outros destinos. À clássica oferta de sol e praia com os destinos de Djerba, Hammamet, Sousse, Mahdia e Monastir a sobressair, junta-se a oferta de destinos alternativos situados em zonas rurais e no interior do país. “Se até hoje a grande maioria dos visitantes procurava uma determinada área do Mar Mediterrâneo para as férias, cheio de nuances do azul, hoje os tons verdes são igualmente um elemento de grande atração”, afiança a responsável.
Segundo Leila Tekaia, “seja qual for a duração da viagem, o turista pode desfrutar de uma viagem combinada com uma estadia e circuitos temáticos mais contrastantes, tanto ao nível da paisagem como ao nível das atividades”. Descobrir a história do Mediterrâneo, desde os cartagineses até à época colonial; saborear pratos gastronómicos fruto da fusão das várias culturas que passaram e se estabeleceram na Tunísia; passear pelos becos das medinas classificadas como património da humanidade; ou terminar o dia com um pôr-do-sol na porta de entrada para o deserto são algumas das variadas opções disponíveis no destino.
“O norte do país, nas regiões que se estendem desde El Kef, Jendouba e Béja, passando pelas margens da Tabarka e Bizerte, está repleto de projectos turísticos que se enquadram numa visão de desenvolvimento sustentável, acompanhando a criação de experiências como uma marca regional”, acrescenta.
É aproveitando esta diversidade que o destino encara a retoma turística. “Independentemente de uma retoma global ou parcial da atividade turística, as autoridades tunisinas consideram este período como uma oportunidade valiosa para desenvolver novos modelos turísticos”, explica, indicando que, se antes da pandemia os passeios de autocarro e o alojamento em grandes hotéis eram as formas de consumo mais difundidas, “hoje há interesse económico em desenvolver, de forma sustentável, fórmulas alternativas de alojamento (hotéis de charme, casas rurais, pousadas, etc.)”.
A par disto, existe também “sinais dos mercados de origem de que o conceito de slow tourism está a ser favorecido e em franco desenvolvimento”, aponta.
Neste âmbito, o destino turístico pretende fomentar uma “modalidade de turismo que privilegia as experiências locais, a descoberta da cultura e das tradições regionais, ou seja, uma imersão cultural”. “Este será o novo modelo de turismo, baseado em experiências, que evoluirá paralelamente ao modelo de pacotes maisantigo e mais difundido. Desta forma estaremos preparados para os próximos desafios, recuperando desta inédita ‘aventura’ humana sem precedentes”, considera Leila Tekaia.
Com a ajuda da oferta para este novo modelo turístico, para a responsável a retoma vai depender do lançamento de campanhas de vacinação, o que deve ajudar a restaurar a confiança do consumidor, “ajudar a aliviar as restrições de viagens e a retomar gradualmente a atividade”.
Mercado português
A aposta num novo modelo turístico não descura o modelo pilar existente da indústria turística tunisina: férias à beira-mar com circuitos temáticos com uma forte componente cultural, num pacote turístico adquirido através de agências de viagens. É aqui que se integram em pleno as preferências do turista português. Como descreve a responsável, o mercado emissor português, que “ganhou uma posição valiosa para a indústria turística tunisina”, consome hotéis de categoria superior e tem uma estada média de permanência sobretudo em hotéis, satisfazendo assim o modelo atual do turismo na Tunísia. “A nosso ver, este modelo vai viver uma era de renascimento pós-COVID, pois oferece todas as garantias de segurança sanitária para que o consumidor possa usufruir as suas férias, em grupo ou individualmente”, salienta.
Assim, a aposta de promoção do destino junto do consumidor português mantém-se mas, agora, com foco na digitalização. “Na reflexão levada a cabo pelas autoridades tunisinas do turismo nos últimos meses, importa destacar o papel fundamental que a digitalização do setor do turismo terá tanto a nível da promoção como da comercialização. Da mesma forma, o mercado português vai beneficiar dos efeitos desta revitalização digital dirigida aos operadores e consumidores”,
indica. Assim, o Turismo da Tunísia aposta na formação dos agentes de viagens através de ciclos de e-learning por região turística, ao longo do primeiro semestre. Esta formação vai ser complementada também com viagens de familiarização exclusivas para os vendedores mais assíduos, que vão acontecer logo que as restrições às viagens forem atenuadas.
Considerado um parceiro essencial nesta função de restabelecer a confiança do turista, o Turismo da Tunísia vai manter a sua relação com o trade. “Em princípio, vão ser considerados programas de ação conjunta para promover a oferta e divulgar as condições de segurança e a situação de saúde do país em relação à COVID-19; e numa segunda fase, outras ações vão ser propostas para estimular as vendas. Naturalmente, essas ações pressupõem um investimento concertado com o trade para atingir um objetivo realista, definido de comum acordo”.
“As campanhas promocionais serão internacionais e terão como objetivo estabelecer a confiança do consumidor português no destino”, completa ainda a diretora do Turismo da Tunísia para Espanha e Portugal.