Em tempos de pandemia, Turismo Rural reforça posicionamento único
O período de confinamento fez com que o espaço ao ar livre, o ar puro e a proximidade à natureza fossem mais valorizados. Com o distanciamento social privilegiado, não é por isso de admirar que a retoma turística se esteja a fazer, numa primeira fase, pelas unidades de alojamento turístico que se encontram em plena comunhão com a natureza. Mas estará esta procura a reflectir-se em reservas?
Raquel Relvas Neto
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Num período de pós-confinamento e numa altura em que a retoma turística se faz paulatinamente, as unidades de Turismo Rural estão a ganhar um papel de relevo sobretudo pelas várias características e que estão nas atuais tendências de procura dos turistas. A conciliação do conceito de isolamento social com a descoberta e contacto com a natureza é uma das principais, mas existem mais.
Como explica Ana Alonso, diretora de Relações Institucionais e Comunicação da EscapadaRural.com, site de alojamentos rurais de Portugal e Espanha, “uma das principais vantagens dos alojamentos rurais é o isolamento”. Como a maioria das acomodações do Escapadarural.com estão localizadas em “locais remotos, pouco frequentados e não superlotados”, apresentam-se assim “no cenário ideal para este novo normal”. “De facto, a opção de reserva em exclusividade garante a privacidade e o tipo de viagem que melhor combina com cada hóspede”, considera a responsável.
A APTERN Associação Portuguesa de Turismo em Espaços Rurais e Naturais aponta que “as unidades de turismo rural, de acordo com as suas características, são aquelas que representam a melhor alternativa ao que as pessoas procuram para um período de pós confinamento: paz, tranquilidade e segurança”. Jorge Santos, responsável pela associação explica ao Publituris que “depois de um período muito conturbado, as pessoas sentem uma enorme necessidade de viajar, mas de viajar para espaços protegidos, onde prevaleçam atividades complementares associadas à natureza, como é o caso dos percursos pedestres, ou caminhadas fotográficas, e de zonas menos conhecidas, como praias fluviais, quedas de água e outros recantos naturais, que existem um pouco por todo o país e que consequentemente terão menos procura”.
Também Gilberto Vieira, presidente das Casas Açorianas Associação de Turismo em Espaço Rural, aponta como a característica “mais óbvia” a capacidade de “proporcionar alojamento em unidades pequenas e longe dos grandes aglomerados urbanos, minimizando o risco de eventuais contágios”. Para o responsável, há que aproveitar “essa disponibilidade por parte dos clientes para os integrar em vivências verdadeiramente interessantes e motivadoras, fazendo com que sejam importantes arautos da nossa realidade, uma mais-valia promocional, pela eficácia que esses testemunhos têm na atração de novos clientes e na vontade de regressar”.
Segundo o presidente da TURIHAB – Associação do Turismo de Habitação e da CENTER – Central Nacional do Turismo no Espaço Rural, “o Turismo de Habitação (TH) e o Turismo no Espaço Rural (TER) garantem um alojamento com grande qualidade e segurança, com atividades em plena natureza, desfrutando de paisagens únicas, gastronomia regional e a identidade singular de cada casa”. “Estas unidades constituem assim uma oferta diversificada, distintiva, personalizada e informal”, refere Francisco de Calheiros. “O Turismo no Espaço Rural e o Turismo de habitação diferenciam-se do restante alojamento turístico, pela autenticidade e a genuinidade da oferta, pela baixa densidade, pelo poder desfrutar do espaço, dos sons da natureza, pelas brisas e aromas da natureza e pelo painel de cores e de ritmos cromáticos da paisagem”, complementa.
Na Madeira, Emanuel Pereira, responsável da Madeira Rural, indica que as unidades de Turismo Rural não dispõem de mais de 10 quartos e a maior parte dos clientes não necessita de utilizar espaços comuns com outros hóspedes. Estas, acrescentando ao facto de serem “unidades mais isoladas no meio rural” são algumas das mais-valias desta tipologia de alojamento turístico e fazem com que “alguns turistas se sintam mais seguros nas pequenas unidades e fora do meio urbano”.
Reservas
Contudo, apesar de todas estas vantagens, até que ponto os turistas estão efetivamente a traduzir estas preferências em reservas nesta tipologia de alojamento turístico?
Na análise das Casas Açorianas, Gilberto Vieira constata que depois de uma “clara diminuição” em termos homólogos nos meses de abril e maio, registou-se “um crescimento acentuado no mês de maio”. “No entanto, esse aparente interesse ainda não se traduziu em reservas”, aponta. De facto, o surgimento da pandemia trouxe “efeitos negativos para o turismo rural”, aponta a APTERN. De acordo com os dados que a associação apurou, verificou-se um período de cancelamento de reservas entre abril e maio, “período esse que foi de total incógnita, até termos podido aos poucos, retomar a nossa ‘vida normal’”. Agora, “com o surgimento das primeiras medidas de intervenção no setor do turismo, da qual gostaríamos de destacar a criação do Selo Clean & Safe, pelo Turismo de Portugal, fomos verificando a retoma de reservas a partir do mês de junho, sendo que para julho e agosto existem muitas unidades de turismo rural com perspetiva de taxas de ocupação de 80%, principalmente em locais de baixa densidade populacional”.
Já na Madeira, Emanuel Pereira indica que se verificam “algumas reservas de pessoas da ilha no mês de junho e julho”. Contudo, quanto a reservas de turistas, “temos mais cancelamentos neste momento do que nos últimos três meses, principalmente para julho e agosto todos por falta de voos”, o que revela a forte dependência do transporte aéreo que a Madeira tem. Já o presidente da TURIHAB e da CENTER admite que, apesar da procura pelas unidades ser essencialmente internacional, verifica-se que “os portugueses estão à descoberta de Portugal, das suas singularidades, dos seus segredos e no fundo na redescoberta da nossa identidade e das nossas raízes”. Para fomentar esta procura, a CENTER e a TURIHAB desenvolveram campanhas com o lema a ”Minha Casa é a sua Casa“, “Viaje no Tempo com os Solares de Portugal “ e “Conheça a Magia do Turismo no Campo”.
Futuro
À semelhança de outros alojamentos turísticos, também o atual contexto traz desafios para o Turismo Rural. Por sua vez, Ana Alonso considera que o turismo rural vai sair “favorecido desta situação, pois é uma boa alternativa ao turismo urbano, que padece de uma maior massificação”. Neste sentido, complementa, “será necessário encontrar um equilíbrio para que o turismo rural seja uma alternativa bem-sucedida, mas cujos fluxos turísticos possam ser absorvidos de forma sustentável por esses ambientes mais frágeis”.
Para o responsável das Casas Açorianas, o Turismo Rural tem “um potencial ainda muito longe de ser esgotado, por todas as caraterísticas conhecidas e reconhecidas”. Porém, adverte, “para ter êxito e crescimento, este segmento não pode ceder a tentações que deturpem a sua essência e vocação”. “Esse é um dos principais desafios – preservar todo um leque de especificidades que fazem dele um produto único e, crescentemente procurado”, salienta Gilberto Vieira. Nesta fase de retoma, o responsável mostra-se convicto de que o turismo rural “pode e deve ser a primeira alavanca na recuperação da atividade, desde logo pelas suas caraterísticas intimistas, que proporcionam um sentimento de segurança, fator essencial no contexto que vivemos”. “No entanto, para que isso se concretize, é fundamental um olhar atento e colaborador por parte das entidades com responsabilidade na nossa política de turismo”, sugere.