Histórias do Turismo: O início dos vintes
Crónica de Jorge Mangorrinha, investigador em História do Turismo
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Mesmo para quem não os viveu, a leitura dos anos vinte do século passado dá-nos uma espécie de nostalgia, pela modernidade, prosperidade e liberdade que imprimiram ao mundo, animadas pelo som das “jazz-bands” e pelo charme dos salões e clubes. Os norte-americanos caminhavam para o progresso, tornando-se no centro do mundo, mas muitos clubes de dança, cafés e salões de chá abriram noutras geografias, até em Portugal, e eram o epicentro do debate e do vanguardismo.
O apetite pela viagem aumentou com o nascimento da “sociedade de consumo” e alguns preconceitos foram abandonados. Uma cultura artística mais inovadora abriu-se a um mundo em que o futuro parecia brilhante. As viagens ajudaram a espalhar a notícia. Foi a afirmação do transporte aéreo comercial, de que Portugal apenas daria os primeiros passos na década seguinte.
Após a Grande Guerra, o turismo português foi visto como uma solução para um país com dificuldades, política e financeiramente. Acorriam cerca de seis mil ingleses a Portugal e tornava-se necessário investir na hotelaria, com um funcionamento de qualidade, que exigia formação a todos os níveis, de que o empresário Alexandre de Almeida foi o principal timoneiro. À entrada dos anos vinte, o Estado português apostou na imagem dos destinos, no turismo interno e na promoção internacional, mas sempre com as dificuldades resultantes de uma I República já debilitada. O turismo fora tutelado, desde a sua institucionalização, pelo Ministério do Fomento, em 1911, e passaria, em 1920, para o do Comércio e Comunicações.
À semelhança das Comissões francesas, as praias e as estâncias climatéricas, de altitude e de repouso, de recreio e turismo portuguesas, foram consideradas prioritárias, em termos do investimento central, motivando o dinamismo das elites locais. As Comissões de Iniciativa foram criadas e o Governo decretou a respectiva actividade, as funções e as competências destes novos organismos, no que dizia respeito a melhoramentos locais e à promoção dos destinos.
No correr dos tempos, os órgãos locais de turismo foram tendo uma importante influência, sobretudo nas chamadas “saisons” termais e de veraneio, através de desdobráveis de propaganda com fotografias sugestivas e com indicações ao visitante sobre a hotelaria, a restauração, os principais monumentos, os passeios, os miradouros, também os cuidados médicos e farmacêuticos, correios e telégrafos, os horários de culto, com particular atenção para a animação e com relevo para as festas e romarias.
A actuação das Comissões de Iniciativa dependia, em larga medida, das próprias dinâmicas locais e da maior ou menor “tradição turística” dos territórios sob a sua jurisdição, apesar de ter sido discutida, depois, a sua eficácia pelo regime seguinte do Estado Novo.
Ao mesmo tempo que essas Comissões avançavam no terreno, em 1922, um roteiro organizado pela revista ABC tinha em vista criar nos portugueses o gosto de viajar em Portugal. José de Atahyde dizia que o “excursionismo” era um meio importante de se conhecer o país, mas só teria êxito quando criteriosamente estudados os percursos e as suas mais-valias com o acompanhamento de um Guia-Intérprete. Por isso, sensibilizou patrocinadores: os automóveis italianos da Fiat, o carburante refinado da Shell, os pneumáticos americanos da Goodyear e as películas fotográficas da Kodak. Foi um assinalável exercício de reportagem para os jornalistas que tiveram ocasião de conhecer a diversidade da paisagem natural e humana de todo o país e ainda o património construído. Nesses inícios dos anos vinte, também a Buisson Tours lançou com êxito as primeiras visitas guiadas a Lisboa e os primeiros “City Tours”. Raoul Buisson foi um desportista de nível mundial no ciclismo e investiu em Portugal. Na mesma lógica, a Repartição de Turismo e José de Atahyde sensibilizaram o Automóvel Clube de Portugal e a Vacuum Oil Company para a necessidade de sinalização das estradas portuguesas e, nesse mesmo ano, foram colocadas mais de dez mil placas (muitas em azulejo), prioritariamente nas entradas das povoações, vilas e cidades e nos cruzamentos, bifurcações e entroncamentos de estradas.
Externamente, na Comuna de Montmartre de Paris, abriu o restaurante Au Portugal. A cozinha tradicional e a música portuguesa passavam a estar no coração dos parisienses, aproveitando os fluxos crescentes de turismo idos da América e de outros países europeus. Portugal fazia o que podia pela promoção dos nossos recursos turísticos e pela gastronomia em particular. Um século depois, a realidade é bem diferente. Paris e outras cidades turísticas por todo o mundo têm cada vez mais o Portugal gastronómico, mais ou menos “gourmet”, com os tradicionais produtos do denominado “mercado da saudade”, ou não fora a saudade o sentimento que sempre tem dominado quem chega e quem parte.
É que a saudade faz parte do turismo.
*Por Jorge Mangorrinha, investigador em História do Turismo
Artigo publicado na edição de 17 de janeiro