“O crescimento da oferta está imparável”
Manuel Proença, chairman da Hoti Hotéis, fala dos planos da cadeia hoteleira e a sua apreensão quanto ao futuro da hotelaria.
Raquel Relvas Neto
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Manuel Proença, chairman da Hoti Hotéis, fala dos planos da cadeia hoteleira e a sua apreensão quanto ao futuro da hotelaria.
A Hoti Hotéis está entre os cinco maiores grupos hoteleiros portugueses. Como tem sido este crescimento da cadeia hoteleira?
O crescimento da Hoti Hoteis enquanto cadeia hoteleira tem 20 anos apenas, com o primeiro hotel que fizemos em 1998 na Expo 98, embora em termos de atividade começou bastante mais cedo, digamos que a nossa organização existe desde 1978. A fase de 1978 a 1998 foi uma fase de experiência. Começámos com um hotel em 1978, estávamos inseridos no grupo Pinto Magalhães, que tinha o Hotel D. Henrique, no Porto, para o qual me convidaram para gerir. Baseado nessa realidade, pegámos no hotel com contrato de arrendamento e começou aí propriamente a atividade de hotelaria. Estamos a falar há 21 anos.
Durante esses primeiros 20 anos aprendeu-se muito, fizemos muitas experiências, estivemos em muitos hotéis em várias modalidades, desde arrendamento a gestão hoteleira. Posto isto julgo que devo ser das pessoas que tem experiência em mais hotéis. Tivémos intervenção em 45 hotéis. Tínhamos contratos de gestão, porque na altura não tinha capital para fazer hotéis, ou seja, posso dizer que sou dos empresários que partiu do zero e a partir do zero foi-se construindo. Em 1998, surge a oportunidade de adquirir um terreno que era bastante barato, com uma boa localização. Comprou-se o terreno e fez-se o hotel, que abriu na Expo 98 para fazer o alojamento das comitivas que estiveram presentes.
Depois começámos a fazer investimento, porque também tivemos a facilidade com taxas de juro muito favoráveis e aí foi uma fase de alguma audácia da nossa parte fomos fazendo sempre hotéis numa estratégia que hoje existe, e que vai continuar, que é o crescimento contínuo. Ou seja, estaremos sempre disponíveis para aumentar e fazer mais hotéis, mesmo que existam períodos da economia em que se pode crescer e outros em que não, mas estamos sempre abertos ao crescimento. Em 20 anos temos praticamente uma média de um hotel por ano, em termos globais é isso.
Atualmente, quantos hotéis fazem parte do portefólio da Hoti Hotéis?
Em pipeline, temos sete hotéis. No final destes cinco anos, estaremos nos 25 hotéis, com compromissos já assumidos em relação a várias unidades.
Que hotéis têm em desenvolvimento?
No próximo ano, no Parque das Nações, abre portas o Moxy Oriente com 222 quartos, que é uma parceria feita com a Marriott International. Depois temos em Braga, um hotel no centro da cidade, que ainda não tem nome, vai ter 110 quartos e tem abertura prevista para 2021, vai ser o nosso segundo hotel na cidade. Depois temos Viana do Castelo e Famalicão, ambos com 120 quartos e da marca Meliá, com abertura prevista para final de 2021.
Também temos uma unidade para a avenida da Boavista, no Porto, que vai ter 250 quartos, será um Meliá e conta com um investimento similar ao que vamos fazer no hotel no CCB, em Lisboa, que resulta de uma parceria com a Mota Engil, e também vai ser um Meliá, de cinco estrelas com 172 quartos e um investimento de 30 milhões de euros. Em Aveiro, vamos abrir a nossa segunda unidade, um Star Inn com cerca de 100 quartos e um investimento de 18 milhões de euros. Isto soma mais de mil quartos e um investimento na ordem dos 105 milhões de euros.
Este projeto do CCB é especial e é uma continuidade da parceria que têm já no Hotel da Música também com a Mota Engil. O que esperam para esta unidade?
Foi bem sucedida no Hotel da Música, esperamos que esta também seja. Obviamente, a Mota Engil tem interesse na construção. O projeto não envolve só hotel, tem serviço residencial, comercial e escritórios. A construção do hotel é totalmente ao nosso encargo. É um contrato de concessão de exploração para os próximos 50 anos. É um hotel Meliá de cinco estrelas virado para as artes. Tentamos fazer sempre que cada hotel se ligue com o contexto do local onde está instalado e o que faz sentido ali é um hotel que esteja ligado às artes.
Em Lisboa, o grupo tem investido em hotéis menos centrais. Porquê?
Também fomos candidatos ao concurso para o Quartel da Graça, mas não ganhámos.
Em vez de estarmos com hotéis mais pequenos no centro da cidade, preferimos fazer hotéis de maior dimensão mesmo que não seja no centro, mas em pólos atrativos para os clientes.
Quanto ao CCB, ainda não temos data definida porque não é só o hotel, temos que coordenar com o resto. O hotel em si é muito interessante porque tem um embasamento que alinha pelo próprio CCB, onde está a piscina, lojas e a parte comercial, e depois o edifício que sai desse embasamento já para uma altura de cinco pisos. O hotel possui uma parte relacionada com conferências e exposições, o prevendo-se que seja forte nesse segmento. É um pouco como o Meliá Braga com salas de conferências e reuniões, muito virado para esse conceito de hotel.
O Moxy Oriente vai ser a primeira parceria com a Marriott International, que é o maior grupo hoteleiro a nível mundial. O que significa?
Temos uma parceria com a Meliá Hotels International que vai agora celebrar 25 anos. O nosso parceiro de sempre é e continuará a ser a Meliá. Simplesmente, pretendíamos focar também no segmento das três estrelas, onde estamos com a marca Star Inn, mas, casualmente, um fundo belga com interesse na área da hotelaria contactou-nos para um hotel no segmento das três estrelas, muito prático, jovem, millennial. Só que a Meliá, por razões estratégicas, não tem interesse no segmento das três estrelas, mantém-se só no segmento das quatro estrelas para cima. A Marriott International procurava parceiros também para este tipo de segmento ‘millennial’, no qual estão já em crescimento na Europa, prevendo-se a construção de 150 hotéis deste tipo. São hotéis práticos, com ‘self check in’, os quartos são relativamente pequenos, na ordem dos 18 metros quadrados, e o lobby que é o centro do hotel. A Marriott achou interessante fazer um acordo connosco. O investimento é nosso em conjunto com um fundo belga, sendo a gestão inteiramente nossa. Considerámos o conceito muito interessante que, aliás, não é muito diferente do Star Inn, que também está dentro deste segmento, mas junto aos aeroportos. Este é um segmento mais internacional e com uma maior dimensão. Fizemos a parceria e, provavelmente, para mais hotéis deste tipo, no Porto, onde muito brevemente faremos também um Moxy.
O grupo está a negociar com mais alguma marca internacional?
Não. Em termos de parceria internacional, estamos basicamente com a parceria com a Meliá e excepcionalmente, neste segmento, com a Marriott. No resto temos as nossas marcas, o Star Inn, o Hotel da Música, que são conceitos que desenvolvemos.
No campo internacional, a Hoti Hotéis tem um investimento em Moçambique. Prevê mais alguma unidade no destino?
Fizemos o primeiro Meliá fora, em Moçambique, o Meliá Maputo Sky, que tem funcionado muito bem. Gostaríamos de fazer mais hotéis em Moçambique, mas a economia não tem ajudado muito, nem o clima social. Inevitavelmente, já não será comigo, mas quando preenchidas estas cidades onde temos hotéis, provavelmente o futuro vai passar por Espanha. Como estamos a andar ao ritmo dos 20 anos – 1978, 1998 e 2018 -, julgo que em 2038 teremos também a cadeia hoteleira lá fora. Em princípio há a ideia de alargar para Espanha quando já não tivermos mais espaço para continuar a fazer hotéis em outros sítios [em Portugal].
Outros destinos nos PALOP’s não lhes interessam?
Não. Nos PALOP’s já estamos em Moçambique. Não é fácil fazer hotéis nestes países, são sempre de alguma instabilidade, estes países ainda não estão suficientemente maduros para cadeias internacionais.
Constrangimentos
Estes investimentos, de que falou, alguns são em destinos mais para o interior do país. É esta a estratégia do grupo?
Julgamos que é bom haver esta desconcentração, há quem chame de descentralização. Prefiro desconcentração, pois há esta questão de dizer que há turistas a mais ou não, mas, de facto, não há turistas a mais, o que há são turistas a mais em determinadas zonas e o que é preciso é desconcentrar, porque se desconcentrar não há problema nenhum. Se toda a gente quiser ir para o mesmo sítio e, nas grandes cidades, para os mesmos locais num raio de ação muito concentrado, evidentemente cria problemas. A concentração traz problemas.
Devo cumprimentar o senhor presidente da Câmara Municipal de Lisboa porque, finalmente, fez um regulamento em que tenta evitar a concentração do Alojamento Local. Por enquanto, a chamada hotelaria convencional não tem sido o problema, o problema é quando começa, em determinadas zonas, o AL a crescer sem controlo. É evidente que há essa vantagem de desconcentração. Nós, na hotelaria, estamos já a fazê-lo. Lisboa está a fazer e o Porto está a seguir o mesmo caminho, julgo que as principais cidades vão, seguramente, seguir esse mesmo caminho de não permitir demasiada concentração nos centros das cidades.
Neste caso está a congratular uma iniciativa de uma autarquia, mas existem alguns projetos vossos que estão parados, como é o caso do hotel no Largo do Rato, em Lisboa, e em Monte Gordo. Que prejuízos estes bloqueios têm para o grupo?
No caso do Rato, o projeto estava aprovado por todas as entidades, estava tudo em ordem, simplesmente a determinada altura acontece sempre aquilo que já se sabe, quando existe um grupo de cidadãos que acha que aquilo está muito mal ou que não quer ali o hotel e começa a fazer algum movimento de contestação. As autarquias começam a ter receios relativamente aos projetos e vão bloqueando. Ou seja, não dão seguimento aos projetos mesmo aqueles que já estão num estado avançado e isso cria grandes prejuízos, porque naturalmente o dinheiro está investido e fica ali o projeto parado. Isto leva a que os investidores internacionais dificilmente façam hotéis de raíz se não estiver tudo absolutamente aprovado. Há sempre receios, e temos verificado da parte dos fundos, por exemplo, que não se envolvem em situações que não estão já totalmente aprovadas, chave na mão. Isso cria alguns problemas para os promotores. Temos esses dois, mas temos sempre cuidados relativamente a tudo, porque isto acontece frequentemente com as câmaras municipais em Portugal.
Como é que caracteriza então os desafios da aprovação de projetos hoteleiros em Portugal?
Também existem Câmaras que funcionam de uma forma fantástica. Por exemplo, encontrámos agora os presidentes da Câmara de Viana do Castelo, de Famalicão e de Aveiro, curiosamente, não sei se é coincidência, mas são todos mais para norte, que são uns promotores fantásticos. Eles é que vêm ter connosco, concedem-nos as facilidades, ajudam a resolver os problemas de uma forma admirável. Por exemplo, com os presidentes da Câmara de Viana do Castelo e de Famalicão, o interesse que demonstram em que haja um projeto e que se façam coisas nos seus concelhos, é admirável. O que, infelizmente, não acontece em todo o lado. Seria bom, porque, de facto, são investimentos de vulto que dão efeitos multiplicadores na economia dessas cidades.
Quanto às remodelações das unidades atuais do grupo, o que é que está previsto?
Castelo Branco é o primeiro ‘rebrand’ que passa de Tryp Colina do Castelo para Meliá Castelo Branco. Acontece que alguns hotéis Tryp vão ter o ‘rebrand’ para Meliá, nomeadamente este, o do Parques das Nações e da Costa da Caparica e, provavelmente, mais alguns. Isto corresponde a uma estratégia da desactivação do Tryp, que tem a ver com os acordos da Meliá com a Wyndham. Deixou de haver interesse no desenvolvimento dos Tryps, estamos a reconverter alguns para Meliá e outros continuam com a marca Tryp.
Resultados
Quanto à operação do grupo como correu este ano?
Correu bem. Até outubro, tivemos um crescimento, não muito grande, embora também tivéssemos em alguns casos, como a Madeira, algum arrefecimento. Mantivemos um crescimento de 4,5% em termos globais face a 2018 e a expectativa é que este número se mantenha até ao final do ano.
Essa quebra na Madeira considera que foi devido a que factores?
Tivemos uma quebra de 6,5%. Existem problemas operacionais do aeroporto, essa é uma razão crucial porque os aviões não aterram, voltam para trás, os aviões não levantam. A parte operacional do aeroporto da Madeira julgo que já não estará preparada para os dias de hoje, para este movimento e para situações em que o clima não oferece condições para o movimento aeroportuário. Essa é uma das razões. Depois aconteceu o acidente do autocarro que ainda teve algum impacto, com aquela quantidade de turistas que morreram. E alguns operadores também arrefeceram, porque ninguém gosta de estar a levar aviões e os aviões não aterram. Isto cria prejuízos e há alguma desmotivação da parte dos operadores que operam o destino.
Nas outras unidades, Lisboa também está um pouco dependente por causa da questão do aeroporto. Há aqui algum arrefecimento que é nítido, não existe um decréscimo, mas existe um arrefecimento, motivado pelas infraestruturas.
Depois há o outro lado da questão que é o crescimento da oferta, que está imparável. Em termos de hotéis, segundo os últimos números que vi anunciados, estamos a falar em mais de 100 hotéis para abrir nos próximos tempos. No Porto, vi esta semana que estão 35 projetos de hotéis na Câmara do Porto para aprovação, ou seja, há aqui, um disparar de oferta, provavelmente, a par de algum arrefecimento, que causará alguns problemas.
Qual deveria ser a estratégia a adoptar pelos hoteleiros no próximo ano?
A nossa estratégia está definida. Temos um crescimento contínuo, temos uma marca que nos defende, mas naturalmente seremos um pouco mais reservados em relação ao investimento, pelo menos em locais cuja localização seja desfavorável, como é o caso do Algarve. Ou seja, estar a investir longe da linha da frente, da linha do mar, assim que haja alguma contração, são os primeiros a ficar pelo caminho. Há que ter algum cuidado, não só com o arrefecimento, mas como o aumento da oferta que certamente vai criar algumas dificuldades nos próximos tempos.
O preço médio da hotelaria vai poder verificar aumentos?
Não vai. Este ano, o nosso preço médio anda nos 90 e tal euros, o que é um preço fantástico, não é muito provável que vá subir. O preço médio provavelmente será afectado, sendo que o ideal seria manter.
Que principais dossiers a nova SET deve ter em consideração?
Julgo que a prioridade é batalhar a questão da qualificação de recursos humanos e da oferta das próprias unidades. Uma das ameaças que temos relativamente ao futuro é a questão da massificação, evitar a massificação e optar pela qualificação, tentado manter o preço médio. É fundamental que haja uma política nesse sentido. E o problema da concentração, ou seja, evitar a concentração em determinados locais como já falamos aqui. Julgo que se fizer isto, iremos no bom caminho, se não fizermos, iremos ter problemas. Desconcentração e a batalha da qualificação, projetos com qualidade, ao contrário combater a massificação quer seja por demasiada concentração, quer seja por outros motivos. Com a massificação vai-se destruir o destino e o preço.
Vê o próximo ano com alguma apreensão?
Sim, com alguma apreensão. Acredito que grande parte destes projectos não vão avançar, se isso acontecer haverá aqui alguma estabilização no movimento, o que é bom, mas esperemos que não haja demasiado otimismo em relação ao que vem, porque se toda esta oferta vier cá para fora é provável que sim, que sejamos afectados.
Por onde passa o seu futuro?
Foi minha preocupação preparar a sucessão. Nomeou-se, já este ano, um novo CEO, que é o Miguel Proença, e passei a ser o ‘chairman’. Também temos um concelho estratégico. Quero fazer outras coisas, como o ensino. Já colaboro com a Universidade Católica nos cursos ligados aos Masters em Braga e no Porto, tenho colaborações como professor convidado. Na Escola de Turismo e Hotelaria do Porto também tenho alguma colaboração. Quero fazer algumas coisas nessas áreas.
Quer partilhar conhecimento?
Sim, não só a nível interno, como também ao nível académico. Tenho feito isso um bocado e queria reforçar essa variante e deixar os sucessores continuarem o trabalho.