“Podemos fazer milhões de investimento e depois falhar no mais importante: as pessoas”
Pedro Mendes Leal dispensa apresentações. O empresário tem a decorrer a expansão do Valverde Hotel, em Lisboa, mas também muitos mais projetos pelo país.

Raquel Relvas Neto
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Pedro Mendes Leal dispensa apresentações. O empresário tem a decorrer a expansão do Valverde Hotel, em Lisboa, mas também muitos mais projetos pelo país.
A hotelaria corre-lhe nas veias desde pequeno, quando o seu pai, João Mendes Leal, iniciou a sua ligação à atividade, tendo sido, inclusive “um dos pioneiros da área hoteleira portuguesa”, descreve com orgulho Pedro Mendes Leal. O empresário teve o seu primeiro projeto hoteleiro quando lançou, com o seu sócio, Dr. Tavares da Silva, atual e único proprietário, o Bairro Alto Hotel. Hoje tem no seu portefólio o Valverde Hotel, em Lisboa, e prepara-se para abrir mais uma unidade na capital portuguesa, no Porto e em Santar, na região centro.
Esteve durante muitos anos ligado à gestão de parques de estacionamento, mas também à hotelaria. Como começou este percurso?
Começo na hotelaria por via familiar e tive a oportunidade de, em 2001, em parceria com o meu sócio, Dr. Tavares da Silva, comprarmos o edifico no Largo do Camões e de liderar a ideia de criar o hotel do Bairro Alto. Tenho ideia de ter feito este projeto com as minhas mãos, de ter criado aquele produto com a ajuda de imensa gente, sobretudo da Bastir, que foi quem fez a decoração, e da GLA. Na altura foi arrojado, no sentido em que a parte antiga de Lisboa não tinha investimento em hotelaria. Não foi muito brilhante ter lançado o Bairro Alto Hotel, porque na realidade era quase que evidente a falta que faria um hotel de boa qualidade no centro histórico da cidade. Olhávamos e víamos o que se passava nas outras cidades – Roma, Paris, Londres – e, de facto, era no centro que estavam as melhores unidades. Aqui em Lisboa víamos os melhores hotéis nas Avenidas Novas, não havia uma oferta por aí além.
Fizemos um produto de luxo, com uma localização central, num edifício antigo que já tinha sido hotel, o Hotel Europa do Alexandre Almeida. E tinha encerrado no pós-Revolução, porque foi ocupado pelos retornados, e acabou num estado muito mau, tendo sido vendido para escritórios. Esta foi a história do Bairro Alto Hotel, em que comprámos o edifício em 2001 e abrimos em maio de 2005. Em 2009, vendi a minha parte ao meu sócio, o atual proprietário, por opções de investimento pessoal, mas custou-me muito, tanto que nunca mais coloquei os pés no Bairro Alto, nem vou pôr. Foi uma coisa que me deu muito prazer e acabou. Fechou. Arrumou.
Passado poucos anos, surgiu a oportunidade de retomar este projeto que era um projeto da Lanidor. Tinham feito o LA Café e queriam fazer uma experiência em hotelaria, mas tiveram que se recentrar na atividade principal e o parceiro que tinham na altura – os fundos de investimento BPI – procurou uma alternativa e, dada a minha experiência bem sucedida com o hotel do Bairro Alto, fui uma das possibilidades. De facto ataquei com muita força o processo, porque achei que era uma oportunidade a não perder e muito feliz de não ter perdido. Conseguimos fazer um hotel com a ajuda de parte da equipa que tinha aberto o Bairro Alto Hotel, essencialmente a Adélia [Carvalho], mas bastante mais pessoas que acabaram por sair do Bairro Alto Hotel. Acabou por se reconstruir uma equipa com sucesso e que desenvolveu uma forma de estar e uma cultura de empresa bastante construtiva e muito motivada. Relançámos o Valverde também com a decoração da Bastir e resultou muito bem, tanto que tivemos praticamente quatro anos como número 1 da TripAdvisor em Lisboa e uma das melhores classificações da Booking. Sempre muito focado na atenção ao cliente, na diferenciação do produto. Uma ideia muito clara de um hotel boutique de luxo, onde o serviço é, de facto, o mais importante. Podemos fazer milhões de investimento e depois falhar no mais importante: as pessoas. E isso é um trabalho de todos os dias. A equipa tem de estar motivada, saber muito bem qual é a sua missão. A questão das pessoas é central, sobretudo para ter sucesso num negócio de serviço. As pessoas têm de vir trabalhar bem-dispostas, motivadas e com vontade de fazer melhor. A infra-estrutura tem de ser de qualidade, a decoração sofisticada, mas sobretudo o serviço tem de ser muito atento, cuidado, próximo, despretensioso, simpático. É um hotel de luxo, próximo do cliente, mais familiar.
Os resultados do Valverde Hotel sustentam esta expansão que está a decorrer?
Desde o princípio que tínhamos a ideia de que os 25 quartos do Valverde eram insuficientes, não só por uma questão económica, mas também para garantir um produto mais completo, com todas as valências necessárias para um serviço de luxo. Mal iniciámos já estávamos praticamente na negociação da expansão, que também foi em paralelo com o sucesso, porque o produto teve logo muito sucesso, pela localização, serviço, infra-estrutura.
Adélia Carvalho – Ao mesmo tempo, a equipa também é importante, e percebemos que a dimensão não proporcionava que as equipas conseguissem evoluir na sua carreira profissional.
Preocupamo-nos em ter uma proposta consistente, sólida e a longo prazo para as pessoas que trabalham connosco. Sabemos que, se as equipas não forem rotativas, é sempre mais produtivo. Por isso, quando recrutamos alguém é no intuito de apostar nelas para fazer connosco uma carreira promissora. Percebemos que, ao aumentar, ficamos com quase o dobro de quartos, porque passamos de 25 para 48 unidades e com mais serviços de F&B, acabamos por ter não só um restaurante integrado num bar, mas por ter outro restaurante e um bar à parte e com o pátio alargado. Isso faz com que aumentássemos a equipa e conseguíssemos promover internamente as pessoas que estão connosco.
A nível de recursos humanos, a equipa vai aumentar para mais quantos funcionários?
Temos 41 pessoas neste momento e apontamos para as 64.
Quando é que o projecto de ampliação fica concluído?
Até ao primeiro trimestre de 2020.
Novos projetos
O Valverde vai ser o único projeto do grupo?
O Valverde, que faz parte da Relais & Châteaux, ainda tem mais para dar. Com esta expansão vai melhorar muito a qualidade do produto, com salas de ginástica, de reunião, com a expansão de F&B com o restaurante, o bar, o pátio também aumenta, a piscina também vai ser maior, mais confortável e com exposição solar. Vamos dar ao hotel a dimensão que ele merece. Passa a ser um hotel na Avenida da Liberdade com um jardim que é um oásis de paz, de tranquilidade. No meio da azáfama da cidade e da avenida, ter este oásis é um privilégio.
No final deste ano ou início do próximo, vamos dar início às obras de um outro projeto aqui também na avenida, junto ao hotel Tivoli, concretamente o palacete que era da Família Valle Flor em Lisboa e que foi ocupado como Hotel Veneza e, recentemente, como Ever Hotel. Vai sofrer obras de ampliação e requalificação do jardim, que é coincidente com o que temos aqui no Valverde. O hotel vai ter 23 quartos, uma piscina, uma zona de F&B, não vai ter o nome Valverde, será um nome diferente que ainda estamos a definir. É um boutique hotel de luxo, cinco estrelas, e, no fundo, irá beneficiar de sinergias da estrutura de enquadramento daqui que será replicada para lá. É um projeto que esperamos abrir no fim de 2020, princípio de 2021, somando aqui 71 quartos na Avenida da Liberdade com o Valverde.
Qual o investimento?
Foi em parceria com um fundo de investimento holandês ProWinko, que faz o maior investimento e nós fazemos o investimento sobretudo no que é o FF&E – Furnitures, Features & Equipments, onde estimamos um investimento na ordem dos 2 milhões de euros.
E o investimento da expansão do Valverde Hotel?
Também é um pouco nesse modelo, onde temos previsto investir 2,5M€, em parceria com os Fundos do BPI.
E para quando outros projetos fora de Lisboa?
No fim do ano, estaremos no Porto já com um aparthotel na zona histórica do Porto que vamos retomar, de cinco estrelas. Hoje não tem essa classificação, mas vamos fazer as adaptações necessárias numa base de continuidade daquilo que existe de luxo, também com um jardim muito bonito, com uma infra-estrutura de 19 apartamentos hoteleiros de grande dimensão, que vão dos 60 aos 180 metros quadrados. É um projeto que vai ter uma evolução, sendo a nossa ideia melhorar, dentro de um a dois anos, o produto com a complementaridade de mais oferta de alojamento no Porto.
Será o vosso único projeto no Porto?
Pensamos poder expandir também no Porto, como em Lisboa.
Está também prevista a abertura de uma unidade na região centro?
Sim, em Santar. Acredito que é possível fazer um produto de qualidade também cinco estrelas de luxo.
Santar é uma vila muito rica no centro do país, na zona de Viseu, com uma tradição muito forte no vinho, dos vinhos de Santar e do Dão. É uma vila muito rica em património arquitetónico, tem um conjunto arquitetónico notável em Portugal, muito equilibrado e coerente, em bom estado de conservação, uma série de solares antigos com jardins muito bonitos. Há seis anos, houve a iniciativa, da parte de alguns dos proprietários, em juntar os jardins para serem visitáveis. Para isso, contrataram um grande paisagista espanhol muito conhecido a nível mundial, o Fernando Caruncho, e esse projeto está em implementação desde há um par de anos, está a ficar maduro. Havia a preocupação de criar uma oferta hoteleira a par da atração da requalificação dos jardins, do vinho e dos palácios que compõem o conjunto arquitetónico de Santar. Focámo-nos na reabilitação da Casa das Fidalgas, que é um palácio que tem uma área de construção de, mais ou menos, 3 mil metros quadrados, com alguma dimensão, com uns jardins com perto de sete hectares, nos quais uma parte já tem plantada uma vinha nova, da qual vai haver produção de vinho próprio. A Família Bragança, com o D. Duarte e D. Miguel, que eram os proprietários do imóvel, aderiu ao projeto colocando o imóvel numa sociedade que irá fazer a exploração hoteleira sobre a direcção da equipa do Valverde. O hotel vai ter 21 quartos, restaurante, um spa, piscina interior e exterior, um ginásio coberto localizado dentro dos jardins. Todos os quartos são dentro do palácio, não há nenhuma construção nova, portanto, cada quarto é um quarto diferente com muito carácter. Vai-se chamar Casa das Fidalgas e vai abrir no primeiro trimestre de 2021.
Qual o investimento?
É um investimento global que estimamos perto dos 4 milhões de euros.
Estando num meio rural, o conceito deste projecto será diferente do que estão habituados a fazer?
É um produto de boutique de luxo com uma grande atenção ao cliente, mas vamos focar muito no bem-estar. Estamos a trabalhar numa parceria com um nutricionista de renome, que irá organizar, com um nutricionista local, programas de cuidado alimentar. Também teremos assistência de técnicos de saúde e ‘personal trainers’ para orientar as pessoas durante as estadas a, não só alimentarem-se segundo as suas necessidades ou objetivos, mas também a complementarem com exercício, sejam eles exercícios físicos, sejam passeios ou exercícios mais de meditação, yoga, muito direcionado para o bem-estar e para que a pessoa cuide de si. O espaço é especialmente adaptado para isso, porque é muito calmo, tranquilo, tem a serra da Estrela de um lado, a serra do Caramulo do outro, entre o Dão e o Mondego.
Vamos querer evoluir para uma oferta muito exclusiva, muito diferenciadora. Um produto forçosamente caro, de valor acrescentado elevado.
Quantas pessoas estão a pensar integrar nesta unidade?
Na parte de alojamento cerca de 20 pessoas, no restante ainda estamos a definir.
Existe mais algum projecto em desenvolvimento?
Muitos, mas não a este nível de concretização.
Quanto aos imóveis que integram o programa REVIVE, há algum que vos suscite interesse?
Temos interesse, ainda não nos candidatámos a nenhum, mas estamos a pensar candidatar-nos a, pelo menos, dois ou três projectos do REVIVE.
Estratégia
Como empresário e com todos estes investimentos que está a fazer no país, como é que olha para estes indicadores dos resultados do Turismo que têm apresentado sinais de abrandamento no crescimento? Qual a estratégia que vão adoptar?
Temos que idealizar os nossos projetos para sobreviverem ou assegurar a sua propriedade mesmo num contexto de crise. É nessa base que as contas são feitas, tendo em consideração não a situação atual – e era óptimo que se mantivesse por muito mais anos, a perspetiva que temos é que sim, pelo menos não vislumbramos por enquanto nada em contrário – , mas temos que estar preparados para as surpresas do mercado e o mercado, por razões diversas, macro ou micro, às vezes exclusivamente de evolução de desejos dos clientes, altera. Portanto, temos de estar prontos para enfrentar.
A nossa estratégia é não só ter a estruturação dos negócios tendo em consideração o podermos tropeçar numa crise, mas também seguir uma linha estratégica clara. Não pretendemos vir a fazer nenhum três, quatro ou cinco estrelas de grande dimensão, pretendemos criar e desenvolver uma cultura de empresa, uma escola de empresa muito focada no boutique hotel de luxo. De unidades com cuidados ao cliente, muito próximos, que é um mercado mais difícil do que o de um quatro estrelas ou de cinco estrelas de grande dimensão, porque a equação é mais difícil.
Que desafios identifica no Turismo em Portugal que o preocupam?
Que não haja o cuidado de limitar, manter e proteger o nosso destino como um destino de qualidade e que se mate a galinha dos ovos de ouro, explorando demasiado o volume em vez da qualidade. Esse, creio, é o maior risco. É o de promover uma sobreexploração de certos destinos, como seja de Lisboa, que acabam por funcionar como travão de um turismo de qualidade e acabam por defraudar os turistas, os hóspedes, ao ver um turismo massificado. Há várias cidades que já tomaram iniciativas nesse sentido, como Barcelona, que tem demonstrado um cuidado agora ao controlar muito bem aquilo que é a oferta de ‘short rent’, a oferta hoteleira, de forma a não deixar que aquilo se torne num destino infernal. Esse é um cuidado que devíamos ter, que as autoridades deviam ter, ao definir o nosso futuro. Não podemos deixar que a evolução seja ditada por terceiros, a evolução tem de ser ditada por escolha própria. São os nossos governantes que têm de criar o enquadramento, as regras de forma a preservar e dar qualidade ao destino.