(PAN)demónio
A opinião de Ana Jacinto, Secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP)
Publituris
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Hoje irei partir de um exemplo muito concreto, mas muito ilustrativo, para depois o extrapolar para a restante realidade, e assim demonstrar o risco que a nossa democracia corre, sempre que o extremismo e o populismo se querem afirmar.
No momento em que estou a escrever este artigo, ainda não são conhecidos os resultados das Eleições Legislativas, pelo que, independentemente dos seus resultados (que já serão conhecidos quando o artigo for publicado), e absolutamente distante de qualquer partidarismo, estou mais à vontade para dizer o que parece ser uma evidência – o crescimento da demagogia e da política oportunista.
E o caso concreto diz respeito ao surgimento e ao “modus faciendi”, que é o mesmo que dizer modo de agir, de alguns partidos e como exemplo refiro o Partido das Pessoas, dos Animais e da Natureza, mais conhecido pela sua abreviatura – PAN.
E os métodos são simples e, aparentemente, eficazes: usam sentimentos afetivos, essencialmente pela natureza e pelos animais, para transmitir a ideia de que, quem gosta de animais ou da natureza, deve votar PAN. Ora, dito assim, não há quem não goste e se oponha, mas o diabo é que saber legislar e governar responsavelmente um país, vai muito para além disso.
Se atentarmos na definição de populismo, esta caracteriza-se precisamente pela criação deste vínculo emocional, como forma de angariar simpatia e votos, num claro propósito em manipular ou agradar à massa popular, incluindo promessas que muito provavelmente nunca poderão ser realizadas, visando apenas a conquista do poder político e ou outras vantagens correlacionadas. Uma verdadeira PANtominice, diria eu.
O PAN aproveitando-se de temas que sabe bem serem mediáticos, e sem sobre eles refletir devidamente, propõe medidas eleitoralistas e populistas, como a famosa lei das beatas, ou a entrada de animais em estabelecimentos de restauração, entre tantas outras. O comum do cidadão deixar-se levar por este tipo de ideologias o que já assusta, mas assusta ainda mais, outros grupos parlamentares deixarem-se ir, quiçá pelo medo de que, votando contra, sejam conotados como anti-animais ou anti-ambientalistas, coisa que ninguém quer.
Mas o que à primeira vista parece uma enxurrada de “propostas fofinhas” mais ou menos inofensivas, esconde uma ameaça maior, com várias medidas que denotam fundamentalismo e radicalismo, relativamente às áreas-chave do PAN, como sejam o ambiente e os animais, querendo impor as suas ideias e demonstrando muito pouca abertura para quem pense de forma diferente.
Do seu Programa consta a criação de uma Secretaria de Estado responsável pelo bem-estar e proteção animal, uma Direção-Geral de Proteção e bem-estar animal, um Observatório Nacional de bem-estar e proteção Animal e a criação da figura do Provedor Nacional dos Animais. Mais do que a humanização dos animais, parece haver uma “animalização” dos humanos, quase como uma inversão de valores que, por mais respeito que os animais nos mereçam, que é muito, não pode ser levado a este extremo.
Espero que a palavra do líder do Partido seja honrada, quando afirmou que “este não é o momento de o PAN estar no Governo”. Mas ao que parece, o PAN admite agora traçar “linhas vermelhas” para se aliar, fazendo uma pequena PANelinha, e quem o admite é uma cabeça de lista do PAN.
Sei que, com este meu artigo, posso estar, a dar importância a quem não a tem, mas não ficaria bem se não o fizesse.
Podia continuar por aí fora a dar PANcada…mas fico-me por aqui, deixando uma importante reflexão para todos nós – que sejamos cada vez mais exigentes com quem se propõe representar-nos e governar-nos. Cuidado com as PANdemias.
* Ana Jacinto, Secretária-geral da AHRESP
**Artigo publicado na edição de 11 de outubro do Publituris.